O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Resenha da Folha de novo livro sobre Vikings inclui entrevista com Johnni Langer

 


VIKINGS MUDARAM O MUNDO, REINALDO JOSÉ LOPES, Folha de São Paulo, 23 de novembro

Basta uma rápida olhada nos mapas que documentam as incursões vikings durante a Idade Média para concluir que os guerreiros escandinavos eram capazes de meter o bedelho em praticamente qualquer lugar da Europa e da bacia do Mediterrâneo.

O alcance global dos vikings começou como uma mistura despretensiosa de pirataria e comércio, mas seu efeito ao longo de três séculos transformou a geopolítica da região de maneiras que ainda influenciam o mundo moderno.

A Inglaterra e a Rússia, por exemplo, provavelmente não teriam surgido sem um empurrãozinho viking, e o mesmo talvez valha para a França. Descendentes dos piratas nórdicos também tiveram papéis de relevo na política da Itália medieval e nas Cruzadas. Nada mal para habitantes de um cantinho remoto e economicamente marginal do continente europeu.

Os detalhes das mudanças operadas pelos viajantes escandinavos estão descritos em "Vikings: A História Definitiva dos Povos do Norte", livro do arqueólogo britânico Neil Price que chegou recentemente ao Brasil.

Price, que é professor da Universidade de Uppsala, na Suécia, afirma que o ingrediente secreto por trás da influência histórica dos aventureiros nórdicos é a sua tremenda adaptabilidade e capacidade de tirar vantagem das diferentes situações em que se encontravam –um "jeitinho viking", digamos.

"O efeito colateral não pretendido disso é que eles deixavam legados de longo prazo aonde quer que fossem", explicou Price à Folha. "O ponto-chave é que esses legados, na prática, tomavam formas diferentes de lugar para lugar."

Considera-se que a chamada Era Viking vai de 793 d.C. a 1066 d.C. Ambas as datas têm a ver com acontecimentos na Inglaterra: no início, o primeiro ataque de piratas escandinavos a um monastério cristão, na ilha de Lindisfarne; no fim do período, a derrota do rei norueguês Harald Hardrada na batalha de Stamford Bridge –Harald tinha tentado tomar para si o trono inglês e foi morto em combate.

O alcance geográfico das viagens e ataques vikings, no entanto, foi muito mais amplo (veja infográfico abaixo). Cidades e reinos foram fundados em território inglês e também na Irlanda, na Escócia, na França e em diversas áreas da atual Europa Oriental. Cidades costeiras da Espanha e da Itália foram atacadas, e contatos diplomáticos e comerciais foram estabelecidos com representantes do mundo islâmico.

Aliás, um dos mais interessantes relatos sobre um funeral viking, incluindo detalhes sanguinolentos acerca de sacrifícios humanos, foi escrito pelo viajante e erudito Ahmad ibn Fadlan, enviado pelo califa de Bagdá à bacia do rio Volga, na atual Rússia, no ano 921.

Os fatores que desencadearam a Era Viking são múltiplos, e ainda há considerável debate acerca deles. O historiador britânico Peter Heather, da Universidade de Oxford, aponta que o fim do século 8º da Era Cristã foi uma época de recuperação econômica para diversas regiões portuárias do norte da Europa.

Ao mesmo tempo, algumas décadas antes, os moradores da Escandinávia já tinham dominado a tecnologia dos barcos vikings, bastante confiáveis em mar aberto mas também capazes de subir rios rumo ao interior.

Com isso, juntava-se a fome com a vontade de comer. "Várias regiões da Escandinávia, principalmente na Jutlândia [península da Dinamarca], tinham mercados consolidados, com rotas e pontos de contato por todo o mar do Norte", explica o historiador Johnni Langer, diretor do Neve (Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos) da Universidade Federal da Paraíba.

Os escandinavos podiam aproveitar a prosperidade crescente dessas regiões para fortalecer sua atuação mercante –ou para se transformarem em piratas.

Aliás, esse é mais ou menos o significado original de "viking", que não é uma designação étnica, mas sim uma espécie de termo ocupacional, que também podia ser usado como verbo (o sujeito "ia vikingar", ou seja, ia fazer incursões ou pilhagens por mar).

Além dos ricos mercados do mar do Norte, os piratas nórdicos descobriram que havia uma concentração considerável de metais preciosos dando sopa, sem defensores militares, nos monastérios e igrejas da região – e, por ainda não terem se convertido ao cristianismo, não tinha prurido algum de se apoderarem dessa riqueza.

Outro ingrediente importante que impulsionou cada vez mais os ataques, segundo Langer: a pulverização política nas regiões sob assédio.

"Os séculos 8º e 9º foram caracterizados pela situação de enfraquecimento de poderes centralizadores, originando o início do feudalismo na Europa, como na França e Inglaterra. Esses poderes políticos regionais eram frágeis e por muito tempo acabaram recebendo influências escandinavas", explica o historiador.

É preciso levar em conta, por exemplo, o fato de que o território inglês não correspondia a um reino unificado, estando dividido em pequenas monarquias como as de Mércia (região central), Wessex (oeste do país) e Nortúmbria (região norte).

Esse é o cenário da Europa Ocidental, mas é preciso considerar também o que acontecia no extremo leste do continente. Enquanto vikings dinamarqueses e noruegueses avançavam pelos atuais Reino Unido e França, piratas e mercadores suecos começaram a controlar as rotas de comércio que passavam pelo interior da Rússia, da Ucrânia e da Belarus.

Eles passaram a ser conhecidos como "Rus’", nome que provavelmente deriva do termo nórdico para "remadores" e que acabaria originando o próprio nome da Rússia. Por fim, alguns se incorporaram ao exército do Império Bizantino, formando a famosa Guarda Varangiana, ferozmente leal ao imperador.

"Eles também passaram a atuar como parceiros econômicos cruciais, como estimuladores da economia, mercenários e, às vezes ironicamente, como defensores do Estado", resume Price.

No leste, os reinos fundados por vikings se cristianizaram, uniram-se à população eslava local e acabariam dando origem à Rússia imperial. Na Inglaterra, foi a reação às invasões escandinavas que levou ao surgimento de um reino unificado (o qual, no começo do século 11, chegou a ser dominado por Canuto, o Grande, rei dinamarquês que governou também a Noruega).

E, em solo francês, um acordo da monarquia local com os invasores levou à criação do ducado da Normandia, dominado pelos vikings e batizado com o nome deles ("normando" significa "homem do Norte").

A história aventuresca dos normandos nos séculos seguintes mostrou que eles tinham "puxado" seus ancestrais escandinavos. Guilherme, o Conquistador, duque da Normandia, tomou para si a Inglaterra em 1066, enquanto outros militares da região forjaram reinos na Sicília e até na Síria durante as Cruzadas.

VIKINGS: A HISTÓRIA DEFINITIVA DOS POVOS DO NORTE

Preço R$ 77,45 (ebook); 640 págs.

Autor Neil Price (trad. Renato Marques de Oliveira)

Editora Crítica 

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2021/11/como-os-vikings-mudaram-o-mundo-e-tema-de-livro-recem-lancado-no-brasil.shtml


segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Novo vídeo da série Cotidiano e História analisa as moedas da Era Viking

 


O mais recente episódio da série Cotidiano e História, do canal do NEVE no Youtube, analisa as moedas escandinavas que existiram durante a Era Viking. Conheça mais sobre as primeiras cunhagens, os seus usos políticos, os seus significados no cotidiano e os simbolismos religiosos.

O vídeo pode ser acessado clicando aqui.



quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Nova edição da revista Scandia é publicada

 



A nova edição da revista Scandia (n. 4) acaba de ser publicada, trazendo 14 artigos, 9 resenhas, uma entrevista e uma tradução. O destaque para esta edição é o dossiê sobre recepção artística dos mitos nórdicos. 

A nova edição pode ser acessada clicando aqui.


Sumário da edição:

DOSSIER: NORSE MYTHS IN THE ARTISTIC RECEPTION

FATAL SPINSTERS: THREAD WORK IN 19th-CENTURY ARTISTIC DEPICTIONS OF NORSE MYTHOLOGICAL WOMEN - Susan Filoche-Rommé

LUDOS IN MYTHOS: GOD OF WAR AND THE SUBVERSION OF SNORRI - Luca Panaro

SKOGTROLL: BRIEF ANALYSIS OF THEODOR KITTELSEN'S ILLUSTRATION - Andrea Caselli Gomes

ÅSGÅRDSREIEN: NATIONALISM AND MYTH IN TWO PAINTINGS BY PETER ARBO - Pablo Gomes de Miranda

HORNED, BARBARIAN, HERO: THE VISUAL INVENTION OF THE VIKING THROUGH EUROPEAN ART (1824-1851) - johnni langer

INTERVIEW

NORSE MYTHS AND VIKINGS IN EUROPEAN ROMANTICISM: AN INTERVIEW WITH ROBERT WILLIAM RIX - Robert William Rix

ARTICLES

Ráði saR kunni: REMARKS ON THE ROLE OF RUNICITY - Nicolas Jaramillo

KINSMEN, FRIENDS OR MERCENARIES? PROBLEMATISING THE PRESENCE OF INTERNATIONAL FORCES IN SCANDINAVIA BETWEEN THE TWELFTH AND THE FOURTEENTH CENTURIES - Beñat Elortza Larrea

MEDIEVAL MOTIFS IN THE POKÉMON FRANCHISE: A SURVEY - Dario Capelli, Roberto Luigi Pagani

GLI INCANTESIMI SVEDESI PER FERMARE IL SANGUE - Alessandra Mastrangelo

DEL CINE A LA TELEVISIÓN: UN ESTUDIO COMPARADO ENTRE LOS PERSONAJES DE THE VIKINGS (RICHARD FLEISCHER, 1958) y VIKINGS (MICHAEL HIRST, 2013) - Ana Melendo

DEL GINNUNGAGAP AL RAGNARÖK: EL ORIGEN Y EL OCASO DE JUEGO DE TRONOS - América Méndez

ANÁLISE DO DICURSO MÍTICO: DOS PRINCÍPIOS FORMAIS AOS ALINHAMENTOS SOCIAIS E INTERAÇÃO - Etunimetön Frog

OS ELEMENTOS (TRANS)CULTURAIS DO VAFÞRÚÐNISMÁL: DO GALÐR AO TIETÄJÄ FINO-CARELIANO - Victor Hugo Sampaio Alves

VIKINGMANIA: DOIS SÉCULOS DE CONSTRUÇÃO DA REPRESENTAÇÃO DO VIKING - Leandro Vilar Oliveira

REVIEWS

WHO ARE THESE MEN WHO COME FROM THE NORTH? THE NORMANS: THE CONQUEST OF CHRISTENDOM (TREVOR ROWLEY) - Renan Perozzini

LITURGIA COMO FATO HISTORIOGRÁFICO E SOCIAL: THE LITURGICAL PAST IN BYZANTIUM AND EARLY RUS (SEAN GRIFFIN) - Leandro César Santana Neves

A INFLUÊNCIA DE JERUSALÉM NA CRISTIANIZAÇÃO DA ESCANDINÁVIA: TRACING THE JERUSALEM CODE (K. AAVITSLAND) - Lucas Pinto Soares

O CHAMADO DA DEUSA OSTARA: EQUINOX (BALLE/MATTHIESEN) - Susan Tsugami

NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE CULTURA MATERIAL NÓRDICA: MYTH, MATERIALITY AN LIVED RELIGION IN MEROVINGIAN AND VIKING SCANDINAVIA (NORDBERG ET AL) - Monicy Araújo

VIOLENTOS HOMENS EM VIOLENTOS TEMPOS: OS VIKINGS (LEANDRO RUST) - Sandro Teixeira Moita

CONTRIBUIÇÕES PARA O ESTUDO DA RECEPÇÃO DOS MITOS NÓRDICOS ANTIGOS: THE PRE-CHRISTIAN RELIGIONS OF THE NORTH, RESEARCH AND RECEPTION, VOL. I. (CLUNIES ROSS) - Pablo Gomes de Miranda, Vitor Bianconi Menini, Andréa Caselli

FOLCLORE DOS SÁMI DE INARI TRADUZIDO AO INGLÊS: INARI SÁMI FOLKLORE, STORIES FROM AANAR (KOSKIMIES; ITKONEN) - Victor Hugo Sampaio

OS VIKINGS RUMO AO LESTE: RIVERS KINGS A NEW HISTORY OF VIKINGS FROM SCANDINAVIA TO THE SILK ROADS (CAT JARMAN) - Leandro Vilar Oliveira

TRANSLATIONS

HÁTTATAL (RECUENTO DE ESTROFAS): TRADUCCIÓN Y NOTAS - Luis Lerate de Castro