O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

10 canções de rock com temática nórdica

 



Johnni Langer (NEVE)

Pablo Gomes de Miranda (NEVE)


Os mundo nórdico medieval fascina o Ocidente desde o século XVIII. Com a redescoberta das Sagas islandesas e das Eddas, diversos artistas trataram de representar este fascinante e complexo universo, das artes visuais até a literatura. Mas a música não ficou de fora, sendo produzidas desde então, diversas peças de óperas e sinfonias e dos quais a mais famosa é certamente A cavalgada das valquírias (Walkürenrittde Richard Wagner. Com o surgimento do rock no século XX, o interesse pela História e mais especificamente, pela Idade Média, aos poucos foi tomando conta de muitas letras. Neste pequeno ensaio, não vamos realizar um levantamento completo de todas as músicas derivadas de conceitos nórdicos, apenas algumas que julgamos as mais importantes ou então, definidas por critérios pessoais. Os subgêneros conhecidos como Viking Metal e Folk metal de temática nórdica ou pagã certamente produziram dezenas de músicas neste sentido, desde os anos 1990.

Os textos e a seleção de músicas do 1 ao 6 são de autoria de Johnni Langer; de 7 a 10, de Pablo Gomes de Miranda.




1. Immigrant song - Led Zeppelin (1970)

A primeira música do terceiro álbum do Led foi escrita durante uma turnê da banda pela Islândia em 1970. Ela teria sido composta como uma homenagem ao explorado Leif Ericsson, mas a única menção nórdica direta na letra é Valhalla. Uma das frases da música ficou muito famosa (The hammer of the gods) a ponto de ser o nome da biografia oficial do grupo. O refrão da música (Valhalla) foi na época considerada um plágio do início da música Ride the sky, da banda alemã Lucifer´s Friend. Immigrant song voltou a ter certa popularidade ao fazer parte do filme Thor: Ragnarok em 2017. Em 2012 o ator e roqueiro Jack Black, ao afirmar que o Led era a maior banda de todos os tempos em uma palestra no Kennedy Center, também reiterou que essa composição seria sobre "os Vikings fazendo amor", o que foi confirmado depois por Helgason, 2017, p. 133-152.

Outras composições setentistas também envolveram temáticas nórdicas, mas não fizeram o sucesso desta composição do Led, como Viking, de Peter Hammill (1971) e Cold Wind to Valhalla, de Jethro Tull (1975).




2. Invaders - Iron Maiden (1982)

Uma das primeiras bandas da segunda geração do Heavy Metal a incluir algo relacionado com os vikings, certamente por influência do vocalista Bruce Dickinson, graduado em História. A letra segue uma tradição britânica que nasceu com o romantismo oitocentista, onde os nórdicos são vistos como invasores que pilham, estupram e matam sem piedade e apela para uma defesa gloriosa dos saxões. Uma dose de nacionalismo, também visto em outros momentos da banda.




3. I Am A Viking - Yngwie J. Malmsteen’s Rising Force (1985)

Um dos mais geniais e criativos guitarristas da década de 1980, o sueco Yngwie J. Malmsteen criou uma composição antológica sobre os antigos nórdicos. Malmsteen foi um dos pioneiros do metal neoclássico e teve influência de Ritchie Blackmore e vários compositores clássicos. A letra da musica é muito simples, mas as suas tonalidades são vibrantes e recordam muito os grandes épicos do Rainbow.




4. Odin’s Court/Valhalla - Black Sabbath (1990)

Uma das mais influentes bandas do heavy Metal, em sua formação dos anos 1990 com o vocalista Tony Martin, que escreveu as letras do disco mais interessante desta formação, Tyr, do qual se destacam Odin’s Court/Valhalla. Certamente o disco não possui a grandeza dos trabalhos com Ozzy e Dio, mas certamente é um trabalho honesto e à altura do melhor metal produzido nos anos 1990. A arte da capa influenciou a criação do logo da banda Týr, das ilhas Faroé. Outras bandas clássicas do Heavy Metal a criarem uma composição deste mesmo tema foi Judas Priest, com Halls of Valhalla em 2014 e de forma pioneira, Manowar em 1983 (Gates of Valhalla).




5. Sleipnir - Manowar (2007)

Uma das mais populares bandas do rock pesado, o Manowar possui várias composições de temática nórdica desde o seu início, sendo muito difícil escolher uma em especial. Em 2007 lançou o disco conceitual Gods of War, certamente um dos melhores deste gênero. Só a arte de capa que segue uma linha tradicional da banda, referente ao "barbarismo" com toques clichês e um tanto kitsch, sem maiores alusões ao mundo nórdico histórico ou mitológico.




6. Sons of Odin - Saxon (2018)

Uma composição recente e maravilhosa de um dos pilares mundiais do Heavy Metal. A banda tradicionalmente realiza uma composição épico-histórica em seus álbuns e desta vez criou uma música sobre os nórdicos, mas muito diferente da outra banda britânica comentada, o Iron Maiden. Aqui os escandinavos são vistos em um sentido glorioso e positivo, por certo, mas também dentro de uma concepção historiográfica mais atualizada: eles são marinheiros, guerreiros, fazendeiros, artesãos e colonizadores. Até mesmo a estrela Polar é mencionada.




7. A Fine Day to Die - Bathory (1988) 

É difícil estabelecer alguma indicação de músicas com temática nórdica sem mencionar a banda sueca Bathory. Essa banda que lançou ao menos uma dúzia de álbuns extremamente sólidos teve iniciou à cena do Black Metal com letras marcadas pelo anticristianismo e ocultismo. O álbum Hammerheart, lançado em 1990, carimba de vez a banda no que se pode chamar de “Viking Metal”, com músicas como Baptised in Fire and Ice, Home of Once Brave e a magnífica One Rode to Asa Bay. Contudo, inegavelmente a passagem para essa fase com um assinalamento na mitologia e história escandinava seria feito no álbum anterior, Blood Fire Death, lançada em 1988, cuja música de abertura Odens Ride Over Nordland já nos apresenta tais aspirações, definitivamente escolhemos A Fine Day to Die pelos seus elementos musicais, pela a atmosfera criada na letra e pelo final mais que épico. Curiosamente ambos os álbuns Blood Fire Death e Hammerheart trazem no encarte duas telas com temática cara ao romantismo escandinavo: a tela “Åsgårdsreien”, pintada em 1872 pelo norueguês Peter Nicolai Arbo, representa a versão romantizada do século XIX de um fenômeno folclórico comum em áreas germânicas chamada de Caçada Selvagem e a tela “The Funeral of a Viking” de Frank Bernard Dicksee encapsula o momento em que um chefe viking tem o seu navio colocado em chamas e sendo empurrado ao mar, novamente uma cena favorita do romantismo escandinavo. Um estudo em português sobre a recepção de temas relacionados aos vikings nesta banda foi realizada por Silva e Albuquerque (2016) bem como um estudo sobre a pintura de Peter Arbo (Miranda, 2017).




8. Ballad of the Swords - Einherjer (1996) 

Os noruegueses do Einherjer não são necessariamente desconhecidos dos metaleiros que curtem o som com temática viking, e o álbum de 1996, Dragons of the North, figura entre um dos mais populares. Contudo, em 2016 o álbum em questão foi regravado e a faixa de título Ballad of the Swords recebeu também um videoclipe animado, onde um homem narra a passagem após a sua morte e de todos os elementos esperados de um guerreiro que se despede da vida. A música é lenta e com uma letra fortíssima, sinto que a pena ser citada nessa lista para os que ainda não conhecem esse formidável grupo. 




9. 793 - Enslaved (1997) 

Não há muitas palavras que consigam definir o Enslaved. Muitos a conhecem por uma das suas músicas, Havenless, figurar em um documentário musical (Metal: A Headbanger’s Journey, 2007). Para além disso, Enslaved é uma das bandas mais prolíficas e talentosas a produzir um som que delineia os rumos de uma ambientação nórdica na música escandinava. Cada álbum é uma obra prima com elementos próprios, marcados pela inovação e originalidade da banda (Nem sempre executados com êxito, é verdade, vide o fraco álbum Blodhemn de 1998). Prova maior do talento criativo da banda (e de seus membros, claro) é o trabalho de Ivar Bjørnson com Einar Selvik, resultando no álbum Skuggsjá, lançado em 2016. Amo particularmente os álbuns Frost, RIITIIR e Ethica Odini Axioma, onde essa pluralidade é melhor exposta. Contudo, o álbum Eld, de 1996 é pouquíssimo celebrado, injustamente, então decidi sugerir a faixa 793, um ode de 16 minutos com uma letra extremamente marcante e ritmos que conseguem demonstrar uma composição bastante multifacetada. Enslaved tem muitas músicas bacanas, até hoje os músicos da banda se dedicam a vários projetos, incluindo auxiliar o Einar Selvik. 793 é uma música com uma melodia muito bonita e uma letra maravilhosa (esmagar os crânios dos cristãos, vencer sobre Midgard, destruir a horda branca, não iremos morrer porque lutamos), é super romântica mas sensacional!




10. Gleipnir - Skálmöld (2012)

A Islândia possui uma cena de metal bastante vívida apesar do tamanho da ilha, contando com bandas bastante sólidas atuando no Black e Death Metal. Outros gêneros, parece, não caíram no gosto nacional, mas definitivamente essa banda de Heavy Metal é a mais famosa da ilha. Apesar de não ser a minha preferida, me cativou bastante pelos shows nos quais tive a oportunidade de comparecer. Definitivamente esses islandeses decidiram fazer belos álbuns carregados pelas passagens das sagas islandesas e da mitologia nórdica. Cada um dos seus álbuns é temático e em especial os filhos de Loki aparecem em Börn Loka, lançado em 2012. O videoclipe de Gleipnir, apesar de confuso (afinal, é parte de uma história narrada por todo o álbum) é um dos mais bonitos que já vi sendo produzidos por um grupo de metal que se dedica a temática, onde o cenário da Islândia é explorado amplamente! Os leitores definitivamente não se arrependerão de dar uma chance ao Skálmöld (há no YouTube um concerto deles com a Orquestra Nacional da Islândia que é um primor).


Bibliografia:

CASTRO, Dannyel  Teles de. Heathenismo, arte e cultura popular: o caso do Pagan Metal, Notícias Asgardianas n. 11, 2016, dossiê: os mitos nórdicos nas artes, p. 83-94.

FERNANDES, José Lucas Cordeiro. A sabedoria perdida: uma análise da imagética de Dauði Baldrs do Burzum, Notícias Asgardianas n. 11, 2016, dossiê: os mitos nórdicos nas artes, p. 95-105.

FERNANDES, José Lucas Cordeiro. Vikings na música. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2018, pp, 739-745.

FERREIRA, Gleizer et alli. Jovens utópicos: A apropriação da cultura e do passado nórdico no Romantismo alemão e no folk metal escandinavo. Igualitária 7, 2016.

HELGASSON, Jón Karl. Odin: from Wagner to Viking Metal. Echoes of Valhalla: the afterlife of the Eddas and Sagas. London: Reaktion Books, 2017, pp. 133-154.

MIRANDA, Pablo Gomes de. A caçada selvagem de Asgaard: nacionalismo e mito na Noruega do século XIX. Roda da Fortuna, 2017.

SILVA, Daniele; ALBUQUERQUE, Maurício. Para uma recepção do medievo: a temática viking no Heavy Metal, Revista de História Comparada 10(1), 2016, pp. 230-261.

TEIXEIRA, João Paulo Garcia. Seguindo a canção com o martelo na mão: Thor e suas representações no Heavy Metal. Anais do II Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos, 8 a 10 de outubro de 2014, UFPB, pp. 63-70.

YAMAMOTO, André; ISAIA, Arthur O martelo, o Prego e a Cruz: mitologia nórdica, o heavy metal e o cristianismo. Brathair 10(1), 2010, pp. 26-40.


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