A sagas islandesas constituem um dos maiores patrimônios literários advindos do Medievo. Após o seu imenso sucesso receptivo com o advento do Romantismo, as sagas tornaram-se uma das principais fontes para a modernidade pensar modelos e referenciais para o nórdico e a Era Viking. Esta presente seleção tem como principal intuito auxiliar na divulgação das sagas para o público brasileiro. A seleção foi baseada em alguns critérios: a sua tradução para a língua portuguesa; a importância história e receptiva de cada saga para o Ocidente; a qualidade literária de cada saga dentro dos referenciais do próprio selecionador. Para as edições, nos concentramos somente nas traduções ao português, inglês, espanhol e francês, que possuem maior interesse e acesso pelos brasileiros. Os títulos ao português e outras neolatinas variam, conforme os critérios dos tradutores. Para uma introdução ao estudo das sagas islandesas clique aqui.
1. A saga de Njál
A saga de Njál é uma das mais famosas Íslendingasögur (comumente conhecidas como sagas de famílias ou de islandeses). Teodoro Antón a considera a mais extensa e complexa das Íslendingasögur. Ela foi traduzida integralmente do nórdico antigo ao português pelo pesquisador Théo de Borba Moosburger em sua tese de doutorado pela UFSC. Em 2021 ela foi transformada em livro. Anteriormente, no ano de 1986 (mas publicada em 2003 pela editora Siruela) o escandinavista Enrique Bernardez realizou uma grandiosa tradução desta saga, incluindo vários mapas geográficos que auxiliam o leitor na identificação das cenas e situações do enredo. Também vale a menção à tradução ao inglês pela dupla Magnus Magnusson e Hermann Pálsson (editora Penguin).
2. A saga dos groelandeses/3. A saga de Eirikr vermelho
As duas sagas do Atlântico Norte são as principais da obra Três sagas islandesas, traduzidas por Théo de Borbsa Moosburger e publicado pela editora da UFPR em 2007. Elas narram a trajetória de alguns dos personagens mais famosos da literatura nórdica medieval: Erik, o vermelho, seu filho Leif Erikson e a sua intrépida filha Freydis. Estes dois últimos tenderão a ser ainda mais populares com a estreia da série Vikings: Valhalla. Uma popular tradução ao inglês (também pela dupla Magnusson e Pálsson) é The Vinland Sagas.
4. A saga dos Volsungos
Certamente a mais conhecida saga islandesa publicada no Brasil, devido à popular tradução de Théo de Borba Moosburger pela Editora Hedra. Também constitui uma das sagas lendárias (ou dos tempos antigos, fornaldarsögur) mais célebres. Foi a que recebeu a maior quantidade de estudos acadêmicos, em vários níveis, realizados em nosso país até hoje. A narrativa de Sigurd foi muito importante para a sociedade nórdica antiga, refletida em inúmeras representações visuais no Medievo. A Völsunga saga também é extremamente relevante pela sua recepção artística, desde as inúmeras recriações literárias até as pinturas românticas, passando é claro pelas óperas wagnerianas. A saga também recebeu uma estupenda tradução na França, realizada pelo maior escandinavista francês de todos os tempos, Régis Boyer.
5. A saga de Hervör
A saga de Hervör é maravilhosa, seja por se tratar de uma das poucas sagas com protagonistas femininos, seja pela sua narrativa forte, trágica e heroica. A tradução de Mariano Gonzales Campo ao espanhol é primorosa, mas também a de Régis Boyer ao francês vale a menção.
6. A saga do povo de Eyr
Tradicional saga de família, onde a narrativa é repleta de conflitos e disputas entre personagens rivais. É de se destacar a importância que esta saga concede às práticas mágicas antigas e o papel da völva, sempre dentro de um referencial cristão e literário. A tradução de Maria Álvarez e Teodoro Antón é muito competente e inclui uma introdução de Else Mundal. A coleção de sagas da Penguin também incluiu uma tradução de Pálsson e Edwards.
7. A saga do Vale dos Salmões
Segundo o historiador Guðbrandur Vigfússon, a Laxdœla saga seria a segunda melhor saga, só ficando atrás da saga de Njál. A principal trama é centrada pelas figuras de Guðrún Ósvífursdóttir, Kjartan Ólafsson e Bolli Þorleiksson, formando um triângulo amoroso (um referencial talvez influenciado pelo continente). Geralmente os pesquisadores consideram a alta qualidade literária desta saga, a sua trama muito consistente, bem como uma minuciosa descrição dos personagens. Apesar de muitos anacronismos referentes aos equipamentos e cultura material, bem como discrepâncias em genealogias, vários historiadores consideram que alguns acontecimentos importantes narrados nesta obra foram históricos.
8. A saga dos Ynglingos
A saga dos Ynglingos se tornou muito famosa pela inclusão de informações sobre deidades (especialmente Odin) e também por aquela que talvez seja a sua mais famosa passagem - a referente aos berserkir. A edição ao espanhol de Santiago Ibañez Lluch é acompanhada de um longo e primoroso prefácio (comum em várias edições de literatura medieval nórdica realizada por espanhóis). Também vale a citação da obra completa Heimskringla (da qual a Ynglinga saga se inclui originalmente, logo no início da magistral obra de Snorri Sturlusson) traduzida ao inglês por Lee M. Hollander.
9. A saga de Egil Skallagrimsson
A minha saga de família (ou dos islandeses) preferida. Egil é o maior protótipo do nórdico antigo em todos os seus aspectos: Viking, aventureiro, comerciante, herói, fazendeiro. O momento da morte dos filhos e da interferência de sua filha Þorgerðr - e a consequente criação do poema Sonatorrek, é uma das passagens mais belas da prosa e poesia medieval. A tradução de Enrique Bernardez ao espanhol é maravilhosa, mas também a tradução ao inglês da dupla Hermann Pálsson e Paul Edwards deve ser conhecida.
LANGER, Johnni. História e sociedade nas sagas islandesas. Aletheia, 2009.
VENÂNCIO, Yuri Fabri. Sonatorrek. In: LANGER, Johnni (Ed.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2018.