Ma. Luciana de Campos (PPGL-UFPB/NEVE/CEIA)
Nos
últimos tempos admitimos que definitivamente os vikings estão na moda. Série de
TV, Jogos de RPG, festas temáticas, publicidades variadas, “comidas vikings”,
uma profusão de marcas de hidromel mas, no meio disso há publicações, estudos e
pesquisas acessíveis ao grande público comprometidas com a pesquisa e a difusão
da História dos Escandinavos Medievais.
Mas,
o que realmente chama a atenção são as imagens contemporâneas que se aplicam
aos vikings que, definitivamente não faziam parte do seu cotidiano. Uma dessas
práticas que são atribuídas aos vikings está o veganismo. O termo “vegano” foi empregado pela primeira
vez em 1944 por Elsie Shrigley e Donal Watson e, a partir dessa data foi
ganhando cada vez mais adeptos pelo mundo todo. Na década de 1960 com a eclosão
do Movimento Hippie ganhou mais popularidade e mais adeptos e, atualmente é
reconhecido como uma dieta recomendada para pessoas que sofrem de doenças
degenerativas, diabetes e cardiopatias.
Mais do que uma dieta, o veganismo é um estilo de vida, pois além de não
serem consumidos nenhum tipo de alimento de origem animal aí também se incluem
usar roupas de fibras vegetais, remédios, cosméticos e produtos de limpeza que
foram produzidos sem nenhum tipo de sofrimento animal. Segundo os teóricos do
veganismo ser vegano é adotar uma vida de extremo respeito aos animais.
Nosso
objetivo aqui não é elaborar uma discussão sobre os benefícios do veganismo mas
sim abordar o crescente desconhecimento sobre o que é realmente é o veganismo,
onde e quando surgiu e tentar aplicá-los aos povos do passado como sendo essa
uma prática cotidiana comum a muitos povos desde o início dos tempos. O que
mais chama a atenção são afirmações distorcidas que circulam em blogs, sites,
perfis do Facebbok, convites para “festas medievais” brasileiras, a exemplo de
“Os Vikings foram os precursores do veganismo”!
Ao
nos depararmos com esse tipo de afirmação percebemos o quanto ainda os vikings
– mesmo estando tão na moda! – ainda são tão desconhecidos daqueles que se
autointitulam “os verdadeiros descendentes dos vikings” mesmo tendo nascido
nessas terras tropicais.
A
dieta dos nórdicos na Era Viking eram muito variada: consumiam carne suína,
bovina, caprina e ovina além de peixes – frescos e salgados – provenientes da
água doce e salgada, leite, manteiga e creme de leite além do skir uma espécie
de queijo fresco ainda muito consumido hoje, mel, utilizado como adoçante e
ingrediente principal do hidromel, ovos, legumes: cenouras, beterrabas, nabos,
cebolas, alho-poró, verduras como o espinafre e a urtiga, cogumelos e frutas:
amoras, framboesas, mirtilos, peras, pêssegos e maçãs. Também consumiam carnes
de caça e aves aquáticas. E, claro cereais: centeio, aveia, linhaça, cevada e
trigo que faziam pães e papas além da cerveja. O vinho, que somente os muito
ricos consumiam era importado do Mediterrâneo. Esses alimentos eram consumidos in natura durante a Primavera e o Verão
nos meses de frio intenso onde eram obrigados a ficar meses fechados em suas
casas consumiam basicamente todo o alimento que haviam estocado: peixes e
carnes seca e salgadas, cogumelos desidratados, frutas secas e quase nenhum
legume, verdura ou frutas frescas. O Inverno com o seu rigor trazia também o
fantasma da fome, pois a comida estocada podia não ser suficiente para todos e
o excesso de sal que consumiam nas carnes também eram prejudicial à saúde.
Enfim, viver na Escandinávia medieval era uma aventura difícil: assegurar a
sobrevivência era tarefa árdua!
De
pose de todas essas informações podemos concluir com certeza que os vikings em
hipótese alguma foram veganos! Concluímos isso não só pelas informações
referentes a deita dos escandinavos medievais, mas eles também usavam utensílios
confeccionados com ossos de animais, roupas de sapatos feitos com couro e lã de
ovelhas. A vida na Escandinávia dependia e muito dos produtos de origem animal
para assegurar a sobrevivência.
Afirmar
que os “vikings foram os primeiros veganos” é uma afirmação errônea que denota
um total desconhecimento do modo de vida não só dos nórdicos mas também de
outros povos como por exemplo os romanos que consumiam uma quantidade
significativa de vegetais e, nem por isso eram veganos! E uma leitura mais atenta
dessas publicações no mundo virtual nos apresentam também outras ideias equivocadas
como, por exemplo: “Quem não aceita o fato dos vikings serem veganos são os
mesmos que não acreditam que as mulheres lutavam lado a lado dos homens nos
campos de batalha”, ou “O verdadeiro hidromel é feito sem mel”! Essas afirmações
que circulam com muita facilidade e são transmitidas para um sem número de
pessoas que são crédulas e por desconhecimento, por falta de material para
estudo ou até mesmo pelo fato de terem lido algo falacioso sobre os vikings, já
se consideram especialistas no assunto e acreditam deter todo conhecimento
sobre eles, sem aceitar o fato de que é necessário estar constantemente
estudando e se atualizando, pois o aprendizado nunca termina!
Bibliografia sobre alimentação na Era Viking: acesse aqui.