O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Retrospectiva NEVE 2021: as principais atividades e realizações do grupo de pesquisa




RETROSPECTIVA NEVE 2021: Principais atividades do NEVE em 2021:

08 de janeiro: Artigo sobre Mitologia Nórdica publicado na revista do Museu Nacional de Arte da Dinamarca, em inglês e dinamarquês. Unveiling the Destiny of a Nation: The representations of Norns in Danish Art (1780-1850), Perspective: Journal of art history, January 2021 (Statens Museum for Kunst), ISSN no. 2446-1806. Disponível aqui.


24 de março: Lançamento do livro Guia da Escandinávia Medieval: fontes, temas, métodos, pós graduações, bibliografias e viagens. Disponível aqui.


04 de abril:  Lançamento do livro Na mesa com a História: a alimentação na Antiguidade, Era Viking e Medievo. Disponível por contato: fadacelta@yahoo.com.br


27 de maio:  Publicação do artigo "Valkyries and Danish National Symbolism in the 19th Century", no portal NORDICS.INFO (ISSN: 2597-016X), mantido pela Universidade de Aarhus (Dinamarca).Disponível aqui. 


11 de julho: Lançamento do livro O mito da mulher guerreira: uma análise da saga de Hervör. Disponível aqui. 


27 de agosto: lançamento da série Cotidiano e História no Youtube. Disponível aqui. 


06 a 08 de outubro: Foi realizada a nova edição do Colóqio de Estudos Vikings e Escandinavos (CEVE), Disponível aqui. 

10 de novembro: lançamento da quarta edição do Scandia Journal of Medieval Norse Studies, Disponível aqui. 

Os números do NEVE em 31 de dezembro de 2021:


Visualizações do blog (http://neve2012.blogspot.com): 949.645


Visualizações no AcademiaEdu (https://ufpb.academia.edu/NEVEN%C3%9ACLEODEESTUDOSVIKINGSEESCANDINAVOS): 115.882


Inscritos no Youtube (https://www.youtube.com/channel/UCyi7TQJOK1kyIU6e4pRJrUQ): 3.770


Seguidores no Instagram (@nucleo.neve): 1.803


domingo, 19 de dezembro de 2021

A festa do Jól (Yule) é tema de novo vídeo do NEVE


Você sabe o que quer dizer Jól (Yule/Julfest)? Quando era celebrado? Qual o seu significado na religião nórdica antiga? No novo vídeo do NEVE apresentaremos as mais recentes pesquisas sobre a festividade religiosa do Jól durante a Era Viking: a sua data e duração; os seus principais elementos ritualísticos e o seu significado dentro da sociedade nórdica pré-cristã.


Link para o vídeo, clique aqui.


Mapa dos principais centros de culto pagão nórdico (santuários) da Era Viking, produção do NEVE para o vídeo.




Tabela das principais tradições que estruturavam a Religião Nórdica Antiga, produção do NEVE para o vídeo.




 

domingo, 12 de dezembro de 2021

Edital de Mestrado e Doutorado em História: Escandinávia Medieval (UFRN)

 


Foi publicado o edital de seleção do mestrado e doutorado em História na UFRN para 2022, que será digital (clique aqui para acessar o site).

Os interessados em realizar um projeto sobre Escandinávia, nesta matéria são indicados temas de interesse, linhas de pesquisa, fontes, bibliografias e outras dicas: Pós em História com temática nórdica na UFRN.


Imagem do cartaz: reprodução colorizada da pedra de Jelling II (DR 42), face B (a grande besta), palácio de Frederiksborg, Hillerød, Dinamarca. O monumento original é datado do século X d.C.. Fotografia de Johnni Langer, 2018.


quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Resenha da Folha de novo livro sobre Vikings inclui entrevista com Johnni Langer

 


VIKINGS MUDARAM O MUNDO, REINALDO JOSÉ LOPES, Folha de São Paulo, 23 de novembro

Basta uma rápida olhada nos mapas que documentam as incursões vikings durante a Idade Média para concluir que os guerreiros escandinavos eram capazes de meter o bedelho em praticamente qualquer lugar da Europa e da bacia do Mediterrâneo.

O alcance global dos vikings começou como uma mistura despretensiosa de pirataria e comércio, mas seu efeito ao longo de três séculos transformou a geopolítica da região de maneiras que ainda influenciam o mundo moderno.

A Inglaterra e a Rússia, por exemplo, provavelmente não teriam surgido sem um empurrãozinho viking, e o mesmo talvez valha para a França. Descendentes dos piratas nórdicos também tiveram papéis de relevo na política da Itália medieval e nas Cruzadas. Nada mal para habitantes de um cantinho remoto e economicamente marginal do continente europeu.

Os detalhes das mudanças operadas pelos viajantes escandinavos estão descritos em "Vikings: A História Definitiva dos Povos do Norte", livro do arqueólogo britânico Neil Price que chegou recentemente ao Brasil.

Price, que é professor da Universidade de Uppsala, na Suécia, afirma que o ingrediente secreto por trás da influência histórica dos aventureiros nórdicos é a sua tremenda adaptabilidade e capacidade de tirar vantagem das diferentes situações em que se encontravam –um "jeitinho viking", digamos.

"O efeito colateral não pretendido disso é que eles deixavam legados de longo prazo aonde quer que fossem", explicou Price à Folha. "O ponto-chave é que esses legados, na prática, tomavam formas diferentes de lugar para lugar."

Considera-se que a chamada Era Viking vai de 793 d.C. a 1066 d.C. Ambas as datas têm a ver com acontecimentos na Inglaterra: no início, o primeiro ataque de piratas escandinavos a um monastério cristão, na ilha de Lindisfarne; no fim do período, a derrota do rei norueguês Harald Hardrada na batalha de Stamford Bridge –Harald tinha tentado tomar para si o trono inglês e foi morto em combate.

O alcance geográfico das viagens e ataques vikings, no entanto, foi muito mais amplo (veja infográfico abaixo). Cidades e reinos foram fundados em território inglês e também na Irlanda, na Escócia, na França e em diversas áreas da atual Europa Oriental. Cidades costeiras da Espanha e da Itália foram atacadas, e contatos diplomáticos e comerciais foram estabelecidos com representantes do mundo islâmico.

Aliás, um dos mais interessantes relatos sobre um funeral viking, incluindo detalhes sanguinolentos acerca de sacrifícios humanos, foi escrito pelo viajante e erudito Ahmad ibn Fadlan, enviado pelo califa de Bagdá à bacia do rio Volga, na atual Rússia, no ano 921.

Os fatores que desencadearam a Era Viking são múltiplos, e ainda há considerável debate acerca deles. O historiador britânico Peter Heather, da Universidade de Oxford, aponta que o fim do século 8º da Era Cristã foi uma época de recuperação econômica para diversas regiões portuárias do norte da Europa.

Ao mesmo tempo, algumas décadas antes, os moradores da Escandinávia já tinham dominado a tecnologia dos barcos vikings, bastante confiáveis em mar aberto mas também capazes de subir rios rumo ao interior.

Com isso, juntava-se a fome com a vontade de comer. "Várias regiões da Escandinávia, principalmente na Jutlândia [península da Dinamarca], tinham mercados consolidados, com rotas e pontos de contato por todo o mar do Norte", explica o historiador Johnni Langer, diretor do Neve (Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos) da Universidade Federal da Paraíba.

Os escandinavos podiam aproveitar a prosperidade crescente dessas regiões para fortalecer sua atuação mercante –ou para se transformarem em piratas.

Aliás, esse é mais ou menos o significado original de "viking", que não é uma designação étnica, mas sim uma espécie de termo ocupacional, que também podia ser usado como verbo (o sujeito "ia vikingar", ou seja, ia fazer incursões ou pilhagens por mar).

Além dos ricos mercados do mar do Norte, os piratas nórdicos descobriram que havia uma concentração considerável de metais preciosos dando sopa, sem defensores militares, nos monastérios e igrejas da região – e, por ainda não terem se convertido ao cristianismo, não tinha prurido algum de se apoderarem dessa riqueza.

Outro ingrediente importante que impulsionou cada vez mais os ataques, segundo Langer: a pulverização política nas regiões sob assédio.

"Os séculos 8º e 9º foram caracterizados pela situação de enfraquecimento de poderes centralizadores, originando o início do feudalismo na Europa, como na França e Inglaterra. Esses poderes políticos regionais eram frágeis e por muito tempo acabaram recebendo influências escandinavas", explica o historiador.

É preciso levar em conta, por exemplo, o fato de que o território inglês não correspondia a um reino unificado, estando dividido em pequenas monarquias como as de Mércia (região central), Wessex (oeste do país) e Nortúmbria (região norte).

Esse é o cenário da Europa Ocidental, mas é preciso considerar também o que acontecia no extremo leste do continente. Enquanto vikings dinamarqueses e noruegueses avançavam pelos atuais Reino Unido e França, piratas e mercadores suecos começaram a controlar as rotas de comércio que passavam pelo interior da Rússia, da Ucrânia e da Belarus.

Eles passaram a ser conhecidos como "Rus’", nome que provavelmente deriva do termo nórdico para "remadores" e que acabaria originando o próprio nome da Rússia. Por fim, alguns se incorporaram ao exército do Império Bizantino, formando a famosa Guarda Varangiana, ferozmente leal ao imperador.

"Eles também passaram a atuar como parceiros econômicos cruciais, como estimuladores da economia, mercenários e, às vezes ironicamente, como defensores do Estado", resume Price.

No leste, os reinos fundados por vikings se cristianizaram, uniram-se à população eslava local e acabariam dando origem à Rússia imperial. Na Inglaterra, foi a reação às invasões escandinavas que levou ao surgimento de um reino unificado (o qual, no começo do século 11, chegou a ser dominado por Canuto, o Grande, rei dinamarquês que governou também a Noruega).

E, em solo francês, um acordo da monarquia local com os invasores levou à criação do ducado da Normandia, dominado pelos vikings e batizado com o nome deles ("normando" significa "homem do Norte").

A história aventuresca dos normandos nos séculos seguintes mostrou que eles tinham "puxado" seus ancestrais escandinavos. Guilherme, o Conquistador, duque da Normandia, tomou para si a Inglaterra em 1066, enquanto outros militares da região forjaram reinos na Sicília e até na Síria durante as Cruzadas.

VIKINGS: A HISTÓRIA DEFINITIVA DOS POVOS DO NORTE

Preço R$ 77,45 (ebook); 640 págs.

Autor Neil Price (trad. Renato Marques de Oliveira)

Editora Crítica 

https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2021/11/como-os-vikings-mudaram-o-mundo-e-tema-de-livro-recem-lancado-no-brasil.shtml


segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Novo vídeo da série Cotidiano e História analisa as moedas da Era Viking

 


O mais recente episódio da série Cotidiano e História, do canal do NEVE no Youtube, analisa as moedas escandinavas que existiram durante a Era Viking. Conheça mais sobre as primeiras cunhagens, os seus usos políticos, os seus significados no cotidiano e os simbolismos religiosos.

O vídeo pode ser acessado clicando aqui.



quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Nova edição da revista Scandia é publicada

 



A nova edição da revista Scandia (n. 4) acaba de ser publicada, trazendo 14 artigos, 9 resenhas, uma entrevista e uma tradução. O destaque para esta edição é o dossiê sobre recepção artística dos mitos nórdicos. 

A nova edição pode ser acessada clicando aqui.


Sumário da edição:

DOSSIER: NORSE MYTHS IN THE ARTISTIC RECEPTION

FATAL SPINSTERS: THREAD WORK IN 19th-CENTURY ARTISTIC DEPICTIONS OF NORSE MYTHOLOGICAL WOMEN - Susan Filoche-Rommé

LUDOS IN MYTHOS: GOD OF WAR AND THE SUBVERSION OF SNORRI - Luca Panaro

SKOGTROLL: BRIEF ANALYSIS OF THEODOR KITTELSEN'S ILLUSTRATION - Andrea Caselli Gomes

ÅSGÅRDSREIEN: NATIONALISM AND MYTH IN TWO PAINTINGS BY PETER ARBO - Pablo Gomes de Miranda

HORNED, BARBARIAN, HERO: THE VISUAL INVENTION OF THE VIKING THROUGH EUROPEAN ART (1824-1851) - johnni langer

INTERVIEW

NORSE MYTHS AND VIKINGS IN EUROPEAN ROMANTICISM: AN INTERVIEW WITH ROBERT WILLIAM RIX - Robert William Rix

ARTICLES

Ráði saR kunni: REMARKS ON THE ROLE OF RUNICITY - Nicolas Jaramillo

KINSMEN, FRIENDS OR MERCENARIES? PROBLEMATISING THE PRESENCE OF INTERNATIONAL FORCES IN SCANDINAVIA BETWEEN THE TWELFTH AND THE FOURTEENTH CENTURIES - Beñat Elortza Larrea

MEDIEVAL MOTIFS IN THE POKÉMON FRANCHISE: A SURVEY - Dario Capelli, Roberto Luigi Pagani

GLI INCANTESIMI SVEDESI PER FERMARE IL SANGUE - Alessandra Mastrangelo

DEL CINE A LA TELEVISIÓN: UN ESTUDIO COMPARADO ENTRE LOS PERSONAJES DE THE VIKINGS (RICHARD FLEISCHER, 1958) y VIKINGS (MICHAEL HIRST, 2013) - Ana Melendo

DEL GINNUNGAGAP AL RAGNARÖK: EL ORIGEN Y EL OCASO DE JUEGO DE TRONOS - América Méndez

ANÁLISE DO DICURSO MÍTICO: DOS PRINCÍPIOS FORMAIS AOS ALINHAMENTOS SOCIAIS E INTERAÇÃO - Etunimetön Frog

OS ELEMENTOS (TRANS)CULTURAIS DO VAFÞRÚÐNISMÁL: DO GALÐR AO TIETÄJÄ FINO-CARELIANO - Victor Hugo Sampaio Alves

VIKINGMANIA: DOIS SÉCULOS DE CONSTRUÇÃO DA REPRESENTAÇÃO DO VIKING - Leandro Vilar Oliveira

REVIEWS

WHO ARE THESE MEN WHO COME FROM THE NORTH? THE NORMANS: THE CONQUEST OF CHRISTENDOM (TREVOR ROWLEY) - Renan Perozzini

LITURGIA COMO FATO HISTORIOGRÁFICO E SOCIAL: THE LITURGICAL PAST IN BYZANTIUM AND EARLY RUS (SEAN GRIFFIN) - Leandro César Santana Neves

A INFLUÊNCIA DE JERUSALÉM NA CRISTIANIZAÇÃO DA ESCANDINÁVIA: TRACING THE JERUSALEM CODE (K. AAVITSLAND) - Lucas Pinto Soares

O CHAMADO DA DEUSA OSTARA: EQUINOX (BALLE/MATTHIESEN) - Susan Tsugami

NOVAS PERSPECTIVAS SOBRE CULTURA MATERIAL NÓRDICA: MYTH, MATERIALITY AN LIVED RELIGION IN MEROVINGIAN AND VIKING SCANDINAVIA (NORDBERG ET AL) - Monicy Araújo

VIOLENTOS HOMENS EM VIOLENTOS TEMPOS: OS VIKINGS (LEANDRO RUST) - Sandro Teixeira Moita

CONTRIBUIÇÕES PARA O ESTUDO DA RECEPÇÃO DOS MITOS NÓRDICOS ANTIGOS: THE PRE-CHRISTIAN RELIGIONS OF THE NORTH, RESEARCH AND RECEPTION, VOL. I. (CLUNIES ROSS) - Pablo Gomes de Miranda, Vitor Bianconi Menini, Andréa Caselli

FOLCLORE DOS SÁMI DE INARI TRADUZIDO AO INGLÊS: INARI SÁMI FOLKLORE, STORIES FROM AANAR (KOSKIMIES; ITKONEN) - Victor Hugo Sampaio

OS VIKINGS RUMO AO LESTE: RIVERS KINGS A NEW HISTORY OF VIKINGS FROM SCANDINAVIA TO THE SILK ROADS (CAT JARMAN) - Leandro Vilar Oliveira

TRANSLATIONS

HÁTTATAL (RECUENTO DE ESTROFAS): TRADUCCIÓN Y NOTAS - Luis Lerate de Castro

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Thor e seu visual na cultura pop





 Leandro Vilar de Oliveira (NEVE) 

Doutor em ciências das Religiões pela UFPB

Victor Hugo Sampaio (NEVE)

Doutorando em Ciências das Religiões pela UFPB


 Introdução: A imagem recentemente divulgada da aparência de Thor no mais novo jogo da franquia God of War (Ragnarok) foi responsável por criar uma polêmica que se estendeu para além do cenário gamer. Inúmeras discussões e debates calorosos surgiram por conta da escolha de representar o deus com uma barriga um tanto quanto protuberante, o que, claro, o distanciava do Thor dos cinemas interpretado por Chris Hemsworth e seu porte atlético e também do imaginário popular que se tem a respeito do deus. Inspirados por essa polêmica, decidimos escrever esse ensaio fazendo um apanhado das diferentes formas como Thor foi retratado na cultura pop ao longo dos séculos XX e XXI. Antes disso, convém dizermos algumas poucas palavras a respeito de Thor, seus poderes e aparência conforme constam na mitologia escandinava.

Thor nos mitos: Thor (Þórr em nórdico antigo) foi uma das mais importantes e presentes divindades na mitologia e religião pré-cristã dos escandinavos. O deus continua desfrutando de inegável popularidade entre nós, ainda nos dias de hoje, em parte devido ao seu papel de super-herói nos mais recentes filmes da franquia Marvel e, além disso, também por conta do crescente interesse pela mitologia e religião dos escandinavos, os “vikings”.

Engana-se quem pensa ser fácil oferecer uma descrição sucinta a respeito de Thor e seus poderes divinos conforme as fontes que sobreviveram e chegaram até nós (poemas éddicos, Edda em Prosa, sagas, poesia escáldica, etc.). Ao que tudo indica, o “deus dos trovões” da mitologia escandinava era, na verdade, muito mais conhecido por sua força descomunal e sobre-humana do que pelo controle de manifestações climáticas como raios e trovões; de alguma forma, basicamente todas as narrativas mitológicas que envolvem Thor acabam girando em torno dessa sua característica (Taggart, 2015, 2017; Alves, 2019a, 2019b).

Um dos principais papéis de Thor era o de protetor dos seres humanos e dos demais deuses, atuando como uma espécie de vigia e mantenedor da ordem cósmica. É por isso que grande parte dos seus mitos descrevem suas batalhas contra inúmeros seres da raça dos gigantes, os principais inimigos dos deuses e ameaçadores desse equilíbrio (um levantamento de nomes de gigantes que foram mortos por Thor foi feito por Lindow, 1988). Sua inimiga ferrenha é a Serpente do Mundo (Jǫrmungandr ou Miðgarðsormr), que, apesar de ser morta por Thor no momento do Ragnarök, terminará envenando-o e fazendo com que o deus também morra.

Ao contrário de deuses como Odin, que pareciam estar mais conectados a questões aristocráticas e de realeza, Thor era visto como um deus mais próximo e acessível aos humanos, sobretudo dos camponeses. Se somarmos isso ao que foi dito no parágrafo anterior, entendemos um dos títulos para se referir ao deus: alda bergr, “protetor dos homens” (Davidson, 1990, p. 91). Para que se tenha uma noção dos principais atributos e características do deus e os mitos mais fundamentais a seu respeito, remetemos o leitor, aos seguintes materiais: Davidson, 1990, Simek, 2007, Langer, 2015; Lindow, 2019. Também já foram feitas análises sobre o deus Thor nas HQ’s (Oliveira, 2014) e no primeiro filme da Marvel, comparando-o às fontes da mitologia escandinava (Alves, 2021).

Infelizmente, as fontes da Era Viking e do período medieval não nos revelam muitas informações a respeito da aparência e dos traços físicos de Thor. As menções que chegaram até nós são escassas e pontuais. No Flateyjarbók I, 248 é afirmado que o deus é capaz de criar e direcionar os ventos ao soprar sua barba (a ligação entre Thor e os ventos é explorada minuciosamente por Perkins, 2001); ou seja, sabemos que o deus tinha barba. Na Flóamanna saga 21, Thor aparece no sonho de um cristão para ameaçá-lo, “grande e da barba vermelha”. A Eiríks saga rauða (Saga de Eric, o Vermelho) confirma esse fato, utilizando o epíteto “Barba Vermelha” para designar Thor.  Se assumirmos a hipótese de que o deus tinha a barba ruiva, então de fato é muito mais provável que seu cabelo também fosse ruivo ou avermelhado, e não loiro. O prólogo da Edda em Prosa, contudo, nos levanta certa dúvida: Snorri descreve Thor como sendo belo (característica que costuma ser marcante no deus Baldr) e tendo cabelos “mais belos que o ouro”. Embora essa menção ao ouro não signifique necessariamente que haja uma alusão à cor dourada dos cabelos de Thor, e que o ouro possa ter sido empregado apenas como critério comparativo e ilustrativo de beleza reluzente, ainda assim devemos levantar alguma suspeita.

Retomemos a passagem da Flóamanna saga 21 que descreve o deus como sendo “grande”. Quando a comparamos com o que sabemos a respeito de Thor nos mitos escandinavos, ela parece coerente e sem grandes problemas. Sua força sobre-humana era o que o tornava tão distinto e o destacava em meio ao restante do panteão divino; era justamente graças à sua força descomunal que Thor atuava como o campeão e defensor dos deuses homens, especializando-se em eliminar os seres da raça dos gigantes, que eram extremamente poderosos (para uma análise completa das demonstrações de força do deus e a defesa de que era esse seu traço principal e mais estável, ver Taggart, 2015). Faria sentido, então, que Thor fosse visto como um ser grande: o poema escáldico Haustlöng descreve o impacto do deslocamento e movimentação de Thor no ambiente como causando terremotos, deslizamentos de terra e até erupções vulcânicas.

Contudo, o fato de que Thor era extremamente forte e descrito como sendo “grande” dificilmente implicaria em uma imagem do deus à lá Thor dos filmes da Marvel. Primeiramente porque não existem indícios de que esse fosse o padrão estético de beleza entre os escandinavos. Em segundo lugar, havia uma ligação intrínseca entre Thor e uma ideia de vigor ilustrado por meio de um apetite voraz, quase tão infindável quanto sua força. No poema éddico Þrymskviða (Canto de Thrym), uma famosa cena de banquete, afirma que Thor teria comido, sozinho, um boi inteiro e oito salmões (as implicações sociais e simbólicas desse evento foram estudadas por Campos, 2017).

Enfim, conforme se percebe, as breves descrições que a mitologia escandinava oferece a respeito da aparência de Thor, não esclarecem nossas dúvidas, mas apenas nos oferecem algumas linhas gerais de entendimento. Ao que parece, os escandinavos não estavam preocupados em descrever a aparência do deus de maneira minuciosa, até mesmo porque a visualização de sua forma provavelmente variava entre as diferentes regiões e períodos históricos e também, nesse caso, de individuo para indivíduo. Nesse momento, partiremos para o objetivo central de nosso ensaio, que é o de apresentar as variações na aparência de Thor em diferentes materiais contemporâneos.

 

Thor da Top-Notch Comics (1939)

Lançada pela MLJ Comics, a revista Top-Notch Comics foi publicada entre 1938 e 1942, apresentando histórias de mistério, fantasia, aventura, sobrenatural, em diferentes lugares e épocas. A revista funcionava como uma antologia reunindo narrativas de diferentes autores e temas, e no caso da Top-Notch Comics # 2 de novembro de 1939, escrita por Otto Binder e desenhada por Jack Binder, temos a presença do deus Thor, um homem viajante do tempo, que de forma inusitada surge no presente, aliando-se a civis e heróis, para enfrentar diferentes ameaças.

Na típica trama de ficção científica fantástica da época, em que se reunia personagens bem inusitados, Thor foi retratado como um guerreiro viking, ruivo e barbudo, usando elmo com chifres (resquício do famoso estereótipo), usando um peitoral dourado e saia verde. O martelo na ocasião é referido como um machado de dois lados. Nota-se também que ele apresenta braços musculosos como forma de reforçar a ideia de ser um deus associado a força.

Figura 1: Thor aparece vestido como um viking estereotipado na revista Top-Notch Comics # 2 (1939). Fonte: http://undercoverarchie.blogspot.com/2015/08/.

Thor da Weird Comics (1940)

Na chamada Era de Ouro dos Quadrinhos nos Estados Unidos, teve-se a publicação breve e pouco conhecida sobre as aventuras do deus Thor no mundo contemporâneo. O personagem foi concebido pelo artista Pierce George Rice (1916-2003) para a revista Weird Comics # 1, em 1940. A trama serviu de inspiração para a versão da Marvel Comics desenvolvida duas décadas depois, condição essa que o Thor da Weird não era o deus do trovão em si, mas seus poderes transmitidos para um jovem chamado Grant Farrel, que passou a usar o martelo Mjölnir, além de poder voar, ter superforça e atirar raios com as mãos.

No quesito do visual do Thor de Grant Farrel, ele era apresentado com um físico atlético comum para os padrões de 1940, havendo pouco destaque para sua musculatura. Além disso, o personagem usava um elmo liso, capa azul claro, cueca e botas no estilo do Superman e Batman. O restante do corpo estada descoberto para evidenciar seu porte atlético, que para os padrões atuais não seria bem aceito, como veremos adiante ao longo do texto. Sublinha-se que esse Thor já era retratado como sendo louro e não tendo barba, apresentando uma aparência bem jovial, pois seu alterego era um homem em torno dos 20 anos de idade. 

Figura 2: O Thor da Weird Comics, desenhado por Pierce George Rice, na década de 1940. Fonte: http://www.guiadosquadrinhos.com/personagem/thor-(grant-farrel)/5363.

As aventuras de Thor nos Estados Unidos da primeira metade do século XX, não foram tão populares, condição essa que a Weird Comics publicou apenas sete histórias com o personagem, incluindo a condição de que nas últimas duas narrativas ele trocou de visual e identidade. Grant Farrel foi trocado por Peter Thor, o novo escolhido do deus do trovão para herdar seus poderes. A mudança foi feita por Wright Lincoln, o qual lhe concedeu um novo visual: cabelos louros curtos, rosto imberbe e um traje vermelho e azul, com um sol estampado no peito. A questão é que o novo visual foi inspirado em Flash Gordon, herói popular na época.

Figura 3: Dynamite Thor em cena da Weird Comics # 6, 1940. Fonte: https://pdsh.fandom.com/wiki/Dynamite_Thor.

O novo visual do Thor da Weird durou pouco também, condição que a revista cancelou suas histórias após dois números. Mas além da mudança de visual, o novo Thor também mudou drasticamente em relação ao anterior: ele deixou de usar o martelo, perdeu seus poderes de raios e seu vínculo com a mitologia nórdica, condição essa que o Dynamite Thor era vendido como um herói possuindo “poderes explosivos”.

 

Thor da Adventure Comics (1942)

A revista Adventure Comics (1935-1983) pertence a DC Comics, foi publicada ao longo de décadas, tendo mais de 500 volumes, inclusive foi em suas páginas que super-heróis icônicos como Superman e Batman apareceram. As edições publicavam histórias diversas, passando pela aventura, ação, fantasia, suspense etc. Em 1942, Jack Kirby e Joe Simon, os quais tinham trabalhado na criação do Capitão América (1940), foram contratados pela DC para assumir histórias na Adventure Comics, uma delas foi sobre o Thor.

Na edição 75, publicada em 1942, escrita por Simon e desenhada por Kirby, temos o embate dos heróis Sandman e Sandy contra Thor, cuja trama foi chamada de Villain from Valhalla. Tal narrativa possui dois aspectos interessantes: o primeiro é que Thor aparece como vilão, mas também consistiu na primeira vez que Kirby desenhou o personagem. Em sua carreira ele criaria outras duas versões do personagem, como será visto adiante.

Na trama, um navio viking liderado por Thor aparece nos EUA, e começa a cometer crimes, Sandman e Sandy passam a enfrentar aqueles piratas do passado. Nessa primeira versão desenhada por Kirby, Thor é retratado de forma estereotipada, representando um viking pirata brutamontes, musculoso, usando elmo com chifres, braceletes de metal, sandálias de couro, saiote de pelos e uma espada. Nessa versão Thor é retratado como ruivo, tendo cabelos e barba grandes.

Figura 4: Capa da Adventure Comics # 75 (1942). http://davescomicheroes.blogspot.com/2017/11/thor-versus-sandman-by-jack-kirby.html

Essa versão do Thor retornaria novamente como vilão na All-Star Squadron # 18 (1983), como homenagem a Kirby. No entanto, é interessante salientar que a DC Comics possui várias versões deus Thor, aparecendo em diferentes séries da editora.

Thor da Timely Comics (1951)

Após o contexto da Segunda Guerra Mundial (1938-1945), a esfera das hqs americanas mudou bastante, heróis surgidos por conta do contexto da guerra ou perderam importância, tendo suas revistas canceladas, ou tiveram que ganhar novos propósitos, como o Capitão América (surgido em 1941). Por outro lado, as décadas de 1940 e 1950 ainda testemunharam o interesse por narrativas espaciais, de aventura, de mistério e de terror. Por conta disso, a editora Timely Comics (que viria a se tornar a Marvel Comics), lançou em 1948 a revista Venus, uma antologia de terror, aventura e ficção científica, publicada até 1952, possuindo 19 volumes.

A revista era vendida como uma coletânea de histórias estranhas e do sobrenatural, tendo contato com trabalhos do próprio Stan Lee. Na edição 11 intitulada The End of the World!, Thor aparece brevemente como um figurante, já na edição 12 com o título Trapped in the Land of the Terror, Thor surge ao lado de Loki, ambos incumbidos por Júpiter de ir resgatar a deusa Vênus, que foi sequestrada por um tirano que morava no planeta Cassarobia.

O Thor que aparece brevemente nessas narrativas da Revista Venus era retratado como sendo ruivo, possuindo cabelos curtos e barba curta. Ele usava apenas saia e botas, ambos na cor azul claro. Era retratado já tendo um porte mais musculoso e um pequeno martelo. Por sua vez, Loki usava roupas na cor azul, preta e uma capa vermelha, inspirada no estereótipo do Diabo.

Figura 5: Thor e Loki na revista Venus vol. 12, 1951. Fonte: https://comicvine.gamespot.com/thor/4005-2268/forums/thors-1st-appearance-580442/.

Nessa versão da Timely Comics o Thor voltou a ser barbudo e ruivo como nas versões de 1939 e 1942. Embora que o visual dele como louro e sem barba foi mais predominante nas décadas seguintes.

Thor de The Brave and the Bold (1955)

Nessa série da DC Comics, publicada continuamente entre 1955 e 1983, depois retomada nos anos 1990 e 2000, contém a segunda presença do Thor da DC. Nessa época os quadrinhos do Príncipe Viking (1955) estavam em alta nos Estados Unidos, assim a DC viu oportunidade de explorar a temática. O próprio personagem, criado por Robert Kanigher e Joe Kubert, surgiu nas páginas da The Brave and the Bold, tornando-se regular em algumas narrativas.

Dessa forma, a primeira referência a Thor, ocorreu na revista The Brave and the Bold # 3 (1955), uma revista conhecida por antologias de histórias de fantasia e aventura. Nessa edição tivemos a história The Hammer of Thor, protagonizada pelo herói Príncipe Viking (uma versão loura do Conan, o Bárbaro e menos violenta). Nessa narrativa, o príncipe encontrou o martelo Mjölnir e ganhou temporariamente os poderes de Thor.

Figura 6: O Príncipe Viking obtendo os poderes de Thor, na revista The Brave and the Bold # 3 (1955). Fonte: https://www.pinterest.de/pin/624944885778435593/.

Pelo visual nessa versão, observa-se algumas semelhanças com o Thor da revista Venus, em que ambos os casos, eles têm cabelos curtos e usam apenas uma saia e sapatos como vestes. Embora o Príncipe Viking não seja o Thor propriamente falando, mas ele ganhou os poderes do deus do trovão, como ocorrido com os Thor da Weird Comics. Além disso, nota-se nessa versão novamente a adoção do visual louro e imberbe. Porém, o porte físico dessa versão já realça mais a musculatura do personagem, sobretudo do tórax e dos braços.

Thor de Tales of the Unexpected (1957)

Outra aparição do deus dos raios e trovões ocorreu na revista Tales of the Unexpected (1956-1968), também serializada pela DC Comics, contando com várias histórias fantásticas, incluindo elementos mitológicos. No volume 16, intitulado The Magic Hammer, tivemos a presença de Thor. Na época a revista era desenhada por Jack Kirby, o qual desenhou sua segunda versão do personagem mitológico.  

Nesse conto bem-humorado, Thor durante um banquete em Valhala, teve seu martelo roubado por Loki, mas durante a perseguição ao mesmo, Loki foi capturado, mas perdeu o martelo, o qual caiu nos Estados Unidos durante o Velho Oeste, então uma série de pessoas comuns começaram a encontrar a arma e se depararem com seus poderes mágicos, e até mesmo usando-os para diferentes intenções, boas e ruins. Thor tomando conhecimento disso, viajou até os EUA para reaver o Mjölnir.

Figura 7: Thor desenhado por Jack Kirby na revista Tales of the Unexpected # 16 (1957). Fonte: http://draczz.blogspot.com/2019/01/magic-hammer-tales-of-unexpected-16.html.

Nessa versão Thor é representado como um viking estereotipado, usando elmo com chifres e uma saia feita de peles de animais, visual baseado na versão anterior de Kirby, lançada em 1942. Ele também utiliza um cinturão, braceletes, botas e capa. O personagem tem uma longa barba e bigodes, embora não se saiba se seria ruivo, pois ele sempre aparece todo iluminado. Seu porte físico é de um homem musculoso.

Thor e Batman (1959)

A quarta versão da DC Comics sobre o Thor, foi o resultado de um crossover inusitado. Na revista Batman # 127 (1959), com roteiro de Bill Finger e desenhos de Dick Sprang e outros artistas, tivemos a narrativa intitulada The Hammer of Thor, em que um curador do museu de Gotham City ativa os poderes de Thor após erguer seu martelo, levando Batman e Robin a combate-lo, antes que destruísse a cidade. Nessa narrativa o personagem surge novamente como vilão.

Figura 8: Capa da revista Batman # 127 (1959). Fonte: https://br.ign.com/quadrinhos/67790/news/o-dia-em-que-o-batman-e-o-thor-se-enfrentaram-nos-quadrinhos.

Pela imagem da capa nota-se o visual do Thor ainda estereotipado, sendo baseado nas duas versões de Jack Kirby. Embora que o elmo com chifres foi trocado por um elmo com asas. Além disso, o Thor apresenta barba mais curta, mas sendo ruiva.

Thor da Charlton (1959)

A editora Charlton publicava uma série de quadrinhos intitulada Out of this World (1956-1959), a qual consistia numa antologia de histórias sobre aventura, fantasia, mistérios e ficção científica. Na edição 11 tivemos um conto curto intitulado The Hammer of Thor, escrito por Joe Gill e desenhado por Steve Dikto (que ganharia fama na Marvel), em que a trama ocorre na Era Viking, e um homem encontra o martelo de Thor em momento oportuno quando sua vila estava para ser invadida por invasores orientais que lembram Hunos ou Mongóis. Com o poder do martelo o herói por ocasião, os venceu.

Figura 9: Cena da manifestação de Thor na Out of this World # 11 (1959). https://atocom.blogspot.com/2013/11/reading-room-out-of-this-world-hammer.html

Observa-se na imagem acima, que o guerreiro viking que consegue os poderes de Thor, é visualmente similar ao Príncipe Viking da DC Comics. Os cabelos louros curtos, o rosto imberbe, a saia e o corpo atlético.

Thor da Marvel Comics (1962)

É a versão em histórias e quadrinhos mais famosa do personagem. Concebido por Stan Lee, Jack Kirby e Larry Lieber, para a revista Journey into the Mystery # 83 (1962), periódico voltado para tramas de fantasia, aventura e ficção científica, condição essa que o Thor uniu o fantástico com a ficção científica, sendo retratado como um extraterrestre com superpoderes.

O Thor da Marvel Comics conservava elementos em comum com várias ideias que já circulavam no meio quadrinistico estadunidense: uso de elmo e capa, o Thor não era ele mesmo, mas alguém que ganhava os poderes do deus ao erguer seu martelo. Fato esse que a versão da Marvel apresenta elementos da Weird Comics e da versão do Kirby de 1955.

Porém, Lee e Kirby ajudaram a criar um universo mais denso e expansivo para o personagem, pois se nas outras editoras Thor era um personagem que aparecia pontualmente, na Marvel ele ganhou suas próprias revistas, foi a porta de entrada para a introdução da mitologia nórdica de forma massiva na Marvel, e até para a mitologia grega, pois Hércules surgiu inicialmente como rival do Thor. O personagem também se tornou um dos Vingadores e passou a aparecer nas revistas de outros personagens da editora.

Nessa versão da Marvel, o personagem teve seu visual alterado ao longo das décadas, havendo versões dele adolescente, idoso, usando armaduras e trajes diferentes. Essencialmente ele é ainda retratado usando seu traje clássico, azul ou preto; elmo com asas, capa vermelha, cabelos louros na altura dos ombros e rosto sem barba. A partir da década de 1990 alguns ilustradores passaram a retratá-lo com barba, tornando isso mais frequente a depender do artista. Sublinha-se que essa é a primeira versão regular do personagem a usar calças, pois as versões anteriores usavam saias.

Figura 10: O visual clássico do Thor, concebido por Jack Kirby em 1962. Fonte: https://www.previewsworld.com/Catalog/AUG199021

Quanto ao seu porte físico, dependendo do artista, o personagem aparece mais magro ou mais forte, tendo seus músculos mais destacados. Além disso, algumas versões do herói o retratam mais alto e largo, indicando que se trata de um homem de grande porte físico, algo bastante retratado nessa versão, em que Thor é considerado um dos personagens fisicamente mais poderosos do Universo Marvel.

 

Thordis da Marvel (1978)

No final da década de 1970, a Marvel lançou uma série intitulada What If? cujas narrativas eram contos que apresentavam variações de personagens e narrativas da editora, inserindo eles em outros contextos alternativos. A edição What If #10, trazia a história intitulada What If Jane Foster Had Found the Hammer of Thor, em cuja narrativa a enfermeira Jane Foster obtinha os poderes do deus do trovão e tornava-se Thordis, a primeira versão feminina do personagem na Marvel.

A revista trazia uma ironia a primeira aventura de Thor, lançada em 1962, fato esse que Thordis usa o mesmo traje, a capa é similar e outros elementos na narrativa também fazem referência aquela revista, a diferença é que Jane Foster se revela digna de ter os poderes do deus e os usa para salvar Donald Blake o disfarce usado por Thor naquela época. Essa ideia de mulheres usando os poderes de Thor foi utilizada em outras narrativas do What If? e outras séries, havendo outras mulheres que conseguiram erguer o Mjölnir, algumas se transformam em Thor e outras usaram apenas os poderes do martelo.

Figura 11: Cena da hq What If? #10 mostrando Jane Foster como Thordis. Fonte: https://gobacktothepast.com/retro-review-what-if-10/

A ideia de apresentar uma versão feminina do Thor foi baseada na própria mitologia nórdica, tendo como referência o poema Thrymskvida (O Canto de Thrym), narrativa presente na Edda Poética, a qual aborda o roubo do martelo Mjölnir realizado pelo gigante Thrym. Para devolver a arma do deus do trovão, o gigante exigiu que o sol, a lua lhe fossem dados como presente e a deusa Freyja fosse enviada como sua noiva. No entanto, os deuses recusaram isso, e Thor foi sugerido por Loki a ir disfarçado de noiva para reaver o Mjölnir.

 

Thor de Valhalla Comics (1979)

Escrita e desenhada por Peter Madsen, a série Valhalla consiste em histórias em quadrinhos voltadas para o público infantil, por conta disso, seu visual é mais cartunesco e cômico. No caso, Thor aparece no volume 1 e em vários volumes seguintes. Ele é retratado como sendo ruivo, barbudo, forte, usando geralmente uma túnica verde com um cinturão ou calças marrons. Seu martelo é pequeno, descrição que se aproxima dos mitos.

Figura 12: Thor nos quadrinhos de Valhalla, criado por Peter Madsen. Fonte: https://www.pinterest.se/pin/381117187210421699/

 

Thor e Hulk (1988)

O encontro entre os dois colossos de força já havia ocorrido algumas vezes nos quadrinhos, no entanto, a Marvel decidiu levar isso para o cinema, no filme A Volta do Incrível Hulk (1988). Nessa produção de baixo orçamento, mas baseada na popular série sobre o Hulk, temos a presença do Thor, mas visualmente bem diferente do que se via nas hqs e desenhos da época.

No filme o personagem foi interpretado por Eric Allan Kramer, o qual possuía um porte físico atlético na época e era quase da mesma altura do ator Lou Ferrigno, que interpretava o Hulk. Todavia, sua vestimenta ficou bem estranha. O personagem usava um elmo de metal genérico, não tendo as asinhas habituais vistas nos quadrinhos, vestia uma couraça metálica com ombreira felpudas, usava calças marrom e botas. Esse visual diferente foi usado apenas nesse filme, já que no retorno do personagem aos cinemas a partir de 2011, seu visual é mais baseado nos quadrinhos.

Figura 13: Hulk e Thor em cena do filme A Volta do Incrível Hulk (1988). Fonte: https://ovicio.com.br/as-alteracoes-visuais-de-thor-ao-longo-dos-anos/.

 

Thor de Sandman (1990)

A série de quadrinhos intitulada Sandman (1988-1996), que originou séries paralelas, foi criada por Neil Gaiman e traz elementos mitológicos e folclóricos. Na edição 3, intitulada Season of Mists, que perfaz os capítulos 21 ao 28, temos a introdução dos deuses nórdicos, o que incluiu o próprio Thor, que foi retratado como um brutamontes gigante, com músculos deformados. Ele também é ruivo, usando um colete marrom, cueca ou calças marrons.

Thor é retratado como sendo impulsivo, rude, pouco esperto, que gosta de comer e beber, características presentes nos mitos. O martelo Mjölnir é representado de forma bem pequena, contrastando com o tamanho do deus. Tal fator se deve de uma escolha proposital para satirizar o personagem, aproveitando que na mitologia o martelo é descrito como tendo um cabo curto.

Figura 14: Aparição de Thor, Odin e Loki em Sandman # 24 (1990). Fonte: https://thenightling.tumblr.com/post/166415884198/odin-thor-and-loki-as-depicted-in-sandman

 

Thor de Mike Deodato Jr (1995-1996)

Durante os anos 1990, o quadrinista brasileiro Mike Deodato Jr trabalhou na DC e na Marvel, desenhando vários heróis e personagens, o que incluiu o Thor. Deodato ficou à frente das ilustrações da revista Thor # 491-502 (1995-1996), trazendo um novo visual ao asgardiano e um estilo mais frenético e impactante.

Embora outros desenhistas tenham dado suas contribuições ao visual criado por Kirby, destacamos o de Deodato Jr por ter apresentado uma versão bem diferente das outras publicadas pela Marvel. O Thor de Deodato é bastante musculoso, imberbe, possui longos cabelos louros, utiliza trajes diferentes do habitual, aparecendo ora com capa ou sem ela, ora usando um uniforme azul escuro, com a barriga de fora e grandes ombreiras; ele também aparece sem camisa, destacando sua musculatura trabalhada. O icônico elmo que acompanha o personagem, praticamente sumiu nas histórias ilustradas pelo autor. Além disso, sua versão apresenta um Thor mais briguento e bruto.

Figura 15: Detalhe do Thor de Mike Deodato Jr na capa da revista Thor # 502 (1996). Fonte: https://ovicio.com.br/as-alteracoes-visuais-de-thor-ao-longo-dos-anos/. 

 

Thor de Age of Mythology (2002)

Produzido pela Microsoft Studios, com base na franquia de sucesso Age of Empires, nessa nova versão, temos elementos da mitologia grega, nórdica e egípcia presentes na trama desse jogo de estratégia em tempo real. Embora que a maioria dos deuses não apareceram na narrativa, apenas sendo citados ou mostrados em imagens. No caso de Thor ele é retratado como ruivo, possuindo longa barba, usando o estereotipado elmo com asas (Odin e Loki usam elmos com chifres), e vestindo uma veste feita de peles de animais, concedendo um visual rústico e bárbaro.

Figura 16: Arte conceitual do Thor no jogo Age of Mythology (2002). Fonte: https://ageofempires.fandom.com/wiki/Thor

Young Thor (2010)

Nesse jogo produzido pela Frima Studios e distribuído pela Sony para o PSP e PS3, temos Thor numa versão infantil que obtém o Mjölnir e parte para salvar o mundo. O jogo é uma produção voltada para o público infantil, algo visto em seu designer. No caso do jovem Thor, ele é representado como sendo ruivo, tendo olhos verdes e usando camisa verde e calças marrons. Tal padrão lembra bastante o visto nos quadrinhos de Valhalla. Embora que exista uma armadura conseguida depois, que é baseada no Thor da Marvel.

Figura 17: Capa do jogo Young Thor (2010) para PSP. Fonte: https://tecnoblog.net/meiobit/408153/quem-e-jane-foster-a-thor-do-universo-marvel/.

 

Thor: Legend of Magical Hammer (2011)

Nessa animação infantil de origem islandesa, produzida pelos estúdios CAOZ, Ulysses e Magma Films, temos uma narrativa livremente inspirada na mitologia nórdica. O filme também recebeu o título de Legends of Valhalla: Thor, em alguns países.

Na trama Thor é um jovem rapaz ruivo que não sabe que é um deus, mas a situação muda quando sua vila é atacada pelos gigantes, levando Odin e a mãe de Thor a contarem ao rapaz sua verdadeira identidade. O jovem Thor então obtém o martelo (que no filme é um objeto falante) e com ele manifesta os poderes do deus do trovão para combater os gigantes.

Embora seja retratado como ruivo e sem barba, tendo uma aparência jovial, o Thor desse filme é um homem magro, carismático, engraçado e um herói atrapalhado. No entanto, um aspecto que chama atenção é o fato de a roupa do personagem lembra bastante esteticamente a do Thor dos quadrinhos Valhalla.

Figura 18: Thor num cartaz promocional do filme Legends of Valhalla: Thor (2011). Fonte: https://www.imdb.com/title/tt1241721/?ref_=tt_mv_close

Thor de Smite (2012)

Smite é um popular jogo MOBA (multiplayer online battle arena) inspirado em diferentes mitologias do mundo. Em 2012 deuses nórdicos como Thor foram lançados para o jogo. No caso, o personagem é representado como sendo ruivo, tendo cabelos longos e usando barba. Ele é musculoso, bruto e bravo. Apesar que no jogo hajam visuais retratando Thor como louro e moreno, sem barba, usando elmos com asas e chifres, e até um visual mostrando ele trajado de noiva, uma referência direta ao mito narrado no poema Thyrsmkvida.

Figura 19: Visual de Thor no jogo SMITE (2012). Fonte: https://www.smitegame.com/gods/thor.

 

Thor Viúva Negra (2014)

Novamente na série What If? a qual nos apresentou em 1978 a primeira versão feminina do deus do trovão da editora Marvel Comics, tivemos uma nova mulher ganhando os poderes de Thor. Salienta-se que não foi a primeira vez que isso ocorreu depois de Jane Foster. Outras mulheres também se transformaram em Thor ou dispuseram de seus poderes momentaneamente. Todavia, optamos em citar alguns casos mais específicos.

Na revista What If? Age of Ultron #3, lançada em abril de 2014, em meio a uma drástica batalha entre os Vingadores e Ultron, os heróis vão sendo derrotados uma a um, o que inclui Thor, no entanto, no clímax do confronto, Natasha Romanoff (Viúva-Negra) consegue erguer o Mjölnir e momentaneamente transforma-se em Thor.

Embora Romanff não tenha sido a primeira mulher a fazer isso, sua versão do personagem recebeu destaque aqui por dois motivos principais: a primeira diz respeito a ela ser ruiva, uma característica que alude a aparência do personagem nos mitos, até porque outras mulheres que ganharam os poderes de Thor ou eram louras ou morenas, não havendo necessariamente a alteração na cor dos cabelos; o segundo motivo que destacamos refere-se a sua aparência que foi bem sensualizada.

Figura 20: A Viúva Negra transformada em Thor. Fonte: https://www.denofgeek.com/movies/thor-love-and-thunder-women-jane-foster-hammer/.

Nessa versão feminina, Thor apresenta um traje inspirado na armadura das valquírias da ópera wagneriana, visual inclusive adotado pelas Valquírias da Marvel; a Natasha também usa um elmo com asas e capa vermelha. Seu traje e complementado com ombreiras, braçadeiras e botas e cano longo. O visual sensual deixa destacado as pernas e o busto da personagem. Sublinhamos que outras mulheres que assumiram os poderes de Thor, não necessariamente aparecem de forma sensual.

 

Thor a deusa do trovão (2014)

Na revista Thor vol. 4 # 2, publicada em novembro de 2014, na história intitulada The Goddess of Thunder, a enfermeira Jane Foster, antigo par romântico do Thor da Marvel, obteve a honra de empunhar o Mjölnir e com isso ganhou os poderes de Thor. A ideia não foi nova, pois em 1978 numa história alternativa, Foster havia ganho esses poderes, a diferença é que a nova versão passou a ser canônica na série do Thor, enquanto as outras versões femininas são apenas temporárias ou não-canônicas.  

Nessa nova versão de Jane Foster como Thor, visualmente a personagem apresenta cabelos louro, usa uma couraça metálica, um elmo com máscara, ocultando sua identidade. O elmo manteve as icônicas asas. Ela também usa capa vermelha, calças, saia e sapatos. Comparada a Thor Viúva Negra, sua aparência é menos sensual.

No entanto, destaca-se que a personagem não é retratada fisicamente como bastante musculosa (nem na versão de 1978 ela tinha porte assim, ou em outras versões femininas), algo visto com a personagem da Mulher-Hulk, a qual possui um corpo com musculatura bem delineada e porte grande.  

Figura 21: A nova versão de Jane Foster como Thor. Fonte: https://tecnoblog.net/meiobit/408153/quem-e-jane-foster-a-thor-do-universo-marvel/

A nova versão de Jane Foster como a deusa do trovão conserva o nome de Thor e não Thordis. Além disso, ela aparece em outras narrativas. Sublinha-se no caso que o deus Thor nessa série é retratado como sendo um homem musculoso, barbado, inicialmente tendo cabeço longo e depois cabelos curtos. Ele também aparece em vários momentos sem camisa, usando capa, calças e botas. Além de ter ganhado um braço mecânico

 

Thor da Guerra (2017)

Trata-se de uma rara versão do deus Thor da Marvel Comics, o qual é retratado como sendo ruivo. Apresentado na revista Mighty Thor vol. 3 # 20 (2017), o guerreiro Volstagg, um dos grandes amigos e aliados de Thor, na época ele era senador do Congresso dos Mundos, e estava em viagem a Nidavellir (a terra dos anões) para cuidar do resgate de elfos luminosos refugiados, porém, num atentado promovido pelos gigantes de fogo, crianças élficas foram mortas e Volstagg foi o único sobrevivente, em remorso por ter deixado aqueles inocentes morrerem, ele sentiu um misterioso chamado e viajou à Asgard onde encontrou um Mjölnir de uma realidade paralela e assim ganhou os poderes do deus do trovão, tornando-se o Thor da Guerra.

Pela condição de Volstagg ser um homem ruivo, grande e gordo, ele conservou alguns desses aspectos ao se transformar em Thor: ele manteve-se sua elevada estatura com mais de dois metros de altura, deixou de ser gordo para ficar musculoso, manteve os cabelos e a barba ruivos. Além disso, seu traje é escuro, ele possui uma soqueira com espinhos e seu elmo apresenta designer similar ao da Thor de Janes Foster. Salienta-se também que o Mjölnir que ele usa, possui uma forma diferente.

O Thor da Guerra aparece em poucas narrativas, sendo lembrado como uma versão mais bruta e violenta do deus do trovão publicado pela Marvel. De fato, Volstagg quando se transforma nessa versão violenta do personagem, ele torna-se furioso e sanguinário, condição essa que Thor e outros personagens passam a trata-lo como uma ameaça.

Figura 22: Volstagg transformado em Thor da Guerra. Fonte: https://marvel.fandom.com/wiki/Volstagg_(Earth-616).

 

Thor de Record of Ragnarok (2017)

Intitulado originalmente Shūmatsu no Warukyūre (“A Valquíria do Fim”), o mangá de Shinya Umemura e Takumi Fukui ganhou o título no Ocidente de Record of Ragnarok, uma alusão a condição que na trama tem-se um torneio de luta chamado Ragnarok, em que os deuses e os humanos lutam entre si. No caso dos humanos eles lutam para evitar o apocalipse. Logo nos primeiros capítulos, o primeiro campeão dos deuses a travar confronto é Thor.

O personagem é retratado como sendo ruivo, tendo longos cabelos, típico do estilo de mangá. Ele também é alto e possui um corpo bastante musculoso e definido de forma exagerada, embora que a estética desse mangá traga um visual bastante exagerado e até bizarro para alguns personagens. Mas além dessa característica da musculatura acentuada, essa versão do Thor é imberbe, veste uma túnica branca e possui um martelo gigante, que é maior do que ele mesmo. Quanto a sua personalidade, ele é descrito como um guerreiro nato e matador de gigantes. O personagem ganhou maior destaque recentemente com o anime Record of Ragnarok (2021).

 

Figura 23: Thor do mangá Record of Ragnarok. Fonte: https://record-of-ragnarok.fandom.com/wiki/Thor?file=Thor.png

 

Thor de American Gods (2019)

O livro American Gods (Deuses Americanos) foi publicado originalmente em 2001, escrito por Neil Gaiman, autor da franquia Sandman. Nesse livro, Gaiman aborda novamente a temática dos deuses, trazendo-os para os Estados Unidos do começo do século XXI, em que os novos deuses confrontam os velhos deuses numa guerra que dura séculos. No livro o personagem do Thor é apenas citado, não recebendo destaque, entretanto para a série American Gods (2017-2021), durante a segunda temporada, o personagem ganhou um episódio dedicado a ele, intitulado Donar the Great, em que o deus do trovão foi interpretado por Derek Theler, com seus quase dois metros de altura.

No seriado, Thor como outros dos velhos deuses, tiveram que arranjar emprego e formas de sobreviver ao mundo contemporâneo, com isso, Thor tornou-se ator de teatro e musicais. Fato esse que ele aparece trajado de forma estereotipada, usando uma armadura grega dourada. Além disso ele é ruivo, possuindo longos cabelos e barba. O martelo é retratado de forma grande e possuindo uma grande argola na ponta do cabo.

Figura 24: Cena do episódio 6 da segunda temporada de American Gods (2019). Ao centro, Theler caracterizado como Thor para a peça da qual o personagem participa. Fonte: https://deliriumnerd.com/2019/04/22/american-gods-02x06-donar-o-grande/

 

Thor de Valhalla (2019)

O filme Valhalla é uma adaptação dos quadrinhos Valhalla de Peter Madsen, embora a produção cinematográfica traga um tom e visual mais adulto e ligeiramente sombrio. A trama do filme adapta os primeiros volumes das histórias em quadrinhos, trazendo uma releitura do mito em que Thor e Loki viajam até Utgard e são desafiados pelo gigante Utgard-Loki. Nesse filme, Thor que é interpretado por Roland Møller, traz um personagem mais velho, apresentando fios grisalhos na barba e no cabelo. No caso, esse Thor não é ruivo propriamente, além de possuir cabelos curtos e uma barba curta. Ele também não é musculoso e se veste de forma diferente da vista nos quadrinhos, trocando a camisa verde por traje de tons escuros. Além disso, no filme devido a sua produção voltada ao público adulto, Thor não é engraçado, mas sério e sisudo.

Figura 25: O ator Roland Møller caracterizado como Thor no filme Valhalla (2019). Fonte: https://entreterse.com.br/ficha-tecnica-valhalla-a-lenda-de-thor-2019-76223/

 

Thor em Assassin’s Creed: Valhalla (2020)

A popular franquia Assassin’s Creed criada pela Ubisoft, é conhecida por apresentar jogos baseados em acontecimentos históricos, e desde 2015, vem abordando temas mitológicos. Começando pelo Egito, passando pela Grécia, e no jogo mais recente adentrando a Era Viking e sua mitologia.

No jogo, há vários elementos mitológicos, incluindo Asgard, Valhala e a presença de alguns deuses nórdicos como Odin, Thor, Tyr e Freyja. No caso de Thor, o deus do trovão auxilia o jogador em algumas missões de combate aos gigantes de gelo, além de ser possível também obter a armadura dele e o martelo Mjölnir.

Visualmente Thor não é tão alto e grande como em outras versões, sendo um pouco mais alto do que os outros personagens masculinos do jogo. Ele é ruivo, possuindo longos cabelos e barba. Veste-se com roupas de tons escuros que emula trajes da Era Viking. Seu martelo é grande. O personagem é retratado como impaciente, valente e ávido por batalhas.

Figura 26: Cena do jogo Assassin’s Creed: Valhalla (2020), mostrando Thor. Fonte: https://www.techtimes.com/articles/256844/20210209/assassins-creed-valhalla-sale-discount-bonus-ubisoft.htm. 

Thor e Mulher-Maravilha (2021)

O Thor da DC Comics fez participações especiais em diferentes histórias da editora, enfrentando diferentes personagens, no entanto, em sua participação mais recente, o deus do trovão voltou a confrontar a Mulher-Maravilha. Na revista Wonder Woman # 770, Diana em incursão à Asgard, depara-se com um Thor hostil, o qual usa um traje de super-herói com direito a elmo com chifres estilizados, capa e um raio no peito.

Na revista Wonder Woman # 771, a protagonista desperta em Asgard e é avisada que as Valquírias tinham sumido e o Ragnarök estava se aproximando, com isso, Diana decide indagar a Thor por qual motivo ele não estava agindo contra aquilo?

Todavia, Thor é retratado nessa trama como arrogante, apático, que prefere ficar comendo e bebendo. Ele também é um bravo guerreiro e chega a ser boçal. Visualmente ele segue o padrão estabelecido por Kirby ainda na década de 1940, sendo retratado como um brutamontes ruivo, grande e musculoso.

Figura 27: Cena da revista Wonder Woman # 771, mostrando Thor conversando com a Mulher-Maravilha. Fonte: https://observatoriodocinema.uol.com.br/quadrinhos/2021/04/dc-tem-seu-proprio-thor-ele-e-um-babaca.

 

Thor de God of War: Ragnarok (2021)

Embora o jogo será lançado apenas em 2022, todavia, nas artes conceituais divulgadas juntas ao primeiro trailer, foi revelado o visual do deus Thor. Anteriormente o personagem havia aparecido brevemente em God of War (2018), usando traje no estilo do Thor de Assassin’s Creed: Valhalla, e estando com a cabeça coberta com um capuz.

Entretanto, na arte conceitual divulgada, observa-se mais características não apresentadas no jogo anterior. No caso, nota-se que Thor tem cabelos e barba ruivos, usa um traje fictício baseado na estética do jogo, possui tatuagens azuis no peito, seu martelo é grande, porém, o que chama atenção é o fato de ele possuir uma barriga protuberante, o que levou a vários comentários de que ele seria um personagem gordo e não musculoso como deveria ser.

Condição essa que a produção do jogo teve que emitir nota justificando a aparência do personagem menos musculoso, mas nem por isso significaria que ele deixasse de ser forte. No caso, o senso comum costuma associar músculos definidos como sinônimo de força bruta, mas a realidade não é assim. Esteticamente o corpo de um fisiculturista é visualmente mais chamativo, mas não necessariamente significa que seja um físico de força bruta, fato esse que os atletas de halterofilismo e de competições de força, possuem abdomens e costas largas, pois isso é reflexo de seu treinamento para erguer muito peso, algo defendido pela produção do jogo.

Figura 28: Arte conceitual de Thor no jogo God of War: Ragnarok. Fonte: https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/novas-imagens-de-god-of-war-ragnarok-destacam-visual-de-thor-tyr-e-mais-personagens/

 

Considerações finais

Nessa seleção feita com 28 imagens representando o deus Thor, na cultura pop dos séculos XX e XXI, podemos tirar algumas observações bastante interessantes. A começar pela condição de que entre as décadas de 1940 e 1960, tramas envolvendo homens comuns ou guerreiros que obtinham os poderes de Thor ao ter contanto com o martelo, foram algo bem comum, sendo repetidas várias vezes e até mesmo copiadas. Nesse caso, a ideia era que Thor seria uma divindade que se manifestava através de avatares, os quais obtinham seus poderes ao usarem o Mjölnir.

A primeira versão identificada do Thor em hqs, o retratava como ruivo e sendo um viajante do tempo por acaso, e estando no presente passou a agir como herói naquela situação. Todavia, o personagem usava armadura dourada, elmo com chifres e saia. Tal vestuário foi recorrente até o final da década de 1950. Sendo que a partir dos anos 1960 com a popularização do Thor da Marvel, o personagem passou a usar calças regularmente e um uniforme no estilo de super-heróis americanos.

Destacamos também a condição de que Jack Kirby foi o responsável por criar visualmente o Thor da DC Comics, surgido em 1942, sendo retratado como um viking pirata e brutamontes, sendo ele ruivo. Já a versão da Marvel foi retratada como loura e imberbe, e tendo um traje de super-herói. Ambos padrões ainda hoje são adotados pelos artistas que desenham os personagens nas duas editoras.

Um dado interessante a ser mencionado é que a partir da década de 1980, as representações do deus Thor passaram a retratá-lo normalmente como ruivo, seguindo a descrição contida na mitologia nórdica. Apesar que a versão da Marvel ainda seja representada como loura, algo visto nos quadrinhos, filmes, jogos e desenhos.

A ideia de que Thor sempre foi um personagem representado como sendo grande, robusto e musculoso, não necessariamente foi algo regular. Dependendo do artista, vimos nos casos citados anteriormente, diferentes formas de representar o deus do trovão, em que ele aparecia magro ou com um corpo atlético sem musculatura delineada. Apesar que nas últimas décadas o personagem vem sendo retratado de forma musculosa em diferentes mídias, exceto quando são produções infantis ou caricatas. A predominância por um Thor mais musculoso e grande, está ligado a estética atual de corpos torneados devido as academias, crossfit, artes marciais, torneios de força, fisiculturismo, estilo fitness. Tendências que cresceram nos últimos trinta anos.

O uso de armaduras pelo Thor foi algo visto entre as décadas de 1930 e 1950 em algumas histórias, apesar que o próprio Thor da Marvel em algumas narrativas utilize armadura também. Porém, em produções de outros artistas, encontra-se o personagem usando outros tipos de vestes, o que inclui a condição do personagem ser associado desde a década de 1990 com a cor verde, marrom e preto, sendo que anteriormente ele era associado com as cores azul e amarelo.

Sublinha-se também que alguns filmes e jogos mais recentes, procuram retratar Thor usando o que poderiam ter sido trajes nórdicos da Era Viking (sécs. VIII-XI), numa tentativa de aproximar o visual do personagem ao contexto da época em que ele foi adorado pelas populações nórdicas na Idade Média.

No caso das versões femininas do personagem, as mais conhecidas foram desenvolvidas nas histórias da Marvel, havendo distintas mulheres que ganharam os poderes de Thor, embora Jane Foster tenha se tornado o exemplo mais conhecido, possuindo uma versão de 1978 baseada no visual clássico do personagem, e a versão surgida em 2014 a qual tornou-se canônica. Também destacamos a Thor Viúva Negra, por ser ruiva e conceder uma sensualidade ao personagem.

Salientamos também que o deus do trovão dependendo da versão, ele aparece como herói ou vilão, como um guerreiro honrado ou impulsivo; ele também pode surgir como sendo arrogante, teimoso, apático, agressivo, rude. Características vistas nos mitos e adaptadas para diferentes tramas.

Referências bibliográficas:

 

ALVES, Victor Hugo Sampaio. De Þórr da mitologia escandinava ao Thor da Marvel nos cinemas: a ressignificação contemporânea do deus. Fênix, v. 18, 2021, pp. 509-531. Disponível em: https://www.academia.edu/49588925/De_%C3%9E%C3%B3rr_da_mitologia_escandinava_ao_Thor_da_Marvel_nos_cinemas_a_ressignifica%C3%A7%C3%A3o_contempor%C3%A2nea_do_deus

ALVES, Victor Hugo Sampaio. Diferentes sons do trovão: Uma perspectiva comparativa entre os deuses Thor, Ukko e Horagalles. Dissertação de mestrado (Ciências das Religiões), UFPB, 2019a, 220p. Disponível em: https://www.academia.edu/43361991/Diferentes_sons_do_trov%C3%A3o_uma_perspectiva_comparativa_entre_os_deuses_Thor_Ukko_e_Horagalles

ALVES, Victor Hugo Sampaio. O deus Thor e a polissemia de sua representatividade na voz de três poemas eddicos. Roda da Fortuna, v. 8, n. 2, 2019b, pp. 160-189. Disponível em: https://www.academia.edu/43366141/O_deus_Thor_e_a_polissemia_de_sua_representatividade_na_voz_de_tr%C3%AAs_poemas_eddicos

CAMPOS, Luciana de. Da suposta noiva que comia demais: Uma proposta de análise da

Þrymskviða. Roda da Fortuna, volume 6, número 1, 2017, pp. 159-173. Disponível em: https://www.academia.edu/38499650/CAMPOS_Luciana_de_Da_suposta_noiva_que_comia_demais_Uma_proposta_de_an%C3%A1lise_da_alimenta%C3%A7%C3%A3o_na_%C3%9Erymskvi%C3%B0a_RODA_DA_FORTUNA_2017_1

DAVIDSON, Hilda Ellis. Gods and myths of Northern Europe. London: Penguin Books,

1990.

LANGER, Johnni (ed.). Dicionário de Mitologia Nórdica: símbolos, mitos e ritos. São Paulo: Hedra, 2015.

LINDOW, John. O livro da mitologia nórdica. Petrópolis: Vozes, 2019.

LINDOW, John. Adressing Thor. Scandinavian Studies, v. 6, n. 2, 1988, pp. 119-136.

OLIVEIRA, Leandro Vilar. Thor – do mito a super herói: a reinvenção moderna do deus nórdico do trovão. História, imagem e narrativas, n. 18, 2014, pp. 1-130. Disponível em: https://www.academia.edu/28884569/Thor_do_mito_a_super_her%C3%B3i_A_reinven%C3%A7%C3%A3o_moderna_do_deus_n%C3%B3rdico_do_trov%C3%A3o

PERKINS, Richard. Thor the wind-raiser and the Eyrarland image. London: Viking Society

for Northern Research, 2001.

SIMEK, Rudolf. Dictionary of Northern Mythology. Cambridge: D.S. Brewer, 2007.

 

TAGGART, Declan. Stealing his thunder: an investigation of Old Norse pictures of Þórr.

Saga-Book, n. 41, 2017, pp. 123-146.


TAGGART, Declan Ciaran. Understanding diversity in Old Norse religion: taking Þórr as a

case study. 2015. 245 p. Tese (Doutorado em Filosofia). Universidade de Aberdeen, Escócia.

 

 Referências da internet:

https://comicvine.gamespot.com/the-brave-and-the-bold-3-the-invisible-wall-the-ha/4000-2164/

https://comicvine.gamespot.com/thor/4005-2268/forums/thors-1st-appearance-580442/

https://www.denofgeek.com/movies/thor-love-and-thunder-women-jane-foster-hammer/

http://draczz.blogspot.com/2019/01/magic-hammer-tales-of-unexpected-16.html

http://www.guiadosquadrinhos.com/personagem/thor-(grant-farrel)/5363

https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/nem-sempre-e-sobre-musculos-diz-diretor-sobre-aparencia-de-thor-em-god-of-war-ragnarok/

https://literakaos.wordpress.com/2018/02/09/asgard-um-multiverso-nos-quadrinhos/

https://www.marvel.com/comics/collection/1319/thor_visionaries_mike_deodato_jr_tpb_trade_paperback

https://marvel.fandom.com/wiki/Venus_Vol_1_11

https://marvel.fandom.com/wiki/Venus_Vol_1_12

https://marvel.fandom.com/wiki/Volstagg_(Earth-616)

https://marvel.fandom.com/wiki/Thor_Vol_4_2

https://pdsh.fandom.com/wiki/Dynamite_Thor

https://record-of-ragnarok.fandom.com/wiki/Thor?file=Thor.png

https://sandman.fandom.com/wiki/Thor