O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

sábado, 30 de dezembro de 2023

Call For Papers: Viking Age Archaeology, Scandia Journal of Medieval Norse Studies 7, 2024


Call For Papers: Viking Age Archaeology, Scandia Journal of Medieval Norse Studies 7, 2024. Deadline: August 30, 2024. Website.

Archaeological studies stand as a paramount domain in the exploration of the Viking Age, shaping a comprehensive understanding of the Viking Age. Since its inception, marked by the pioneering field research and publications by Jens Jacob Asmussen Worsaae in the 19th century, our knowledge regarding Old Scandinavian society, its material culture, and artistic heritage has evolved significantly. The unearthing of the Gokstad and Oseberg ships in Norway, spanning the period from 1880 to 1905, catapulted the Norse narrative onto the global stage. Simultaneously, the impactful excavation of L'Anse aux Meadows in Canada during the 1960s contributed substantially to the widespread fascination with Vikings in the media.

The continuous evolution of perspectives, adoption of innovative methodologies, and the unearthing of recently discovered sites have further enriched our understanding of Scandinavia's past and the dispersion of Viking influence throughout the Globe. In this context, we invite researchers to submit articles delving into archaeological themes within the following topics:

- The history of Viking Age Archeology: from the pioneers to the most recent research. Its reception, its criticism, and its convergence with historiographical perspectives.

- Viking activities: war; camps; diaspora; settlements; battle equipment and techniques; identity and material culture.

- Art, runestones, iconography, mythology. The study of beliefs, memory, aesthetics, and culture from a material perspective.

- Daily life, cities, farms, food, clothing, technologies, buildings and monuments. Norse life and societies during the Viking Age, within and beyond Scandinavia.

- Theories, methods, and conceptual perspectives of Archeology applied to the Viking Age.

The dossier will be organized by Professor Johnni Langer (johnnilanger@yahoo.com.br). Reviews on the articles received will be provided by members of the Journal's Scientific Council and archaeologists to be contacted by the editor.

Contributions are accepted in English, Spanish, French, Italian and Portuguese. Submissions must be sent no later than August 30, 2024, through the website.

Scandia Journal also accepts articles not dealing with this dossier’s subject matter to be included in the free article section (the deadline is the same). The free article section accepts papers involving any area or field of Norse Studies regarding the Viking Age and Medieval Scandinavia.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Odin foi cultuado na Islândia viking?


 

Odin foi cultuado na Islândia viking? 

Johnni Langer


Para a maioria das pessoas hoje em dia, falar de deuses  implica automaticamente na ideia de que os nórdicos antigos adoram todos eles, em qualquer lugar e do mesmo modo. Esse referencial de um "paganismo" homogêneo, imutável, sem modificações e sem diferenças foi criado principalmente pelas fontes cristãs medievais, tentando nivelar essas crenças com a própria experiência do cristianismo enquanto religião hierarquizada e institucional. E como a maioria dos antigos mitos foi preservada pelas duas Eddas, nada mais natural do que acreditar que na Islândia todos os deuses tenham sido adorados sem exceção. Mas aqui reside todo o problema: mito não é rito (Langer, 2023, p. 125-128). No caso de Odin, não existe nenhuma evidência toponímica na ilha. E a inexistência de reis e de bandos guerreiros influenciou decisivamente essa questão: não existiam as categorias sociais mais relacionadas ao seu culto, como na península escandinava. Por certo, haviam casos isolados de escaldos e guerreiros que mantinham ligação com o continente e este deus (como Egil Skallagrimsson), mas para a maioria dos fazendeiros ele não tinha a menor importância. Odin era bem conhecido (pelos mitos), mas sem maior respaldo nas práticas religiosas da islândia pré-cristã.

Bibliografia:

LANGER, Johnni. As Religiões Nórdicas da Era Viking. Petrópolis: Vozes, 2023.

SCHJØDT, Jens Peter. Óðinn. In: SCHJØDT, Jens et al (Ed.). The Pre-Christian Religions of the North. History and structures, volume I. London: Brepols, 2020, pp. 1123-1194.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

Mestrado e Doutorado em História com temática Nórdica


Projetos de pesquisas envolvendo temas nórdicos (Vikings ou Mitologia Nórdica) poderão ser submetidos ao processo seletivo do Programa de Pós Graduação em História da UFRN (Área de concentração: História e Espaços), com o intuito de serem orientados pelo professor Dr. Johnni Langer  (2 vagas para mestrado e 1 para doutorado). O edital de seleção para 2024 foi publicado e está disponível aqui: site do programa.  As inscrições serão realizadas até o dia 04 de fevereiro de 2024. E-mail da secretaria: ppghufrn@yahoo.com.br E-mail do professor Johnni Langer: johnnilanger@yahoo.com.br

Recomendamos aos interessados que entrem em contato prévio com o professor Johnni Langer, com o intuito de definir o tema, fontes e bibliografia para o projeto a ser inscrito na seleção.

Dicas para a elaboração de um projeto de pesquisa com temática nórdica: clique aqui.

A seguir, elencamos as duas linhas de pesquisa na qual o professor está vinculado e os temas de interesse para orientação em cada linha. Ao final, disponibilizamos uma bibliografia básica para a área de concentração do programa e as linhas, além de guias para as fontes primárias.

  
Área de Concentração: História e espaços

     Linha Pesquisa II: Espaços de Memória, Cultura Material & Usos Públicos do Passado: esta linha contempla as estratégias de memória e de construção do passado nos diversos tempos históricos, enfatizando a elaboração de espaços, lugares e mecanismos de preservação e esquecimento das tradições e memórias públicas.  Concebe-se que a constituição dos espaços da recordação faz o passado tornar-se público e disponível no meio social, a partir de relações entre memória, história e vestígios. A linha enfatiza os processos de monumentalização e elaboração dos lugares de memória, dos vários tipos de patrimônio, as instituições e práticas de tutela do passado tais como os acervos, museus e arquivos; o ensino de história, os usos públicos da história em mídias e suportes, a cultura histórica e a historiográfica.

Temas de interesse para orientação escandinavística nesta linha:

Espaço e religião na Escandinávia Antiga

Paisagem, mito e culto na arte rupestre nórdica da Idade do Bronze; mitos e ritos públicos como espaços de memória na Escandinávia Antiga; locais de culto como controle da paisagem antiga. Fontes: arte rupestre, cultura material e Arqueologia.

Pedras rúnicas e espaços de memória na Era Viking

O estudo das pedras rúnicas como monumentos de construção da memória e do passado; a construção de pedras rúnicas como estratégia de preservação das tradições públicas, religiosas, mitológicas e sociais na Escandinávia; o estudo das pedras rúnicas relacionado ao ambiente físico e a paisagem nórdica. Fontes primárias: pedras rúnicas; catálogo de pedras rúnicas digitalizados; Runologia e estudos arqueológicos e de paisagem.

Monumentos e lugares de memória no Medievo Nórdico

A construção de monumentos nórdicos na Escandinávia da Era Viking e no período que compreende os séculos XII e XV na Escandinávia e Europa, que tiveram como objetivo estratégicas de conservação da memória e mecanismos de preservação das tradições no espaço público ou na paisagem natural. Fontes literárias: sagas islandesas; crônicas históricas; fontes arqueológicas (cemitérios pré-cristãos e cristãos; monumentos religiosos; monumentos fúnebres e comemorativos,; pedras rúnicas pré-cristãs e cristãs).

Localidades Centrais da Era Viking

O estudo das localidades centrais, conceito da Arqueologia escandinava, aplicado nas discussões históricas sobre espacialidade da Escandinávia: as funções sacras, cosmológicas, políticas, sociais e materiais de determinadas áreas nórdicas durante a Era Viking – que funcionaram empiricamente e simbolicamente como “centros do universo”. Fontes: cultura material, fontes arqueológicas, sagas islandesas. 

O espaço funerário na Escandinávia da Era Viking

Os ritos funerários nórdicos e sua relação com o ambiente natural e social; a espacialidade da cultura material e das imagens funerárias; a relação dos ritos funerários nas literatura medieval e na Arqueologia; as mudanças do espaço e prática funerária da Era Viking para o período de cristianização. Fontes primárias: cultura material e Arqueologia.

Templos religiosos e espaço na Escandinávia pré-cristã e cristã medieval

A espacialidade do templo definido e delimitado pela religião e religiosidade, política e sociedade; a materialidade dos templos nórdicos como reflexo do ambiente e da cultura; estratégias de legitimação do espaço do templo; mitos e ritos como definidores de legitimação do poder político e espacial do templo; a manutenção da fé e do poder religioso pelo espaço material do templo e do ambiente. Fontes primárias: Arqueologia e cultura material; contrapontos com fontes literárias escandinavas.

Territorialização da Escandinávia

O processo de apropriação territorial na Escandinávia, da Era Viking ao fim do Medievo; processo colonizador nórdico na Escandinávia e fora da Escandinávia; ocupação social e cultural dos espaços de colonização. Fontes: sagas islandesas; crônicas históricas; cartografia tardo medieval e renascentista; cultura material e Arqueologia.

Espaço, incursões e globalismo

Dentro das considerações da História Global, investigar uma história do espaço promovido pelas incursões e expedições nórdicas, as suas conexões sociais e culturais e as suas intersecções entre os processo globais e as manifestações locais da Escandinávia. Fontes primárias: crônicas históricas e documentos escandinavos e não escandinavos; sagas islandesas; cultura material e Arqueologia; numismática; monumentos.

Guerra, território e espacialização na Escandinávia

A relação entre soberania e  ordem social no mundo da guerra nórdica; espaços guerreiros e sociedade; a guerra como elemento de territorialização. Fontes: Eddas, sagas islandesas, crônicas históricas; cultura material e Arqueologia.

Toponímia, Geonímia e História na Escandinávia

O estudo da toponímia e geonímia aplicado à questões da religiosidade, Política, Mitologia e História da Escandinávia durante o Medievo.

Espaço e urbanização na Escandinávia antiga e Medieval

O processo de transição da vila para a cidade na Escandinávia; centros de poder, região e cultos; áreas de comércio e poder; centralização de poder, monarquias e urbanização; vida cotidiana nas cidades e espacialização. Fontes: crônicas históricas e cultura material.

Cristianização, território e espaço na Escandinávia Medieval

O processo de conversão e cristianização nórdico dentro do contexto espacial; estratégias de conversão e de poder religioso pelo uso do espaço físico: edificações, áreas de peregrinação, festas e calendário; contextos geopolíticos da cristianização; centros de influência europeia no espaço escandinavo; centralização do papado e a cristianização nórdica; hagiografia como processo de controle do espaço. Fontes: sagas islandesas, crônicas históricas, cultura material, códigos de leis escandinavas.

Navegação, espaço e memória na Era Viking

O estudo da tecnologia de navegação nórdica em interface com o espaço marinho enquanto gerador de memórias sociais e públicas. O uso do espaço celeste e da Astronomia como produtora de simbolismos de memória. O espaço marinho como produtor de imagens sobre o passado. Fontes: cultura material, sagas islandesas, fontes da Mitologia Nórdica.

Território e paisagem na teoria dos Vikings no Brasil

O estudo das representações espaciais presentes nas concepções oitocentistas de que os nórdicos antigos estiveram no Brasil antes de Cabral. Fontes: matérias de jornais; artigos na Revista do IHGB; correspondências entre intelectuais brasileiros e dinamarqueses; publicações e estudos históricos e arqueológicos do Brasil Imperial.

Linha de Pesquisa III: Linguagens, Identidades & Espacialidades: esta linha concebe que as espacialidades são constructos resultantes de operações simbólicas que configuram sentido ao mundo humano por imagens, discursos, representações e fazeres pelos quais emerge a materialidade dos meios sociais. Aborda-se o papel dos mais variados suportes nos processos de construção histórica da identidade e da alteridade sociais. A linha enfatiza as diferentes maneiras de simbolizar/praticar as fronteiras espaciais (locais, regionais, nacionais, transnacionais), bem como as espacializações que produzem os diversos padrões culturais (etnicidade, gênero, sexualidade, racialidade, religiosidade), as instituições simbólicas de organização do espaço (cidade, campo, paisagem, espaço público, espaço privado), as linguagens nas quais são significados os/nos espaços (literatura, cinema, pintura, teatro, fotografia, arquitetura, mídia, arte pública, música).

Temas de interesse para orientação escandinavística nesta linha:

Identidades e alteridades espaciais nas sagas islandesas

A festa, os banquetes e as comemorações como espaços de identidade e alteridade e portando dimensões simbólicas (significados, valores, imagens) utilizadas pela literatura para a constituição figurativas das espacialidades. Os espaços como construções sociais refletidos na literatura. Fontes primárias: sagas islandesas.

O espaço feminino nas sagas islandesas e Eddas

As mulheres, sua sociabilidade e espaço na literatura nórdica medieval; as deusas e seres femininos sobrenaturais e sua identidade e alteridade em relação aos espaços masculinos; os ritos públicos e a relação com o feminino; espaço público e privado na experiência feminina; práticas culturais femininas e constituição de espaços geográficos; gênero e classe no processo de transformação do espaço escandinavo; a construção dos papéis e ordens morais nos espaços de vivência femininos. Fontes primárias: sagas islandesas e Eddas.

Espaços sobrenaturais na Escandinávia

O espaço dos mortos, os salões dos deuses e os diversos mundos da Mitologia Nórdica e Cristã e as suas relações com a cultura, política e a religião nórdica; a relação do espaço físico com o sobrenatural. Fontes primárias: Eddas, Sagas islandesas; fontes iconográficas; pinturas em igrejas medievais nórdicas; literatura cristã medieval.

Temas da paisagem celeste escandinava

Cosmogonia e cosmologia na Escandinávia antiga; Mitologias celestes e Astronomia da paisagem; representações celestes em pinturas de igrejas medievais escandinavas e nas artes renascentista e moderna. Fontes primárias: Eddas; sagas islandesas; manuscritos medievais; pinturas em igrejas medievais.

Espaços do cotidiano na Escandinávia

O espaço nas representações cotidianas, culturais, sexuais e domésticas. As vivências e a vida diária no espaço público e privado. Formas de resistência e poder no espaço cotidiano. Fontes: sagas islandesas e cultura material.

Espaço e memória nos códigos de leis da Escandinávia Medieval

O estudo das representações sobre o espaço geográfico e social presente nos códigos de leis nórdicos durante o Medievo e que foram determinantes para a criação de identidades sociais em temas como a unificação territorial ou em diversas questões políticas. Fontes: Grágás, Gulathing, Frostathing, Eyrbyggja Saga, Skånske Lov, Jyske Lov, Codex Runicus, Anel rúnico de Forsa.

Paisagem e Mito na cartografia sobre a Escandinávia

O estudo das representações geográficas reais e imaginárias sobre a península escandinava e a Islândia, do medievo tardio ao Renascimento: as ilhas; os contornos e limites; as fronteiras humanas e culturais; a liminaridade sobrenatural inserida nas representações físicas; monstros e monstruosidades relacionados com a espacialidade; simbolismos animais e representações folclóricas tradicionais e mitológicas relacionadas a determinadas regiões. Fontes: Mapas, planisférios, ilustrações e cartas marinhas de Nicolaus Germanus, Jacobus Angelus, Olaus Magnus, Abraham Ortellius, Honorius Philoponus, Mecia de Villadestes, entre outros.

Paisagem e espaços antigos da Escandinávia nas artes visuais

As representações espaciais, territoriais e paisagísticas da Escandinávia antiga e da Era Viking nas artes visuais produzidas do Renascimento até o mundo contemporâneo.

O espaço sobrenatural e mitológico nórdico nas artes visuais

As representações visuais do Valhalla, Hel, Niflheim, Asgard, Midgard e outros mundos nórdicos; as representações de templos escandinavos antigos; as representações dos rituais públicos e privados; as representações dos deuses e deusas no espaço público e em monumentos europeu, do Renascimento ao mundo contemporâneo.

Vikings, território e nação no Oitocentos

As representações das incursões Vikings nas artes visuais como reflexo do imperialismo europeu, das noções de espacialidade e território dos Estados-nação, das noções de fronteira e paisagem, da relação entre o homem e o meio ambiente.

 Espacializações e fronteiras do mundo nórdico nas mídias modernas

As representações e simbolismos espaciais dos Vikings, da Era Viking e da cultura nórdica nas mais diversas linguagens midiáticas e artísticas modernas: histórias em quadrinhos, literatura, jogos eletrônicos, cinema, televisão, arquitetura, mídias da internet, música, arte pública, artes visuais.

 

 BIBLIOGRAFIA (FONTES SECUNDÁRIAS):

Bibliografia temática para a Linha Pesquisa II: Espaços de Memória, Cultura Material & Usos Públicos do Passado:

YLIMAUNU, Timo. Borderlands as spaces: Creating third spaces and fractured landscapes in medieval Northern Finland. Journal of Social Archaeology 2014, Vol. 14(2) 244–267.

CASSIDY-WELCH, Megan. Space and Place in Medieval Contexts. Parergon Volume 27, N. 2, 2010.

The Odal and its Manifestation in theLandscape.

Walking down memory lane: rune-stones asmnemonic agents in the landscapes of late Viking-Age Scandinavia.

Doors to the dead. Thepower of doorways and thresholds in Viking Age Scandinavia.



Bibliografia temática para a Linha de Pesquisa III: Linguagens, Identidades & Espacialidades:

EGELER, Mathias. Constructing a Landscape in Eyrbyggja saga: the Case of Dritsker. Arkiv för nordisk filologi 132 (2017).

JAKOBSSON, Sverrir. Heaven is a Place on Earth: Church and Sacred Space in Thirteenth-Century Iceland. Scandinavian studies: publication of the Society for the Advancement of Scandinavian Study 82(1):1-20.

DUBOIS, A. Thomas. Taking Place: Place in the Construction of History in Nordic Literature. The Angel of History: Literature, History and Culture, 2009. 

TULINIUS, Torfi. ‘Á Kálfskinni’: Sagas and the Space of Literature. European Journal of Scandinavian Studies Volume 47 Issue 1.

PETRULEVICH, A. The Multi-Layered Spatiality of the Global North: Spatial References and Spatial Constructions in Medieval East Norse Literature. The Medieval Globe, 2021.

The Hills Have Eyes: Post-Mortem MountainDwelling and the (Super)natural Landscapes in the Íslendingasögur.

The Connection between Geographical Space and Collective Memory in Jómsvíkinga saga.


Aspectos teóricos e conceituais das Sagas islandesas:

LANGER, Johnni. História e sociedade nas sagas islandesas: perspectivas metodológicas.Aletheia 1, 2009. 

MIRANDA, Pablo Gomes de. Guerra e Identidade: um estudo da marcialidade na Heimskringla. Dissertação de Mestrado em História pela UFRN, 2013. 

Cultura material e Arqueologia:

Material básico de referência sobre a área nórdica:

LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2017.

LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de Mitologia Nórdica. São Paulo: Hedra, 2015.


Temas Nórdicos na recepção artística:

ARONSSON, P.  Uses of the Past: Nordic Historical Cultures in a Comparative Perspective. Culture Unbound, 2010. 

LANGER, Johnni. Valkyries and Danish National Symbolism in the 19th Century (Views of the Nordic past) Nordics.info (Aarhus University), 2021.05.26, 2021c 

LANGER, Johnni. Unveiling the destiny of a nation: the representations of Norns in Danish art (1780-1875). Perspective: Journal of art history, SMK - National Gallery of Denmark, January 2021a, p. 1-23. 

LANGER, Johnni. “Imagining national belief through art: Old Norse Religion and the Vikings in J. L. Lund´s painting ´Nordisk offerscene fra den Odinske periode´ (sacrificial scene from the period of Odin, 1831)”, RHAC: Journal of Art History and Culture vol. 2, n.1, 2021b., p. 6-26. 

LANGER, Johnni. “Rêver son passé - Le Viking imaginaire”, L´Europe des Vikings, ed. Claudine Glot (Paris: Hoebeque, 2004), pp. 162-169. 

LANGER, Johnni. “The origins of the imaginary Viking”, Viking heritage n. 4, 2002, pp. 6-9


FONTES PRIMÁRIAS

Guia de fontes históricas do Medievo escandinavo (consultar a seção final do ensaio), disponíveis em: 

Como escolher um tema e fonte em pesquisa escandinavística.

Guia de fontes sobre a Mitologia Nórdica

Uma introdução às fontes da Mitologia Nórdica

Guia de fontes sobre rituais, templos e monumentos sagrados na Escandinávia Medieval

Ritos nórdicos pré-cristãos: guia de fontes e bibliografia

Guia para elaboração do projeto de mestrado em estudos nórdicos

Como cursar mestrado em estudos nórdicos no Brasil e exterior


quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Neveiro é entrevistado em boletim internacional de Folclorística

Victor Hugo Sampaio Alves (NEVE) foi entrevistado no boletim da International Society for Folk Narrative Research (ver imagens 2 e 3), sobre suas pesquisas envolvendo folclore e mitologia sámi e finlandesa. 

Para acessar o boletim completo: ISFNR Newsletter.





domingo, 10 de dezembro de 2023

Thor, sacrifícios e racismo

 


THOR, SACRIFÍCIOS E RACISMO


Texto de Johnni Langer.

Uma recente publicação de um vídeo nas redes sociais vem criando uma polêmica em torno da Mitologia Nórdica. O vídeo em questão antagoniza o deus Thor com o deus Xangô, criando uma imagem negativa do primeiro (um deus ao qual se realizavam sacrifícios de crianças). A questão envolve várias problemáticas. Em primeiro lugar, cenas de uma produção fílmica não são as fontes primárias ideais para se debater os mitos antigos. Em segundo, qualquer tipo de discussão envolvendo o delicado tema da imolação humana pelo referencial social e religioso contemporâneo tende ao fracasso. Praticamente a maioria das sociedades antigas realizavam algum tipo de sacrifício humano, em quase todos os continentes, seja em momentos de crise ou fazendo parte de suas práticas religiosas cotidianas - e nem mesmo a África pré-colonial foi exceção. E sem esquecer que novas estruturas políticas e religiosas utilizaram estes rituais antigos como modelos de barbárie, atraso e "demonologia" para os nativos (seja na África colonial, seja com as sociedades escandinavas ou as americanas após a cristianização). Toda mitologia deve ser conhecida, estudada, valorizada. Não existem mitos superiores e nem inferiores. Xangô deve ser conhecido, mas também Tupã, Thor, Peruno, Zeus, ou outros deuses, deusas, sejam os ligados ao "trovão" ou não. Os mitos são um patrimônio da humanidade e não a exclusividade de uma etnia, raça, de um povo ou de uma nação. Usar os mitos como elemento de identidade é algo comum na história moderna, mas quando eles são ligados a algum aspecto de superioridade ou de julgamento da figura do "outro", tornam-se ideológicos e neste sentido, tendem ao elitismo e geram conflitos. 


Bibliografia: 

Sobre sacrifícios humanos na África pré-colonial:

PARKER, John. Human Sacrifice. In: My Time of Dying: A History of Death and the Dead in West Africa. Princeton University Press, 2021.
LAW, Robin. Human Sacrifice in Pre-Colonial West Africa. African Affairs Vol. 84, No. 334, 1985, pp. 53-87.

Sobre sacrifícios humanos e sua relação com Thor (com análise e indicação de fontes medievais):

LINDOW, John. Þórr. In: SCHJØDT, Jens et al (Eds.). The Pre-Christian Religions of the North. History and structures, volume III. London: Brepols, 2020, pp. 1051-1122.

Sobre o tema do sacrifício do ponto de vista da Antropologia (o mais indicado para se estudar este tema):

GIRARD, René. A violência e o sagrado. São Paulo: Paz e Terra, 1998.
MAUSS, Marcel; HUBERT, Henri. Sobre o sacrifício. São Paulo: Cosac Naify, 2005. 

sábado, 2 de dezembro de 2023

Retrospectiva NEVE: a matéria mais visualizada de 2023

No ano de 2023 a matéria com maior número de leituras foi "Dinamarca produz série sobre Odin", com 1.081 visualizações. Isso evidencia tanto a popularidade da Mitologia Nórdica, quanto o trabalho de divulgação do NEVE.






sábado, 25 de novembro de 2023

Imaginários sobre a mulher nórdica (A senhora da Tundra)

GIOMETTI, Paola. A Senhora da Tundra. Culturama, 2022.

 

 

Andréa Caselli

Doutora em Ciências das Religiões pela UFPB, integrante do NEVE

 

A autora Paola Giometti é brasileira e vive na Noruega, na cidade de Tromsø. Desde o seu primeiro livro, a autora já citava a mitologia e os animais do ártico como referência para o enredo de suas histórias. Quando se mudou para o norte da Noruega, ela conseguiu experimentar o cotidiano com a natureza e a cultura nórdica que deram maior embasamento para escrever A Senhora da Tundra. Dessa forma, o livro foi escrito e ambientado no norte da Noruega. Para ter melhor conhecimento sobre o tema e dar mais fidelidade às referências culturais em A Senhora da Tundra; a autora fez um curso sobre sagas islandesas medievais na Universidade da Islândia.

A protagonista do livro, Jarnsaxa, é a filha bastarda do rei Drakkar e também é a general dos draugar no Reino de Vholtor. A jornada dela mantém os leitores atentos a cada uma de suas provações e aventuras. O enredo apresenta a rivalidade entre os draugar e os humanos (chamados de mundanos pelos draugar). Atormentada por uma revelação do passado que envolve o seu rei, ela que é conhecida como a Ursa da Tundra, se torna uma desertora e inicia uma busca por vilarejos, montanhas e santuários à procura de um homem que dizem ser um enviado das Nornas e de Odin e que poderá matar Drakkar. A ambientação e as referências culturais fazem com que a narrativa seja muito detalhada em relação à natureza e ao modo de vida nórdicos. A narrativa se passa em uma época em que os nórdicos acreditam que o ragnarok já aconteceu e, por esse motivo, os deuses desapareceram.


 

 Ilustração do interior do livro: “Jarnsaxa com sua cabeça de urso Berserker”. Por Alexandre Santos, Lucas Willian de Oliveira Silva, Andrés Bertachini Deranian e Antônio Rizzatti de Abreu.

 

O mais encantador do livro é o glossário de termos nórdicos que também apresenta os fonemas em português para que o leitor aprenda a forma correta de pronunciar as palavras provenientes dos idiomas escandinavos. A autora teve o cuidado de, no glossário, colocar todas as palavras de origem e pronúncia escandinavas contidas no livro. Algumas dessas palavras têm o seu sentido real apresentado no glossário, para que o leitor entenda o motivo te terem sido usadas na narrativa com um conceito fictício. Por exemplo, no glossário a autora explica o motivo de ter dado sentido fictício e criado personagens a partir da palavra draugr, que nomeia seres folclóricos habitantes das praias escandinavas à procura de carne humana e preciosidades e que foram, no passado, pescadores ou navegadores que morreram afogados no mar.

  Ilustração do interior do livro: “Haraks, os draugar que caminham sob a luz”. Por Alexandre Santos, Lucas Willian de Oliveira Silva, Andrés Bertachini Deranian e Antônio Rizzatti de Abreu.

 

Os deuses nórdicos também são incluídos no glossário e inseridos na narrativa, com seus atributos e atividades sendo mencionados em alguns momentos. Os gigantes também são mencionados algumas vezes, principalmente o gigante Ýmir, que também pode ser chamado de Mímir (nome que significa “Memória”, segundo Régis Boyer (1997, p. 101–102) e Rudolf Simek (2007, p. 216–217). Ele é um gigante ancestral, citado principalmente da Edda em Prosa de Snorri Sturlusson. Mímir guarda uma fonte sob a árvore primordial Yggdrasill, que é utilizada por aqueles que querem obter o conhecimento.

Em cenas de A Senhora da Tundra, os personagens passam algumas vezes por um local conhecido por Montanha de Ýmir, no qual acontecem episódios relacionados à cura e à magia. Por exemplo, neste local, uma fornalha que ficava acesa de forma permanente brilhava e fazia tanto barulho, que um dos personagens percebeu que aquele fogo era uma comunicação dos deuses, que indicavam a cura e a força. O fogo da cabana norueguesa - que está na vela, no fogão e na lareira - remete à ideia de luz interna.

A iluminação com grande destaque participativo na composição de lugar é um dos grandes elementos da formação da ideia romana de genius loci, utilizada por Norberg-Schulz no seu discurso sobre a fenomenologia na arquitetura, para descrever o espírito do lugar (1980, p. 52-67). A luz nórdica é filtrada por nuvens e folhas de árvores das densas florestas, a luz obliqua cria longas sombras que obscurecem as silhuetas, dissolvendo os objetos num misticismo romântico. Todos os lugares tem as suas caraterísticas específicas, tendo a luz um papel fulcral na sua caraterização, permitindo a revelação e a simbiose de quem habita tais lugares. Os ambientes alteram-se com mudanças climáticas ou sazonais, mas, mesmo assim, existe a característica própria do lugar que está sempre presente.

            A floresta norueguesa é composta principalmente de altos pinheiros que filtram a incidência de luz solar no solo, ofertando uma visão profunda e impenetrável. O sentido de descoberta é estimulado em uma liberdade de movimento infinita dentro dela. O bosque, a tundra, os lagos e os fiordes são indissociáveis da vida das pessoas e a liberdade é um percurso de descoberta. A existência nórdica encontra-se precisamente nesta busca incessante pela revelação e pela conquista, em vez da consequente aceitação do que é dado. A sobrevivência humana neste ambiente se manifesta no sentimento de misticismo que há ao redor. A relação entre natureza e sagrado propicia o estudo de como se transforma um espaço em um lugar, e como a arquitetura é o instrumento para essa transformação, na Noruega, um país com privilegiada relação com o meio natural.


 

 

 

   Ilustração do interior do livro: “Mapa de Real Vholtor”. Por Alexandre Santos, Lucas Willian de Oliveira Silva, Andrés Bertachini Deranian e Antônio Rizzatti de Abreu.

 

O silêncio dos bosques, a solidão de um vasto território pouco povoado, uma paisagem dominada por fenômenos naturais como a aurora boreal, os intermináveis dias de verão ou a sempre presente escuridão das noites de inverno; todas essas manifestações na paisagem influenciam na criação arquitetônica, que, por sua vez, também criam o lugar. A experiência espacial do perambular entre troncos de árvores, rochas, arbustos e lagos. Uma multiplicidade de diferentes e indefinidos lugares encontrados no mundo nórdico.  

A tundra é um bioma no qual a baixa temperatura e estações de crescimento curtas impedem o desenvolvimento de árvores. É uma região montanhosa com vegetação rasteira e poucas árvores ou nenhuma. A temperatura não ultrapassa 10 graus celsius e, dentre os animais que lá vivem, os principais predadores são os ursos polares, os lobos e o boi almiscarado. Durante os momentos de vento e neve, a visão humana tem acesso às formas criadas pelo movimento da ventania que espalha a neve e o gelo, deixando o ambiente turvo e propício a ilusões em relação ao que é visto, ouvido e sentido. Assim, a tundra também tem seu aspecto de contato com o sobrenatural.

A protagonista circula entre as comunidades de draugar e humanos. No decorrer das suas andanças pelas paisagens nórdicas, outras comunidades são apresentadas, contendo também outros entes folclóricos, como, por exemplo:

 

·         a huldra: De acordo com a sabedoria popular do folclore escandinavo, a ninfa da floresta é a Huldra, nome que deriva de uma raíz, que significa algo aproximado a “segredo”. Ela é descrita como uma bela jovem, quando vista de frente. Mas quando vista por trás, suas costas são ocas como um toco de madeira. Em outras narrativas, em vez de ocas, elas têm uma espessa cauda de raposa ou de vaca. Como todos os outros guardiões sobrenaturais, ela protege seu domínio (Hultkrantz, 1961). Aparece na forma de uma mulher pequena e bonita, com um temperamento aparentemente amigável. Aqueles que são atraídos a segui-la pela floresta nunca mais são vistos.

  


Huldra, por Theodor Kittelsen, 1892. Fonte: Wikipedia. Domínio Público.

 

·         o ratatosk: De acordo com os textos medievais que narram a mitologia nórdica, o ratatosk é um esquilo que vive naárvore Yggdrasill correndo para cima e para baixo, transportando mensagens entre a águia Hræsvelgr que fica empoleirada no topo da árvore e a serpente Níðhöggr, que mora embaixo das raízes da árvore. Ratatosk é citado na Edda Poética. Ele é um dos poucos esquilos existentes em mitos europeus. 



 Manuscrito islandês do século XVII que mostra Ratatosk com um chifre. Fonte: Wikipedia. Domínio Público.

 

Porém, o ser mitológico essencial para a narrativa de A Senhora da Tundra é a serpente Grafvölludr, que no livro foi adaptada para a personagem Grafvölludr-Gulon. Já no glossário a autora explica que ela é um lindworm (um tipo de serpente mitológica), citada por Odin no poema éddico Grímnismál, como uma das serpentes que estão sob a árvore Yggdrasill. A autora também esclarece que, ao compor o nome da serpente, fez referência à criatura do folclore escandinavo chamada Gulon, que é conhecida por ser glutona e capaz de comer demai; já que a personagem Grafvölludr-Gulon é devoradora de humanos. No decorrer da narrativa, o leitor descobre, aos poucos, mais curiosidades sobre esta misteriosa e poderosa serpente.

O livro também aborda questões mais sutis, como o sentimento religioso de um guerreiro antes de ir para o campo de batalha e as pinturas faciais elaboradas com pigmentos naturais. Muito interessante também é o momento da narrativa no qual há a descrição do ritual necessário para transformar um humano em draugr, mas o que acontece nesta parte tão impressionante eu deixo para que o leitor descubra ao folhear o livro. A história é convida o leitor adentrar no folclore, na mitologia e na magia nórdicos, percorrendo paisagens cheias de mistério e um enredo repleto de cenas de batalhas memoráveis.

 Referências:

 BOYER, Régis. “Mímir”. Héros et dieux du Nord. Paris: Flammarion, 1997, pp. 101–102.

HULTKRANTZ, Åke. The supernatural owners of nature: Nordic symposion on the religious conceptions of ruling spirits (genii loci, genii speciei) and allied concepts. Stockholm studies in comparative religion, 0562-1070; 1. Stockholm: Almqvist & Wiksell, 1961.


NORBERG-SCHULZ, 1980, Genius Loci: towards a phenomenology of architecture, Rizzoli, New York.

SIMEK, Rudolf. “Mímir/Mímir’s well/Mímir’s head/Mímir’sons”. Dictionary of northern mythology. Londres: D.S. Brewer, 2007, pp. 216–217.