Recriando a cerâmica da Era Viking: uma atividade em Arqueologia experimental.
Nos
últimos vinte anos foi crescente o número de pesquisadores que se dedicaram a
desenvolver atividades em diversos centros de estudos que envolvem a Arqueologia
experimental. Essas atividades muitas vezes contam com a colaboração de leigos
que, mesmo não estando ligados a nenhum centro de pesquisa envolvem-se nos
experimentos graças ao contato estreito com os pesquisadores, leituras de
publicações e estudos da área, proporcionando assim uma interatividade onde
todos os envolvidos são beneficiados.
Em
Dublin (Irlanda), no campus da University College Dublin há a o Centro de
Arqueologia Experimental e Cultura Material da Escola de Arqueologia que se
dedica à pesquisa experimental tanto no ensino de graduação como de pós-graduação.
No espaço do campus universitário são reconstituídos não só elementos da
cultura material da Idade do Bronze e do Ferro (incluindo a Era Viking) tais
como copos, pontas de lanças, mas também casas, utensílios agrícolas e até
pequenos campos arados. O espaço é dirigido pelo PhD Aidan O’Sullivan e conta
com a colaboração de outros pesquisadores como a Dra. Aoife Daly (Universidade de Copenhagen, Dinamarca), uma das maiores referências mundiais em dendrocronologia.
Além de contar com a colaboração de pesquisadores renomados, o Centro de Arqueologia Experimental da UCD mantém parceiras com o grupo recriacionista escandinavo “Hands on History” e um dos seus integrantes é um mestre egresso do programa de pós-graduação em Arqueologia experimental.Incentivando a parceira entre pesquisadores e entusiastas o Centro procura mostrar como a Aqueologia experimental é uma ferramenta útil para o processo ensino-aprendizado de crianças e jovens em idade escolar e, também é importante para a divulgação das pesquisas, abrindo suas portas para todos os interessados, mostrando que o conhecimento é para
todos, sem distinções - como infelizmente ainda podemos observar em alguns centros
de pesquisas do Brasil, que se fecham para os interessados mas que não possuem vínculos ou títulos acadêmicos.
Uma
experiência com a Arqueologia experimental que se concentrou na reconstituição
de potes e utensílios da Era Viking foi realizada no início de junho em uma
propriedade em Nuanda, no estado de Nova York e foi conduzida por arqueólogos
experimentais amadores que contando com a sua experiência, anos de estudo e o
apoio de pesquisadores conseguiram com sucesso, reconstituir peças cerâmicas da
Era Viking.
Utilizando
materiais semelhantes aos que eram usados na Era Viking, como madeira, palha e
estrume, Andrea Glass, Thorsol Solinauga, e Gail Hope Kellog trabalharam durantes alguns dias confeccionando
as peças em argila, pratos, copos e terrinas e, depois aplicaram resina vegetal
em casa uma antes de leva-las para a queima. Para o forno que abrigaria as
peças, foi aberta uma cova que foi forrada com madeira e selada com argila para
reter ainda mais o calor. No “leito” da cova foi espalhado o carvão e o estrume
e, logo depois foi colocada a lenha e as peças foram cuidadosamente cheias com
palha e madeira e foram justapostas e, depois cobertas com mais madeira a fim
de que o calor do fogo queimassem cada peça por todos os lados. O fogo eram
constantemente alimentado para que a temperatura se mantivesse a mesma por
muitas horas a fim de que todas as peças fossem cozidas. O processo de queima
levou mais de doze horas e, assim que o fogo deixou de ser alimentado as brasas
foram esfriadas naturalmente e foram mais dois dias para isso pois se a
temperatura fosse baixada com qualquer tipo de resfriamento artificial as peças
se quebrariam.
Um
vídeo de vinte e cinco minutos foi feito sobre essa experiência bem sucedida de
reconstituição de cerâmica da Era Viking mostrando que leigos quando estão em
parceria séria e comprometida com acadêmicos igualmente sérios conseguem
reproduzir os mais variados artefatos, utilizando técnicas e materiais que são
semelhantes àqueles utilizados na Era Viking.
Este
experimento mostra que atividades como a Arqueologia experimental pode fazer
parte de uma nova proposta de Educação museológica, onde a teoria e a prática
estão aliadas e concede espaço e visibilidade aos recconstrucionistas sérios e
comprometidos que trabalham para que a pesquisa científica desenvolvida em
laboratórios e universidades extrapolem seus muros e se tornem, cada dia mais
presentes no cotidiano de todos.
Vídeo: Viking Pottery Pit Firing
Site do grupo recriacionista Hands on History.