Älvalek (“Elfos dançantes”), August Malmström, 1866.
Leandro Vilar
Doutor em Ciências das Religiões pela UFPB/NEVE
vilarleandro@hotmail.com
Introdução:
Na Religião Nórdica Antiga havia uma variedade de seres sobrenaturais que não eram os deuses ou os gigantes, mas que estavam relacionados com a natureza e o âmbito doméstico, atuando como protetores e proporcionadores de fertilidade, fecundidade e prosperidade. Por se tratar de uma religião pautada numa sociedade predominantemente agrícola e pecuária, percebe-se o destaque na crença em espíritos que asseguravam o sucesso nas colheitas, o crescimento dos rebanhos, a segurança da fazenda e da família.
Esses espíritos englobavam seres os quais se manifestavam na forma humana ou na forma de animais, não sendo um termo utilizado como sinônimo de alma. Inclusive vários autores comentam a dificuldade de se estudar esses espíritos, pois alguns deles possuem funções bem parecidas, a ponto de ter suscitado dúvidas quanto a sua identidade: seriam espíritos diferentes? Ou os mesmos espíritos, mas com nomes diferentes? Sendo essa variação de nome, oriunda do regionalismo ou da época? Apesar dessas perguntas não possuírem respostas definitivas, os estudiosos perceberam alguns aspectos centrais nestes seres: alguns apareciam como mulheres, homens e outros em forma de animais, cujo gênero não era identificado. Esses espíritos eram somente visíveis em sonhos, visões, presságios ou por pessoas que possuíam alguma sensibilidade mágica ou espiritual. Esses seres viviam principalmente na natureza, habitando montanhas, cavernas, cachoeiras, florestas, etc. mas alguns moravam no lar.
O presente texto consistiu numa pesquisa bibliográfica no intuito de definir alguns desses espíritos, comentando acerca de seus nomes, funções e aspectos. Algumas fontes literárias onde se pode consultar informações sobre esses espíritos, foram mencionadas. O estudo desenvolveu-se a partir da história das religiões, procurando trabalhar com a ideia de espíritos auxiliadores, proposta pelo historiador Angelo Brelich. As imagens apresentadas são meramente ilustrativas, não havendo representações de época desses seres.
Para entender a existência dessa diversidade de seres sobrenaturais encontrados em algumas religiões, como a Religião Nórdica Antiga, mencionamos um comentário do historiador Angelo Brelich (1979, p. 43-44) a respeito da crença em seres sobrenaturais. O autor comentava que concebia esses seres divididos em duas categorias:
1. A primeira refere-se aos deuses, os quais se manifestariam de várias formas, sendo visíveis, invisíveis, antropomorfos, zoomorfos ou híbridos, os quais estariam associados com vários aspectos da natureza, da vida, da sociedade e da cultura.
2. A segunda era mais abstrata e vasta, incluindo uma diversidade de seres sobrenaturais como espíritos, entidades, monstros, heróis, criaturas fantásticas etc.
Mas o que torna essa segunda categoria diferente da primeira para Brelich, é que nela estavam inseridos os seres associados com as necessidades ou expectativas cotidianas de proteção, alimentação, provimento, saúde, segurança, fertilidade, fecundidade. Brelich destacava que embora houvesse deuses que também estariam associados a essas necessidades, ainda assim, as pessoas queriam alguém mais próximo, e esses espíritos, animais, entidades e heróis viviam entre a humanidade, compartilhando de sua realidade, mesmo que os deuses eventualmente em algumas narrativas estivessem entre os homens, não era igual. A respeito disso, Brelich assinalava de forma mais específica, a crença em espíritos tutelares, comentando sobre seu vínculo com a residência, a terra, a propriedade rural, a família e sua herança. Tais características concediam a esses seres sobrenaturais uma percepção íntima entre eles e a pessoa (BRELICH, 1979, p. 48-50).
Nesse ponto, acreditar em espíritos tutelares, segundo Brelich, vinha da necessidade do ser humano de ter alguém a quem recorrer par auxiliá-lo em sua vida de forma mais próxima. Os deuses eram solicitados sim, mas dependendo da religião, eles eram seres ocupados com suas vidas e afazeres, por outro lado, os espíritos tutelares tinham funções exclusivamente ligada aos seus familiares e protegidos, existindo praticamente para atendê-los e guardá-los. Diante desse comentário de Brelich, notamos que o caso das serpentes do lar ou serpentes-domésticas, insere-se nessa necessidade das pessoas de possuírem alguma forma mágica, religiosa, divina, sobrenatural a quem recorrer. Entretanto, acreditar que a residência pudesse ser guardada por um espírito guardião na forma de serpente não foi algo exclusivo dos escandinavos medievais.
Os vættir e landvættir: os espíritos da natureza
A princípio começaremos pelas nomenclaturas, que nem sempre são fáceis de serem usadas. Os antigos nórdicos usavam o termo vættir para se referir aos espíritos no geral, o que poderia incluir seres que para nosso senso não seriam considerados espíritos, como elfos e anões. Além da condição que alguns estudiosos não consideram que as dísir e as fylgjur fossem vættir. A outra categoria ou subcategoria, eram os landvættir, os espíritos associados com a terra, sendo esses habitantes de rochas, cavernas, colinas, estando associados com a fertilidade da terra e intuitos de proteção. (TURVILLE-PETRE, 1964; DAVIDSON, 1968).
Tentar catalogar qual espírito pertenceria a um dos dois grupos não é tarefa fácil, pois elfos e anões aparecem inseridos nas duas categorias, dependendo do autor que escreveu a respeito. Entretanto, os estudiosos tentam sublinhar algumas possíveis variações. O historiador Rudolf Keyser (1854, p. 192), um dos primeiros a dar atenção a essa crença nos espíritos protetores e da natureza, considerava que os vættir e os landvættir tivessem função de proteção, mas essa função estaria associada com o local e a região, diferente das dísir e as fylgjur que seriam espíritos que protegeriam individualmente as pessoas ou famílias. Keyser também assinalava que o conceito de landvættir, foi visto principalmente entre os islandeses e noruegueses. Ele comenta o caso da Lei Ulfjot de cerca de 930, que solicitava que as figuras de proa com cabeça de dragão ou serpente, fossem removidas ou cobertas, antes dos navios atracarem na Islândia, para que aquelas figuras não assustassem os landvættir. Outros autores comentam esse curioso exemplo, assinalando que a crença nesses espíritos da natureza fosse bem importante entre os islandeses, a ponto de terem criado uma lei para não os assustá-los.
Os landvættir segundo consta nas sagas islandesas, estavam associados com a natureza, habitando colinas, montanhas, rios, rochas, concedendo proteção e fertilidade. Eles poderiam assumir forma humana, de gigantes e até a forma de animais. Eram conhecidos como seres tímidos, por isso dificilmente eram vistos, porém, alguns apareciam aos humanos. A história de Bjorn, o Bode conta que ele foi ajudado por um landvættir, nas atividades de caça e pesca; a ajuda foi tão boa, que o rebanho de cabras de Bjorn, cresceu. O fora da lei Grettir, o Forte, em sua jornada conheceu um estranho que disse que sua filha estava gravemente doente, mas ela foi curada por um misterioso homem que vivia numa caverna. O estranho disse à Grettir que achava que aquele homem na caverna fosse um landvættir. (TURVILLE-PETRE, 1964, p. 232).
Outros estudiosos assinalam algumas interpretações diferentes para entender os vættir e landvættir. Peter Munch (1926, p. 42) comentou que nos relatos escritos, existem as expressões holla vættir (bom espírito) e meinvaettir (mau espírito). Munch não deixa claro se trataria de uma influência cristã, essa noção entre bons e maus espíritos, já que ele comentou que com o avanço do cristianismo na Islândia e Noruega, os missionários e padres passaram a combater o culto a esses espíritos, os quais até receberiam oferendas em forma de comida. Os clérigos consideram essas criaturas como sendo demônios.
Embora que Jan de Vries (1970, p. 260-261) assinalou que os vættir e landvættir se fossem ofendidos, poderiam causar danos aos humanos, suspendendo sua proteção e bênçãos, ou negando ajuda. O que poderia suscitar o uso da expressão meinvaettir. Não obstante, Munch (1926, p. 43) sugeriu uma dicotomia pouco usual, apontando que os holla vættir estavam associados aos deuses e elfos luminosos, quanto os meinvættir estavam associados aos gigantes, anões e elfos sombrios. Nota-se na referência aos elfos, que ele usa a classificação apresentada por Snorri Sturluson, na Edda em Prosa, em dividir os elfos entre seres benignos associados com a luz, e seres malignos, associados com as trevas.
John MacCulloch (1930, p. 228-230) foi mais cauteloso ao falar desses espíritos. Para ele os vættir eram espíritos da natureza, diferente de outros seres como elfos, anões e fadas. Os vættir habitariam locais da natureza como florestas, cachoeiras e árvores, recebiam oferendas, geralmente em forma de alimento, e poderiam assumir distintas formas. Estavam ligados com a fertilidade, prosperidade e proteção. Ele comentou que esses espíritos eram confundidos com os elfos, por tais seres também estarem ligados com a natureza e a fertilidade, e poderiam estar associados com o culto aos ancestrais. Keyser (1854, p. 189-190) comentou que os vættir também eram confundidos com os elfos e as dísir, porém, os vættir estariam associados com os mortos, diferente dos elfos e as dísir. Embora ambos os autores não expliquem satisfatoriamente o porquê o culto aos ancestrais estaria ligado com esses espíritos.
MacCulloch (1930, p. 229) assinalava que a palavra vættir possuía mais de um sentido, como visto nos relatos literários, mas em geral associada com a ideia de um espírito protetor, mas que também poderia agir de forma perversa. Ele comentava que havia histórias que mostravam vættir agindo de forma má, o que assinalava uma dificuldade de definir com clareza a identidade desses espíritos sempre como seres benignos. Essa visão negativa existiria segundo ele, durante o período pagão, e foi apropriada pelos cristãos, a fim de demonizar a crença nesses seres. MacCulloch (1930, p. 231-232) salientava que a crença nos vættir não esteve limitada apenas a Islândia e a Noruega, mas foi vista na Dinamarca, na Suécia e nas Ilhas Faroe. Ele também comentava que essa crença perdurou mesmo com a cristianização desses territórios, perpetuando-se no folclore escandinavo, pois seres como os Nisse(1), eram criaturas inspiradas nos vættir.
Hilda Davidson (1968, 1993) pouco falou nos vættir, dando mais atenção aos landvættir. Para a autora, esses seres seriam espíritos da natureza que viveriam em montanhas, colinas, rios, campos, florestas, árvores, rochas, entre outros lugares. Lembrariam os espíritos guardiães vistos entre outros povos, como no caso dos anglo-saxões com suas histórias sobre os Cucullati, também chamados de “os encapuzados”, devido a usarem capas e capuzes. Esses seres estavam associados com a fertilidade, prosperidade e proteção e viveriam na natureza. Inclusive outros seres encontrados na Escócia e Irlanda também possuíam semelhanças com os landvættir nórdicos. Ela assinalava a capacidade de eles assumirem outras formas e de ajudarem as pessoas, porém, põem em dúvida se estariam associados com o culto aos mortos, como sugerido por Keyser (1854) e MacCulloch (1930).
Apresentado essas características centrais sobre esses dois tipos de espíritos, as vezes considerados como categorias de seres espirituais, comentaremos a seguir sobre as dísir, as fylgjur, as hamingjur e os elfos, para depois falarmos especificamente do caso das serpentes como espíritos guardiões. Com exceção dos elfos, os demais espíritos mencionados possuem em comum o fato de serem referidos na maioria das vezes, como sendo do gênero feminino, apesar que as fylgjur poderiam assumir outras formas.
As Dísir: espíritos da fertilidade
As dísir (dís no singular) são misteriosos espíritos femininos, associados com a fertilidade e a proteção, e segundo alguns autores, estariam associados com os deuses Vanes devido a esse referencial da fertilidade. Para Keyser (1854, p.175-184), as dísir seriam deusas menores, de nomes desconhecidos, mas que estariam associadas com a natureza, os campos e a proteção do lar. As dísir receberiam culto através de banquetes e sacrifícios (disáblot), em lugares privados ou públicos, como forma de simbolizar a prosperidade a elas atribuída. Para Keyser, o culto a essas deusas estava mais ligado com o bem-estar da família do que com ritos agrários. Ainda assim, ele sugeriu que era um culto bem difundido em algumas regiões da Escandinávia, devido a toponímia apresentar o nome dís, o que sugeriria se tratar de locais onde essas deusas eram cultuadas. Inclusive ele comentava que a condição dessas deusas ou espíritos, terem a forma feminina, era representação da condição do papel da mulher na sociedade escandinava como guardiã do lar. Dentro desse grupo de deusas estariam as hamingjur e as fylgjur, que seriam manifestações específicas das atribuições dessas divindades menores.
Turville-Petre (1964, p. 221-224) comentava que as dísir eram espíritos femininos que recebiam culto, esse chamado de dísablot, que ocorria na época do inverno, nas chamadas “noites de inverno”. O culto envolvia o consumo de bebidas, e era realizado principalmente dentro do lar. Mas alguns relatos sugerem um culto externo, no qual envolveria sacrifícios em um altar, algo comentado na Saga de Hervor, na Saga de Egil Skallagrimsson, na Saga de Vigá-Glums, entre outros relatos. Esse culto as dísir seria feito para invocar a proteção desses espíritos femininos para assegurar o bem-estar da família, durante os meses frios do inverno. Apesar que as dísir também fossem mencionadas em outras épocas do ano, e até aparecessem em sonhos, como presságio. O que as faz serem confundidas com as fylgjur, que também são ditas aparecerem em sonhos.
Nesse caso, Turville-Petre (1964, p. 225-227) sugeriu que a palavra dís pode ter sido uma invenção de poetas para se referir a fylgja. Por outro lado, ele sugeriu que caso não fosse uma invenção poética, a palavra dís poderia ser um termo regional de algum local da Escandinávia para se referir a fylgja, pois Turville-Petre como Keyser, assinalava que a distinção de funções das dísir para as fylgjur é quase nenhuma, pois as diferenças existentes se encontram na condição que não há menções as fylgjur recebendo culto e que essas se transformariam em animais, algo não visto com as dísir que se apresentariam em forma humana.
Figura 1: Dísablót, August Malmström, c. 1860.
Peter Munch (1926, p. 33) comentava que as dísir seriam um grupo de deusas associadas com a morte ou com a terra, representando a proteção das famílias e lares, e estando associada com ritos geralmente celebrados durante o inverno, no intuito de invocar a proteção e prosperidade para aqueles tempos difíceis. O disáblot era realizado nos lares ou ao ar livre, em locais demarcados com altares (dísarsal) ou outros indicadores. As dísir estariam associadas com presságios (spádís = dís vidente), e estavam associadas com os Vanes (vanedís = dís dos Vanes). Munch destacava o culto a essas deusas na Suécia, na região de Uppsala e vizinhanças.
Keyser (1854, p. 185) falava que vestígios do culto as disir, era observado também na Noruega, Islândia e nas ilhas Orkney. Hans-Peter Naumann (2016, p. 624) corrobora a fala de Keyser, apontando menções ao culto das dísir em vários lugares, mas chamando a atenção para que na Suécia e Noruega, foram encontrados locais chamados Disâsen, Diseberg, Disevid e Disathing, o que sugere uma ligação dessas localidades com o culto a esses espíritos. Nauman também sublinha que o disáblot no lar, seria feito especificamente para se pedir a proteção daquela família, mas o culto público deveria ser celebrado para pedir a proteção e bem-estar da comunidade, pois ele destaca que nas sagas, há menções de reis participando do disáblot. Assinalando que na cultura nórdica os reis tinham um papel religioso também, o que incluía presidir e dirigir rituais e representar a proteção do reino, incluindo ser culpado por problemas como falta de chuva, pragas e inverno rigoroso.
John Lindow (2001, p. 95-97) comenta que identificar as dísir seja algo difícil. Ele salienta que a palavra dís poderia significar dama, o que abriria uma vasta margem de interpretações, permitindo incluir deusas e outros espíritos no contexto. Diante disso, ele assinala a questão de Freyja ser chamada de Vanadís (dís dos Vanes, ou seria a dama dos Vanes?). Lindow também comenta que as valquírias são comparadas as dísir nos poemas Atlamal e no Gudrúnarkvida, sendo conhecidas como as dísir de Odin. Seriam as “damas de Odin”? Por sua vez, na Edda em Prosa, Lindow diz que a giganta Skadi era chamada de “dís dos esquis”, pois a giganta usava esquis para se locomover nas montanhas nevadas. As Nornas, que eram as deusas do destino, também estavam associadas com as dísir, pois algumas dessas, supostamente através de sonhos, apresentariam presságios.
Diante desses exemplos, John Lindow sugere que a palavra dís pode ter tido seu sentido alterado com o tempo, deixando de ser uma palavra comum para se referir a “dama”, para passar a ser usada no sentido de referir-se a divindades femininas de identidade indefinida, por isso haver narrativas que as dísir se assemelham as valquírias quando surgem no leito de morte da pessoa, ou aparecem como espíritos que podem atrapalhar, fazendo a pessoa se ferir, como no caso da fylgja-adversária.
As fylgjur: espíritos protetores
Se os autores supracitados comentam que havia semelhanças entre as dísir e as fylgjur, vejamos que semelhanças eram essas. Enquanto a palavra dís é sugerida significar dama, a palavra fylgja é traduzida como “aquela que segue” ou “acompanhante”. Tal condição se deve pelo fato de que a crença nesses espíritos protetores, dizia que cada ser humano possuiria uma fylgja particular, que acompanharia a pessoa do nascimento até a morte. Tal condição lembra a ideia de anjo da guarda no catolicismo, ou a ideia de daemon entre os gregos antigos, ou de espírito animal pessoal, visto entre alguns povos de características xamânicas.
A fylgja era geralmente descrita como tendo a forma de uma jovem mulher, sendo ela invisível para seu protegido. Com exceção de pessoas dotadas de dons mágicos ou espirituais que conseguiriam ver esses espíritos, a maior parte da população não as via. As fylgjur poderiam aparecer em sonhos, sendo chamadas de draumkona (mulher do sonho), ou poderiam aparecer através de visões ou na eminência da morte de seu protegido, características compartilhadas pelas dísir, segundo alguns relatos. As crenças diziam que quando uma pessoa via sua fylgja, significava que estava em perigo ou próximo de morrer. Assim, ver a própria fylgja era presságio de mau agouro. (TURVILLE-PETRE, 1964, p. 227-229).
Além de cada pessoa ter sua própria fylgja, havia fylgjur que protegiam famílias inteiras, sendo essas chamadas de aettarfylgja ou kynfylgja. Segundo o relato de algumas sagas, essas fylgjur de família, passavam de geração em geração, pois quando uma pessoa morria, a fylgja dela ia embora com essa pessoa, mas a fylgja de família permanecia, enquanto a família continuasse a existir. Devido a essa aproximação especifica com a família, esse tipo de fylgja seja confundida com o papel das dísir, como comentado anteriormente. (RAUDVERE, 2008, p. 239).
Entretanto, a grande diferença entre as fylgjur e as dísir se devem a dois fatores: o primeiro, pelo fato das fylgjur poderem assumir a forma de animais, o segundo, pela condição das fylgjur não receberem culto. Keyser (1854, p. 187-189) comentou que em várias sagas há menções da presença das fylgjur em forma animal, geralmente aparecendo em sonhos para alertar sobre perigos ou a proximidade da morte do protegido. A forma animal variava nessas narrativas. Keyser apontou ter identificado fylgjur na forma de urso, raposa, lobo, touro e águia. Para o autor, esses animais teriam um valor simbólico no contexto da narrativa, algo que deveria ser analisado para entender essas visões. Keyser também comentou que a manifestação animal das fylgjur poderia não apenas alertar o protegido sobre ameaças, mas elas poderiam alertar os familiares. Ele cita o caso do poema éddico Atlamal (Cantar de Atli), no qual, Kotsbera sonhou com sua fylgja em forma de águia, mas o espírito anunciava que o perigo não seria com ela, mas com seu marido Hogni.
Chantepie de la Saussaye (1902, p. 297) comentava que as fylgjur assumissem a forma de vários animais como lobos, ursos, corvos, águias, cisnes, pombos, abelhas, moscas e de cobras. Tal condição era reflexo do que ele considerava ser uma forte influência animista e xamânica na Religião Nórdica Antiga. Por tal condição, havia o que ele denominava de “fauna espiritual”, ou seja, os diferentes tipos de animais pelos quais as fylgjur poderiam se transformar.
John MacCulloch (1930, p. 234-235) dizia que nas sagas e poemas era mais comum as fylgjur aparecerem em forma animal, sendo essa forma chamada de dýrfylgja ou por outros nomes. Essa forma animal, segundo MacCulloch, não apenas teria um caráter simbólico associado com a interpretação dos sonhos, algo comentado décadas antes por Keyser (1854), mas poderia ser a personificação do caráter ou condição social da pessoa. Sobre isso, Keyser dizia que que em geral as histórias que narravam a presença de fylgjur na forma de urso, lobo, touro e águia, referiam-se a chefes ou guerreiros, sendo que esses animais possuem relação com tais aspectos. A águia personifica nobreza e autoridade, o touro expressa bravura e força, ursos e lobos também representam força, coragem, autoridade, imponência. Sendo essas características prezadas na sociedade nórdica para um chefe e guerreiro.
Else Mundal (1993, p. 624) comenta que esses animais podem ser encontrados nas seguintes sagas: forma de urso e de touro (Saga de Njáls, cap. 23, na Saga dos Ljósvetninga, nos caps. 11 e 16, e na Saga de Vápnfirðinga, no cap. 13). Além desses dois animais, os quais Mundal diz serem mais comuns, a autora observou outras espécies como: raposa (Porsteins saga Vikingssonar, cap. 12), bode (Saga de Njáls, cap. 41), leão (Hrólfs saga Gautrekssonar, caps. 7 e 12) e leopardo (Spgubrot, cap. 2). Mundal assinala a referência de animais como o leão e o leopardo, criaturas inexistentes na Escandinávia, provavelmente trata-se de narrativas tardias, influenciadas por elementos simbólicos do sul do continente, o que explicaria a presença desses dois animais estranhos a fauna nórdica. Ainda assim, o leão e o leopardo seguiriam o simbolismo associado com nobreza, imponência, autoridade, virtude, força e coragem, algo que encontra respaldo para chefes e guerreiros. Para Mundal, a fylgja em forma feminina teria pensamentos próprios, independente da consciência de seu protegido. Porém, a fylgja-animal seria uma manifestação espiritual do seu protegido.
Else Mundal (1993, p. 625) também destacou a complexidade de compreender as fylgjur devido aos vários termos usadas para se referir a esses espíritos. Dentre essas variações de nome, a autora assinalou: mannflygja (fylgja do homem ou fylgja pessoal), a forma feminina era chamada também de ófridarfylgjur (fylgjur-agitadas) e óvinarfylgjur (fylgjur-adversárias), sendo esses dois exemplos referentes as histórias onde fylgjur atacaram os inimigos de seus protegidos, a fim de protegê-los. As fylgjur de família eram chamadas de aettarfylgja e kynfylgja. As que apareciam em sonhos eram nomeadas de draumkona. As que pressagiavam a morte eram nomeadas de dauðafylgja. As que apresentavam vidência eram chamadas de spádís, o que as fazia ser confundidas com as dísir. Para Mundal os diferentes nomes das fylgjur pudessem ser reflexo de variações regionais, ou invenções dos poetas e escritores. Além disso, a autora considerava que as dísir poderiam ser outro nome para as fylgjur, embora ela não tivesse certeza disso.
As hamingjur: espíritos da sorte
Entretanto, quanto as hamingjur (hamingja no singular), espíritos femininos da boa sorte, para Mundal não seriam outros tipos de espíritos, mas outro nome para se referir às fylgjur. Keyser (1854), MacCulloch (1930) e Turville-Petre (1964) seguiam a mesma opinião de Mundal, ao dizer que a hamingja seria outro nome para a fylgja.
Já Peter Munch (1926, p. 302) considerava a hamingja diferente da fylgja, a primeira estaria associada com a sorte e a segunda com a proteção. Rudolf Simek (1993, p. 129) segue o posicionamento de Munch, ao dizer que a hamingja seria a personificação da boa sorte e inclusive poderia ser passada de um indivíduo ao outro, pois na concepção escandinava, a sorte seria um espírito que acompanharia a pessoa. Apesar que não se saiba exatamente como essa troca poderia ser feita. De qualquer forma, Simek salienta que a fylgja não era transferida, exceto a fylgja de família. No entanto, as hamingjur poderia ser confundida com as nornas, por essas serem espíritos do destino e também associadas em alguns casos com a sorte.
Os elfos: seres com distintas identidades
Quanto aos elfos (álfar) esses também possuem problemas de interpretação e identificação. Enquanto o cinema, desenhos, ilustrações, quadrinhos e videogames perpetuaram a imagem de elfos sendo seres pequenos como gnomos e duendes, ou ora tendo a aparência humana, tendo um porte esbelto e nobre, possuindo cabelos longos, olhos claros e orelhas pontudas, os elfos na mitologia e folclore escandinavo não tinham sua aparência definida.
Alaric Hall (2007, p. 54-55) comenta que a palavra nórdica álfar (elfo), possui paralelo etimológico com a palavra em inglês antigo, ælf. Ambas as palavras remontam ao proto-germânico alboz, que possui paralelo com o albus, no latim, que significa branco. Por essa etimologia, Hall sublinha que Snorri possa tê-la usada para criar suas duas raças de elfos, designando entre elfos claros e escuros. O autor também salientou que no contexto nórdico os elfos parecem pertencer apenas ao gênero masculino (2), como os anões, pois nos mitos nórdicos não há menções a anãs. No entanto, na mitologia anglo-saxã havia elfos (ælf) e elfas (ælfen). A condição dos elfos nórdicos serem apenas masculinos já os diferenciaria das dísir, fylgjur e hamingjur, por serem essas representadas essencialmente como mulheres.
Além dessa distinção, Hall sugere que a palavra elfo no contexto nórdico pudesse ter distintas interpretações. Para ele, na Edda Poética, os elfos poderiam ser algum tipo de divindade menor, cujos nomes se perderam na tradição oral, ou até mesmo uma referência aos Vanes, o que os colocaria próximos aos ritos de fertilidade e prosperidade desses deuses, o que por sua vez, justificaria o álfablot (sacrifício aos elfos). Por outro lado, na Edda em Prosa, os elfos surgem como duas raças distintas, habitando dois mundos diferentes, mas sem importância nos mitos. Já nas sagas, os elfos são representados como espíritos da natureza, cujas funções os confundem com as dísir e os vættir. Sendo que eles também recebem oferendas para proporcionar fertilidade e proteção, e estariam associados com o culto aos mortos. Na poesia escáldica a palavra elfo aparece como substantivo usado para metáforas (kenningar) ou para apelidos masculinos.
John Lindow (2001, p. 110) aponta que em alguns poemas éddicos como o Völuspá e o Lokasenna, os elfos são mencionados como estando em companhia dos deuses. Porém, eles não possuem sua aparência definida, e tampouco tem nomes próprios citados, diferente dos anões, os quais possuem vários nomes mencionados no Völuspá. E nesse quesito, Lindow comenta que no poema Völundarkvida, o herói Volund é visitado por um elfo chamado Dain, porém, Dain é um nome associado a anões.
Figura 2: Ängsälvor (“Elfos do campo”), Nils Brommér, 1850.
Na Edda Poética não é dito onde os elfos habitariam propriamente, porém, na Edda em Prosa, Snorri menciona que havia duas raças de elfos, os elfos luminosos (ljósalfar) e os elfos sombrios (svartálfar) ou elfos escuros (dökkálfar). Os elfos luminosos viveriam em Álfheim (Terra dos Elfos) e os elfos sombrios moravam em Svartalfheim (Terra dos Elfos sombrios). O nome dos elfos sombrios ou escuros se daria segundo algumas interpretações, devido a eles viverem no subterrâneo ou longe da luz do sol. (LINDOW, 2001, p. 110).
Embora Snorri Sturluson tenha apresentado essa variação entre os elfos, ela não influencia no relato mitológico e não é perceptível ter influenciado outros mitos e narrativas, pois os elfos não são referidos por essa diferença. Porém, os elfos eventualmente eram confundidos com os anões, o que se sugere que os svartálfar possam ter surgido dessa confusão, pois os anões costumavam habitar cavernas, eram ferreiros, artífices e conheciam magia, características associadas aos elfos. No entanto, a principal diferença entre os elfos e os anões, era que os elfos recebiam culto, o chamado álfablot.
Lindow (2001, 53-54) cita o relato de um poeta islandês chamado Sighvatr Thórdason, que visitou a província de Västergötland na Suécia, no ano de 1017 ou 1018, o qual relatou ter testemunhado um culto aos elfos, sendo realizado numa casa. É importante salientar que naquele ano, a Suécia já estava em boa parte influenciada pelo cristianismo, ainda assim, práticas pagãs continuavam a ser realizadas. Esse culto aos elfos é mencionado em outras narrativas, embora com poucos detalhes de como ocorria.
Ármann Jakobsson (2015, p. 215-216) destaca que os elfos são retratados de formas distintas nas Eddas e nas sagas. O autor comenta que nas sagas lendárias os elfos estão associados com a magia, nas sagas de reis eles estão associados com alguns monarcas, inclusive envolvendo culto aos mortos, nas Eddas eles são citados brevemente e sem importância na narrativa. Jakobsson salienta que os elfos também estavam associados com os anões, pois temos anões chamados de Álfr, Vindálfr e Gandálf. Isso gerava confusão entre os dois seres. O autor diz que a classificação de elfos luminosos e elfos sombrios pode ter sido inventada por Sturluson.
Para Jakobsson (2015, p. 216-217), os elfos poderiam ser uma categoria de seres espirituais, não uma raça, ou seria outro nome para se referir a espíritos da natureza, pois em algumas sagas, os elfos são associados com florestas, montanhas e cavernas, o que os aproxima dos vættir e landvættir, e tal condição foi mantida no folclore nórdico. Por exemplo, em regiões da Noruega e Suécia, os elfos são chamados de “povo oculto” (huldufolk). O autor salienta que muito do imaginário sobre os elfos foi desenvolvido nos séculos XVIII e XIX, com os contos de fadas, criando distintas imagens para esses seres, as quais não correspondiam a percepção que os nórdicos da Era Viking e da Baixa Idade Média, teriam deles.
Jenni Bergman (2011, p. 10-12) apontou várias informações sobre essas criaturas. A autora salienta que os elfos eram criaturas associadas com a natureza, encontrando respaldo em outros espíritos da mitologia e religião nórdica, além de encontrar respaldo em outros seres vistos nas culturas dos germânicos, anglo-saxões, escoceses e irlandeses. A autora salienta que no século XIX, Jacob Grimm em seus estudos folclóricos, sugeriu a hipótese que os elfos seriam antigos genii locus, espíritos guardiões de determinados lugares, o que faria sentido, já que os elfos recebiam culto e oferendas. Não obstante, Grimm salientava que a divisão sugerida por Snorri sobre elfos luminosos e elfos sombrios, poderia estar influenciada por referenciais cristãos, baseadas em anjos e demônios, associando os elfos luminosos com o bem e os elfos sombrios com o mal e os mortos.
Bergman (2011, p. 12-14) destaca que além da comparação e confusão dos elfos com os anões, ela sublinha o caso de que os elfos poderiam estar associados com os mortos, como os draugr (mortos-vivos). Os elfos sombrios que eram descritos habitando o subterrâneo e teriam a pele escura, talvez pudesse ser referência aos mortos? Além disso, Bergman sublinha que na literatura anglo-saxã, os termos relacionados a elfos eram bem mais variados no que na literatura escandinava. No caso anglo-saxão, havia relatos de elfos vivendo em diferentes locais da natureza, que os fazia lembrar as ninfas da mitologia grega, ou os próprios vaettir da mitologia nórdica. Ela também sublinha exemplos de pessoas adotarem a palavra elfo para formar nomes próprios, pois os elfos eram associados com inteligência e beleza. E havia histórias de elfos travessos.
Sobre o álfablot, Turville-Petre (1964, p. 230-231) assinalou algumas dúvidas. Ele comentou que na Saga de Kórmak, a feiticeira Thordís recomenda que Thorvard, o qual havia sido derrotado e ferido em um duelo contra Kórmak, para que pudesse se curar rapidamente e ter mais sorte na próxima luta, deveria roubar um dos bois de seu inimigo, levar o animal até uma colina onde viviam os elfos, e sacrificar o animal ali, oferecendo seu sangue e carne a aqueles espíritos, para que eles lhe dessem saúde e proteção.
Algo parecido é mencionado na Kristni saga (Saga da Conversão dos Islandeses), onde um bispo inglês, de nome Frederik, para converter a família do guerreiro islandês, Thorvaldr Koðrasson, o qual já havia se batizado, o bispo destruiu uma rocha, onde habitaria um ser chamado de ármaðr, que concedia proteção e bênçãos para a família e as terras daquele local. O pai de Thorvaldr somente aceitou se converter ao cristianismo, depois que o bispo Frederik expulsou o ármaðr. Para Turville-Petre (1964, p. 231) essa história do ármaðr, lembra o elfo da Saga de Kórmak, embora que os landvættir fossem seres bem parecidos com as funções dos elfos.
Mas se esses dois casos suscitam dúvidas. Turville-Petre (1964, p. 231) salienta que o álfablot também fosse em algumas regiões, celebrado durante o inverno, o que o confunde com o dísablot. Além disso, o autor comenta os casos de reis que possuíam seus nomes ligados aos elfos, e recebiam culto. Os reis Volund, o Elfo, Olavo Geirstađálfar e Álfr estavam associados ao culto dos elfos. O rei Olavo após a morte recebeu o epíteto de Geirstaðaálfar (Elfo de Geirstaða), e passou receber oferendas em seu túmulo, onde a população pedia por boas colheitas e proteção. Uma filha do rei Álfr, que diziam viver no leste da Noruega, realizava o dísablot num local chamado Álfhildr, sendo esse local associado aos elfos.
Por tais comentários os elfos se confundem com outros vaettir e os anões, além de estarem associados com a natureza, ritos de proteção e talvez fertilidade, o que os fazia estarem conectados com os deuses Vanes. Além disso, sua ligação a reis que recebiam culto, sugere uma possível associação com o culto aos antepassados, apesar que isso sejam conjecturas embasadas em relatos curtos, contidos nas sagas, pois nas Eddas, a função, identidade e importância dos elfos não são revelados.
As nornas: os espíritos do destino
Assim como ocorre com os elfos, as fontes literárias apresentam diferentes interpretações para estes seres, e o mesmo é válido para as Nornas. Na Edda em Prosa, Snorri Sturluson escreveu que as Nornas seriam três irmãs chamadas Urd, Verdandi e Skuld, e elas seriam as deusas do destino. E elas viveriam próximo ao poço Urdarbrunnr, diante de uma das três grandes raízes da Yggdrasil. Entretanto, em outras passagens dessa Edda, Snorri diz que haveria outras nornas, as quais ele não as nomeou, e essas estariam associadas tanto ao destino bom, quanto ao destino ruim. A ideia de que haveria mais de três nornas já era considerada em outros poemas na Edda poética, os quais necessariamente não limitavam tais seres em número de três. (MUNDAL, 1993, p. 625-626).
Simek (1993, p. 236-237) considera que haveria pelo menos duas versões conhecidas sobre as nornas: a versão de que haveria várias delas, e a versão da Edda em Prosa, onde também diz que existiriam outras, mas apenas três são destacadas. Para ele, esse foco que Snorri deu a Urd, Verdandi e Skuld, poderia ser uma influência da crença romana nas Parcas, e a crença grega nas Moiras, onde ambos os casos tínhamos três irmãs associadas com o destino. Simek também comenta que os nomes das normas Urd (passado), Verdandi (presente) e Skuld (futuro), necessariamente não teriam essa conexão temporal, podendo inclusive ser uma invenção mais tardia, pois ele sublinha que a palavra verdandi é uma variação do mesmo verbo que origina urd. E neste caso, ele assinala que o nome da norna Urd é citado desde o século X, sendo o mais antigo conhecido. No fim, ele reconhece que tais seres estariam associados com o destino e a sorte, mas também com a ideia de julgamento (dómr) e veredito (kvidr).
Figura 3: Die Nornen Urd, Werdanda, Skuld, unter der Welteiche Yggdrasil (As Nornas Urd, Verdandi, Skuld, sob a árvore Yggdrasil), Ludwig Burger, 1882.
Lindow (2001, p. 243-244) trata as nornas não como deusas, assim como mencionado por Snorri, mas as concebe como espíritos femininos associados com o destino e o nascimento. Ele cita o poema Fafnismál, onde há uma menção as nornas como sendo espíritos que vão receber as crianças assim quando nascem, então ditam a elas seus destinos. Neste caso, o dragão Fafnir diz a Sigurd, que haveria nornas a serviço os deuses, dos anões e dos elfos, apesar que não se sabe ao certo o que isso quisesse dizer. Lindown cita outras fontes que também apontam que haveria várias nornas e não apenas três delas. Provavelmente trata-se de uma versão do mito ou uma edição de Snorri ou de outro autor, e concebê-las na Edda em Prosa como sendo três irmãs principais.
Langer (2015, p. 338-339) também defende que as nornas seriam espíritos femininos associados com o destino, e a boa e má sorte. As nornas ditariam os acontecimentos da humanidade, pelo menos é o que sugere alguns poemas e sagas. Entretanto, por ser material mitológico e até mesmo escrito após a Era Viking, a nível de crença religiosa, não se sabe exatamente como os nórdicos concebiam sua relação com as nornas, pois nem sempre a literatura expressa a realidade. Langer também comenta que em determinados momentos as nornas foram confundidas com as valquírias, pois essas ditavam o destino final, se o guerreiro iria para o Valhala ou não. Além disso, o nome Skuld também é referido como sendo o nome de uma valquíria.
Notas:
1. O nisse é descrito como uma pequena criatura parecida com um gnomo ou duende. Ele também lembra o brownie escocês, o kobold germânico e o kaboutermanekken holandês. Os nisse são espíritos protetores que podem habitar uma residência específica ou vivem na natureza, em torno das casas e fazendas. Também estão associados com festejos natalinos. Nisse é a palavra mais utilizada na Noruega e Dinamarca. Já na Suécia, adota-se a palavra tomte. (THORPE, 1851a).
2. Hall (2007, p. 28) comenta que em fontes islandesas mais tardias do final da Idade Média, surge a palavra álfkona (elfa). Possivelmente uma influência inglesa, pois na língua inglesa existia uma palavra feminina par elfo. Todavia, essa palavra parece ter sido pouco usual mesmo no folclore escandinavo.
Referências:
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