Três moedas da Era Viking no Museu
Histórico Nacional (RJ)
Leandro Vilar Oliveira
Doutor em Ciências das Religiões pela UFPB
NEVE/Museu EXEA
O presente estudo analisa
brevemente três moedas de governantes que pertenceram ao período da Era Viking
(sécs. VIII-XI), sendo uma moeda do século X e duas do XI. As três moedas foram
cunhadas no território da Inglaterra, região disputada pelos nórdicos e
ingleses desde a segunda metade do século IX.
Posto isso, as análises
apresentadas buscaram contextualizar quem foram os governantes por trás dessas
moedas e o tipo de cada uma, comentando a respeito da sua tipologia e período
de cunhagem. Além disso, sublinha-se que dessas moedas analisadas, a primeira
pertenceu a um governante nórdico, e as outras duas foram de reis ingleses.
Por fim, agradeço a
reserva técnica do Museu Histórico Nacional, a museóloga Paula Moura Aranha do
Núcleo de Acervo Museológico – Numismática do Museu Histórico Nacional, ao
professor Johnni Langer do Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos (NEVE),
pelo intermédio para obter acesso as essas moedas. Todas as moedas expostas no
presente estudo constam da reserva técnica do Museu Histórico Nacional (RJ),
não fazendo parte de exibição pública.
1)
Moeda de Canuto da Nortúmbria
Embora tenha o nome de monarcas famosos, Canuto da
Nortúmbria foi um rei pouco conhecido da história anglo-escandinava, tendo
governado entre os anos de 900 e 905. Praticamente nada se conhece de seu curto
reinado, tampouco sobre suas origens, idade que acendeu ao trono, como
conseguiu ser eleito, o que houve depois até sua morte.
Canuto governou a partir da cidade de Jorvik (atual York)
na Inglaterra, uma cidade de origem romana nomeada Eoforwic, mais tarde
conquistada pelos anglo-saxões, vindo a se torna capital do Reino da Nortúmbria
no século VI d.C. Todavia, os nórdicos a partir da Grande Invasão Danesa de
866, conquistaram a cidade por volta do ano seguinte, colocando-a sob dominação
nórdica. (OLIVEIRA, 2018).
A guerra iniciada em 866 se estendeu até 878, quando um
acordo entre o rei Alfredo, o Grande e alguns chefes nórdicos foi feito,
estabelecendo assim o Danelaw termo inglês usado para se referir as terras sob
ocupação danesa. Neste caso, incluía-se o território do antigo Reino da
Nortúmbria, renomeado por alguns cronistas como Reino de York por conta da
cidade se tornar sua capital. (OLIVEIRA, 2018).
Após a conquista nórdica da Nortúmbria o controle da
região passou a ser disputado por várias lideranças, chamadas de “reis”, embora
na prática fossem mais governadores, condição essa que de 867 a 910, sete
governantes disputaram o controle da Nortúmbria, tendo mandatos curtos e até
mesmo sobrepostos, pois na época de Canuto, o controle da Nortúmbria era
contestado por outros governantes. Apesar disso, sabe-se que Canuto conseguiu
dinheiro para mandar cunhar moedas suas, como medida de legitimar-se como
governante de direito, já que o uso de moedas com a efígie do monarca, ou seu
selo, ou seu nome, era uma forma de legitimação de seu governo.
Se desconhece como Canuto subiu ao trono, como conseguiu
apoiadores e dinheiro para cunhar tais moedas, apesar que York começava a
despontar como um polo manufatureiro daquela região, vindo a enriquecer nas
décadas seguintes. Isso explicaria duas perguntas do porque o interesse dos
nórdicos ali: a concentração de mercadorias e de matérias-primas. Mesmo York
ficando a mais de 60 km de distância do mar, ainda assim, o trajeto pelo rio
Ouse assegurava o escoamento de seus produtos.
Mais explanado esse breve contexto sobre o rei Canuto da
Nortúmbria, vejamos sua moeda (ver figura 1).
Figura
1: Moeda do rei Canuto da Nortúmbria,
cunhada entre 900 e 905, em que se ler seu nome em latim CVNNETTI. Fonte: reserva
técnica do Museu de História Nacional, Rio de Janeiro.
A moeda de Canuto
é baseada no padrão de cruz central usada pelos reis anglo-saxões. Aqui é
preciso salientar que foi bastante comum os governantes escandinavos adotarem
os modelos anglo-saxões ou ingleses para cunharem suas moedas. A existência da
cruz conota que se tratava de um povo cristão, embora não saibamos se Canuto
fosse convertido ou não, tendo adotado esse símbolo religioso como forma de se
aproximar de seus pretensos súditos. (WILLIAMS, 2014).
Essa moeda teria sido cunhada em York, entre os anos de
900 e 905, data do governo de Canuto. Para conseguir identifica-la recorreu-se
a leitura das letras escritas na mesma, neste caso, era prática dos governantes
mandarem cunhar em latim (o idioma culto e régio da época) suas iniciais ou
nome completo, sendo traduzido para essa língua. Neste caso, é possível ler
CVNNETTI, que consiste na versão latinizada de Cnut, ou Canuto em português.
Entretanto, não tivemos acesso ao outro lado da moeda,
porém, esse traz o nome de Canuto gravado como CNVT (versão nórdica de seu
nome), estando associado com a palavra latina REX, usada para designar reis. Ou
seja, se havia dúvidas se Canuto da Nortúmbria foi ou não um rei, apesar disso,
ele mandou cunhar uma moeda na qual atestava seu direito régio. Além disso,
nesse lado da moeda encontra-se uma cruz de outro tipo (ver figura 2).
Figura
2: Os dois modelos de moedas de Canuto da Nortúmbria. Fonte: https://cngcoins.com/.
Como salientado por Williams (2014), Canuto da Nortúmbria
teve pelo menos dois tipos de moedas reconhecidos, as quais mudam-se o formato
da cruz no verso, sendo que seu anverso é quase similar nos dois modelos. A
moeda da qual fizemos uso corresponde ao padrão de cima, em que temos uma cruz
maior com dois braços.
2)
Moeda de Etelredo II da Inglaterra
Se há dúvidas quanto à condição de Canuto da Nortúmbria
ter sido rei ou não, a próxima moeda pertenceu a um monarca inglês famoso no
século X, apesar que sua fama adveio das controvérsias envolvendo suas decisões
e falta de tato para a política e a guerra. Etelredo II (c. 966-1016) era filho
do rei Edgar da Inglaterra e da rainha Elfrida, sendo ele, fruto do segundo
casamento de seu pai. Suas pretensões ao trono eram inesperadas, já que o
herdeiro era seu meio-irmão Eduardo (c. 962-978), todavia, esse foi assassinado
em circunstâncias não esclarecidas, abrindo precedente para uma crise
dinástica. Parte da nobreza e do alto clero apoiaram seu meio-irmão Etelredo,
na época com seus doze anos de idade. (ROACH, 2016).
Sendo um jovem rei, ele foi instruído por seus
conselheiros e tutores, mas para piorar a crise política do reino, uma série de
ataques vikings começaram a ocorrer durante seu reinado, destacando-se a
Batalha de Madon (991), promovida por tropas enviadas pelo rei Olavo I da
Noruega (c. 960-1000), que resultou no pagamento do danegeld (tributo de
extorsão) para os noruegueses. Após isso a situação de ataques as suas terras
reduziram, apesar que os nórdicos ainda vivessem nas terras que compreendiam o
Danelaw.
Em 13 de novembro de 1002 no feriado de São Brice, o rei
ordenou um massacre nas comunidades danesas, no intuito de pressionar a saída
dos mesmos, porém, o resultado não deu certo. Isso inclusive revoltou o rei
Sueno Barba-bifurcada da Dinamarca (963-1014), que enviou algumas excursões
para a Inglaterra, apesar que somente em 1013 ele decidiu invadir a ilha com um
exército, ambicionando tomar o trono de Etelredo II. (HOWARD, 2013).
Com a invasão do exército dinamarquês de Sueno no ano de
1013, Etelredo fugiu com sua família e parte da corte para a Normandia,
buscando refúgio ali na casa de parentes de sua esposa Ema da Normandia
(980-1052). A Inglaterra estava politicamente abandonada aos invasores
dinamarqueses. Os lordes e bispos decidiram formar milícias e contra-atacar,
mas alguns consideraram o ato do rei de tamanha covardia e decidiram apoiar
Sueno, o qual reivindicava a coroa inglesa. O rei Etelredo II ganhou o cognome
de “o despreparado” (unready). (ROACH, 2016).
Sueno foi coroado em
1014, mas faleceu de causas não conclusivas naquele ano. Sabendo da morte de
Sueno Barba-Bifurcada, Etelredo retornou a Inglaterra e reassumiu o controle do
país, apesar de que parte de seus vassalos estivesse contra ele. O monarca que
estava com a saúde fragilizada, colocou seu filho Edmundo II (c. 990-1016) para
comandar os exércitos do reino a fim de defende-lo da traição dos vassalos que
se aliaram aos dinamarqueses. A situação piorou em 1016 quando o príncipe
Canuto da Dinamarca retornou a Inglaterra, reivindicando aquele reino. (HOWARD,
2013).
A guerra eclodiu, em abril Etelredo faleceu, seu filho
seguiu no comando das tropas culminando na Batalha de Assadun (18 de outubro de
1016), resultando num acordo de paz. Edmundo ficaria com as terras de Wessex e
o restante pertenceria a Canuto. Porém, o rei inglês faleceu em novembro, assim,
Canuto II, o Grande (c. 990-1035) tornou-se o único monarca da Inglaterra.
O rei Etelredo II, o Despreparado reinou por 38 anos, um
governo bastante longo, embora seu reinado tenha sido marcado principalmente
por seus problemas políticos e militares com os dinamarqueses e noruegueses,
algo que culminou com os acontecimentos entre 1013 e 1016. Entretanto, devido
ao seu extenso reinado o monarca ordenou a cunhagem de várias moedas, havendo
diversos modelos.
As moedas de Etelredo II são divididas em cinco tipos
como apontado por Naismith (2017), os quais são divididos pelo período do seu
reinado:
1. Mão
= datado da década de 980.
2. Cruz
= datado de entre 987 a 995.
3. Cruz
longa e elmo = ambos foram produzidos entre 995 e 1009.
4. Agnus
Dei = datado de 1009 a 1010.
5. Cruz
pequena = datado de 1009 a 1016.
A moeda que analisamos corresponde ao tipo 3, no caso,
sua variedade chamada cruz longa (long cross), a nomenclatura se deve ao
formato extenso da cruz encontrado no anverso. Por sua vez, o verso é
caracterizado tendo a efígie do monarca usando coroa, tendo cabelos escovados,
vestindo um manto real, além de segurar um cetro. Sua face é cunhada olhando
para o lado esquerdo, em direção ao cetro. As palavras que rodeiam a efígie
são: EDELRED – REX – ANGLO, cuja tradução é Etelredo – Rei – Anglo. (ver figura
3).
Figura 3:
Moeda de Etelredo II com a efígie do monarca e a frase EDELRED – REX – ANGLO.
Sendo datada de entre 995 e 1009. Fonte: reserva técnica do Museu Histórico
Nacional, Rio de Janeiro.
Smart (1965) comenta que as moedas do tipo cruz longa
tiveram uma produção bastante vasta, tendo sido cunhadas em distintas
localidades como Lincoln, Norwich, Huntingdon, Bedford, Cambridge, Colchester,
Londres, Cantebury, Dover, Romney e Lewes, o que contribuiu para sua difusão
por várias regiões do reino.
Por conta dessa diversidade de lugares de cunhagem, Pearsons
(1910) comenta que essas moedas apresentavam em alguns casos o nome ou iniciais
de onde foi cunhada. Assim, por exemplo, moedas cunhadas em Londres apresentam
a palavra LVND, já moedas de Lincoln eram identificadas como LINCOL ou LINC. O
autor apontava pelo menos a existência de quatro subtipos, os quais traziam
diferenças principalmente no que estava escrito, como a grafia do nome do rei que
poderia aparecer de diferentes formas, a maneira como ele era retratado, em que
poderia surgir sem coroa e sem cetro, além da condição que a cruz longa também
mostrava variações de ornamentação.
Entretanto, a foto que
nos foi disponibilizada apenas mostra o lado da efígie, e como não temos uma
fotografia da cruz e suas inscrições, não é possível definir em qual cidade
essa moeda foi cunhada, pois no lado que falta encontrar-se-ia mais informações
sobre seu local de produção. Apesar disso, essa moeda do tipo cruz e a do tipo
elmo, ambas produzidas entre 995 e 1009, foram as mais populares do governo de
Etelredo II.
Smart (1965) comenta que muitas dessas moedas foram
utilizadas no pagamento do danegeld, de impostos, além de serem cunhadas para
movimentar a economia. Por conta da presença constante de escandinavos na
Inglaterra, na Irlanda e na Escócia, essas moedas de prata do tipo cruz longa,
tiveram grande circulação. Além disso, a autora sublinha que esse tipo serviu
de modelo para outros governantes.
Para se ter ideia de como o modelo cruz longa do rei
Etelredo II foi tão popular na primeira metade do século XI, vários reis de
diferentes países o adotaram, entre os quais monarca anglo-daneses como Canuto
II, o Grande, Canuto III (Hardacanuto) e Sueno II; monarcas suecos como Olavo,
o Tesoureiro e Anundo Jacó; monarcas noruegueses como Olavo II Haraldson e
Magno, o Bom; e até o rei Sihtric II de Dublin, foram alguns governantes que
copiaram o modelo de Etelredo II, fazendo alterações ínfimas, geralmente substituindo
o nome do monarca e outros termos usados, mas o formato da cruz e da efígie, em
vários casos era similar (ver figura 4).
Figura
4: Duas moedas do tipo cruz longa baseadas no modelo de Etelredo II, na versão
sem cetro e coroa, ambas datadas da primeira metade do XI. A moeda de cima
pertenceu ao rei Olavo, o Tesoureiro, a de baixo pertenceu ao rei Sihtric II de
Dublin. Fonte: https://www.cngcoins.com/.
3)
Moeda de Guilherme, o Conquistador
O terceiro governante do qual tivemos acesso a uma moeda
foi o rei Guilherme, o Conquistador (c. 1028-1087). Enquanto Canuto era nórdico
(não se sabe se era dinamarquês ou norueguês) e Etelredo era inglês, Guilherme
era um nobre franco nascido no Ducado da Normandia, sendo filho bastardo do
duque Roberto I com sua amante Arlete de Falaise. Apesar de sua origem franca,
Guilherme era descendente de nórdicos, pois a origem de sua casa remontava ao
viking Rollo (860-932), que foi nomeado primeiro senhor da Normandia graças a
seu acordo realizado com o rei Carlos III, o Simples. (HUSCROFT, 2009).
Apesar dessa conexão com os nórdicos, na época de Roberto
I e Guilherme, sua família se considerava muito mais próxima dos francos do que
dos nórdicos. Por conta disso, os historiadores britânicos costumam marcar a
vitória de Guilherme sobre a Inglaterra como o final da Era Viking, apesar que
outros historiadores estendam essa periodização para até o final do século XI.
(HUSCROFT, 2009).
Pela condição de Guilherme ser um bastardo, ele teve
oposição na corte de seu pai, mesmo sendo o filho mais velho desse, entretanto,
os nobres cobravam ao duque Roberto que se casasse e tivesse um herdeiro legítimo.
No ano de 1034 a fome começou a assolar parte da França, Roberto como homem de
fé, decidiu realizar uma peregrinação até Jerusalém, em busca das bênçãos de
Deus para pôr fim aquele problema, no entanto, ele acabou falecendo durante a
viagem em 1035. Porém, ele havia deixado o jovem Guilherme como seu herdeiro
oficial, mesmo que a contragosto de outros nobres normandos.
Guilherme foi tutelado pelo conde Alano III da Bretanha,
passando os anos seguintes tentando legitimar seu direito ao governo do ducado,
algo alcançado em 1047 após a vitória na Batalha de Val-ès-Dunes. Após isso ele
passou a expandir sua influência pelos territórios vizinhos. Porém, foi no
começo da década de 1060 que sua atenção se mudou para a Inglaterra. Naquele
tempo a dinastia dos reis dinamarqueses já havia perdido o controle sobre o
reino inglês, sendo esse governado por Eduardo, o Confessor (1003-1066), filho
de Etelredo II e Ema da Normandia, o que fazia do rei inglês ser primo de
Guilherme. Mas o interesse surgiu devido ao fato de Eduardo não ter tido
filhos. (DOUGLAS, 1964).
Durante seu exílio na Normandia, Eduardo conviveu com
Guilherme, gerando uma amizade cuja profundidade se desconhece exatamente. No
entanto, o duque normando usou isso como pretexto para seu direito ao trono da
Inglaterra, alegando que seu primo o havia escolhido como sucessor. Eduardo
faleceu em 1066 sem designar oficialmente um sucessor, então o conde Goduíno de
Wessex, bastante influente na época, convocou o conselho do Witenagemot para se
escolher o próximo rei, evidentemente que Goduíno propôs o nome de seu filho
Haroldo como candidato, e esse acabou sendo coroado rei.
Guilherme considerou a decisão do Witenagemot apenas um
falso pleito, uma armação de Goduíno para coroar seu filho, assim, ele reuniu
seu exército e invadiu a Inglaterra ainda em 1066. Mas a situação pioraria por
conta de que o rei Haroldo III “Hardrada” da Noruega (1015-1066) decidiu também
entrar nessa disputa. Assim, a Inglaterra naquele ano, passou a ser disputada
por três reis. (DOUGLAS, 1964).
Haroldo II decidiu confrontar primeiramente os
noruegueses, marchando com seu exército para o norte do país, vindo a ocorrer a
Batalha de Stamford Bridge (25 de setembro de 1066), a leste de York,
culminando na vitória inglesa. O rei Haroldo Hardrada e parte de seus
comandantes pereceram no campo de batalha. Um inimigo havia sido derrotado, com
isso Haroldo II marchou com seu exército de volta ao sul para confrontar
Guilherme da Normandia, resultando na fatídica Batalha de Hastings (14 de
outubro de 1066), que concedeu vitória ao exército normando. Haroldo acabou
morrendo durante esse conflito. (DOUGLAS, 1964).
Dessa forma, sem ter mais opositores, Guilherme foi
reconhecido pelos lordes ingleses como governante de direito, por ter obtido
vitórias militares, sendo chamado de Guilherme, o Conquistador. Seu reinado se
estendeu até 1087, ano de sua morte, nesse período de duas décadas, várias
moedas foram cunhadas, totalizando oito tipos delas conforme apresentado por Allen
(2014), sendo estes:
·
Tipo I = 1066-1068
·
Tipo II = 1068-1071
·
Tipo III = 1071-1074
·
Tipo IV = 1074-1077
·
Tipo V = 1077-1080
·
Tipo VI = 1080-1083
·
Tipo VII = 1083-1086
·
Tipo VIII = 1086-1087 ou 1086-1090
Conforme salientado por Carlyon-Britton (1905), as
mudanças entre tipos de moedas de Guilherme I estão associadas com as palavras
utilizadas, a forma como a efígie do monarca era retratada, detalhes nas cruzes
e em outros ornamentos que aparecem nessas moedas. Inclusive o autor sublinha a
existência de padrões de transição, chamados de “mula”, como o tipo mula I-II,
ou o mula III-IV, ou o mula VII-VIII, que significa uma moeda de transição
entre os dois tipos. Entretanto, o exemplar aqui analisado pertence ao Tipo
VIII, sendo o último modelo cunhado na vida do monarca.
O Tipo VIII também é chamado de tipo PAXS, devido a
essa palavra está gravada em destaque no anverso da moeda, ao redor da cruz,
significando “paz”, uma referência aos tempos pacíficos alcançados por
Guilherme I, embora não se imaginasse que o monarca morresse no ano seguinte,
já que em 1086 ele retornou a Normandia para casar uma das filhas e punir
alguns nobres rebeldes. Durante o conflito ele teria adoecido ou sido ferido,
as informações são inconclusivas. O rei foi internado no Convento de São
Gervásio em Ruão, falecendo em setembro de 1087, aos 59 anos. (DOUGLAS, 1964).
Carlyon-Britton (1905) assinala que a localização das
letras PAXS podem variar de acordo com a moeda, o motivo não é claro. No
entanto, o exemplar do qual tivemos acesso, não dispomos do verso contendo a
efígie real, apenas do anverso onde se localiza a palavra PAXS, porém, as
bordas da moeda estão bastante danificadas o que dificulta prosseguir com sua
análise e identificação. Além disso, um furo foi feito nela, indicando que
tenha sido usada talvez como pingente (ver figura 5).
Figura
5: Moeda do Tipo VIII ou PAXS do reinado de Guilherme I da Inglaterra. Cunhada
entre 1086 e 1087. Fonte: reserva técnica do Museu Histórico Nacional, Rio de
Janeiro.
Neste caso, conseguimos identificar as letras L, E, O,
N, S, L, I, E, porém, como a moeda está bastante danificada nas bordas, a ponto
de algumas letras estarem apagadas, isso dificulta a conclusão de sua
identificação. Entretanto, com base no catálogo de Carlyon-Britton (1905),
tentou-se a partir dessas letras identificar a procedência da moeda, mas nenhum
dos nomes latinos de localidades inglesas confere com as letras identificadas,
seria necessário ter o restante do texto para apurar isso. Além disso, como
apontado por Allen (2014), a moeda do Tipo VIII teve pelo menos 65 localidades
onde foi cunhada, um número bastante elevado para tentar descobrir a procedência
do exemplar analisado sem dispor das letras completas.
Allen (2014) salienta que a moeda Tipo VIII teria sido
cunhada até por volta do ano 1090, já incluindo o início do reinado de
Guilherme II (c. 1056-1100), o qual mesmo tendo cunhado suas moedas a partir de
1087, teria mantido esse padrão de seu pai na ativa, valendo-se da ideia de uma
“pax inglesa” perpetuada por ele no final de seu reinado.
Figura
6: Exemplar da moeda tipo VIII (PAXS) de Guilherme, o Conquistador. Fonte: https://www.cngcoins.com/.
Observação:
Um ensaio de
popularização científica foi publicado pelo professor Renan Marques Birro em
site atualmente indisponível (https://www.escandinaviamedieval.org/) a respeito
dessas moedas da Era Viking constantes da reserva técnica do Museu Histórico
Nacional (RJ). A mesma pesquisa foi apresentada em evento acadêmico em 2018
(Numismática, imagens e diáspora: um estudo preliminar sobre as moedas
escandinavas da Era Viking tardia aos cuidados do Museu Histórico Nacional, IX
Encontro Internacional - A Imagem Medieval: História e Teoria, FFLCH/USP), mas
ainda se mantém inédita em publicações. O autor do presente estudo não
conseguiu ter acesso a esta pesquisa anterior de Renan Birro.
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