O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

domingo, 30 de abril de 2023

Palestras no Rio de Janeiro sobre Mitologia Nórdica

O professor Johnni Langer (NEVE) estará ministrando palestras na primeira semana de maio, no estado do Rio de Janeiro, bem como o lançamento de seu novo livro: "As Religiões Nórdicas da Era Viking".



A primeira palestra será "A recepção histórica dos mitos nórdicos: em busca das sete estrelas de Thor", que ocorrerá no salão nobre do Instituto de História das UFRJ, largo S. Francisco de Paula n. 1, centro, Rio de janeiro, RJ. Dia 2 de maio, terça feira, às 17 horas. Entrada pública e gratuita.



A segunda tem o título de "Por que os mitos nórdicos fazem sucesso" e vai ocorrer no Casarão da Cervejaria Odin, em Petrópolis, dia 03 de maio, às 18:30. Rua Alfredo Pachá n. 320, centro, Petrópolis, RJ. Entrada pública e gratuita.

domingo, 9 de abril de 2023

A Era Viking é uma mentira?

 


Johnni Langer (NEVE/RECEPTION)

johnnilanger@yahoo.com.br


Recentemente o NEVE foi criticado nas redes sociais por utilizar o termo "Era Viking". Em primeiro lugar, temos que definir que este conceito é amplamente utilizado na academia mundial e não é uma invenção brasileira. De um ponto de vista científico, o seu uso majoritário implica em uma aceitação positiva pelos pares e portanto, correta para sua popularização. A segunda questão é de ordem historiográfica. 

A utilização do conceito de Era Viking não implica necessariamente que estamos definindo o termo viking como uma etnia, mas elegendo as incursões piratas e náuticas como um ponto importante de periodização, ou seja, como marcos históricos a serem ressaltados. Mas por que este conceito foi criado? De um ponto de vista geral da materialidade, este período que vai dos séculos VIII ao XI não foi tão diferente de momentos anteriores, mas ele conteve inúmeras circunstâncias históricas que necessitavam de um recorte especial: o volume de incursões prossegue aumentando, a ponto de uma única expedição conter mais de 200 navios durante o século X - o que gerou grandes mudanças internas nas sociedades escandinavas e não somente impacto externo. Não podemos comparar estas sociedades do século X com as anteriores (por exemplo, da Idade do Bronze ou no início da Idade do Ferro), nem em termos políticos, nem culturais e nem globais. 


Jens Worsaae, o primeiro arqueólogo profissional do mundo e o criador do conceito de Era Viking.


A pirataria foi um fenômeno constantemente realizado na Escandinávia, mas ela nunca foi tão intensa e com tantas transformações sociais quanto na Era Viking. Restringir um período somente com a sua cultura material é limitar muito uma perspectiva histórica. O historiador sempre necessita de ferramentas analíticas mais amplas e genéricas que os arqueólogos, mas também estes últimos necessitam recorrer à História para entender um determinado contexto com mais profundidade. Foi o que fizeram os arqueólogos dinamarqueses, no momento de criação do aludido conceito.

A quantidade de dados arqueológicos aliada ao enorme volume de situações de impacto na História europeia, levaram os dinamarqueses a empregar o termo durante o século XIX. Dizer, como alguns, que Era Viking distorce completamente uma "verdade" histórica e arqueológica é um erro. O próprio conceito foi criado pela Arqueologia - no caso, de pesquisadores dinamarqueses, que já sentiam necessidade desde o final do Setecentos de utilizar um recorte para as sequências dos séculos VIII ao XI, sendo aos poucos transformada nos conceitos de Período Pagão, Período Viking até chegar em Era Viking, já no final do Oitocentos. O conceito se populariza em língua inglesa e é ainda utilizado pela maioria dos escandinavistas nos dias de hoje. E também é errôneo afirmar que o conceito surgiu primeiro na área britânica pelo uso genérico do principal marco inicial, o ataque a Lindisfarne. A Era Viking teve inúmeras outra balizas históricas como marcos iniciais e finais, inclusive datas históricas da própria Escandinávia.

Alegar que os povos desta época, como os saxões (a exemplo dos nórdicos), não entendiam ou não tinham consciência de que estavam na Era Viking, é uma afirmação totalmente descabida, de alguém que não tem o mínimo conhecimento de que a maioria dos conceitos de periodização histórica foram criados posteriormente ao momento que as mesmas tratam. Assim, os renascentistas criaram o conceito de Idade Média (de forma totalmente pejorativa, não sendo por isso que os acadêmicos não a utilizam ainda hoje), por exemplo. Ninguém questiona delimitações dentro do conceito de Idade do Ferro (aliás, também inventada pela Arqueologia dinamarquesa), como o Período das Migrações e o Período Vendel, ambos necessários para poder investigar e demarcar melhor um momento histórico que é muito longo. Talvez porque não contenham a famigerada e polêmica palavra: viking.

E por questões específicas ao contexto nórdico, os escandinavos usam como marco inicial do Medievo a cristianização, no século XI d.C., enquanto os franceses adotaram o colapso do Mundo Romano, no século V d.C. Alguém está errado? Não. Ambas as perspectivas podem ser adotadas, indiferentemente. E em muitos casos, conjuntamente.

Não citei aqui os termos, conceitos e bibliografias em dinamarquês, inglês e francês, tanto dos séculos XIX até o XXI, por questões de espaço. Elas foram detalhados e aprofundados em meu novo livro, que será publicado em 2024: Tempos pagãos, tempos heroicos: A Dinamarca e a invenção dos vikings, onde investigo como os acadêmicos dinamarqueses "inventaram" os conceitos de Viking e Era Viking. O que a maioria das pessoas tem que ter consciência é de que as "verdades" acadêmicas são construídas com base em questões sociais, são produtos de determinados contextos históricos. A própria Ciência é algo que se constrói paulatinamente, com debate, com reflexão e com autocrítica (que aqui, pode ser tomada pela Historiografia). Assim, podemos afirmar que por enquanto o uso de Era Viking é legitimo e sancionado pela academia, pelo menos até aparecer outras palavras e expressões que possam substituí-la plenamente. Um fato que até agora não se concretizou.


Sobre a invenção da Era Viking pela Arqueologia Dinamarquesa, consulte a primeira aula do curso "Introdução à Arqueologia da Era Viking", disponível no Youtube:

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Curso on-line: As Religiões Nórdicas da Era Viking

 


Curso on-line, três aulas. Público e gratuito, com certificado pela Editora Vozes, inscrições pelo Sympla: clique aqui.

Este curso irá discutir algumas das principais questões envolvendo o tema das crenças religiosas na Escandinávia pré-cristã, especialmente a Era Viking. Em três encontros, sempre às 19h30, Johnni Langer irá abranger algumas das perspectivas históricas e arqueológicas na investigação das religiões nórdicas, especialmente métodos iconográficos. As aulas terão como base o livro “As religiões nórdicas da Era Viking”, lançado recentemente pela Editora Vozes. 

Cronograma: 

12 de abril - Os conceitos, as fontes primárias e os métodos 
18 de abril - Os mitos, cultos e rituais 
19 de abril - Os símbolos religiosos 

*Os participantes que concluírem o curso receberão certificado. 
** Os encontros serão gravados e disponibilizados aos inscritos.