O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

quinta-feira, 28 de março de 2019

Nova inscrição rúnica é descoberta na Dinamarca




NOVA INSCRIÇÃO RÚNICA É ENCONTRADA NA DINAMARCA

Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE)

Um pote cerâmico (possivelmente um copo) foi encontrado em Uglvig (Jutlândia, Dinamarca), com 3 runas ao fundo do recipiente, formando a palavra "Alu". O objeto foi datado como sendo da Idade do Ferro, entre 200 a 500 d.C., pertencente à classe intermediária (nesta época a aristocracia e as classes populares mesclavam-se em uma mesma área habitacional). É a primeira descoberta de um objeto cerâmico com runas na Dinamarca.




Fundo de copo cerâmico, Museu Nacional da Dinamarca


Os indícios apontam que o objeto foi moldado imitando os copos da Europa central e seu último uso foi como oferenda na casa de uma fazenda. A conexão entre embriaguez e runas geralmente foi interpretada como sendo típica da aristocracia germânica, mas essa descoberta evidencia que sua prática pode ter sido também popular.


A inscrição "Alu" é uma das mais controversas da runologia. Ela é encontrada em diversos objetos da Europa, desde anéis da Polônia a pedras rúnicas da Noruega ou bracteatas do período de migrações germânicas. Segundo Lisbeth Imer (Museu Nacional da Dinamarca) se a palavra da Idade do Ferro "ǫl" tivesse sobrevivido até a Idade Média, poderia ter evoluido para a palavra "øl" - o termo medieval para cerveja, o que levou alguns pesquisadores a acreditarem que se trata da palavra cerveja para os povos da Idade do Ferro. Segundo os etimologistas, a palavra também pode significar "poder", "proteção", "força". No caso do objeto encontrado, talvez os dois sentidos estejam conectados, segundo Imer: "muito poder com um copo de cerveja".


Broche de Værløse, Museu Nacional da Dinamarca.



Outro objeto encontrado na dinamarca e com quase a mesma datação, 200 d.C., possui também a palavra "Alu": trata-se do broche de Værløse, descoberto em 1944 em uma tumba feminina na ilha de Sjælland (Zelândia). A inscrição do objeto completa é: "Alugod" e é acompanhada da figura de uma suástica. Alguns runólogos interpretam a inscrição como sendo um nome próprio feminino, mas MACLEOD;MEESS 2006, p. 21 apontam a possibilidade de ser um "heiti" para o deus Wotan-Odin, com a finalidade de propiciar sorte ou saúde. Para MAREZ 2007, p. 121, a suástica deste objeto representaria saúde, enquanto para MACLEOD;MEESS 2006, p. 21 seria um símbolo sagrado e para propiciar sorte.

De nossa parte, aventamos a possibilidade da palavra "Alu" estar conectada diretamente com Wotan-Odin e o próprio símbolo da suástica está objetivamente relacionado com o culto desta deidade (surgindo em lanças, objetos militares germânicos antigos) e estando relacionado também a figuras de cornos de bebidas (como na pedra rúnica de Snoldelev, DR 248, Dinamarca da Era Viking, associando suástica com triskelion de cornos). Assim, um copo possivelmente utilizado para beber cerveja com a inscrição "Alu", ainda na Idade do Ferro, pode remeter diretamente à conexão de êxtase e sagrado relacionado aos rituais com bebidas e mitos do deus caolho.
 

Referências bibliográficas:






MACLEOD, Mindy & MEES, Bernard. Runic amulets and magic objects. London: Boydell, 2006.

MAREZ, Alain. Anthologie runique. Paris: Les Belles Lettres, 2007.



domingo, 24 de março de 2019

O NEVE e a internacionalização da Escandinavística brasileira




O NEVE E A INTERNACIONALIZAÇÃO DA ESCANDINAVÍSTICA BRASILEIRA

Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE)



O Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos, desde a sua fundação em 2010, realiza uma série de atividades com ampla internacionalização. Isso já vem sendo apontado por avaliações da área, em que o grupo NEVE possui “ampla produção historiográfica, com repercussão internacional” SANTOS 20015-2016, p. 81. A seguir averiguaremos o alcance destas repercussões, divididas em três etapas: bibliográfica e produção intelectual (com base no buscador Google acadêmico), seguida de algumas indicações de intercâmbios e parcerias com pesquisadores e instituições estrangeiras, finalizando com atividades de membros do NEVE pela Europa.

Repercussão bibliográfica



O artigo escrito por um escandinavista brasileiro com maior repercussão internacional até o momento é The origins of the imaginary Viking, publicado no periódico Viking Heritage, da Universidade da Gotlândia, na Suécia, em 2002. Foi citado em cinco livros (quatro na Inglaterra e um no Canadá, SEWELL 2014, p. 65; KLINE 2014, 275; MCKENZIE 2013, p. 11, 12, 15; BUREYCHAK 2013, p. 231; FIMI 2007, p. 92, 99.), sete artigos (periódicos acadêmicos da Inglaterra, França, Escócia, Estados Unidos, Polônia e Alemanha, BOHM 2018, p. 123, 133; SVENDSEN & SVENDESEN 2016, p. 17; FJALLDAL 2015, p. 317–331; BUREYCHAK 2012, p. 142; VADILLO 2010, p. 156, 158; SVENDSEN & SVENDESEN 2010, p. 4, 19; DOWNHAM 2009, p. 140.) e duas teses de doutorado (França e Romênia, MANEA 2016, p. 283; FILIPPO 2016, p. 335, 510, 535.). Um dos motivos deste impacto foi devido ao fato de existirem poucas investigações sobre o surgimento dos estereótipos e clichês históricos relacionados aos nórdicos da Era Viking, mesmo em línguas escandinavas. Um reduzido número de medievalistas estuda a recepção nórdica no mundo contemporâneo. É de se destacar principalmente a citação do referido trabalho em dois periódicos consagrados mundialmente na área dos estudos nórdicos medievais: Scandinavian Studies (FJALLDAL 2015, p. 317–331) e Mediaeval Scandinavia (DOWNHAM 2009, p. 140).




Em 2003 o historiador Johnni Langer publicou uma resenha em inglês da obra Viking Age Iceland, do arqueólogo Jesse Byock, no periódico European Journal ofArchaeology (LANGER 2003b, p. 328-330).


Um ano depois, o mesmo autor foi convidado a participar de uma coletânea francesa, L´Europe des Vikings, com o capítulo Rêver son passé, a respeito das representações artísticas europeias sobre os vikings no século XIX. O livro, composto de 192 páginas em impressão de alta qualidade gráfica e coloração, foi lançado durante a exposição homônima no Centre Culturel Abbaye de Daoulas em 2004. Este estudo de Langer recebeu duas citações posteriores, em inglês e francês (SUPÉRY 2014, p. 3, 8; SUPÉRY 2015, p. 3, 9).



Outro artigo escrito em inglês que, apesar de recente, vem tendo certo impacto entre os pesquisadores estrangeiros é The Wolf'sJaw: an Astronomical Interpretation of Ragnarök, publicado no periódico russo Archaeoastronomy and Ancient Technologies em 2018 (LANGER 2018, p. 1-20). Ele recebeu uma matéria de divulgação no portal Medievalist.net, causando um alcance maior da publicação.


Logo a seguir, o site de divulgação científica Ars technica realizou uma matéria sobre o tema da pesquisa, confrontando os dados com a opinião de outros especialistas na América do Norte (OUELLETTE 2018). Mais recentemente, o arqueólogo norte-americano Kris Hirst realizou um estudo sistematizador sobre a questão da influência da natureza sobre a criação dos mitos nórdicos, em especial, com o Ragnarok, citando o mesmo artigo (HIRST 2019).




Em 2017 o historiador Johnni Langer foi convidado a participar da coletânea "El mundo vikingo", organizada pela revista espanhola Arqueología e Historia, ao lado de grandes nomes da Escandinavística, como Leszek Gardela, John Ljungkvist, Sarah Croix, Kirsten Wolf, entre outros. Langer escreveu o estudo "La religión nórdica en la Era Vikinga".




Em 2018 Langer e Lorenzo Sterza (NEVE) publicaram o estudo Strumenti solari nordici dell´Era dei Vichinghi na revista italiana de astronomia Orologi Solari, a respeito de instrumentos náuticos utilizados pelos navegadores nórdicos em suas incursões pelo Atlântico Norte.
Também outros trabalhos de Langer receberam citações internacionais, apesar de estarem redigidos em língua portuguesa. O estudo Morte, sacrifício humano e renascimento, publicado na revista Mirabilia em 2003 (LANGER 2013, p. 93-123) foi citado no periódico alemão Zeitschrift für Spiritualität und Transzendentale Psychologie (WEGENER 2011).


Em 2009 a revista polonesa Studia Źródłoznawcze (MORAWIEC 2009, p. 23) citou o artigo Guerreirasde Óðinn: as Valkyrjor na Mitologia Viking, publicado originalmente na revista Brathair (LANGER 2004, p. 52-69).



Por sua vez, a investigação Galdr e feitiçaria nas sagas islandesas (2009) recebeu duas menções. A primeira foi no periódico finlandês RMN Newsletter, onde em um estudo sobre o tema dos manuscritos islandeses, a pesquisa brasileira é referenciada em nota sobre a questão da sobrevivência das tradições mágicas antigas (LESLIE 2009, p. 160, 161) e outra em uma tese de doutorado sobre estudos nórdicos (Prose Contexts of Eddic Poetry, Primarily in the Fornaldarsögur), defendida na Universidade de Bergen, Noruega em 2013, onde a mesma autora detalha suas pesquisas com a mesma temática, mas desta vez citando três vezes o artigo brasileiro (LESLIE 2013, p. 452, 455, 456 e 500).


E ainda, o estudo Constelações emitos celestes na Era Viking (LANGER 2015, p. 107-130) foi citado pelo astrônomo australiano Gary Thompson em uma sistematização bibliográfica sobre o tema das mitologias celestes na Antiguidade e Medievo (Ancient Zodiacs, Star Names, and Constellations: Essays and Annotated Bibliographies, THOMPSON 2001-2018).



Em língua hispânica mais outros dois estudos em português foram referenciados. O primeiro é um artigo na revista Estudios, da Universidade da Costa Rica: La Saga de Thorstein, onde a publicação Símbolos religiosos dosVikings: guia iconográfico (LANGER 2010) foi mencionada (SANTIAGO 2016, p. 24). O segundo foi o artigo Valquírias versus gigantas: Modelos marciaisfemininos na mitologia escandinava, escrito por NEIVA; LANGER 2012, p. 1-29 e referenciado na tese de doutorado em literatura Estudio comparativo y elaboración de un índice entre los motivos de los libros de caballerías hispánicos y El Señor de los Anillos de J.R.R. Tolkien pela Universidade de León, na Espanha (ARIAS 2017, p. 510).

Demonstrando a penetração dos estudos escandinavísticos brasileiros no mundo hispânico, um estudo de outro membro do NEVE foi analisado em uma perspectiva comparativa, mas desta vez uma tradução de fonte medieval: Hálfdanar saga svarta realizada por Pablo Gomes de Miranda (MIRANDA 2011, p. 116-121), analisada comparativamente no artigo: La conjunción coordinativa en del antiguo nórdico y su traducción a las lenguas Românicas: el ejemplo de la Hálfdanar saga svarta en Español, Francés y Portugués, de Rafael García Pérez. O estudo foi publicado nas atas de um evento bielorusso especializado em literatura (ДИСКУССИОННЫЕ ВОПРОСЫ РОМАНИСТИКИ), na cidade de Minski (PÉREZ 2018, p. 97-117).

Mais recentemente este mesmo pesquisador foi citado em outra publicação hispânica, El furor y el rugido: la figura del Berserkr en los medios audiovisuales (cine, televisión y documental), desta vez pela La Revista de Cine da Universidad de las Artes (UArtes) do Equador (ROBLES 2018, p. 55, 69). O trabalho mencionado foi: Seguindo o Urso e o Lobo: DiscussõesSobre os Elementos Religiosos dos Berserkir e dos ulfheðnar (MIRANDA 2010, p. 1-14).

Parcerias internacionais do NEVE

O Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos também vem realizando diversas atividades, pesquisas e intercâmbios de âmbito internacional (os colaboradores internacionais cadastrados no diretório do grupo de pesquisa do CNPQ são: Prof. Dr. Neil Price, Prof. Dr. Terry Gunnell, Prof. Dr. Mariano Gonzalez Campo, Prof. Dr. Teodoro Manrique Antón).




Em março de 2017, a profa. Dra. Michèle Hayer Smith, professora da Brown University/EUA e coordenadora do Northern Women Arts Collaborative, que desenvolve tanto pesquisas como divulgação da arqueologia, tecelagem, arte e estudos de gênero da Era Viking,  convidou a professora Dra. Luciana de Campos a integrar o grupo principalmente para divulgar o trabalho de análise da literatura nórdica antiga, tendo as personagens femininas como foco que é desenvolvido pelas pesquisadoras (atualmente é a única representante latino-americana presente entre os pesquisadores cadastrados do NWAC). Além de integrar o grupo e, assim participar das discussões que são propostas virtualmente, o NWAC tornou-se uma instituição de pesquisa parceira do NEVE, já que o primeiro além de divulgar as pesquisas desenvolvidas aqui no Brasil também promove um intercâmbio de ideias apresentando bibliografias e pesquisas que ainda permanecem inéditas pela América Latina.



Em outubro de 2018 uma outra parceria foi firmada pelo NEVE, desta vez com uma instituição voltada principalmente para a pesquisa arqueológica e divulgação por meio de atividades envolvendo tanto a arqueologia experimental como a metodologia do living history, trata-se do Museu Lofotr, na Noruega. Essa parceria aconteceu logo depois da divulgação de um evento, Meet the Myths promovido pelo museu e coordenada pelo arqueólogo da instituição, Niek van Eck. Tanto o Museu Lofotr como o arqueólogo van Eck estão, desde 2018, oferecendo todo o suporte para a realização do I Encontro com os Mitos, a ser realizado a partir de 2019, como também proporcionando a troca de conhecimentos facilitando assim o intercâmbio e estreitando a parceria entre os pesquisadores brasileiros e noruegueses.



Em 2017 um dos mais importantes escandinavistas da atualidade, o arqueólogo Neil Price (Universidade de Uppsala, Suécia), prefaciou o livro Dicionário de História e Cultura da Era Viking, um passo fundamental para a internacionalização e visibilidade dos estudos realizados no Brasil: “Este dicionário é uma homenagem (...) a todos os seus colegas que moldaram um ambiente de pesquisa tão gratificante e estimulante para os estudos escandinavos no Brasil e cercanias” (PRICE 2017, p. 19).



Também como parte de seu projeto de internacionalização, o grupo NEVE criou em 2017 o periódico Scandia: Journal of Medieval Norse Studies, contando atualmente com 38 professores de universidades estrangeiras em seu conselho científico, sendo a maioria especialistas em temas nórdicos medievais recebendo especialmente contribuições em língua inglesa e espanhola.
Vários escandinavistas estrangeiros se manifestaram de maneira positiva no momento da criação do Scandia: “It’s nice to see Brazil popping up on the academic world map of Scandinavian Studies” (Prof. Dr. Lukas Rösli, Universität Basel, Suíça); “I'm very glad to see that Old Norse studies are now prospering in Brazil" (Prof. Dr. John McKinnell, Durham University, Inglaterra); "It’s great to hear that Old Norse studies are taking off in Brazil" (Profa. Dra. Carolyne Larrington, St John's College, Oxford, Inglaterra).

Atividades de membros do NEVE na Europa

Vários pesquisadores do NEVE vêm realizando pesquisas e atividades de campo na Escandinávia e Europa desde 2017, além de um intercâmbio direto com os laboratórios e pesquisadores estrangeiros.



O DAAD (Deutscher Akademischer Austauschdienst), concedeu uma bolsa de estudos em língua e cultura alemã para Andressa Furlan Ferreira, na Universidade de Köln em janeiro e fevereiro de 2017. Além de visitar a exposição Odin, Thor und Freyja, no Museu Arqueológico de Frankfurt, Ferreira também realizou entrevistas com escandinavistas alemães (Dra. Regina Jucknies, Institut für Skandinavistik/Fennistik) visitas na Suécia (Medeltidsmuseum, Historiska museet, Stockholms Stadtbibliothek, Nordiska museet, sigtuna e Gamla Uppsala), além de pesquisas de campo na Suécia para a sua dissertação de mestrado Nykr, o espírito da água nórdico: Mitologia, folclore e arte defendida na UFPB (2017).



Munir Lufte Ayoub (Doutorando em Arqueologia pelo MAE-USP) participou de escavações arqueológicas no sítio sueco de Eke Parish em julho de 2018, como parte de pesquisas na Gotland Archaeological Field School, supervisionada pelo prof. Dr. Dan Carlsson. A participação de Munir Lutfe Ayoub nas escavações arqueológicas de Gotland foi mencionada em um jornal sueco: “Den brasilianskastudenten Munir letar fornfynd, men mest är det bara jord.” Unikt fynd i Eke – och ett mysterium, Helagotland.se  Munir Ayoub visitou também os sítios arqueológicos de Paviken, Fjäle, Fröjel, além do Gotlands Museum, Vikingaliv: A true Adventure e a Royal Bibliotek Stockholm. O projeto de doutorado de Munir Youb - Depósitos funerários de Vestfold: por uma história de longa duração - é orientado pela professora Dra. Maria Isabel D´Agostino Fleming (USP).



Pablo Gomes de Miranda (Doutorando em Ciências das Religiões pela UFPB) foi contemplado com uma bolsa de doutorado sanduiche pela CAPES e permanecerá um ano na Islândia, de outubro de 2018 a outubro de 2019, sob supervisão do professor Terry Gunnell (Universidade da Islândia, colaborador estrangeiro do NEVE). Além de pesquisas no Instituto Árni MagnússonPablo Miranda frequentará cursos de leitura, tradução e interpretação de manuscritos islandeses medievais, além de outros cursos temáticos, envolvendo sagas islandesas e temas nórdicos medievais. Em março de 2019 Miranda apresentou o trabalho “The Wild Hunt in Old Norse Literature and Poetry" durante o "12th Annual Aarhus Student Symposium on Viking and Medieval Scandinavian Subjects", na Universidade de Aarhus, Dinamarca. Pablo Miranda desenvolve o projeto de tese: Mito e rito na Europa Setentrional pré-cristã: investigando a caçada selvagem na poesia e prosa escandinava do século XII-XIV, sob orientação do professor Dr. Johnni Langer (UFPB).



Vitor Menini (Mestrando em História pela UNICAMP) visitou a Suécia entre julho e agosto de 2018 para pesquisas nos arquivos da Universidade de Uppsala, visita e pesquisa no museu Ájtte (Jokkmokk), visita e pesquisa em museus de Estocolmo como o Antikvitetskollegium, Vasamuseet, Nordiskamuseet, Armemuseet e Livrustkammaren. Menini desenvolve o projeto de pesquisa Lapponia: a legitimação do estado sueco a partir da invenção do outro na obra de Johannes Schefferus, sob orientação do professor Dr. Rui Luis Rodrigues (UNICAMP).



Johnni Langer (Pós Doutor em História Medieval pela USP e professor da UFPB) visitou a Dinamarca em julho de 2018, dando continuidade a suas pesquisas sobre símbolos religiosos na Era Viking, cultura material e mitologias celestes nórdicas (projeto de pesquisa do PPGCR-UFPB: Simbolismo religioso nórdico em monumentos da Era Viking e na Europa Medieval). Foram visitados o Museu Nacional, Museu Histórico Nacional, biblioteca e arquivo da Universidade de Copenhague, Museu do Navio Viking de Roskilde, além dos sítios arqueológicos de Trelleborg, Gammel Lejre, Jelling e Lindholm Høje.


Langer também desenvolveu várias atividades na Espanha no mês de outubro de 2019: ministrou a conferência de abertura Las representaciones del dragón nórdico en la ópera y el cine (V International Conference on Mythcriticism: Germanic Myths, Universidad de Alcalá); uma palestra sobre áreas sagradas nórdicas da Era Viking no V Congreso Internacional Santuários (promovido pelo Laboratorio Paisajes culturales Sagrados do Museo Etnográfico de Castilla y León, Zamora) e um curso para o Doutorado em Ciências das Religiões da Universidad Complutense de Madrid (Introducción al estudio de la Mitología Nórdica). 



A respeito da participação no V Congreso Internacional Santuários, o jornal espanhol La Vanguardia declarou: “El profesor de la Universidad Federal de Paraíba (Brasil) Johnni Langer, considerado uno de los mayores expertos mundiales en cultura vikinga, disertará sobre los santuarios nórdicos de ese Pueblo” (LA VANGUARDIA 2018).


Referências bibliográficas:

ARIAS, Ana María Mariño. Estudio comparativo y elaboración de uníndice entre los motivos de los libros de caballerías hispánicos y El Señor delos Anillos de J.R.R. Tolkien. Tese de doutorado em Literatura comparada, Universidade de León, Espanha, 2017.

BOHM, Marcin. Normanowie, wikingowie a ich przedstawienia w świecie gier komputerowych (na wybranych przykładach), Irydion, vol. 4, n. 1, p. 123-134, 2018. 

BUREYCHAK, Tetyana. Zooming and out: historical iconsof masculinity within and across nations. In: HEARN, Jeff; BLAGOJEVIC, Marina; HARRISSON,Katherine (Eds). Rethinking Transnational men: beyond, between and withinnations. London: Routledge, 2013.

BUREYCHAK, Tetyana. In Search of Heroes: Vikings and Cossacks in Present Sweden and Ukraine. Norma: Nordic Journal for Masculinities Studies. Vol. 7, n. 2, p. 139–159, 2012.

DOWNHAM, Clare. Hiberno-Norwegians' and 'Anglo-Danes': anachronistic ethnicities and Viking-Age England. Mediaeval Scandinavia n. 19, p. 139-169, 2009.

FILIPPO, Laurent Di. Du mythe au jeu Approcheanthropo-communicationnelle du Nord. Des récits médiévaux scandinaves au MMORPG Age of Conan: Hyborian Adventures. Tese de doutorado em Ciências das Informações, Comunicações e Estudos Nórdicos, Universidade de Lorraine, 2016.

FIMI, Dimitra. Tolkien and Old Norse Antiquity: Real and Romantic Links in Material Culture. In: CLARK, David (Ed.). Old Norse made new. London: Viking Society for Northern Research, p. 83-99, 2007.

FJALLDAL, Magnús. The Last Viking Battle. Scandinavian Studies, vol. 87, n. 3, 2015.

HIRST, K. Kris. The Pre-Viking Legendof Ragnarök: The Old Norse Classic Myth of the End of the World. ThoughtCo., 3 de fevereiro de 2019. Acesso em 7 de março de 2019.

KLINE, Daniel T. (Ed.). Digital gaming re-imagines the Middle Ages. London: Routledge, 2014.

LA VANGUARDIA. Un congreso de paisajes culturales sagrados reúne expertos de cuatro países, Madrid, 3 de outubro de 2018. Disponível em:

LANGER, Johnni. The Wolf's Jaw: an Astronomical Interpretation of Ragnarök, Archaeoastronomy and Ancient Technologies 6(1), 2018, pp. 1-20, Southern Federal University, Russian Federation.

LANGER, Johnni. Era Viking. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2017, p. 212-220.

LANGER, Johnni. Escandinávia. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2017, p. 226-229.

LANGER, Johnni. Viking. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2017, p. 706-718.

LANGER, Johnni. Estudos Nórdicos Medievais: alguns apontamentos historiográficos Roda da Fortuna: Revista Eletrônica sobre Antiguidade e Medievo vol. 6, n. 1, p. 9-24.

2017 (Dossiê: Estudos Nórdicos Medievais, organizado por Johnni Langer).

LANGER, Johnni. Uma breve historiografia dos estudos brasileiros de religião nórdica medieval. Horizonte vol. 14, n. 43, p. 909-936, 2016.

LANGER, Johnni. Constelações e mitos celestes na Era Viking: reflexões historiográficas e etnoastronômicas, Roda da Fortuna 1(4), p. 107-130, 2015.

LANGER, Johnni; NEIVA, Weber. Valquírias versus gigantas: Modelos marciais femininos na mitologia escandinava. Revista Brasileira de História das Religiões, vol. 5, n.13, p. 1-29, 2012.

LANGER, Johnni. Símbolos religiosos dos Vikings: guia iconográfico. História, imagem e narrativas, n. 11, p. 1-28, 2010.

LANGER, Johnni. Seiðr e magia na Escandinávia Medieval: reflexões sobre o episódio de Þorbjörg na Eiríks saga rauða. Signum, Revista da ABREM: Associação Brasileira de Estudos Medievais, v. 11, n. 1, p. 177-202, 2010.

LANGER, Johnni. Galdr e Feitiçaria nas Sagas Islandesas: Uma Análise do Poema Buslubæn. Brathair n. 9, v.1, p. 66-90, 2009.

 LANGER, Johnni. Mythica Scandia: Repensando as Fontes Literárias da Mitologia Viking. Brathair vol. 6, n. 2, p. 48-78, 2006.

LANGER, Johnni. Morte, sacrifício humano e renascimento: uma interpretação iconográfica da runestone Viking de Hammar I. Mirabilia Eletronic Journal of Antiquity, Middle & Modern Ages, v. 3, n.3, p. 93-123, 2003.

LANGER, Johnni. Book review: Jesse Byock, Viking Age Iceland. European Journal of Archaeology, vol. 6, n.3, p. 328-330, 2003.

LANGER, Johnni. Os vikings e o estereótipo do bárbaro no ensino de história. História & Ensino, Universidade Estadual de Londrina, vol. 8, p. 85-98, 2002.

LANGER, Johnni. The origins of the imaginary Viking, Viking Heritage n. 4, da Universidade da Gotlândia, Suécia, p. 6-9, 2002.

LESLIE, Helen. Younger Icelandic Manuscripts and Old Norse Studies. In: RMN Newsletter, Universidade de Helsinki, vol. 4, 2012.

LESLIE, Helen. Prose Contexts of Eddic Poetry, Primarily in the Fornaldarsögur. Tese de doutorado em Estudos Nórdicos pela Universidade de Bergen, Noruega, 2013.

MANEA, Irina-Maria, Valhalla Rising: TheConstruction of Cultural Identity through Norse Myth in Scandinavian and GermanPagan Metal. Tese de doutorado em História, Universidade de Bucareste, 2016.

MCKENZIE, Alicia. Sword-point and blade will reconcile us first: The Vikings in the English Context. 23rd Forward into the Past Conference, Laurier University, Canadá, 2013.

MIRANDA, Pablo Gomes de. Halfdanar saga Svarta - A Saga de Hálfdan, o Negro. Brathair vol. 11, n.1, p. 116-123, 2011.

MIRANDA, Pablo Gomes de. Seguindo o Urso e o Lobo: Discussões Sobre os Elementos Religiosos dos Berserkir e dos ulfheðnar. História, imagem e narrativas n. 11, p. 1-14, 2010.

MORAWIEC, Jakub. Anonimowy poemat Liðsmannaflokkr i problem jego odbiorcy.  Ślad pobytu córki Mieszka i, matki Knuta wielkiego, w Anglii? Studia Źródłoznawcze, tomo XLVI, p. 17-34, 2009.


PÉREZ, Rafael Garcia. La conjunción coordinativa en del antiguo nórdico y su traducción a las lenguas Românicas: el ejemplo de la Hálfdanar saga svarta en Español, Francés y Portugués. ДИСКУССИОННЫЕ ВОПРОСЫ РОМАНИСТИКИ, Minski, p. 97-117, 2018.

ROBLES, Alberto. El furor y el rugido: la figura del Berserkr en los medios audiovisuales (cine, televisión y documental). Fuera de Campo, vol. 2, n. 2, p. 53-69, 2018.

SANTOS, Amanda Basílio. Por um norte medieval historicizado: estudos medievalistas do Norte europeu e o estado da questão no Brasil. História em Revista, UFPEL, n. 21-22, p. 70-85, 2015-2016.

SEWELL, Tara. Commom misconceptions of the medieval period in Modern American popular culture. In: HILL, Darci N. (Ed.). News from the Raven: Essays from Sam Houston State University on Medieval, Cambridge Scholars Publishing, 2014.

SUPÉRY, Joël. Invasionsvikings, une faillite française. Academia.Edu, p. 1-8, 2015.


SVENDSEN, Gert & SVENDSEN, Gunnar. How did Trade Norms Evolve in Scandinavia? Long-Distance Trade and Social Trust in the Viking Age. Economic Systems, vol. 40, n. 2, p. 198-205, 2016.

SVENDSEN, Gert & SVENDSEN, Gunnar. From Vikings to Welfare: Early State Building and Social Trust in Scandinavia, ISNIE 2010.


VADILLO, Mônica Ann Walker. Comic books featuring the Middle Ages. Itinéraires: Littérature, textes, cultures 3, 2010. (Dossiê: Médiévalisme: Modernité du Moyen Âge).

WEGENER, Bernhard. Der Tod des Todes. Zeitschrift für Spiritualität und Transzendentale Psychologie, vol 1, n. 2, 2011.

terça-feira, 5 de março de 2019

Novos objetos religiosos são descobertos na Dinamarca


Novos objetos religiosos são descobertos na Dinamarca

Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE)
johnnilanger@yahoo.com.br

O Museu Thy acaba de divulgar recentes descobertas em escavações realizadas no mês de fevereiro de 2019, na vila de Kallerup (distrito de Thy, noroeste da Jutlândia, Dinamarca), todas remontando ao período da Idade do Bronze (aproximadamente 1000 a.C.). Entre as principais descobertas está um machado cerimonial de 30 centímetros, contendo uma espiral lateral, típica da arte deste período e muito comum em representações da arte rupestre escandinava. Também foram descobertas duas figuras de bronze: uma com um rosto masculino e um elmo com chifres (com um lado quebrado), e uma outra figura com o elmo chifrudo completo e dois rostos colados - esta absolutamente uma novidade na iconografia nórdica, recordando muito as representações do deus Janus na área mediterrânica. 

Machado de bronze, Kallerup, foto do Museu Thy.

Figura de bronze com elmo chifrudo, Kallerup, foto do Museu Thy.


Figura de bronze com dupla face, Kallerup, foto do Museu Thy.



A figura de bronze mais famosa representando um suposto deus gêmeo foi descoberta em 1780 em Grevensvænge (Zelândia, Dinamarca) e está atualmente em exibição no Museu Nacional em Copenhague (as figuras originais e completas foram perdidas, restando somente um desenho e uma figura em bronze fragmentada). Os pesquisadores dividem-se no sentido religioso das ditas figurações: muitos defendem que sejam representações dos gêmeos divinos, muito comuns na tradição indo-européia, filhos do deus celeste (Alcis para os Naharvali, germanos antigos. Em Tácito eles foram associados ao culto de Cástor e Pólux). 

Ilustração de Marcus Schnabel, 1779, representando as figuras originais descobertas na Dinamarca, algumas hoje perdidas ou fragmentadas. Fonte: wikipedia.


Figuras de bronze do dançarino e do guerreiro chifrudo, Museu Nacional da Dinamarca, julho de 2018, foto do autor.


Machados rituais da Idade do Bronze nórdica, Museu Nacional da Dinamarca, julho de 2018, foto do autor.



Eles podem estar envolvidos em representações de antigos dramas religiosos, visto que algumas destas figuras de bronze também são representadas em movimento (assim como várias cenas da arte rupestre). A tradição de elmos com chifres na Idade do Bronze era comum na Escandinávia, Ibéria e Sardenha, quase sempre relacionadas a simbolismos de dualidade. Outros pesquisadores associam a presença de representações de gêmeos como possíveis menções a androginia ou a presença de irmãos conjugados (deus e deusa, como nos pares Hengist/Horsa, Freyr/Freyja, ou ainda, a Nerthus/Njord). 

A presença de figuras idênticas também foi muito comum em elmos anglo-saxônicos e da escandinávia do período Vendel. Mas a maior aproximação iconográfica com a figura de bronze de dupla face descoberta em Kallerup é com a famosa pedra de Häggeby (U664), atualmente exposta no Museu Histórico de Estocolmo, mas sendo do período germânico e datada de 500 a.C. e representando um par de homens e cavalos, estes últimos se defrontando e com um chifre em forma de meia lua presos em suas cabeças. As figuras humanas tem dupla face e portam machados.

Pedra de Häggeby, Museu Histórico de Estocolmo. Fonte:  www.runesnruins.com



O Museu Thy anunciou que irá continuar com as pesquisas no local, buscando novas informações de contexto e novos objetos. As figuras e o machado serão expostos futuramente na instituição.


Referências:

BOYER, Régis. Dioscures. In: Héros et dieux du Nord. Paris: Flammarion, 1992, pp. 40.

OLDTIDENS ANSIGT: Faces of the past. The twin god with the axe. København: Det kongelige Nordiske, 1990, p. 66.

ZIMEK, Rudolf. Alcis. Dictionary of Northern Mythology. London: D.S. Brewer, 2007, p. 7.