Johnni
Langer (UFPB/NEVE)
Os
vikings estão na moda: na tv, no cinema, na literatura e na internet. O sucesso
da figura do aventureiro nórdico também aparece na nona arte, mas não é uma
novidade, pois desde os seus primórdios as histórias em quadrinhos o elegeram como
um de seus principais paradigmas temáticos. A seguir concedemos algumas das
principais obras quadrinísticas que se dedicaram ao tema, dando ênfase as
publicadas em língua portuguesa. Não é uma listagem completa de toda a
produção até nossos dias.
1. Príncipe
Valente.
Um dos grandes clássicos da nona arte: desenho belíssimo,
sequências formidáveis e uma narrativa envolvente, criada pelo genial Hal
Foster em 1937. A série funde História Medieval com fantasia, deste modo,
personagens reais circulam entre seres fantásticos, paisagens fidedignas se
mesclam a seres como dragões e outras criaturas. Ao mesmo tempo em que são os
heróis (na figura do protagonista), também são vilões – foi uma das principais
propulsionadoras do estereótipo do guerreiro viking: com seus chifres e
equipamentos imaginários, beberrão, irreverente e intrépido. A fusão de personagens
e datas em um mesmo e anacrônico período também acabou sendo um modelo para o
cinema até os anos 1960: no início da alta Idade Média, vikings encontram-se
com o rei Artur em uma sociedade totalmente feudalizada. Recebeu várias versões
ao cinema, sendo a mais famosa a de 1954. O quadrinho foi tema de uma
dissertação de mestrado em História Comparada pela UFRJ: Entre luzes e trevas: o Príncipe Valente e as
representações políticas e civilizacionais nos quadrinhos, de autoria de Carlos Manoel
de Hollanda Cavalcanti (veja aqui).
2. Asterix
e os normandos.
Um
dos quadrinhos franceses mais famosos, o gaulês Asterix recebeu a visita dos
nórdicos em 1967, no álbum Asterix et les
Normans, com várias traduções brasileiras. Como em grande parte da coleção,
o humor, a ironia e o cômico histórico fazem parte desta narrativa, mas também
não faltam os estereótipos, presentes especialmente na figura do viking
portador de grande quantidade de crânios (para beber, para uso em amuletos,
etc). Recebeu uma adaptação cinematográfica em 2006, de grande sucesso. A
principal novidade do filme em relação ao quadrinho original foi a inclusão de
uma personagem feminina, Abba.
3. Os
vikings (coleção A descoberta do mundo).
Integrante
de uma famosa coleção francesa de 1981 (com nomes de peso como Hugo Pratt, Guido
Crepax, Sergio Toppi, Enrique Sió, Sergio Toppi, entre outros). O álbum e a
coleção como um todo, se diferencia pelo seu forte caráter histórico, uma espécie
de História Universal aos moldes da historiografia dos Annales em forma de
quadrinho. O álbum sobre vikings possuí duas narrativas: a primeira, Drakkars a
leste, reconstituí a trajetória dos nórdicos no mundo eslavo, com o maravilhoso
traço de Eduardo Coelho e argumento de Jean Ollivier. A segunda, Os reis do
mar, de José Bielsa e Jacques Bastian, descreve as expedições nórdicas no
Atlântico Norte, baseada especialmente nas sagas islandesas. O ponto alto desta
segunda historieta fica para a narrativa de Freydís Eiríksdóttir em Vinland, em
uma de suas melhores reconstituições visuais até nossos dias.
4. Thorgal
Sensacional
série criada em 1977 pela dupla francesa Rosinski e Van Hamme, fundindo
História Medieval com fantasia aos moldes do universo de Howard Carter e
algumas pitadas de ficção científica. O traço é muito colorido e as narrativas
envolventes, com personagens admiráveis e belas sequências. No Brasil foram
publicados os quatro primeiros álbuns (A feiticeira traída; Os três anciões do
país d´Aran; A galera negra; A ilha dos mares gelados, todos pela VHD). A série
atualmente conta com 34 álbuns, sendo o 35o. programado para ser lançado no final
do presente ano.
5. Tex:
A ilha misteriosa.
Curiosa
produção dos quadrinhos italianos (fumetti), publicada originalmente em 1980,
com o mais famoso personagem Tex. A premissa remete ao filme A ilha do topo do
mundo (produção Disney de 1974), onde um grupo de caubóis encontra uma
comunidade nórdica da Era Viking isolada e vivendo incólume como no medievo, em
pleno século XIX. O resultado é um tanto grotesco, onde os vikings são
representados como bárbaros primitivos e supersticiosos. Essa idéia de uma “cápsula
do tempo” fez muito sucesso na ficção televisiva e quadrinistica, resultando em
outros encontros espetaculares entre nórdicos e culturas e temporalidades diversificadas:
Tarzan e os vikings (animação para a tv, 1976); a terceira versão de Jonny Quest
(episódio: Alligators and Okeechobee Vikings, de 1996).
6. Desbravadores
Quadrinho
de 2006 criado por Laeta Kalogridis e Christopher Shy, com uma bela arte
sequencial, cores escuras e fortes e boas sequências de ação. A narrativa gira
em torno do encontro entre os indígenas norte-americanos e os nórdicos, estes
últimos vistos de forma negativa e esterotipada. O filme homônimo de 2007
conseguiu piorar visualmente ainda mais os vikings no imaginário coletivo,
sendo estes muito mais seres surgidos do mais profundo inferno cristão do que
colonos e exploradores do Novo Mundo...
7. Vinland
Saga
Série
de mangá japonês criado por Makoto Yukimura em 2005. As narrativas giram em
torno da colonização nórdica no Atlântico Norte, mas com resultados pouco
precisos. Equipamentos, cotidiano, contexto histórico e outros detalhes são
superficiais ou fantasiosos. De um ponto de vista artístico, a obra também é
muito inferior a outros quadrinhos japoneses de teor histórico, como a série
Lobo Solitário, de Koike e Gojima.
8. Northlanders
(Nórdicos)
Excelente série norte-americana criada por Brian
Wood em 2007, com diversos ilustradores e várias narrativas. Para uma visão
histórica detalhada da coleção traduzida no Brasil, ver a resenha inserida no
boletim Notícias Asgardianas n. 1, páginas 15-19 (clique aqui)Em especial, a história “Donzelas de escudo” recebeu um artigo analítico pela revista Roda da Fortuna (Guerreiras na Era Viking? clique aqui)
9. Hagar
Um dos quadrinhos cômicos mais famosos de todos
os tempos, criado por Dik Browne em 1973. Mais do que reconstituir os nórdicos
da Era Viking, a série ironiza o estilo de vida e a sociedade norte-americana,
com resultados formidáveis e fazendo muito sucesso até nossos dias. A série
recebeu uma dissertação de mestrado em História pela PUC-SP: O humor e a
crítica em Hagar, de Fabio Antonio Costa (clique aqui).