O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Jól: o solstício de inverno nórdico


 
JÓL (Verbete do Dicionário de Mitologia Nórdica)

Festival pagão comemorado durante o solstício de inverno na Escandinávia. Segundo Rudolf Simek, a coincidência temporal do festival fez com que os nomes para o mês de dezembro e janeiro fossem semelhantes: fruma jiuleis (gótico do século IV; giuli, anglo-saxão do século VIII) e também semelhantes ao nórdico antigo ýlir (em dinamarquês e em nórdico antigo jól; em sueco jul; em anglo-saxão geohol).

Para Régis Boyer os ritos cerimoniais envolvem a imolação de animais engordados para esse fim, oferecidos para as divindades da fertilidade-fecundidade, as dises ou aos elfos. O Jól nesse sentido também é denominado dísablot ou álfablót. O rito durava treze dias e era de importância fundamental para as regiões nórdicas durante o inverno – particularmente rude e longo, onde a vida deveria ser simbolicamente renovada. O Jól foi recuperado pelo cristianismo e substituído por Noël. A árvore de natal contemporânea remonta ao julgran nórdico (sueco: pinheiro do jul; norueguês: juletre), cuja origem seria a arvore cósmica de Yggdrasill, símbolo da vida e da fecundidade. Na tradição natalina, os bodes remeteriam a Thor, a árvore a Odin, o varrão a Freyr. James Frazer pontuou a celebrações envolvendo o sacrifício do varrão durante o solstício. Ainda segundo Boyer, outras reminiscências sugerem que o Jól foi uma grande festa sacrificial dos mortos ou do clã: teria sido o momento da passagem da horda selvagem de Odin. O banquete que tradicionalmente se executa nesta ocasião era destinado a criar laços entre os vivos e os mortos. Também neste momento seria celebrado o célebre til árs ok fridar (para um ano fecundo e para a paz, segundo o Gulathingslog 7), que fazia parte das prerrogativas do rei nórdico.
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Para o referencial de Rudolf Simek, o festival de Jól era essencialmente religioso e com um caráter de sacrifício para a fertilidade. Mas também Odin seria associado com o Jól, tendo o epíteto de Jólnir. Ainda segundo este pesquisador alemão, a associação entre culto aos mortos e veneração aos ancestrais durante o Jól é incerta, talvez provinda de sacrifícios do inverno durante a Idade do Bronze europeia.

As fontes islandesas cristãs descrevem o Yule pagão no referencial das celebrações cristãs que eles conheciam. Especialmente nas sagas, o Jól seria uma época para a atividade dos draugar. O draugr é um morto vivo que adquire vida após ter sido enterrado em um monte funerário e é um tema comum nas sagas islandesas (Eyrbyggja saga 63; Grettis saga 35). Para se conseguir sua morte definitiva, seria necessário o corte de sua cabeça e a queima do corpo. Por outro lado, as conexões com a caçada selvagem de Odin são relatadas no folclore. E o fato da bebedeira de Jól ser sinônimo para a celebração da festa, demonstra sua ligação com o antigo beber sacrificial. Em Snorri Sturluson o festival pagão é entendido completamente como o sacrifício de solstício de inverno, que contém a festa comunal. De outro lado, algumas fontes nórdicas não generalizam o Jól como uma festa comunal (e é neste referencial que Thomas DuBois o descreve, como um ritual limitado a certa família e alguns membros selecionados, presidido por uma mulher).

Terry Gunnel aponta a relação entre a palavra leikr (dramatização, ritual, jogos) com a época do Jól e em especial, com um ritual dedicado ao deus Freyr (Freys leikr, que também é um kenning para batalha na Ragnar saga Loðbrókar). Se de um lado temos o deus Freyr conectado à fertilidade e a guerra, o termo leikr também pode ser aplicado ao ritual, a atividade dramática e a jogos de crianças. Durante o Jól acontecem vários tipos de jogos (incluindo a glíma e o knattleir). James Frazer ainda recorda as celebrações envolvendo grandes festivais do fogo durante o Jól, sobrevivendo até os tempos modernos.

Johnni Langer

Ver também: Álfablót; Berserkir; Blót; Caçada selvagem; Paganismo nórdico.

Referências Bibliográficas:

BOYER, Régis. Jól: solstice d'hiver au grand Nord. Louvain 64, 1995, pp. 27-30.

FRAZER, James. The midwinter fire. The golden bough. New York: Dover, 2002, pp. 461-462, 636.

GUNNELL, Terry. Ritual leikar and drama. The Origins of Drama in Scandinavia. Cambridge: D. S. Brewer, 1995, pp. 24-36.

SIMEK, Rudolf. Yule. Dictionary of Northern Mythology. London: D.S. Brewer, 2007, pp. 379-380.

 
FONTE: DICIONÁRIO DE MITOLOGIA NÓRDICA: SÍMBOLOS, MITOS E RITOS. SÃO PAULO: HEDRA, 2015.