TRADUÇÕES
E ESOTERISMO NA MITOLOGIA NÓRDICA: ALGUNS CUIDADOS
Prof.
Dr. Johnni Langer (NEVE/UFPB)
johnnilanger@yahoo.com.br
O
Brasil tem avançado largamente na área dos estudos nórdicos. A cada dia
percebemos a inclusão de novos pesquisadores e temas de pesquisa entre as
universidades, o surgimento de eventos, publicações e atividades que auxiliam o
crescimento da Escandinavística. Porém, isso não significa que a área não tenha
diversos problemas e questões, uma delas é o acesso às fontes e bibliografia,
ainda extremamente carentes em língua portuguesa. Isso acaba levando diversas
pessoas à consultar traduções disponíveis na internet, sem maiores cuidados, e
a também o acesso a obras de caráter duvidoso. O objetivo deste pequeno ensaio
é discutir esse problema, apontando algumas alternativas viáveis aos
interessados.
Infelizmente
o nosso país não possui as traduções completas da Edda Poética e em Prosa.
Apesar de já existirem traduções acadêmicas de alguns poemas éddicos em
português (Hávamál, Vǫluspá, Grímnismál, Baldrs Draumar, Þrymskviða), muitos estudantes acabam
recorrendo a trabalhos disponíveis na internet sem qualquer tipo de metodologia
e vinculados à sites desprovidos de qualificação científica (em páginas e
portais neopagãos, esotéricos ou de popularização). Alguns destes trabalhos
aparentam ou são caracterizados como tendo sido traduzidos diretamente dos
textos em islandês antigo, mas na realidade são traduções do inglês e espanhol.
Em alguns eventos acadêmicos, trabalhos de conclusão de curso e até mesmo em
dissertações de mestrado, estão sendo utilizados estes textos. Eles apresentam
o problema de não terem recebido nenhum tipo de teoria, metodologia e
instrumentos das traduções, além de algum tipo de parecer ou avaliação (visto
que não foram publicados em periódicos) e contém uma forte carga confessional,
visto que foram realizados por adeptos de movimentos neopagãos, diletantes ou
entusiastas, o que pode comprometer o resultado final das traduções e por
consequência, a qualidade das pesquisas em que eles forem utilizados e citados.
A Edda em Prosa está atualmente sendo utilizada como tema em um mestrado em estudos de tradução no Brasil e logo estará disponível online.
O
cuidado com as fontes primárias é necessário a todo pesquisador da Mitologia
Nórdica, provindo de qualquer área das Ciências Humanas. Caso ele não domine a
leitura do inglês – primordial aos estudos nórdicos – recomendamos o acesso às
excelentes traduções hispânicas de Luis Lerate, tanto para as duas Eddas
quanto para várias poesias escáldicas. Com a dedicação e o estudo, o
pesquisador iniciante pode consultar textos mais sofisticados com o avanço de
suas leituras, como os de Ursula Dronke ao inglês.
Outro
problema é a recorrente citação de uma autora esotérica, Mirella Faur
(especialmente o seu livro Mistérios Nórdicos). Sua obra apresenta
fartos problemas interpretativos e tendenciosos, invalidando o seu uso como
referencial analítico ou como bibliografia secundária. É inconcebível que
algumas recentes dissertações de mestrado estão utilizando amplamente a sua
obra, no tocante aos estudos de Mitologia Nórdica. Já apresentamos
anteriormente algumas análises críticas sobre seus livros (Runas e magia). Mais
recentemente tem surgido outros autores da mesma tendência, como Rejanilton
Lopes (no livro Simbologia nórdica ou nas dezenas de títulos sobre runas
e runologia). Elas são obras legítimas de um ponto de vista da crença, do mesmo
modo que qualquer tipo de manifestação religiosa ou esotérica, mas não possuem
uma estrutura que as ratifique enquanto análise cientifica da Mitologia Nórdica
(e muitas vezes nem foram criadas com essa intenção) e seu uso na
academia de maneira geral.
O
jovem pesquisador acadêmico deve ter consciência das limitações do campo em
nosso país e procurar estar inserido em redes de intercâmbio (como o grupo NEVE no facebook), permitindo a troca de ideias, bibliografias, discussões
metodológicas e apoio. Muitas vezes isolado e sem contato com outros
pesquisadores, o iniciante pode acabar comprometendo a qualidade de sua
pesquisa – por simples desconhecimento bibliográfico (como os apontados) - acessando
sem maiores cuidados qualquer tipo de texto ou publicação pela internet.
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