COMO CURSAR MESTRADO EM ESCANDINAVÍSTICA NO BRASIL E
EXTERIOR
Com
a popularidade da temática nórdica no Brasil, vem crescendo a procura por
orientações e pesquisas a nível de pós-graduação em Escandinavística. Esse
pequeno guia visa fornecer alguns parâmetros para os interessados, sendo
constituído de duas partes: primeiramente fornecemos algumas dicas para a
elaboração de um projeto na área, depois algumas indicações de programas e
orientações no Brasil e exterior.
O PROJETO EM ESCANDINAVÍSTICA
Como
em qualquer projeto para mestrado em Ciências Humanas, a pesquisa deve envolver
alguns elementos básicos e imprescindíveis: problemas investigativos,
hipóteses, teoria e metodologia. Uma síntese ideal da estrutura pode ser
vislumbrada neste site da UFJF e de forma mais detalhada e técnica neste outro site.
A abordagem e seleção das fontes primárias vai variar conforme a área de pós-graduação
pretendida, mas ela é sempre um ponto fundamental em qualquer pesquisa
envolvendo Escandinavística. É necessária uma atenção especial no uso de
traduções e nas seleções da bibliografia secundária (como foi alertado na
matéria: Traduções e esoterismo na Mitologia Nórdica: alguns cuidados). Outra
questão que o pesquisador deve estar atento é a adequação dos objetivos e
metodologias da pesquisa com relação à linha de pesquisa do programa pretendido
– fundamental para o sucesso na seleção. Isso é geralmente obtido quando o interessado
mantém um contato prévio com o orientador almejado do programa, antecipadamente
ao processo seletivo. A questão teórica e metodológica é igualmente muito
importante. O grupo NEVE pretende futuramente publicar uma obra derivada de um
curso de extensão ministrado na UFPB: Teorias e métodos da Escandinavística,
mas por enquanto existem alguns estudos neste sentido (Teorias e métodos para oestudo da Mitologia Nórdica e A religião nórdica antiga: conceitos e métodos de pesquisa). A originalidade da pesquisa valoriza qualquer
pretensão a uma seleção e o candidato pode investigar os temas das dissertações
e teses escandinavísticas já defendidas no Brasil, a exemplo desta tabela das
defesas até 2018:
O candidato também deve evitar temas/títulos muito genéricos e vagos para os
projetos, como o tradicional “Cristianização da Escandinávia”, recorrente em
várias pesquisas de TCC pelo país. Seja para a área de História, Letras, Ciências das
Religiões ou afins, a especificidade do objeto, espacialidade e temporalidade é
fundamental. Uma investigação em fonte literária também precisa ser bem
demarcada, como em “As influências da Mitologia Nórdica na obra Silmarrilion de
Tolkien”, por exemplo, e no projeto, a delimitação torna-se mais precisa com o
uso de objetivos secundários (uma média de 4 a 5). Maiores definições do objeto
de pesquisa, das fontes a serem utilizadas, da bibliografia secundária/analítica,
das metodologias e instrumentos de pesquisa devem ser definidos antecipadamente
com o orientador do programa almejado e refinado posteriormente, com a entrada
no programa e o cursar das disciplinas teóricas que poderão ser ofertadas. O NEVE possui um arquivo online de
dissertações e teses defendidas na área, que podem ser consultadas aqui.
Como elaborar um projeto em Estudos Vikings
Escolhendo o campo temático - Incursões, Colonização e diáspora, Sociedade, Política, Economia, Religião e mitos, cultura material, cotidiano, historiografia, recepção, gênero, etc.
O campo temático com o tempo tem que ser refinado em um tema específico, dependendo da estrutura da pesquisa (se é Tcc, mestrado ou doutorado): por exemplo, dentro do campo religioso nórdico pré-cristão, o pesquisador opta por pesquisar o tema dos templos e áreas sagradas. Outro exemplo é no campo da economia, cultura material ou religiosidade: o pesquisador escolhe trabalhar com as moedas nórdicas da Era Viking, que podem ser pesquisadas em vários tipos de abordagens (econômica, política e religiosa).
Como escolher um tema: por meio de leitura de bibliografia secundária. Grandes manuais - The Viking World (Stefan Brink); Vikings (Neil Price), Dicionário de História e Cultura da Era Viking, Os Vikings (James Graham-Campbel).
Um tema necessita de fonte primária: Crônicas estrangeiras; crônicas escandinavas medievais; Sagas islandesas; fontes materiais e arqueológicas; inscrições rúnicas; arte e iconografia.
Uma pesquisa necessita de originalidade: qual a relevância deste projeto? Ele é inédito no campo historiográfico brasileiro? O ineditismo é somente na abordagem ou também na temática e recorte espaço-temporal? A originalidade pode ser demarcada em duas possibilidades: por uma leitura detalhada das pesquisas no campo ou pela indicação de um escandinavista experiente.
Uma pesquisa necessita de problemáticas: toda investigação tem que incluir questões investigativas que nortearão o trabalho de análise das fontes. Estas problemáticas surgem da interação do pesquisador com a área temática e seu conhecimento bibliográfico, bem como da experiência como pesquisador.
Uma pesquisa necessita de teoria: quais serão as abordagens teóricas da pesquisa? Cada teoria necessita ser adaptada ao tema e recorte. Se a pesquisa envolve economia, tem que ser alguma teoria deste campo. Se é uma pesquisa que envolve cultura material e cotidiano, tem que ser uma abordagem culturalista ou uma perspectiva social.
Uma pesquisa necessita de metodologia - quais serão os meios efetivos que o pesquisador vai utilizar para analisar as fontes? Quantitativa ou qualitativa? Sincrônica ou diacrônica? Se envolve imagens, p.ex., como elas serão analisadas em pormenores. A metodologia é um prolongamento empírico e aplicado de uma teoria.
Os recortes e abordagens serão melhor filtrados com o caráter e estrutura da pesquisa - se é um projeto de iniciação científica ou TCC, a delimitação espaço-temporal deve ser menor que um mestrado e doutorado, prevendo que uma média de texto em mestrado é de 100 páginas e um doutorado de 200, enquanto que um bom TCC tem cerca de 50. Também o quesito originalidade deve ser maior em uma pós graduação do que em graduação.
Outra diferença entre um projeto de iniciação científica e TCC para com um projeto de pós graduação é que este último tem que ser direcionado para que sua metodologia e abordagem sejam condizentes com a área de concentração e em especial, com a linha de pesquisa de cada programa de pós graduação.
A elaboração de um projeto de graduação pode incluir uma introdução historiográfica, mas ela é obrigatória em uma pós graduação.
Síntese de um projeto ideal de pesquisa em Escandinavística:
Delimitação espaço-temporal;
Definição de tema e recorte;
Delimitação de uma fonte primária;
Delimitação de bibliografia secundária.
Delimitação de objetivos e problemáticas.
Delimitação de uma teoria;
Delimitação de uma metodologia.
Refinamento da abordagem e inserção em área de concentração e linha de pesquisa em PPGH (para mestrado e doutorado).
PROGRAMAS DE PÓS GRADUAÇÕES NO BRASIL
Nosso
país não possui um programa de pós-graduação (lato sensu ou
stricto sensu) específico em estudos nórdicos. Também a
maioria dos programas não possui disciplinas regulares em Escandinavística (com
exceção da UFPB). O interessado deve inscrever-se na seleção de alguma área específica em Ciências Humanas, com um projeto de pesquisa envolvendo algum tema da Escandinávistica. Muitos programas de pós graduação do Brasil já
contemplaram dissertações e teses na área, como podemos observar neste gráfico reconstituindo as defesas por estado e por instituição:
A seguir indicamos alguns professores integrantes de programas de pós-graduação
como possíveis orientadores de projetos de pesquisa para mestrado e doutorado -
o critério desta inclusão foram pesquisadores que já orientaram ou atualmente
orientam temas relacionados com Escandinavística Medieval ou recepção de temas
nórdicos após o medievo.
Área
de História
A
área de História Medieval é uma das principais envolvendo as pesquisas de Escandinavística,
tendo como figura inicial o historiador Ciro Flamarion Cardoso (para o início
da Nova Escandinavística Brasileira a partir de 1997) e a posterior consolidação da Medievística em geral nos anos
2000. A grande maioria das dissertações e teses envolveram a temática do
processo de cristianização, política e sociedade no mundo nórdico medieval.
Recomendamos aos interessados que entrem em contato prévio com o professor Johnni Langer, com o intuito de definir o tema, fontes e bibliografia para o projeto a ser inscrito na seleção.
Área de Letras
Apesar de ser uma das áreas pioneiras no Brasil em dissertações na Escandinavística, é uma das que tem menos publicações e pesquisas na atualidade, carecendo muito de novas investigações. A grande maioria das dissertações e teses envolveu o tema da Mitologia Nórdica e sagas islandesas.
MESTRADOS EM ESTUDOS NÓRDICOS NO EXTERIOR
Islândia
Uma das opções mais interessantes para quem
busca opções de educação a nível de pós-graduação no exterior, encontrará na
Escandinávia alguns programas dignos de atenção. Especialmente a Universidade
da Islândia (Háskóli Íslands) tem oferecido nos últimos anos algumas opções que
agregam uma rede de colaboradores internacionais e a oportunidade de estudos em
instituições parceiras, além do contato direto com pesquisadores renomados,
sejam pelas atividades cotidianos organizados pelo instituto Árni Magnússon, ou
pelas conferências internacionais que usualmente acontecem no campus. Apesar do
custo de vida elevado e da burocracia demasiada dificultosa com os documentos
imigratórios, a Islândia é uma boa opção como porta de entrada no mundo
acadêmico escandinavo.
O
centro de Humanidades, em parceria com o instituto Árni Magnússon, oferece duas
opções de mestrado, o VMN - Viking & Medieval Norse Studies, e o MIS -Medieval Icelandic Studies. A primeiro tem a duração de dois anos e os alunos
possuem a opção de um intercâmbio de seis meses na Noruega, pela Universidade
de Oslo, ou na Dinamarca, pelas universidades de Aarhus ou Copenhagen (esta
última é destino exclusivo aos alunos que se dedicam aos estudos de manuscritos
islandeses, já que a estadia se dá no instituto Arnamagnæan) e as oportunidades
de trabalho são vastas, tendo em vista que os alunos terão oportunidades de
estudar paleografia, inscrições rúnicas, folclore, arqueologia, além de outros
campos acadêmicos relevantes aos estudos em escandinavística. A segunda opção
tem a duração de um ano e os alunos realizam todo o ciclo de estudos entre a
Universidade da Islândia e o instituto Árni Magnússon.
Apesar
dos programas terem sido planejados com a finalidade de explorar o máximo de
interdisciplinaridade possível, é inegável que há um maior privilégio aos
estudos de linguística e na manipulação de manuscritos. Ambos os programas são
conhecidos pelo seu currículo em Nórdico Antigo e em paleografia (são
disciplinas obrigatórias, junto a uma disciplina em História Nórdica), além do
convívio com especialistas do instituto Árni Magnússon que mantém e conserva
uma das maiores coleções de manuscritos medievais referentes ao mundo nórdico
medieval da Europa. Novas disciplinas optativas são ofertadas mediante à disposição
dos pesquisadores de doutorado e pós-doutorado nas instituições islandesas.
O
centro de Ciências Sociais, por sua vez, mantém um programa de mestrado chamado Old Nordic Religion and Beliefs,
com um currículo mais enxuto e voltado unicamente para os estudos em
religiosidades escandinavas antigas. Os alunos possuem a opção de intercambiar
seu currículo com disciplinas dos programas que funcionam em Humanidades (e
vice-versa), mas possuem uma exigência maior na hora de produzir a dissertação
final (quase o dobro de créditos ofertados). Como os alunos de ambos os centros
são encorajados a frequentar disciplinas em conjunto, o ambiente é de plena
troca de experiências e de engajamento nas atividades acadêmicas, incluindo
viagens ao interior da Islândia e visitações a museus e sítios históricos.
Outros
mestrados em estudos nórdicos na Europa:
Universidade
de Oslo
Curso de dois anos, ministrado em inglês.
Universidade
de Nottingham
Curso especializado em runologia, literatura e linguagem nórdica medieval.
Universidade
de Aberdeen
Mestrado interdisciplinar, especializado em História, linguagem, literatura, cultura e sociedade nórdica do medievo.
BIBLIOGRAFIA: