Ferdinand
Leeke, A valquíria, pintura em óleo, s.d.
Prof. Dr. Johnni
Langer (UFPB/NEVE)
Hoje,
dia 7 de abril, completam-se 161 anos do nascimento de Ferdinand Leeke, o
genial pintor responsável por popularizar as óperas de Richard Wagner, além de
executar várias obras que também disseminaram muito o imaginário sobre a
mitologia germânica e os Vikings.
Leeke
nasceu em Burg (Magdeburgo) em 1859 e morreu em Nurembergue em 1937. Estudou na
Academia de Belas Artes de Munique. Em 1889-1898 ele foi comissionado por
Siegfried Wagner (filho do famoso compositor) para realizar dez pinturas sobre
o Anel do Nibelungo. As obras foram reproduzidas pelo então
revolucionário processo de reprodução fotográfica de Franz Hanfstaengel,
gerando uma grande popularidade destas imagens até o início do século XX. Lembramos
que os libretos de óperas durante o Oitocentos não continham imagens, algo que
só veio a ocorrer (no caso wagneriano) com o ilustrador Arthur Rackham em 1910
(na Inglaterra).
Leeke
se torna o artista alemão mais famoso vinculado à representações visuais do
ciclo nibelungiano, levando em 2016 o Museu Richard Wagner (Bayreuth, Alemanha,
a “meca” dos wagnerianos) a realizar uma grande exposição sobre suas obras.
Além
das óperas wagnerianas, as pinturas de Leeke tiveram como tema a Mitologia
Germânica, o folclore e a História da Alemanha, a literatura arturiana, a Mitologia
clássica, temas e mitos medievais, o cotidiano e a vida dos germanos antigos e
também cenas relacionadas aos Vikings.
Primeiramente,
comentaremos de forma breve algumas obras envolvendo o Anel do Nibelungo e
depois suas telas com temática nórdica.
Wotan
e Brunhilde, 1889 a 1898;
Siegfried
e Fafnir, 1889 a 1898;
Valquírias,
1889 a 1898.
As
pinturas de Leeke reproduzem um visual criado primeiramente por Carl Emil
Doepler ainda nas primeiras apresentações das óperas de Wagner do ciclo
nibelungiano, nos anos 1870: elmos com grandes asas laterais, escudos de metal,
placas de armadura e detalhes anelares (influenciados pelas descobertas de
objetos da Idade do Bronze, mesclados fantasiosamente com o período da Idade do
Ferro). Tanto os elmos com asas (surgidos na arte escandinava em 1830) quanto o
elmo com chifres (surgido na arte alemão em 1852) sugeriam uma liderança de
alguns heróis germano-escandinavos (como Frithiof ou Arminius) quanto do poder
de deuses (como Tyr). Mas na obra wagneriana, eles são genericamente
incorporados aos deuses e valquírias. O tema das guerreiras ocupa uma posição
central na obra de Leeke: ele executou várias pinturas de Wotan junto a
Brunhilde, com fortes cores e intensa tragicidade romântica. Outro tema também
muito retratado por este artista é Siegfried, geralmente opondo-se ao dragão,
com vestimentas grosseiras e em ambiente primitivo (uma ideia geralmente
associada aos germanos antigos), expressando o poder ancestral dos tempos
passados.
Uma invasão viking, 1908 (pintura a óleo).
A
pintura mais famosa de Leeke retratando vikings. A exemplo de diversas imagens
depois dos anos 1880, a embarcação nórdica possui detalhes bem fidedignos,
devido à descoberta do navio Gokstad em 1880 e de Oseberg em 1903. Os nórdicos
aqui foram representados nas formas clássicas dos estereótipos relacionados aos
Vikings no Oitocentos (em sua forma negativa): piratas predadores, queimando,
roubando e estuprando. O detalhe da abdução/estupro é o mais relevante: três
mulheres são capturadas e uma delas aparece em primeiro plano. O estereótipo
fantasioso do estupro (ver Langer, 2017a) foi popularizado anteriormente na
arte pelo francês Évariste Vital Luminais em seu famoso quadro Pirates
Normandes (1894). Outro detalhe muito interessante de observar neste quadro
é a ausência de asas ou chifres laterais nos elmos (algo que Leeke havia inserido
em suas pinturas nibelungianas). Neste caso, o pintor preferiu seguir a
tendência dos pintores escandinavos em geral, que dos anos 1850 a 1900 seguiram
esta tendência de elmos sem protuberâncias, ficando para os pintores ingleses e
norte-americanos a continuidade do famoso estereótipo dos chifres.
Vikings saqueando, 1911.
Nesta
pintura, menos conhecida e reproduzida que a anterior, Leeke retorna ao tema
dos nórdicos saqueando e abduzindo mulheres – novamente, com cabelos escuros e vestimentas
brancas, destacando-as na tela. Também a embarcação volta a ser um dos elementos
principais da pintura.
Germanos bebendo debaixo de um carvalho,
1920.
Germanos (Vikings?) jogando dados,
1925.
Ferdinand
Leek também realizou várias pinturas retratando cenas cotidianas dos antigos
germanos, especialmente bebendo cornos de hidromel (ou cerveja) abaixo de
carvalhos. Como em suas representações de Siegfried, os germanos são retratados
com vestimentas grosseiras e peles animais – sugerindo uma idéia de
primitivismo, mas também, de um povo festivo e idílico – sugerindo uma conexão
com os tempos modernos da Alemanha. Uma curiosidade é que esta última pintura,
em sites alemães especializados em arte, ela tanto é denominada como sendo de
germanos (Germanen beim Würfelspiel) quando de Vikings (Ein Wikinger Spiel). Não
conseguimos saber qual realmente é o título original, mas em todo caso indica
que a tela pode ter sofrido alguma influência do pangermanismo oitocentista –
onde as fronteiras culturais entre os germanos antigos e os Vikings eram muito
tênues, sobrevivente na época em que a pintura foi realizada ou após a morte de
Leeke, pelos sites especializados. Um tema para futuros pesquisadores em recepção
nórdica na arte.
Bibliografia:
CÓRDOBA, Daniel Salinas. Vikings nas artes
plásticas. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da
Era Viking. São Paulo: Hedra, 2017.
LANGER, Johnni. Estupro. In: LANGER,
Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São
Paulo: Hedra, 2017a.
LANGER, Johnni. Viking. In: LANGER, Johnni
(Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo:
Hedra, 2017b.
Sites: