O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

segunda-feira, 21 de março de 2022

A Vila Viking Brasil: entrevista com Paulo Revuelta

 


Na cidade de Juquitiba (São Paulo) foi criada em 2018 a primeira reconstituição na América Latina de uma vila nórdica da Era Viking. Atualmente constitui o espaço mais importante para a prática e o estudo do recriacionismo histórico nórdico em nosso país. Neste local são realizadas diversas atividades recriacionistas abertas ao grande público, como mercados medievais, vivências, reconstituições de batalhas, treinamentos com equipamentos bélicos, além de oficinas e cursos com diversos temas, ministrados por especialistas e pesquisadores. As atividades e cronogramas de visitações podem ser acompanhadas pelo site da Vila Viking Brasil, a página no Facebook ou a conta no Instagram.

A seguir, realizamos uma entrevista com o diretor da Vila Viking Brasil, Paulo Cesar Frade Revuelta.




1. Como teve inicío a ideia de se recriar no Brasil uma vila da Era Viking? Quais as principais dificuldades e desafios em seu início?

Pratico o recriacionismo desde 2009 e como recriador procuro estudar, reproduzir itens baseados em achados arqueológicos e exercer atividades do período recriado; não demorou muito para também sentir vontade de construir estruturas, especialmente utilizando as ferramentas do período sem uso de energia elétrica. 

A principio pensei em adquirir um terreno para a pratica do recriacionismo sem ambição de abrir para o publico, mas ao contar sobre o projeto para algumas pessoas, a ideia foi expandindo e se potencializou quando fechei uma sociedade com meus amigos Agostinho Fernandes e Rafael Gasparotto.

Procuramos em um raio de 1h30 de viagem dentro de SP diversos terrenos, até encontrar um que se adequava ao projeto em Juquitiba SP.

Antes de iniciar os trabalhos fiz diversas pesquisas em madeireiras procurando quais as melhores opções para a construção das estruturas. 

Não digo que foi uma dificuldade, mas sim um desafio prazeroso começar as obras, desde cortar o mato, trabalhar na terra, carregar madeira e iniciar a construção das estruturas, tudo isso contando com amigos e outros recriadores na força tarefa. Tudo foi e ainda é muito gratificante e supera qualquer contratempo negativo.

Como se trata de um projeto para a vida toda e além, aproveitamos cada dia de trabalho intensamente, o que eterniza cada momento de forma única e nos motiva a seguir em frente.




2. Como você percebe o atual recriacionismo nórdico brasileiro e o interesse popular pelo tema da Escandinávia da Era Viking e a sua relação com a Vila Viking Brasil?

Tudo que fomos fazendo resolvemos registrar no Facebook e Instagram, o que criou uma grande curiosidade nas pessoas, fazendo com que se tornassem seguidores do nosso trabalho. Hoje temos 16.300 seguidores no Instagram sem nunca ter feito qualquer investimento financeiro com marketing. 

A cultura nórdica é algo que desperta interesse desde sempre no imaginário das pessoas, isso junto da oportunidade de vivenciar e interagir com pessoas que recriam tudo do período em um espaço devidamente ambientado, se torna ainda mais interessante possibilitando então uma imersão e troca de conhecimento muito mais profundo. 


 


3. Como é a estrutura atual da Vila Viking Brasil: como ela funciona e quais as suas principais atividades?

Fora abrir para visitação onde as pessoas podem circular pela Vila conhecendo os mercadores, estruturas, atividades, arquearia, combate, etc. Também realizamos encontros com foco em atividades de tecelagem, alimentação, forja, carpintaria, fundição e vivências de 2 dias onde 10 participantes vão fazer fogo, comida, cuidar da terra, ficar de guarda, tomar banho no riacho e dormir como no período representado, sem ter contato com itens contemporâneos como o celular. 

Todos que vem nos visitar sentem a energia que depositamos no espaço e são recebidos com muito carinho. Nos preocupamos em passar o conhecimento histórico e praticar as atividades dando atenção a cada individuo focando no que mais tem curiosidade, nos dedicamos para que tenham uma imersão completa e se sintam fazendo parte da nossa turma.

Para manter essa atenção especial, limitamos nossos encontros para poucas pessoas por vez, assim conseguimos conversar com todos, e se necessário repetir as demonstrações inúmeras vezes até que não tenham mais duvidas sobre o assunto que estiver sendo tratado. 




4. Uma questão educacional: a Vila Viking Brasil recebe estudantes e escolas? Ela tem metas futuras para isso? Existe algum tipo de monitoria treinada para receber o público?

Neste ano com a normalização da situação, vamos receber excursões escolares e de escoteiros que já entraram em contato conosco para realizar vivencias, palestras, demonstrações e gincanas.

Cada recriador dentro da sua especialidade auxilia o público durante as atividades.




5. Vocês tem algum tipo de apoio ou auxílio técnico em Museologia e História?

Até hoje não buscamos nem um tipo de apoio financeiro ou parcerias fora do meio do recriacionismo, mas estamos abertos para novos contatos que desejarem somar no nosso projeto. 




6. Em alguns lugares da Europa, existem as chamadas "imersões" da Era Viking: as pessoas se vestem, se alimentam, dormem e vivem um certo período dentro do cotidiano do Medievo: não usam óculos, aparelhos eletrônicos, equipamentos, relógios, etc. A Vila Viking Brasil já realizou algum tipo de imersão e quais os planos futuros em relação a esse tipo de atividade - geralmente fechada ao grande público e constituída por poucas pessoas.

Já realizamos sim, inclusive é a atividade que mais gostamos de praticar, em algumas vivências mantemos o foco no combate, tendo a necessidade dos participantes estarem constantemente atentos a um possível ataque, já outras focamos em atividades rotineiras apenas.




7. Quais as principais metas futuras para a Vila Viking Brasil e como ela pode ser uma parceira das pesquisas acadêmicas sobre a Era Viking?

Após a conclusão de todas as estruturas do mapa ainda vamos construir um barco no salão e levá-lo até a represa em Juquitiba, concluindo assim nossas metas até então determinadas.

Acredito que nosso trabalho tem muito no que somar e até multiplicar junto ao meio acadêmico para o publico, e estamos ansiosos por receber os amigos do NEVE. 


O diretor da Vila Viking Brasil, Paulo Cesar Frade Revuelta.


Referências:

PORTO JÚNIOR, João Batista da Silva. Vikings invadem o Brasil no século XXI: o neomedievalismo nos movimentos de recriação histórica nórdica nos trópicos. Signum 1(22), 2021.


LEIA TAMBÉM NO BLOG DO NEVE SOBRE RECRIACIONISMO HISTÓRICO NÓRDICO NO BRASIL:


Haglaz e a divulgação da Era Viking, 2017


O grupo Hednir e a reconstituição do combate viking, 2017


Vestanspjǫr e o recriacionismo nórdico no Brasil, 2017