JÓL (Verbete do Dicionário de Mitologia Nórdica)
Festival
pagão comemorado durante o solstício de inverno na Escandinávia. Segundo Rudolf
Simek, a coincidência temporal do festival fez com que os nomes para o mês de
dezembro e janeiro fossem semelhantes: fruma
jiuleis (gótico do século IV; giuli,
anglo-saxão do século VIII) e também semelhantes ao nórdico antigo ýlir (em dinamarquês e em nórdico antigo
jól; em sueco jul; em anglo-saxão geohol).
Para
Régis Boyer os ritos cerimoniais envolvem a imolação de animais engordados para
esse fim, oferecidos para as divindades da fertilidade-fecundidade, as dises ou
aos elfos. O Jól nesse sentido também é denominado dísablot ou álfablót. O rito
durava treze dias e era de importância fundamental para as regiões nórdicas
durante o inverno – particularmente rude e longo, onde a vida deveria ser
simbolicamente renovada. O Jól foi recuperado pelo cristianismo e substituído
por Noël. A árvore de natal contemporânea remonta ao julgran nórdico (sueco: pinheiro do jul; norueguês: juletre), cuja origem seria a arvore
cósmica de Yggdrasill, símbolo da vida e da fecundidade. Na tradição natalina,
os bodes remeteriam a Thor, a árvore a Odin, o varrão a Freyr. James Frazer
pontuou a celebrações envolvendo o sacrifício do varrão durante o solstício.
Ainda segundo Boyer, outras reminiscências sugerem que o Jól foi uma grande
festa sacrificial dos mortos ou do clã: teria sido o momento da passagem da
horda selvagem de Odin. O banquete que tradicionalmente se executa nesta
ocasião era destinado a criar laços entre os vivos e os mortos. Também neste
momento seria celebrado o célebre til árs
ok fridar (para um ano fecundo e para a paz, segundo o Gulathingslog 7), que fazia parte das prerrogativas do rei nórdico.
Para
o referencial de Rudolf Simek, o festival de Jól era essencialmente religioso e
com um caráter de sacrifício para a fertilidade. Mas também Odin seria
associado com o Jól, tendo o epíteto de Jólnir. Ainda segundo este pesquisador
alemão, a associação entre culto aos mortos e veneração aos ancestrais durante
o Jól é incerta, talvez provinda de sacrifícios do inverno durante a Idade do
Bronze europeia.
As
fontes islandesas cristãs descrevem o Yule pagão no referencial das celebrações
cristãs que eles conheciam. Especialmente nas sagas, o Jól seria uma época para
a atividade dos draugar. O draugr é
um morto vivo que adquire vida após ter sido enterrado em um monte funerário e
é um tema comum nas sagas islandesas (Eyrbyggja
saga 63; Grettis saga 35). Para
se conseguir sua morte definitiva, seria necessário o corte de sua cabeça e a
queima do corpo. Por outro lado, as conexões com a caçada selvagem de Odin são
relatadas no folclore. E o fato da bebedeira de Jól ser sinônimo para a celebração
da festa, demonstra sua ligação com o antigo beber sacrificial. Em Snorri
Sturluson o festival pagão é entendido completamente como o sacrifício de
solstício de inverno, que contém a festa comunal. De outro lado, algumas fontes
nórdicas não generalizam o Jól como uma festa comunal (e é neste referencial
que Thomas DuBois o descreve, como um ritual limitado a certa família e alguns
membros selecionados, presidido por uma mulher).
Terry
Gunnel aponta a relação entre a palavra leikr
(dramatização, ritual, jogos) com a época do Jól e em especial, com um
ritual dedicado ao deus Freyr (Freys
leikr, que também é um kenning para batalha na Ragnar saga Loðbrókar). Se de um lado temos o deus Freyr conectado
à fertilidade e a guerra, o termo leikr também pode ser aplicado ao ritual, a
atividade dramática e a jogos de crianças. Durante o Jól acontecem vários tipos
de jogos (incluindo a glíma e o knattleir). James Frazer ainda recorda
as celebrações envolvendo grandes festivais do fogo durante o Jól, sobrevivendo
até os tempos modernos.
Johnni
Langer
Ver
também: Álfablót; Berserkir; Blót; Caçada selvagem; Paganismo nórdico.
Referências Bibliográficas:
BOYER, Régis. Jól: solstice d'hiver au
grand Nord. Louvain 64,
1995, pp. 27-30.
FRAZER, James. The midwinter fire. The
golden bough. New York: Dover, 2002, pp. 461-462, 636.
GUNNELL, Terry. Ritual leikar and drama. The Origins of Drama in
Scandinavia. Cambridge: D. S. Brewer, 1995, pp. 24-36.
SIMEK, Rudolf. Yule. Dictionary of Northern Mythology. London:
D.S. Brewer, 2007, pp. 379-380.
FONTE: DICIONÁRIO DE MITOLOGIA NÓRDICA: SÍMBOLOS, MITOS E RITOS. SÃO PAULO: HEDRA, 2015.