O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

terça-feira, 5 de março de 2019

Novos objetos religiosos são descobertos na Dinamarca


Novos objetos religiosos são descobertos na Dinamarca

Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE)
johnnilanger@yahoo.com.br

O Museu Thy acaba de divulgar recentes descobertas em escavações realizadas no mês de fevereiro de 2019, na vila de Kallerup (distrito de Thy, noroeste da Jutlândia, Dinamarca), todas remontando ao período da Idade do Bronze (aproximadamente 1000 a.C.). Entre as principais descobertas está um machado cerimonial de 30 centímetros, contendo uma espiral lateral, típica da arte deste período e muito comum em representações da arte rupestre escandinava. Também foram descobertas duas figuras de bronze: uma com um rosto masculino e um elmo com chifres (com um lado quebrado), e uma outra figura com o elmo chifrudo completo e dois rostos colados - esta absolutamente uma novidade na iconografia nórdica, recordando muito as representações do deus Janus na área mediterrânica. 

Machado de bronze, Kallerup, foto do Museu Thy.

Figura de bronze com elmo chifrudo, Kallerup, foto do Museu Thy.


Figura de bronze com dupla face, Kallerup, foto do Museu Thy.



A figura de bronze mais famosa representando um suposto deus gêmeo foi descoberta em 1780 em Grevensvænge (Zelândia, Dinamarca) e está atualmente em exibição no Museu Nacional em Copenhague (as figuras originais e completas foram perdidas, restando somente um desenho e uma figura em bronze fragmentada). Os pesquisadores dividem-se no sentido religioso das ditas figurações: muitos defendem que sejam representações dos gêmeos divinos, muito comuns na tradição indo-européia, filhos do deus celeste (Alcis para os Naharvali, germanos antigos. Em Tácito eles foram associados ao culto de Cástor e Pólux). 

Ilustração de Marcus Schnabel, 1779, representando as figuras originais descobertas na Dinamarca, algumas hoje perdidas ou fragmentadas. Fonte: wikipedia.


Figuras de bronze do dançarino e do guerreiro chifrudo, Museu Nacional da Dinamarca, julho de 2018, foto do autor.


Machados rituais da Idade do Bronze nórdica, Museu Nacional da Dinamarca, julho de 2018, foto do autor.



Eles podem estar envolvidos em representações de antigos dramas religiosos, visto que algumas destas figuras de bronze também são representadas em movimento (assim como várias cenas da arte rupestre). A tradição de elmos com chifres na Idade do Bronze era comum na Escandinávia, Ibéria e Sardenha, quase sempre relacionadas a simbolismos de dualidade. Outros pesquisadores associam a presença de representações de gêmeos como possíveis menções a androginia ou a presença de irmãos conjugados (deus e deusa, como nos pares Hengist/Horsa, Freyr/Freyja, ou ainda, a Nerthus/Njord). 

A presença de figuras idênticas também foi muito comum em elmos anglo-saxônicos e da escandinávia do período Vendel. Mas a maior aproximação iconográfica com a figura de bronze de dupla face descoberta em Kallerup é com a famosa pedra de Häggeby (U664), atualmente exposta no Museu Histórico de Estocolmo, mas sendo do período germânico e datada de 500 a.C. e representando um par de homens e cavalos, estes últimos se defrontando e com um chifre em forma de meia lua presos em suas cabeças. As figuras humanas tem dupla face e portam machados.

Pedra de Häggeby, Museu Histórico de Estocolmo. Fonte:  www.runesnruins.com



O Museu Thy anunciou que irá continuar com as pesquisas no local, buscando novas informações de contexto e novos objetos. As figuras e o machado serão expostos futuramente na instituição.


Referências:

BOYER, Régis. Dioscures. In: Héros et dieux du Nord. Paris: Flammarion, 1992, pp. 40.

OLDTIDENS ANSIGT: Faces of the past. The twin god with the axe. København: Det kongelige Nordiske, 1990, p. 66.

ZIMEK, Rudolf. Alcis. Dictionary of Northern Mythology. London: D.S. Brewer, 2007, p. 7.