O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

sexta-feira, 10 de julho de 2015

ERAM OS VIKINGS VEGANOS?


Ma. Luciana de Campos (PPGL-UFPB/NEVE/CEIA)

Nos últimos tempos admitimos que definitivamente os vikings estão na moda. Série de TV, Jogos de RPG, festas temáticas, publicidades variadas, “comidas vikings”, uma profusão de marcas de hidromel mas, no meio disso há publicações, estudos e pesquisas acessíveis ao grande público comprometidas com a pesquisa e a difusão da História dos Escandinavos Medievais.

Mas, o que realmente chama a atenção são as imagens contemporâneas que se aplicam aos vikings que, definitivamente não faziam parte do seu cotidiano. Uma dessas práticas que são atribuídas aos vikings está o veganismo.  O termo “vegano” foi empregado pela primeira vez em 1944 por Elsie Shrigley e Donal Watson e, a partir dessa data foi ganhando cada vez mais adeptos pelo mundo todo. Na década de 1960 com a eclosão do Movimento Hippie ganhou mais popularidade e mais adeptos e, atualmente é reconhecido como uma dieta recomendada para pessoas que sofrem de doenças degenerativas, diabetes e cardiopatias.  Mais do que uma dieta, o veganismo é um estilo de vida, pois além de não serem consumidos nenhum tipo de alimento de origem animal aí também se incluem usar roupas de fibras vegetais, remédios, cosméticos e produtos de limpeza que foram produzidos sem nenhum tipo de sofrimento animal. Segundo os teóricos do veganismo ser vegano é adotar uma vida de extremo respeito aos animais.


Nosso objetivo aqui não é elaborar uma discussão sobre os benefícios do veganismo mas sim abordar o crescente desconhecimento sobre o que é realmente é o veganismo, onde e quando surgiu e tentar aplicá-los aos povos do passado como sendo essa uma prática cotidiana comum a muitos povos desde o início dos tempos. O que mais chama a atenção são afirmações distorcidas que circulam em blogs, sites, perfis do Facebbok, convites para “festas medievais” brasileiras, a exemplo de “Os Vikings foram os precursores do veganismo”!

Ao nos depararmos com esse tipo de afirmação percebemos o quanto ainda os vikings – mesmo estando tão na moda! – ainda são tão desconhecidos daqueles que se autointitulam “os verdadeiros descendentes dos vikings” mesmo tendo nascido nessas terras tropicais.

A dieta dos nórdicos na Era Viking eram muito variada: consumiam carne suína, bovina, caprina e ovina além de peixes – frescos e salgados – provenientes da água doce e salgada, leite, manteiga e creme de leite além do skir uma espécie de queijo fresco ainda muito consumido hoje, mel, utilizado como adoçante e ingrediente principal do hidromel, ovos, legumes: cenouras, beterrabas, nabos, cebolas, alho-poró, verduras como o espinafre e a urtiga, cogumelos e frutas: amoras, framboesas, mirtilos, peras, pêssegos e maçãs. Também consumiam carnes de caça e aves aquáticas. E, claro cereais: centeio, aveia, linhaça, cevada e trigo que faziam pães e papas além da cerveja. O vinho, que somente os muito ricos consumiam era importado do Mediterrâneo. Esses alimentos eram consumidos in natura durante a Primavera e o Verão nos meses de frio intenso onde eram obrigados a ficar meses fechados em suas casas consumiam basicamente todo o alimento que haviam estocado: peixes e carnes seca e salgadas, cogumelos desidratados, frutas secas e quase nenhum legume, verdura ou frutas frescas. O Inverno com o seu rigor trazia também o fantasma da fome, pois a comida estocada podia não ser suficiente para todos e o excesso de sal que consumiam nas carnes também eram prejudicial à saúde. Enfim, viver na Escandinávia medieval era uma aventura difícil: assegurar a sobrevivência era tarefa árdua!

De pose de todas essas informações podemos concluir com certeza que os vikings em hipótese alguma foram veganos! Concluímos isso não só pelas informações referentes a deita dos escandinavos medievais, mas eles também usavam utensílios confeccionados com ossos de animais, roupas de sapatos feitos com couro e lã de ovelhas. A vida na Escandinávia dependia e muito dos produtos de origem animal para assegurar a sobrevivência.
Afirmar que os “vikings foram os primeiros veganos” é uma afirmação errônea que denota um total desconhecimento do modo de vida não só dos nórdicos mas também de outros povos como por exemplo os romanos que consumiam uma quantidade significativa de vegetais e, nem por isso eram veganos! E uma leitura mais atenta dessas publicações no mundo virtual nos apresentam também outras ideias equivocadas como, por exemplo: “Quem não aceita o fato dos vikings serem veganos são os mesmos que não acreditam que as mulheres lutavam lado a lado dos homens nos campos de batalha”, ou “O verdadeiro hidromel é feito sem mel”! Essas afirmações que circulam com muita facilidade e são transmitidas para um sem número de pessoas que são crédulas e por desconhecimento, por falta de material para estudo ou até mesmo pelo fato de terem lido algo falacioso sobre os vikings, já se consideram especialistas no assunto e acreditam deter todo conhecimento sobre eles, sem aceitar o fato de que é necessário estar constantemente estudando e se atualizando, pois o aprendizado nunca termina!
 Infelizmente essas ideias ainda serão muito propagadas e muitos acreditarão que os antigos nórdicos eram veganos e viviam em total e irrestrita harmonia com a natureza e respeito aos animais. Basta sabermos que para sobreviver ao rigor dos invernos nórdicos eram necessário muitas roupas feitas com peles e penas de animais e que a gordura animal era vital para o cotidiano.

 Bibliografia sobre alimentação na Era Viking: acesse aqui.