O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

sexta-feira, 26 de julho de 2024

5 pesquisadores de Arqueologia viking

 Hoje, no dia do arqueólogo, o NEVE apresenta alguns dos cincos pesquisadores mais importantes da Arqueologia viking, do passado e do presente. Conheça mais sobre este empolgante tema, participando da II Jornada de Arqueologia viking (inscrições gratuitas no site do XII CEVE, LINK NA BIO).

O dia do arqueólogo foi instituído no Brasil para comemorar a Lei 3.924 de 26 de Julho de 1961, que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos de nosso país. Informação do site da SAB, Sociedade deArqueologia Brasileira.


















terça-feira, 23 de julho de 2024

Arqueólogos encontram evidências sámis na Noruega viking

 


OS SÁMIS ENTRE OS VIKINGS: Arqueólogos encontram evidências da Era Viking de vestígios sámis no centro da Noruega.



As escavações foram conduzidas pelo arqueólogo Harald Bugge Midthjell (foto de capa) em torno do lago Nesjøen, Tydal, condado de Trøndelag, no centro da Noruega. As pesquisas descobriram várias fogueiras sámis, indicando que pela região houve algum tipo de assentamento significativo. Até o momento existiam poucas evidências da presença sámi em regiões centrais da Escandinávia da Era Viking, somente em áreas periféricas. As fogueiras foram construídas com pedras em círculo, indicando assentamentos permanentes em vez de acampamentos temporários, datadas do século VIII d.C. (fotos 2 e 3), o século considerado inaugurador do fenômeno viking.



Midthjell espera que a descoberta mude a forma como vemos a história da Escandinávia, apontando que a sociedade daquela época era muito mais diversificada do que se supunha. Anteriormente, vários pesquisadores já atestavam que a região norueguesa era multifacetada etnicamente e repleta de relações interculturais (até no Brasil: Miranda, 2018, p. 540).



O sítio está localizado a aproximadamente 120 km de distância de um importante centro nórdico da Era Viking: Trondheim, local onde os antigos reis eram coroados e a capital da Noruega no século XI (mapa, figura 4).


Reportagem original de Vilde Aardahl Aas, referência da notícia: forskning.no

Referência bibliográfica nesta matéria:

MIRANDA, Pablo Gomes de. Noruega da Era Viking. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2018, p. 539-543.

Para maiores informações sobre os sámis na Escandinávia da Era Viking:

ALVES, Victor Hugo Sampaio. Xamanismo Ártico na Escandinávia: uma análise comparada da ocorrência de fenômenos xamânicos entre os povos nórdicos, balto-fínicos e sámis. Tese deDoutorado em Ciências das Religiões pela UFPB, 2023, p. 31-40. 

MENINI, Victor Bianconi. Sámi, fínicos e nórdicos. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2018, p. 621-626.

domingo, 21 de julho de 2024

Novo vídeo: A cristianização dos vikings

Novo vídeo no canal do NEVE - "A cristianização dos vikings":

Imagem da capa: crucifixo de Aunslev, descoberto na ilha da Fiônia (Dinamarca) em 2016, datado do século X d.C. e possivelmente utilizado por uma mulher. Originalmente foi utilizado com uma corrente e possui cerca de 5 centímetros. Atualmente pertence ao acervo do Museu Viking de Ladby, ilha da Fiônia e é considerado um dos mais antigos crucifixos da região. O objeto possui uma face que se assemelha com figurações do deus Thor e Odin em pingentes e objetos móveis do mundo pré-cristão - um objetivo sintoma de hibridização na arte religiosa danesa.



sexta-feira, 19 de julho de 2024

Vikings no Brasil: moedas nórdicas no Museu Histórico Nacional (RJ)

 



Três moedas da Era Viking no Museu Histórico Nacional (RJ)

 Leandro Vilar Oliveira 

Doutor em Ciências das Religiões pela UFPB 

NEVE/Museu EXEA


O presente estudo analisa brevemente três moedas de governantes que pertenceram ao período da Era Viking (sécs. VIII-XI), sendo uma moeda do século X e duas do XI. As três moedas foram cunhadas no território da Inglaterra, região disputada pelos nórdicos e ingleses desde a segunda metade do século IX.

Posto isso, as análises apresentadas buscaram contextualizar quem foram os governantes por trás dessas moedas e o tipo de cada uma, comentando a respeito da sua tipologia e período de cunhagem. Além disso, sublinha-se que dessas moedas analisadas, a primeira pertenceu a um governante nórdico, e as outras duas foram de reis ingleses.

Por fim, agradeço a reserva técnica do Museu Histórico Nacional, a museóloga Paula Moura Aranha do Núcleo de Acervo Museológico – Numismática do Museu Histórico Nacional, ao professor Johnni Langer do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE), pelo intermédio para obter acesso as essas moedas. Todas as moedas expostas no presente estudo constam da reserva técnica do Museu Histórico Nacional (RJ), não fazendo parte de exibição pública.

 

1) Moeda de Canuto da Nortúmbria

 

            Embora tenha o nome de monarcas famosos, Canuto da Nortúmbria foi um rei pouco conhecido da história anglo-escandinava, tendo governado entre os anos de 900 e 905. Praticamente nada se conhece de seu curto reinado, tampouco sobre suas origens, idade que acendeu ao trono, como conseguiu ser eleito, o que houve depois até sua morte.

            Canuto governou a partir da cidade de Jorvik (atual York) na Inglaterra, uma cidade de origem romana nomeada Eoforwic, mais tarde conquistada pelos anglo-saxões, vindo a se torna capital do Reino da Nortúmbria no século VI d.C. Todavia, os nórdicos a partir da Grande Invasão Danesa de 866, conquistaram a cidade por volta do ano seguinte, colocando-a sob dominação nórdica. (OLIVEIRA, 2018).

            A guerra iniciada em 866 se estendeu até 878, quando um acordo entre o rei Alfredo, o Grande e alguns chefes nórdicos foi feito, estabelecendo assim o Danelaw termo inglês usado para se referir as terras sob ocupação danesa. Neste caso, incluía-se o território do antigo Reino da Nortúmbria, renomeado por alguns cronistas como Reino de York por conta da cidade se tornar sua capital. (OLIVEIRA, 2018).

            Após a conquista nórdica da Nortúmbria o controle da região passou a ser disputado por várias lideranças, chamadas de “reis”, embora na prática fossem mais governadores, condição essa que de 867 a 910, sete governantes disputaram o controle da Nortúmbria, tendo mandatos curtos e até mesmo sobrepostos, pois na época de Canuto, o controle da Nortúmbria era contestado por outros governantes. Apesar disso, sabe-se que Canuto conseguiu dinheiro para mandar cunhar moedas suas, como medida de legitimar-se como governante de direito, já que o uso de moedas com a efígie do monarca, ou seu selo, ou seu nome, era uma forma de legitimação de seu governo.

            Se desconhece como Canuto subiu ao trono, como conseguiu apoiadores e dinheiro para cunhar tais moedas, apesar que York começava a despontar como um polo manufatureiro daquela região, vindo a enriquecer nas décadas seguintes. Isso explicaria duas perguntas do porque o interesse dos nórdicos ali: a concentração de mercadorias e de matérias-primas. Mesmo York ficando a mais de 60 km de distância do mar, ainda assim, o trajeto pelo rio Ouse assegurava o escoamento de seus produtos.

            Mais explanado esse breve contexto sobre o rei Canuto da Nortúmbria, vejamos sua moeda (ver figura 1).

 

Figura 1: Moeda do rei Canuto da Nortúmbria, cunhada entre 900 e 905, em que se ler seu nome em latim CVNNETTI. Fonte: reserva técnica do Museu de História Nacional, Rio de Janeiro.

 

            A moeda de Canuto é baseada no padrão de cruz central usada pelos reis anglo-saxões. Aqui é preciso salientar que foi bastante comum os governantes escandinavos adotarem os modelos anglo-saxões ou ingleses para cunharem suas moedas. A existência da cruz conota que se tratava de um povo cristão, embora não saibamos se Canuto fosse convertido ou não, tendo adotado esse símbolo religioso como forma de se aproximar de seus pretensos súditos. (WILLIAMS, 2014).

            Essa moeda teria sido cunhada em York, entre os anos de 900 e 905, data do governo de Canuto. Para conseguir identifica-la recorreu-se a leitura das letras escritas na mesma, neste caso, era prática dos governantes mandarem cunhar em latim (o idioma culto e régio da época) suas iniciais ou nome completo, sendo traduzido para essa língua. Neste caso, é possível ler CVNNETTI, que consiste na versão latinizada de Cnut, ou Canuto em português.

            Entretanto, não tivemos acesso ao outro lado da moeda, porém, esse traz o nome de Canuto gravado como CNVT (versão nórdica de seu nome), estando associado com a palavra latina REX, usada para designar reis. Ou seja, se havia dúvidas se Canuto da Nortúmbria foi ou não um rei, apesar disso, ele mandou cunhar uma moeda na qual atestava seu direito régio. Além disso, nesse lado da moeda encontra-se uma cruz de outro tipo (ver figura 2).

 

Figura 2: Os dois modelos de moedas de Canuto da Nortúmbria. Fonte: https://cngcoins.com/.

 

            Como salientado por Williams (2014), Canuto da Nortúmbria teve pelo menos dois tipos de moedas reconhecidos, as quais mudam-se o formato da cruz no verso, sendo que seu anverso é quase similar nos dois modelos. A moeda da qual fizemos uso corresponde ao padrão de cima, em que temos uma cruz maior com dois braços.

 

2) Moeda de Etelredo II da Inglaterra

 

            Se há dúvidas quanto à condição de Canuto da Nortúmbria ter sido rei ou não, a próxima moeda pertenceu a um monarca inglês famoso no século X, apesar que sua fama adveio das controvérsias envolvendo suas decisões e falta de tato para a política e a guerra. Etelredo II (c. 966-1016) era filho do rei Edgar da Inglaterra e da rainha Elfrida, sendo ele, fruto do segundo casamento de seu pai. Suas pretensões ao trono eram inesperadas, já que o herdeiro era seu meio-irmão Eduardo (c. 962-978), todavia, esse foi assassinado em circunstâncias não esclarecidas, abrindo precedente para uma crise dinástica. Parte da nobreza e do alto clero apoiaram seu meio-irmão Etelredo, na época com seus doze anos de idade. (ROACH, 2016).

            Sendo um jovem rei, ele foi instruído por seus conselheiros e tutores, mas para piorar a crise política do reino, uma série de ataques vikings começaram a ocorrer durante seu reinado, destacando-se a Batalha de Madon (991), promovida por tropas enviadas pelo rei Olavo I da Noruega (c. 960-1000), que resultou no pagamento do danegeld (tributo de extorsão) para os noruegueses. Após isso a situação de ataques as suas terras reduziram, apesar que os nórdicos ainda vivessem nas terras que compreendiam o Danelaw.

            Em 13 de novembro de 1002 no feriado de São Brice, o rei ordenou um massacre nas comunidades danesas, no intuito de pressionar a saída dos mesmos, porém, o resultado não deu certo. Isso inclusive revoltou o rei Sueno Barba-bifurcada da Dinamarca (963-1014), que enviou algumas excursões para a Inglaterra, apesar que somente em 1013 ele decidiu invadir a ilha com um exército, ambicionando tomar o trono de Etelredo II. (HOWARD, 2013).

            Com a invasão do exército dinamarquês de Sueno no ano de 1013, Etelredo fugiu com sua família e parte da corte para a Normandia, buscando refúgio ali na casa de parentes de sua esposa Ema da Normandia (980-1052). A Inglaterra estava politicamente abandonada aos invasores dinamarqueses. Os lordes e bispos decidiram formar milícias e contra-atacar, mas alguns consideraram o ato do rei de tamanha covardia e decidiram apoiar Sueno, o qual reivindicava a coroa inglesa. O rei Etelredo II ganhou o cognome de “o despreparado” (unready). (ROACH, 2016).

Sueno foi coroado em 1014, mas faleceu de causas não conclusivas naquele ano. Sabendo da morte de Sueno Barba-Bifurcada, Etelredo retornou a Inglaterra e reassumiu o controle do país, apesar de que parte de seus vassalos estivesse contra ele. O monarca que estava com a saúde fragilizada, colocou seu filho Edmundo II (c. 990-1016) para comandar os exércitos do reino a fim de defende-lo da traição dos vassalos que se aliaram aos dinamarqueses. A situação piorou em 1016 quando o príncipe Canuto da Dinamarca retornou a Inglaterra, reivindicando aquele reino. (HOWARD, 2013).

            A guerra eclodiu, em abril Etelredo faleceu, seu filho seguiu no comando das tropas culminando na Batalha de Assadun (18 de outubro de 1016), resultando num acordo de paz. Edmundo ficaria com as terras de Wessex e o restante pertenceria a Canuto. Porém, o rei inglês faleceu em novembro, assim, Canuto II, o Grande (c. 990-1035) tornou-se o único monarca da Inglaterra.

            O rei Etelredo II, o Despreparado reinou por 38 anos, um governo bastante longo, embora seu reinado tenha sido marcado principalmente por seus problemas políticos e militares com os dinamarqueses e noruegueses, algo que culminou com os acontecimentos entre 1013 e 1016. Entretanto, devido ao seu extenso reinado o monarca ordenou a cunhagem de várias moedas, havendo diversos modelos.

            As moedas de Etelredo II são divididas em cinco tipos como apontado por Naismith (2017), os quais são divididos pelo período do seu reinado:

1.      Mão = datado da década de 980.

2.      Cruz = datado de entre 987 a 995.

3.      Cruz longa e elmo = ambos foram produzidos entre 995 e 1009.

4.      Agnus Dei = datado de 1009 a 1010.

5.      Cruz pequena = datado de 1009 a 1016.

 

A moeda que analisamos corresponde ao tipo 3, no caso, sua variedade chamada cruz longa (long cross), a nomenclatura se deve ao formato extenso da cruz encontrado no anverso. Por sua vez, o verso é caracterizado tendo a efígie do monarca usando coroa, tendo cabelos escovados, vestindo um manto real, além de segurar um cetro. Sua face é cunhada olhando para o lado esquerdo, em direção ao cetro. As palavras que rodeiam a efígie são: EDELRED – REX – ANGLO, cuja tradução é Etelredo – Rei – Anglo. (ver figura 3).

 

 

Figura 3: Moeda de Etelredo II com a efígie do monarca e a frase EDELRED – REX – ANGLO. Sendo datada de entre 995 e 1009. Fonte: reserva técnica do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.

 

Smart (1965) comenta que as moedas do tipo cruz longa tiveram uma produção bastante vasta, tendo sido cunhadas em distintas localidades como Lincoln, Norwich, Huntingdon, Bedford, Cambridge, Colchester, Londres, Cantebury, Dover, Romney e Lewes, o que contribuiu para sua difusão por várias regiões do reino.

Por conta dessa diversidade de lugares de cunhagem, Pearsons (1910) comenta que essas moedas apresentavam em alguns casos o nome ou iniciais de onde foi cunhada. Assim, por exemplo, moedas cunhadas em Londres apresentam a palavra LVND, já moedas de Lincoln eram identificadas como LINCOL ou LINC. O autor apontava pelo menos a existência de quatro subtipos, os quais traziam diferenças principalmente no que estava escrito, como a grafia do nome do rei que poderia aparecer de diferentes formas, a maneira como ele era retratado, em que poderia surgir sem coroa e sem cetro, além da condição que a cruz longa também mostrava variações de ornamentação.

Entretanto, a foto que nos foi disponibilizada apenas mostra o lado da efígie, e como não temos uma fotografia da cruz e suas inscrições, não é possível definir em qual cidade essa moeda foi cunhada, pois no lado que falta encontrar-se-ia mais informações sobre seu local de produção. Apesar disso, essa moeda do tipo cruz e a do tipo elmo, ambas produzidas entre 995 e 1009, foram as mais populares do governo de Etelredo II.

Smart (1965) comenta que muitas dessas moedas foram utilizadas no pagamento do danegeld, de impostos, além de serem cunhadas para movimentar a economia. Por conta da presença constante de escandinavos na Inglaterra, na Irlanda e na Escócia, essas moedas de prata do tipo cruz longa, tiveram grande circulação. Além disso, a autora sublinha que esse tipo serviu de modelo para outros governantes.

Para se ter ideia de como o modelo cruz longa do rei Etelredo II foi tão popular na primeira metade do século XI, vários reis de diferentes países o adotaram, entre os quais monarca anglo-daneses como Canuto II, o Grande, Canuto III (Hardacanuto) e Sueno II; monarcas suecos como Olavo, o Tesoureiro e Anundo Jacó; monarcas noruegueses como Olavo II Haraldson e Magno, o Bom; e até o rei Sihtric II de Dublin, foram alguns governantes que copiaram o modelo de Etelredo II, fazendo alterações ínfimas, geralmente substituindo o nome do monarca e outros termos usados, mas o formato da cruz e da efígie, em vários casos era similar (ver figura 4).

 

 
Figura 4: Duas moedas do tipo cruz longa baseadas no modelo de Etelredo II, na versão sem cetro e coroa, ambas datadas da primeira metade do XI. A moeda de cima pertenceu ao rei Olavo, o Tesoureiro, a de baixo pertenceu ao rei Sihtric II de Dublin. Fonte: https://www.cngcoins.com/.

 

3) Moeda de Guilherme, o Conquistador

 

            O terceiro governante do qual tivemos acesso a uma moeda foi o rei Guilherme, o Conquistador (c. 1028-1087). Enquanto Canuto era nórdico (não se sabe se era dinamarquês ou norueguês) e Etelredo era inglês, Guilherme era um nobre franco nascido no Ducado da Normandia, sendo filho bastardo do duque Roberto I com sua amante Arlete de Falaise. Apesar de sua origem franca, Guilherme era descendente de nórdicos, pois a origem de sua casa remontava ao viking Rollo (860-932), que foi nomeado primeiro senhor da Normandia graças a seu acordo realizado com o rei Carlos III, o Simples. (HUSCROFT, 2009).

            Apesar dessa conexão com os nórdicos, na época de Roberto I e Guilherme, sua família se considerava muito mais próxima dos francos do que dos nórdicos. Por conta disso, os historiadores britânicos costumam marcar a vitória de Guilherme sobre a Inglaterra como o final da Era Viking, apesar que outros historiadores estendam essa periodização para até o final do século XI. (HUSCROFT, 2009).

            Pela condição de Guilherme ser um bastardo, ele teve oposição na corte de seu pai, mesmo sendo o filho mais velho desse, entretanto, os nobres cobravam ao duque Roberto que se casasse e tivesse um herdeiro legítimo. No ano de 1034 a fome começou a assolar parte da França, Roberto como homem de fé, decidiu realizar uma peregrinação até Jerusalém, em busca das bênçãos de Deus para pôr fim aquele problema, no entanto, ele acabou falecendo durante a viagem em 1035. Porém, ele havia deixado o jovem Guilherme como seu herdeiro oficial, mesmo que a contragosto de outros nobres normandos.

            Guilherme foi tutelado pelo conde Alano III da Bretanha, passando os anos seguintes tentando legitimar seu direito ao governo do ducado, algo alcançado em 1047 após a vitória na Batalha de Val-ès-Dunes. Após isso ele passou a expandir sua influência pelos territórios vizinhos. Porém, foi no começo da década de 1060 que sua atenção se mudou para a Inglaterra. Naquele tempo a dinastia dos reis dinamarqueses já havia perdido o controle sobre o reino inglês, sendo esse governado por Eduardo, o Confessor (1003-1066), filho de Etelredo II e Ema da Normandia, o que fazia do rei inglês ser primo de Guilherme. Mas o interesse surgiu devido ao fato de Eduardo não ter tido filhos. (DOUGLAS, 1964).

            Durante seu exílio na Normandia, Eduardo conviveu com Guilherme, gerando uma amizade cuja profundidade se desconhece exatamente. No entanto, o duque normando usou isso como pretexto para seu direito ao trono da Inglaterra, alegando que seu primo o havia escolhido como sucessor. Eduardo faleceu em 1066 sem designar oficialmente um sucessor, então o conde Goduíno de Wessex, bastante influente na época, convocou o conselho do Witenagemot para se escolher o próximo rei, evidentemente que Goduíno propôs o nome de seu filho Haroldo como candidato, e esse acabou sendo coroado rei.

            Guilherme considerou a decisão do Witenagemot apenas um falso pleito, uma armação de Goduíno para coroar seu filho, assim, ele reuniu seu exército e invadiu a Inglaterra ainda em 1066. Mas a situação pioraria por conta de que o rei Haroldo III “Hardrada” da Noruega (1015-1066) decidiu também entrar nessa disputa. Assim, a Inglaterra naquele ano, passou a ser disputada por três reis. (DOUGLAS, 1964).

            Haroldo II decidiu confrontar primeiramente os noruegueses, marchando com seu exército para o norte do país, vindo a ocorrer a Batalha de Stamford Bridge (25 de setembro de 1066), a leste de York, culminando na vitória inglesa. O rei Haroldo Hardrada e parte de seus comandantes pereceram no campo de batalha. Um inimigo havia sido derrotado, com isso Haroldo II marchou com seu exército de volta ao sul para confrontar Guilherme da Normandia, resultando na fatídica Batalha de Hastings (14 de outubro de 1066), que concedeu vitória ao exército normando. Haroldo acabou morrendo durante esse conflito. (DOUGLAS, 1964).

            Dessa forma, sem ter mais opositores, Guilherme foi reconhecido pelos lordes ingleses como governante de direito, por ter obtido vitórias militares, sendo chamado de Guilherme, o Conquistador. Seu reinado se estendeu até 1087, ano de sua morte, nesse período de duas décadas, várias moedas foram cunhadas, totalizando oito tipos delas conforme apresentado por Allen (2014), sendo estes:

·         Tipo I = 1066-1068

·         Tipo II = 1068-1071

·         Tipo III = 1071-1074

·         Tipo IV = 1074-1077

·         Tipo V = 1077-1080

·         Tipo VI = 1080-1083

·         Tipo VII = 1083-1086

·         Tipo VIII = 1086-1087 ou 1086-1090

 

Conforme salientado por Carlyon-Britton (1905), as mudanças entre tipos de moedas de Guilherme I estão associadas com as palavras utilizadas, a forma como a efígie do monarca era retratada, detalhes nas cruzes e em outros ornamentos que aparecem nessas moedas. Inclusive o autor sublinha a existência de padrões de transição, chamados de “mula”, como o tipo mula I-II, ou o mula III-IV, ou o mula VII-VIII, que significa uma moeda de transição entre os dois tipos. Entretanto, o exemplar aqui analisado pertence ao Tipo VIII, sendo o último modelo cunhado na vida do monarca.

O Tipo VIII também é chamado de tipo PAXS, devido a essa palavra está gravada em destaque no anverso da moeda, ao redor da cruz, significando “paz”, uma referência aos tempos pacíficos alcançados por Guilherme I, embora não se imaginasse que o monarca morresse no ano seguinte, já que em 1086 ele retornou a Normandia para casar uma das filhas e punir alguns nobres rebeldes. Durante o conflito ele teria adoecido ou sido ferido, as informações são inconclusivas. O rei foi internado no Convento de São Gervásio em Ruão, falecendo em setembro de 1087, aos 59 anos. (DOUGLAS, 1964).

Carlyon-Britton (1905) assinala que a localização das letras PAXS podem variar de acordo com a moeda, o motivo não é claro. No entanto, o exemplar do qual tivemos acesso, não dispomos do verso contendo a efígie real, apenas do anverso onde se localiza a palavra PAXS, porém, as bordas da moeda estão bastante danificadas o que dificulta prosseguir com sua análise e identificação. Além disso, um furo foi feito nela, indicando que tenha sido usada talvez como pingente (ver figura 5).

 

Figura 5: Moeda do Tipo VIII ou PAXS do reinado de Guilherme I da Inglaterra. Cunhada entre 1086 e 1087. Fonte: reserva técnica do Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.

 

Neste caso, conseguimos identificar as letras L, E, O, N, S, L, I, E, porém, como a moeda está bastante danificada nas bordas, a ponto de algumas letras estarem apagadas, isso dificulta a conclusão de sua identificação. Entretanto, com base no catálogo de Carlyon-Britton (1905), tentou-se a partir dessas letras identificar a procedência da moeda, mas nenhum dos nomes latinos de localidades inglesas confere com as letras identificadas, seria necessário ter o restante do texto para apurar isso. Além disso, como apontado por Allen (2014), a moeda do Tipo VIII teve pelo menos 65 localidades onde foi cunhada, um número bastante elevado para tentar descobrir a procedência do exemplar analisado sem dispor das letras completas.

Allen (2014) salienta que a moeda Tipo VIII teria sido cunhada até por volta do ano 1090, já incluindo o início do reinado de Guilherme II (c. 1056-1100), o qual mesmo tendo cunhado suas moedas a partir de 1087, teria mantido esse padrão de seu pai na ativa, valendo-se da ideia de uma “pax inglesa” perpetuada por ele no final de seu reinado. 

Figura 6: Exemplar da moeda tipo VIII (PAXS) de Guilherme, o Conquistador. Fonte: https://www.cngcoins.com/.

 

Observação:

Um ensaio de popularização científica foi publicado pelo professor Renan Marques Birro em site atualmente indisponível (https://www.escandinaviamedieval.org/) a respeito dessas moedas da Era Viking constantes da reserva técnica do Museu Histórico Nacional (RJ). A mesma pesquisa foi apresentada em evento acadêmico em 2018 (Numismática, imagens e diáspora: um estudo preliminar sobre as moedas escandinavas da Era Viking tardia aos cuidados do Museu Histórico Nacional, IX Encontro Internacional - A Imagem Medieval: História e Teoria, FFLCH/USP), mas ainda se mantém inédita em publicações. O autor do presente estudo não conseguiu ter acesso a esta pesquisa anterior de Renan Birro.

Referências bibliográficas:

ALLEN, Martin. Coinage and Currency Under William I and William II. In: NAISMITH, Rory; ALLEN, Martin; SCREEN, Elina (eds.). Early Medieval Monetary History: studies in memory of Mark Blackburn. London: Routledge, 2014, p. 85-112.

DOUGLAS, David C. William the Conqueror: The Norman Impact Upon England. Berkeley: University of California Press, 1964.

HADLEY, D. M. The northern Danelaw: its social structure: c. 800-1100. New York: Leicester University Press, 2000.

HOWARD, Ian. Swein Forkbeard’s invasions and the Danish Conquest of England 991-1017. Woodbridge: The Boydell Press, 2003.

HUSCROFT, Richard. The Norman Conquest: A New Introduction. New York: Longman, 2009.

KEYNES, Simon. The Vikings in England, c. 790-1016. In: SAWYER, Peter (ed.). The Oxford Illustrated History of the Vikings. New York: Oxford University Press, 1997. p. 48-82.

NAISMITH, Rory. The Coinage of Æthelred II: A New Evaluation. English Studies, v. 97, n. 2, 2016, p. 117-139.

NAISMITH, Rory. Medieval European Coinage: Britain and Ireland c. 400-1066, vol. 8. Cambridge: Cambridge University Press, 2017.

OLIVEIRA, Leandro Vilar. Jorvik. In: LANGER, Johnni (org.). Dicionário de história e cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2018, p. 443-446.

OLIVEIRA, Leandro Vilar; LANGER, Johnni. Entre cervos, Odin e Sigurd: simbolismos religiosos em moedas danesas da Era Viking. Medievalis 10(2), 2021, pp. 24-56. 

PARSONS, Alexander. The coins-types of Aethelred II. The Numismatic Chronicle and Journal of the Royal Numismatic Society, Fourth Series, vol. 10, 1910, p. 251-290.

ROACH, Levi. Æthelred the Unready. New Haven, Connecticut: Yale University Press, 2016.

SMART, Veronica J. A Subsidiary Issue of Æthelred II's Long Cross. BNJ, v. 34, 1965, p. 37-41.

WILLIAMS, Gareth. Coins and Currency in Viking England, AD 865-954. In: NAISMITH, Rory; ALLEN, Martin; SCREEN, Elina (eds.). Early Medieval Monetary History: studies in memory of Mark Blackburn. London: Routledge, 2014, p. 13-38.

quarta-feira, 17 de julho de 2024

NEVE analisa o último vídeo do canal Brasão de Armas

Nova postagem do professor Johnni Langer, desta vez analisando o último vídeo do canal 'Brasão de Armas' (O Homem do Norte: O Filme Viking MAIS Realista?).



























domingo, 14 de julho de 2024

Os vikings estão de volta - inscrições abertas para o XII CEVE!

 


Os vikings estão de volta! A nova edição do Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos será realizada em conjunto com a II Jornada de Arqueologia Viking e terá como temática "Os vikings na História e na Arqueologia". As inscrições para ouvintes e comunicadores serão totalmente gratuitas e públicas e estão disponíveis no site do evento.

A programação do evento também já está disponível. Serão quatro conferencistas internacionais: dois historiadores (Francesco D´Angelo e Jean Renaud) e dois arqueólogos (Kevin Smith e Morten Søvsø). O evento também contará com um minicurso (Barcos de pedra: os memoriais megalíticos dos vikings) e uma oficina (Arqueologia experimental da Era Viking: teoria e prática) e duas mesas redondas: "A História dos vikings" e "Runas e pedras rúnicas da Era Viking". As sessões de comunicações serão definidas no final de outubro.

Para quem tiver interesse na inscrição de comunicações, o prazo é até o dia 20 de outubro, dentro de três eixos temáticos: Cultura material e iconográfica na Era Viking, História dos nórdicos na Era Viking, Os vikings na recepção e na historiografia. Maiores informações de formatação e normas consultar o site do evento.


sexta-feira, 5 de julho de 2024

Chamada p. dossiê: traduções - a recepção literária da Mitologia Nórdica

Imagem do cartaz: Loke og Sigyn, de Christoffer Wilhelm Eckersberg, óleo em tela, 1810. 


 CHAMADA PARA DOSSIÊ: TRADUÇÕES – A RECEPÇÃO LITERÁRIA DA MITOLOGIA NÓRDICA, SCANDIA 8, 2025.

Prazo final para envio: 31 de agosto de 2025

Scandia Journal of Medieval Norse Studies (ISSN: 2595-9107).

Os estudos de recepção de temática nórdica estão ocupando um espaço cada vez mais importante na Escandinavística e na academia em geral. Seguindo esta tendência, a revista Scandia pretende dar continuidade a um dossiê já realizado em sua edição n. 3 de 2020, convocando os pesquisadores e tradutores a realizarem contribuições para a nova coletânea da seção Traduções. As contribuições podem envolver qualquer tipo de narrativa literária (preferencialmente poesias, contos, fábulas e pequenas peças teatrais ou operísticas), que contenham conteúdo referente à Mitologia Nórdica, produzidas entre os séculos XVIII ao XXI. As narrativas originais podem estar em qualquer idioma ocidental moderno.

Os trabalhos devem seguir a seguinte estrutura: uma apresentação breve (de no mínimo 1 página), discutindo o contexto histórico-literário da obra e da autoria; a tradução da obra – no caso de poesia, justapor o texto original com a tradução em dois quadros, no caso de prosa, apresentar o texto original e em seguida a tradução, sendo que o tamanho máximo da parte tradutória deve ser de no máximo 50 páginas; a parte final, um texto analítico da fonte literária traduzida (com no mínimo 2 páginas). Podem ser utilizadas obras de qualquer língua europeia, sendo que as traduções devem ser realizadas para o português ou espanhol. Instrumentos e detalhes da tradução devem ser inseridos em notas de rodapé. Maiores informações sobre normas de formatação e de publicação consultar o site da revista. 

O dossiê está sendo organizado pelos professores Johnni Langer e Luciana de Campos (NEVE), com colaboração do Grupo Reception (Universidade de Alcalá, Espanha).

As contribuições para este dossiê devem ser enviadas até o dia 31 de agosto de 2025 pelo site da revista, seguindo a formatação geral das diretrizes para autores. Os proponentes devem ser ao menos mestrandos em qualquer área do conhecimento. 

Informações: scandiajournalneve@gmail.com  

Site da Revista Scandia


Bibliografia sobre recepção de temas nórdicos:

Traduções (Dossiê): vikings e mitos nórdicos na recepção literária ocidental (1750-1900), Scandia Journal of Medieval Norse Studies n. 3, 2020. 

BIRKETT, Tom (Ed.). The Vikings Reimagined: Reception, Recovery, Engagement. De Gruyter and Medieval Institute Publications, 2019.

BOYER, Régis. Le mythe viking  dans les lettres françaises. Paris: Editions du Porte-Glaive, 1986.

DELGADO, Alberto robles. «Salvajes, vikingos y monstruos: la construcción de la barbarie en Juego de Tronos» en  Juego de Tronos: un dialogo con la Historia (y las Humanidades), Antonio Míguez Santa Cruz (ed.), 2021. 

GAUTIER, ALBAN ET AL. "Winter is Medieval: Représentations modernes et contemporaines des Nords médiévaux", Deshima n. 15, 2021, pp.119-178. 

HALINK, Simon (Org.). Northern Myths, Modern Identities: The Nationalisation of Northern Mythologies Since 1800. Leiden: Brill Publishing, 2019.

LANGER, Johnni. Recepção Nórdica: Guia metodológico e bibliográfico. Blog do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, 26 de junho de 2023. 

LANGER, Johnni. Quando o mito foi História: Os usos da mitologia nórdica no livro “História Ilustrada da Dinamarca para o povo” (1854). Fênix: Revista de História e Estudos Culturais 19(20), 2022, p. 139–167. 

LANGER, Johnni; MENINI, Vitor Bianconi. A invenção literária do nórdico: Vikingen (O Viking), de Erik Gustaf Geijer (1811). Scandia: Journal of Medieval Norse Studies n. 3, 2020, pp. 709-738. 

MEILAN, Nicolas; RÖSLI, Lukas (Orgs.). Old Norse Myths as Political Ideologies Critical Studies in the Appropriation of Medieval Narratives. Turnhout: Brepols Publishers, 2020.

ORTIZ-DE-URBINA, Paloma; Tomas Macsotay (Org): Recepción de Richard Wagner y Vanguardia en las Artes Españolas: Mito y Materialidad. Madrid: Editorial Dykinson, 2024. 

ORTIZ-DE-URBINA, Paloma (Org). Germanic Myths in the Audiovisual Culture. Tübingen: Gunter Narr Verlag, 2020. 

ORTIZ-DE-URBINA, Paloma. La recepción de Richard Wagner en Madrid (1900-1914), Madrid, Universidad Complutense de Madrid, 2003.

 ROSS, Margaret Clunies (Org.). The Pre-Christian Religions of the North: Research and Reception, Volume I: From the Middle Ages to c. 1830. Turnhout: Brepols Publishers, 2018.

ROSS, Margaret Clunies (Org.). The Pre-Christian Religions of the North: Research and Reception, Volume II: From c. 1830 to the Present. Turnhout: Brepols Publishers, 2018.

ROSS, Margaret Clunies. Reception studies in: GLAUSER, Jürg et al (Org.). Handbook of Pre-Modern Nordic Memory Studies. Berlin: Walter de Gruyter GmbH, 2018.

ROSS, Margaret Clunies & LÖNNROTH, Lars. The Norse Muse Report. Alvíssmál, n. 9, 1999, p. 3–28. https://userpage.fu-berlin.de/~alvismal/9muse.pdf 

QUIN, Judy; CIPOLA, Maria Dele (orgs.). Studies in the Transmission and Reception of Old Norse Literature: The Hyperborean Muse in European Culture. Brepols: Turnhout, 2016.

ZERNACK, Julia; SCHULZ, Katja (Org). Gylfis Täuschung. Rezeptionsgeschichtliches: Lexikon zur nordischen Mythologie und Heldensage. Heidelberg: Universitätsverlag Winter, 2019.

WAWN, Andrew. The Vikings and the victorians: inventing the old north in 19th-century Britain. Cambridge: D.S. Brewer, 2000.

WILKINS, Kim. ͞Ravished by Vikings͟: The Pre-modern and the Paranormal in Viking Romance Fiction. Journal of Popular Romance Studies 5.2, 2016.