O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

quinta-feira, 28 de março de 2019

Nova inscrição rúnica é descoberta na Dinamarca




NOVA INSCRIÇÃO RÚNICA É ENCONTRADA NA DINAMARCA

Prof. Dr. Johnni Langer (UFPB/NEVE)

Um pote cerâmico (possivelmente um copo) foi encontrado em Uglvig (Jutlândia, Dinamarca), com 3 runas ao fundo do recipiente, formando a palavra "Alu". O objeto foi datado como sendo da Idade do Ferro, entre 200 a 500 d.C., pertencente à classe intermediária (nesta época a aristocracia e as classes populares mesclavam-se em uma mesma área habitacional). É a primeira descoberta de um objeto cerâmico com runas na Dinamarca.




Fundo de copo cerâmico, Museu Nacional da Dinamarca


Os indícios apontam que o objeto foi moldado imitando os copos da Europa central e seu último uso foi como oferenda na casa de uma fazenda. A conexão entre embriaguez e runas geralmente foi interpretada como sendo típica da aristocracia germânica, mas essa descoberta evidencia que sua prática pode ter sido também popular.


A inscrição "Alu" é uma das mais controversas da runologia. Ela é encontrada em diversos objetos da Europa, desde anéis da Polônia a pedras rúnicas da Noruega ou bracteatas do período de migrações germânicas. Segundo Lisbeth Imer (Museu Nacional da Dinamarca) se a palavra da Idade do Ferro "ǫl" tivesse sobrevivido até a Idade Média, poderia ter evoluido para a palavra "øl" - o termo medieval para cerveja, o que levou alguns pesquisadores a acreditarem que se trata da palavra cerveja para os povos da Idade do Ferro. Segundo os etimologistas, a palavra também pode significar "poder", "proteção", "força". No caso do objeto encontrado, talvez os dois sentidos estejam conectados, segundo Imer: "muito poder com um copo de cerveja".


Broche de Værløse, Museu Nacional da Dinamarca.



Outro objeto encontrado na dinamarca e com quase a mesma datação, 200 d.C., possui também a palavra "Alu": trata-se do broche de Værløse, descoberto em 1944 em uma tumba feminina na ilha de Sjælland (Zelândia). A inscrição do objeto completa é: "Alugod" e é acompanhada da figura de uma suástica. Alguns runólogos interpretam a inscrição como sendo um nome próprio feminino, mas MACLEOD;MEESS 2006, p. 21 apontam a possibilidade de ser um "heiti" para o deus Wotan-Odin, com a finalidade de propiciar sorte ou saúde. Para MAREZ 2007, p. 121, a suástica deste objeto representaria saúde, enquanto para MACLEOD;MEESS 2006, p. 21 seria um símbolo sagrado e para propiciar sorte.

De nossa parte, aventamos a possibilidade da palavra "Alu" estar conectada diretamente com Wotan-Odin e o próprio símbolo da suástica está objetivamente relacionado com o culto desta deidade (surgindo em lanças, objetos militares germânicos antigos) e estando relacionado também a figuras de cornos de bebidas (como na pedra rúnica de Snoldelev, DR 248, Dinamarca da Era Viking, associando suástica com triskelion de cornos). Assim, um copo possivelmente utilizado para beber cerveja com a inscrição "Alu", ainda na Idade do Ferro, pode remeter diretamente à conexão de êxtase e sagrado relacionado aos rituais com bebidas e mitos do deus caolho.
 

Referências bibliográficas:






MACLEOD, Mindy & MEES, Bernard. Runic amulets and magic objects. London: Boydell, 2006.

MAREZ, Alain. Anthologie runique. Paris: Les Belles Lettres, 2007.