O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

Os trolls nos filmes

Prof. Dr. Leandro Vilar Oliveira


Introdução: o que são os trolls?

A origem dos trolls é incerta, mas remontaria a falta de conhecimento sobre a natureza. Logo, sons estranhos à noite, advindos de florestas, campos, cavernas e montanhas, somados a visão de animais como ursos, alces e lobos em momentos de baixa visibilidade, facilmente eram interpretados como sendo monstros.

Como salientou Umberto Eco (2007) em História da Feiura, uma das características mais básicas dos monstros era de serem horrendos e possuir aspectos e comportamentos animalescos. Assim, entre diferentes povos do mundo, existem uma diversidade de monstros que são animais ou seres híbridos. Por conta disso, os trolls serem descritos como criaturas feias, horrendas, animalescas, sendo brutos e sem racionalidade. Todavia, nem sempre os trolls tiveram essa descrição física.

Nas Eddas, as duas principais fontes da mitologia nórdica, consistindo em livros redigidos na Islândia do século XIII, a palavra troll aparece em alguns momentos, sendo empregada como sinônimo de gigante (jötun, thurs), por sua vez, trollesa (trollkona) designa a sua fêmea. Sendo assim, o troll que aparece na Edda Poética ou na Edda em Prosa, seria um gigante, logo, ele não teria uma aparência animalesca, já que os gigantes nos mitos nórdicos tinham a forma humana. Por outro lado, os gigantes não necessariamente eram grandes, podendo ter o tamanho humano. Eles sabiam falar, usavam roupas, viviam em casas ou cavernas, tinham família, criavam animais de fazenda, produziam armas, viviam em comunidades. Alguns gigantes e gigantas sabiam usar alguns tipos de magia. (LINDOW, 2015).

Porém, quando foi que o troll se tornou aquilo que hoje estamos mais familiarizados? Rudolf Simek (1993) salienta que foi em algum momento da Baixa Idade Média, possivelmente entre os séculos XIII e XV, época em que o folclore escandinavo ganhava mais contornos, alguns inclusive antagônicos, pois com a consolidação do cristianismo na Escandinávia, as antigas crenças pagãs foram marginalizadas e demonizadas. Assim, os espíritos da natureza se tornaram demônios, o que evidentemente incluiu os gigantes, que por aquela época passaram a serem mais conhecidos como trolls, palavra que designaria “criatura”, “monstruosidade”, “demônio” etc.

Mas à medida que os trolls eram depreciados pela nova mentalidade religiosa dominante, eles se tornaram criaturas menos humanas em aparência e comportamento, passando a serem como dito anteriormente, seres cada vez mais horrendos e animalescos, além de personificarem elementos negativos como o medo, a violência, a destruição e a morte. Assim, chegamos a concepção mais comum que ainda temos hoje de trolls como seres horrendos e cruéis. Entretanto, o folclore não é estático. Ele vai se moldando com o tempo e o lugar, já que muito de suas narrativas eram de tradição oral, pelo fato de não estarem fixadas, isso ajudava a sua maleabilidade para serem reinventadas. (JAKOBSSON, 1998).

No entanto, nem sempre os trolls foram descritos como seres horrendos e selvagens. Algumas sagas lendárias, as quais possuem teor fantástico, redigidas entre os séculos XIV e XV, nos apresentam outras versões de trolls. Um exemplo é a Saga de Grim Bochecha Peluda (Gríms saga loðinkinna), datada do século XIV, na qual Grim confronta trolls numa baía remota no norte do mundo, situada entre a Finlândia e a Rússia. Nesta saga os trolls são grandes e horrendos, mas não são tolos, sendo espertos, inclusive sabem usar magia. Além disso também somos apresentados a horrendas irmãs trollesas. (LARRINGTON, 2017).

Não obstante, quando adentramos a Idade Moderna e o folclore vai se expandindo para mais tarde servir de base para os contos de fadas, nos deparamos com outros tipos de trolls e suas características também vão se alterando. Nos contos de fadas os trolls surgem ora como criaturas totalmente cruéis e desprovidas de razão, mas também como seres tolos, bobos e ardilosos. Por outro lado, nos contos de fadas do século XIX, época do nacionalismo e do romantismo, temos narrativas que apresentam trolls e trollesas sendo belos e conseguindo assumir a aparência humana, embora não conseguissem ocultar sua cauda. Assim, uma pessoa com cauda era considerada um troll. Além disso, temos trolls bondosos, trabalhadores, aliados dos humanos etc. Características bem distintas da versão tradicional de seres grotescos e agressivos. (LINDOW, 2015).

E essas características múltiplas sobre os trolls, desenvolvidas da Idade Média ao século XIX, foram adaptadas para os filmes. A respeito, Andrea Caselli escreveu como o cinema ajudou a difundir temas folclóricos e mitológicos salientando que:

“Os gêneros que compõem o folclore são o fantástico e o maravilhoso. Estes sempre tiveram grande espaço no audiovisual devido ao poder de encantamento que despertam no imaginário do espectador. A literatura e o audiovisual são artes que dialogam de forma complementar, principalmente quando são feitas adaptações dos livros para as telas. Para tanto, há inúmeros agenciamentos e financiamentos possíveis, que podem determinar o que o filme vai abordar ou não. O que se delineia nas adaptações dos contos noruegueses para o audiovisual pode ser elencado em três principais aspectos: • A continuidade da tradição; • A intersecção entre as temporalidades e as espacialidades; • A criação de novas narrativas com o mesmo tema. Ao abordarem os contos com todos os seus elementos folclóricos, os filmes promovem a valorização da tradição nacional, como também o conhecimento desta a nível internacional; constituindo-se em uma forma de divulgação cultural muito rápida e eficaz. A relação entre tempo e espaço se dá através da releitura dos contos em um espaço internacional, de fácil alcance do espectador (cinema, serviços de streaming, internet, entre outros); além de serem inseridas ideias e costumes em uso no período de produção do filme (ideias sobre ecologia, feminismo, política, entre outras)”. (GOMES, 2021, p. 188).

Assim, a seguir dividimos em três seções representações de trolls em filmes de terror, desenhos animados, filmes de fantasia e aventura, perfazendo um levantamento de produções audiovisuais da década de 1960 até recentemente o ano de 2025. O que revela como o interesse por trolls ainda persiste ao longo das décadas.

 

Trolls mágicos e traiçoeiros

O primeiro filme de terror sobre trolls, segundo o extenso catálogo de Kenneth Muir (2010), é Olhos de Gato (Cat’s Eye - 1985), produção baseada em contos de Stephen King, dirigido por Lewis Teague (que dirigiu obras de gêneros diversos, incluindo filmes de terror) e contando com roteiro do próprio King. O filme é dividido em três pequenas narrativas que não se conectam, exceto a condição de que um gato está presente nas três. Todavia, o que nos interessa é o terceiro ato em que o gato General chega na casa de uma família de classe média em Wilmington, sendo adotado pela pequena Amanda (Drew Barrymore).

A mãe de Amanda não gosta da ideia de ter um gato em casa, pois ela cria um pássaro e teme que o felino coma o animal. Então ela coloca o gato para dormir fora de casa. Durante à noite, um misterioso pequeno troll surge de uma fenda na parede do quarto de Amanda e tenta roubar a alma dela, sugando-a pela boca. Porém, o gato percebe o monstrinho e faz barulho, impedindo-o de concretizar seu ato. Porém, na noite seguinte o ardiloso troll mata o pássaro no intuito e culpar o gato, isso leva a família a expulsar novamente o felino, levando-o para mais longe. Todavia, General consegue voltar para casa e confronta o troll que tentava novamente sugar a alma da menina.


Figura 1: O troll do filme Olhos de Gato (1985).

Neste filme o troll é uma criatura bastante pequena, tendo o tamanho de um gnomo. Inclusive ele foi feito como um boneco e animatrônico. O monstrinho possui aspecto horripilante e pequenos olhos vermelhos. Suas expressões transpassam crueldade. Ele utiliza uma roupa de bobo da corte (reflexo do humor em filmes de terror dos anos 80 e 90) e porta uma adaga, com a qual mata o pássaro e tenta matar o gato General.

Esse troll possui algum tipo de magia, pois consegue sugar almas, embora use uma adaga como arma de ataque e defesa. Além disso, a criatura é traiçoeira, pois arquiteta um plano para se livrar do gato.

No entanto, o filme de terror mais expressivo envolvendo um troll como salientado por Muir (2010) consiste na urban fantasy trash Troll: o mundo do espanto (Troll - 1986), filme estadunidense dirigido e roteirizado por John Carl Buechler, especialista em efeitos especiais para filmes de terror, além de ter participado e dirigido filmes B de terror e fantasia. O filme é produto direto daquela década em que filmes de terror, aventura e fantasia estavam em alta. Sendo influenciados por produções de terror como Poltergeist (1982), Gremlins (1984) e o próprio Olhos de Gato (1985), as quais mostram tramas sinistras que afligem uma típica família americana branca de classe média, que é assolada por algum mal.

Além disso, os filmes possuem seus clichês como: crianças possuídas, adolescentes babacas, família em crise, mulher sensual, cena de nudez rápida, humor ácido, bizarrices etc. Ademais, nota-se influência no uso de atores com nanismo para interpretar criaturas pequenas, algo visto em filmes não de terror, mas de aventura como como E.T (1982), O Cristal Encantado (1982) e A história sem fim (1984). Inclusive o visual do troll parece ter influenciado os anões do filme Labirinto: a magia do tempo (1986), em que os anões têm aparência envelhecida e feia.

Mas voltando para o filme Troll (1986), a trama ocorre num bairro de San Francisco, onde a menina Wendy Potter é atacada por um pequeno troll chamado Torok, inclusive a criatura foi interpretada por um ator com nanismo. O troll em questão possui um anel mágico, que permite se transformar nos humanos, no caso, ele assume a aparência de Wendy, passando a enganar a família dela. Aproveitando-se disso, o troll também transforma outras pessoas em plantas, goblins, ninfas e elfos.

A narrativa se complica quando a bruxa Eunice St. Clair aparece e começa a contatar os Potter, levando Harry Potter Jr (ironicamente o nome do famoso bruxo da franquia de J. K. Rowling) a se unir a ela, para caçar o troll Torok, que planeja se vingar da bruxa e transformar o mundo humano numa terra dos contos de fadas, mesmo que significasse matar algumas pessoas neste processo.

Figura 2: O troll Torok do filme Troll (1986).

Nesse filme observa-se que o troll em questão é um ser pequeno e feio, com aparência animalesca e envelhecida, características encontradas no folclore escandinavo. Todavia, não se trata de um troll bobo, mas ele é esperto, pois consegue enganar vários humanos, somente sendo desmascarado pela bruxa Eunice. Outra característica interessante é a condição desse troll usar magia, algo visto no folclore, e também ter a capacidade de se transformar em humano, pois como salientado anteriormente, alguns trolls conseguiam assumir a aparência humana.

Anos depois foi lançado Trolls 2 (1990), dirigido por Claudio Fragasso, um diretor italiano especializado em filmes B de terror. Originalmente o filme foi intitulado Goblins, mas por motivos de comercialização foi renomeado para Troll e vendido como sendo uma continuação indireta do filme de 1986. Embora na prática não tenha conexão alguma. (COLLIS, 2010).

Em Trolls 2 ao invés de apenas um monstro, temos vários deles, os quais também invadem uma região dos Estados Unidos, agora sendo a zona rural de Nilbog. Assim, como a produção anterior, ambas carregam a estética de filmes de terror dos anos 80 com seus clichês e alguns momentos de humor.

Figura 3: Cena do filme Trolls 2 (1990).

Neste filme, Michael Watts é advertido pelo fantasma de seu avô que a família Presents esconde um terrível segredo, eles não são humanos, mas trolls disfarçados, os quais sob comando da feiticeira Creedence Leonore Gielgud, pretende transformar os humanos em plantas, para servirem de alimentos aos trolls, pois eles são vegetarianos. Michael e seu primo Joshua tentam alertar a população de Nilbog do plano dos trolls, mas alguns humanos estão sendo controlados pela feiticeira ou são trolls disfarçados.

Assim como na produção anterior, os trolls são criaturas pequenas, grotescas, violentas, mas sabem usar magia, podendo se transformar em humanos. Todavia, diferente do filme anterior em que os efeitos especiais eram bem melhores, em Trolls 2, as criaturas aparecem usando roupas para compensar o baixo orçamento com maquiagem.

Todavia, esse visual influenciou outra obra, o filme de fantasia A busca pela espada poderosa (Quest for the Mighty Sword - 1990), que ganhou distintos títulos em alguns países como Ator III: The Hobgoblin, L'Épée du Saint-Graal e Troll 3 na Alemanha. Toda essa confusão se deve por conta de o filme ter sido dirigido pelo diretor italiano Joe D’Amato, o qual havia trabalhado nos filmes anteriores da franquia Ator. Além disso, um dos vilões é um hobgoblin (duende macabro em tradução para o português), também referido como troll. (KINNARD; CRNKOVICH, 2017).

O filme Em busca da espada poderosa tem narrativa baseada no enredo da Saga dos Volsungos, em que Ator equivale a Sigurd, sua esposa Dejanira seria Brunhilde, por sua vez, o troll Thorn corresponde ao anão Rigen. Neste caso, o troll Thorn é retratado como um ser pequeno, usando uma roupa esfarrapada, ele tem um aspecto grotesco, mas sabe falar, além de ter habilidades de ferreiro e com magia, já que forjou uma espada mágica para Ator. No entanto, ele é traiçoeiro e vem a enganar o herói.

 

Figura 4: O troll Thorn no filme Em busca pela espada poderosa (1990).

A condição de Thorn ser ora referido como hobgoblin ou troll se deve ao fato de que as máscaras usadas no filme Troll 2 (1990), foram reutilizadas para se fazer esse filme, por conta disso, os trolls terem a mesma aparência nos dois filmes e isso levou a ele ser chamado de “Troll 3” em alguns países, apesar que o filme não tenha nenhuma conexão com os outros dois. (COLLIS, 2010).

 

Trolls bobos e fofinhos

Embora os trolls sejam retratados como ameaças em vários filmes, mas nem sempre isso acontece. Em produções voltadas para o público infantil, há trolls bonzinhos, além dos trolls malvados. Aqui escolhemos alguns filmes mais relevantes entre várias produções existentes.

A primeira que comentaremos trata-se de filmes infantis noruegueses usando a técnica do stop-motion, consistindo em adaptações dos contos de Asbjørnsen e Moe (importantes contistas noruegueses), intitulados O sétimo pai da casa (Sjuend far i huset - 1966) e O menino que correu contra troll (Gutten som kappåt med trollet – 1967), ambos os filmes foram dirigidos por Ivo Caprino e apresentam trolls grandes, mas em aspecto humano, parecendo muito mais gigantes do que a visão o senso comum que temos de trolls. Por sua vez, os trolls nessas narrativas são serem bondosos e sábios (GOMES, 2021).

Figura 5: Askelladen e o troll no filme de 1967.

Já no filme animado Valhalla (1968), adaptação da história em quadrinhos homônima, criada pelo desenhista dinamarquês Peter Madsen, somos apresentados a uma trama baseada em mitos da mitologia nórdica. O desenho possui uma série de personagens entre deuses, humanos, gigantes e monstros, mas o que destacaremos aqui é o pequeno troll Quark, que é retratado como a aparência humanoide, se parecendo com um garoto gorducho que possui duas presas invertidas. Quarke nas hqs de Valhalla é um dos alívios cômicos dessas revistas, sendo amigo dos irmãos Tjalfe e Roskva, participando de algumas das aventuras deles e até na presença de Thor e Loki.

Figura 6: O troll Quark no filme Valhalla (1986).

Quark é um troll com aparência humana, exceto suas duas presas. Ele não possui cauda. Ele é descrito como sendo meigo, brincalhão, um pouco covarde e as vezes traquina, além de ser comilão. Nota-se uma representação de troll bem diferente de outras versões vistas neste texto, ou que habitualmente estamos acostumados a pensar quando ouvimos a palavra troll. No entanto, essas características foram reaproveitadas em outras animações como veremos adiante.

Na animação natalina O pequeno príncipe troll (1987), produzido pelo renomado estúdio Hanna-Barbera (famoso por várias franquias de sucesso como Tom & Jerry, Scooby-Doo, Os Flintstones, Os Jetsons etc.), a trama apresenta o príncipe Bu, o qual se parece com um gnomo, condição essa que algumas crianças o confundem com essa criatura. Todavia, ele não é totalmente igual a um gnomo pela condição de possuir uma cauda (novamente a referência as lendas em que os trolls não conseguiam ocultar suas caudas).

Figura 7: Cenas do filme O pequeno príncipe troll (1987).

Ademais, a trama por ser um especial natalino exibido na TV americana, possui todo um discurso religioso voltado para o público infantil, incentivando a bondade, a caridade e os ensinamentos cristãos. No filme é dito que os trolls vivem nas montanhas, detestam o cristianismo e são ateus e malvados. O Natal é proibido entre eles, porém, Bu é um troll diferente, sendo mais gentil e bondoso. Isso irrita seu pai, irmãos e o povo, pois Bu é o herdeiro direto ao trono, sendo inconcebível nas leis dos trolls existir um troll bondoso e cristão. Em meio a esse dilema que envolve perseguição e intolerância religiosa. Ressalva-se que o filme possui influência do livro O Pequeno Príncipe (1943), tanto no título, quanto no comportamento de Bu.

Um aspecto a ser salientado é a condição de Bu ser um troll pequenino como um gnomo, além de ter uma aparência humanoide e fofinha. Além disso, ele também é meigo e ingênuo. Por sua vez, sua família e povo são representados como trolls maiores, com diferentes aparências e feios, pois expressa a ideia de que os trolls malvados são feios e até grotescos em alguns casos, enquanto trolls bons são bonitos e fofos.

Essa percepção foi mantida no filme seguinte, intitulado Um duende no parque (1994), cujo título original é A troll in Central Park. Por conta a palavra troll evocar uma criatura perigosa, na época os responsáveis pela comercialização e tradução do filme no Brasil, decidiram mudar o título e a identidade do troll Stanley, tornando-o em um duende. O filme foi dirigido por Don Bluth, um produtor independente nos anos 1980 e 1990 de filmes animados, tendo lançado sucessos na época, tendo trabalhado até com Steven Spielberg.

No filme, o troll Stanley é bonzinho, tem um aspecto humanoide, sendo pequeno, gorducho e fofinho, parecido com o Quark de Valhalla (1986). Ele possui o poder do “dedo verde”, o qual faz as plantas crescerem, porém, a rainha Gnorga e os demais trolls detestam a natureza. Então Gnorga bane Stanley do reino dos trolls e ele vai parar no Central Park em Nova York, onde conhece os irmãos Gus e Rosie, se tornando amigos deles.

Figura 8: Cartaz do filme.

Mas diferente de Stanley, Gnorga e os outros trolls são representados como sendo feios e mais monstruosos, além de serem brutos e atrapalhados, já que o desenho tem um viés cômico, logo, todos os trolls são representados como sendo seres bobos. Essa tendência de abobalhar os trolls se tornou comum em produções animadas até recentemente.

No filme Frozen: Uma aventura congelante (2013), grande sucesso do estúdio Walt Disney, temos trolls pequenos, fofinhos e engraçados, os quais aparecem principalmente durante uma cena musical, na qual eles cantam para Anna e Kristoff.

Figura 9: Os trolls no filme Frozen (2013).

Como visto pela imagem anterior, os trolls do filme Frozen são seres bem pequenos, atarracados, cinzentos, possuem grandes orelhas e narizes, características citadas em algumas narrativas folclóricas sobre trolls. Além disso, eles possuem fisionomia bem parecida, fato esse que machos e fêmeas pouco se distinguem. Por fim, tais trolls são retratados como seres bons e inofensivos.

Já o filme Os Boxtrolls (2014) é uma adaptação do livro Aqui há monstros! (Here be Monsters - 2006) de Alan Snow, cuja narrativa apresenta o órfão Eggs que vive com os boxtrolls, os quais são trolls que se escondem nos esgotos da cidade de Cheesebridge, pois eles são temidos e odiados, considerados monstros cruéis que sequestram e devoram crianças. Essa percepção negativa inclusive é baseada no folclore, em que alguns trolls eram referidos como sendo bichos-papões de crianças. (MARTÍN ALEGRE, 2021).

Figura 10: Eggs e os boxtrolls.

Todavia, nesta história, os trolls são seres bons e mal compreendidos pela sociedade, por conta disso, Eggs e seus amigos tentam mostrar a verdade para o povo de Cheesebridge. Mas enquanto isso não acontece, os boxtrolls, os quais se escondem em caixas de papelão, continuam a serem caçados e odiados. A versão deste filme apresenta os trolls como seres pequenos, cinzentos, estranhos e fisicamente bem parecidos entre si. Eles são gentis, fracos e bobos. Embora tenham perdido o aspecto de serem fofos.

Na animação Trolls (2016), desenvolvida pelo estúdio DreamWorks, dos mesmos criadores da franquia Shrek, somos apresentados a trolls coloridos e fofinhos, já que esse desenho é bem mais infantilizado do que o filme de 1994, além de que o visual desses trolls foi baseado num tipo de boneco popular na década de 1960, o troll doll. Esse boneco foi inventado pelo artesão e designer dinamarquês Thomas Dam (1915-1989), o qual em meados dos anos 50, confeccionou um boneco de troll com cabelo espetado e colorido, baseado em algumas ilustrações de contos de fadas. Após vender os direitos para empresas americanas, o boneco virou um sucesso. (MARTÍN ALEGRE, 2021).

Figura 11: Exemplos de bonecas trolls produzidas por Thomas Dam na década de 1960. O visual das bonecas inspirou a franquia Trolls da DreamWorks.

De qualquer forma, neste filme existem algumas diferenças: os trolls bonzinhos são coloridos, estranhos e pequenos como se fossem gnomos, por sua vez, os trolls malvados são maiores, mais feios e cinzas. Isso ajuda o público infantil a distinguir quem são os mocinhos e vilões na narrativa. Ademais, neste filme, os trolls vivem em seu próprio mundo fantástico, não tendo contato com os humanos. (MARTÍN ALEGRE, 2021).

Figura 12: Os trolls coloridos do filme Trolls (2016).

A ideia da DreamWorks de transformar monstros do folclore escandinavo em serem carismáticos e adoráveis para crianças e vender brinquedos, deu certo. Se Shrek é uma sátira aos contos de fadas, podemos dizer que a franquia Trolls também tem seu lado não satírico, mas de paródia a tais monstros. E a ideia deu certo, pois o filme ganhou continuações com Trolls 2 (2020) e Trolls 3: Juntos Novamente (2023), além de especiais natalinos e duas séries animadas.

Outro filme animado é Trolls: Uma aventura mágica (2018), uma produção norueguesa-dinamarquesa, dirigida por Kevin Munroe, que possui alguns trabalhos com filmes animados. Neste filme somos apresentados a um mundo fantástico em que o jovem príncipe troll Trym reúne seus amigos para ir resgatar seu pai, o rei Grom.

Figura 13: Os trolls do filme Trolls: Uma aventura mágica (2016).

O filme apresenta os trolls com aspecto bem humano, a principal diferença é a condição de eles terem rabo, presas e quatro dedos nas mãos e pés. Como salientado anteriormente, em algumas lendas diziam que os trolls que se transformar em humanos, somente não eram totalmente idênticos, pois não conseguiam ocultar suas caudas.

Além dessas características, o filme também mostra um troll com duas cabeças, algo visto em algumas lendas. Mas embora a maior parte dos trolls sejam pequenos nesse filme, existem alguns trolls maiores e mais monstruosos. Mas no geral por se tratar de uma animação infantil, repete-se a tendência de se apresentar trolls como bons, atrapalhados e bobos. Embora existam os trolls que hajam como vilões.

“Personagens reconfortantes ou ameaçadores, os trolls até se converteram em bonecos divertidos, de tão ampla que é a força de sua magia selvagem e natural. E, embora sejam onipresentes na atualidade, durante séculos ficaram sob a proteção da paisagem escandinava. Eles eram seres culturais de um ambiente pré-industrial e não globalizado, mas seu grande poder mágico de mudar de forma os fez evoluir para ilustrações no mercado nórdico de livros e depois para o teatro, o cinema e mais além. Desde então, eles nunca mais foram embora e, sob suas várias formas, continuam a estimular a imaginação ao redor do mundo”. (GOMES, 2021, p. 186).

 

 Trolls gigantes e brutos

Se nas produções cinematográficas anteriores vimos trolls pequenos, sendo bem menores do que humanos, nos próximos filmes eles são maiores e até mesmo gigantescos, além de terem uma aparência mais baseada nas versões horríveis vistas nas lendas.

O primeiro filme também uma animação, tratando-se da adaptação de O Hobbit (1977), baseado no clássico livro juvenil de J. R. R. Tolkien. Na trama a companhia de Bilbo Bolseiro foi capturada à noite por três trolls, os quais pretendiam comer ele, os anões e os cavalos.

Figura 14: Os trolls do desenho de O Hobbit (1978).

Nesta animação, os trolls são retratados como grandes, feios, tendo cabeças com focinhos. A aparência desses trolls foi baseada em algumas pinturas do pintor e ilustrador sueco John Bauer (1882-1918), o qual possui algumas obras retratando contos de fadas escandinavos, em que se ver trolls com longos cabelos, usando trajes rústicos, possuindo aspecto humanoide e narizes enormes. Pois características desproporcionais nos trolls como orelhas, narizes, bocas e dentes, são citadas em relatos desde a Idade Média.

Figura 15: Desenho de trolls por John Bauer, 1915, para um livro infantil.

Por sua vez, em O Hobbit, os trolls devoram pessoas, animais e outras raças da Terra-Média. Ou seja, são criaturas cruéis. Ademais, os trolls neste desenho usam roupas e sabem falar. Todavia, eles são vulneráveis à luz solar, pois se tornam estátuas se forem iluminadas por ela.

Outra obra de fantasia famosa e já do século XXI é Harry Potter e a Pedra Filosofal (2001), baseada no livro homônimo de J. K. Rowling. Em um momento a narrativa a bruxa Hermione Granger é atacada por um trasgo (tradução oficial em português para troll nessa franquia) no banheiro, quando Harry Potter e Rony Weasley surgem para resgatá-la. A cena é uma das mais famosas no primeiro filme.

Figura 16: O trasgo (troll) atacando Harry Potter.

No filme de Harry Potter e a Pedra Filosofal, o troll é representado como uma criatura grande, tendo mais de três metros de altura, bastante forte, usando uma roupa rústica e um porrete como arma. O troll tem a aparência feia, porém, sua face lembra uma criatura boba, condição essa que no filme e no livro é informado que os trolls apesar de serem monstros grandes, eram criaturas pouco inteligentes, somente recebendo ordens básicas e alguns não sabiam falar as línguas humanas.

Todavia, nos jogos mais recentes da franquia Harry Potter, os trolls aparecem com um visual diferente, sendo mais brutos e com aspecto de malvadez. Condição essa vista em outro filme famoso de fantasia, no caso, O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001). Na adaptação do famoso livro de J. R. R. Tolkien, temos a aparição de um troll da caverna que ataca a Sociedade do Anel durante sua travessia pelos salões rochosos de Minas de Moria. Ali, o troll procura por Frodo Bolseiro, que tinha se tornado o portador do Um Anel.

Figura 17: Um troll procurando por Frodo em cena de O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel (2001).

Na trilogia de O Senhor dos Anéis aparecem distintos tipos de trolls, cuja aparência muda ligeiramente, se eles habitam montanhas, cavernas, florestas e a neve. No geral, são criaturas grandes e corpulentas, bastante fortes, brutas, não falam e são pouco inteligentes. Diferente dos orcs que possuem mais inteligência do que eles. Os trolls também são usados como armas de guerra no exército de Sauron e seus aliados, especialmente os Olog-hai, criados para servirem como tropas especiais. Esses trolls usam diferentes tipos de armas e armaduras, além de serem maiores um pouco mais inteligentes, embora não falem.

Todavia, dentro da Terra-Média existiam trolls que falavam e que também eram vulneráveis a luz solar. Enquanto os trolls criados por Sauron não seriam petrificados, os trolls vistos na narrativa de O Hobbit (1937), ainda eram vulneráveis a luz do sol. Isso perceptível no filme animado de 1977 e no live-action de O Hobbit: Uma jornada inesperada (2012), em que a companhia de Bilbo Bolseiro foi capturada à noite por três trolls.

 

Figura 18: Os trolls no filme O Hobbit: Uma jornada inesperada (2012).

Por se passar cerca de 60 anos antes dos acontecimentos de O Senhor dos Anéis, ainda haviam trolls na Terra-Média que eram vulneráveis a luz solar, como o caso dos trolls Tom, Bert e William, os quais Bilbo, os anões e Gandalf encontraram em sua jornada. O mago cinzento para conseguir resgatar o grupo, enganou os trolls, ganhando tempo até que o dia amanhecesse e as criaturas fossem transformadas em pedra. Essa condição de trolls serem petrificados com a luz do sol era algo ausente nos filmes anteriores, mas é retomado nas próximas produções que veremos.

Mas deixando as adaptações de famosos livros de fantasia, passemos para produções norueguesas ambientadas no tempo presente. O primeiro filme é O Caçador de Troll (2011), dirigido e roteirizado por André Øvredal, o qual fez alguns filmes B de terror e suspense. Neste filme, os trolls são considerados apenas lendas, mas um grupo de amigos que investigavam o sumiço de ursos, descobrem que os trolls estavam caçando-os.

Os amigos se unem ao caçador Hans em sua missão de caçar os últimos trolls. Na trama é dito que os trolls possuem diferentes tamanhos, mas geralmente são maiores do que os humanos, são monstruosos e feios (alguns possuem duas ou três cabeças), não falam e temem a luz solar, pois se tornam pedra. Porém, o filme traz uma novidade: os trolls odeiam cristãos, fato esse que o caçador Hans diz que eles conseguem sentir o cheiro de “sangue cristão”. Isso se deve a condição de que no passado os cristãos caçaram os trolls quase extinguindo-os.

Figura 19: O troll gigante do filme O Caçador de Troll (2010).

Outra produção norueguesa sobre trolls, mas voltada para um viés de fantasia é o filme O Rei da Montanha (Askeladden: I Dovregubbens hall – 2017), dirigido por Mikkel Brænne Sandemose, diretor de filmes de alguns filmes de fantasia. No caso, O Rei da Montanha é uma adaptação do conto folclórico de Askeladden, mas diferente do filme infantil de 1967, em que o troll era um ser bonzinho, nesta versão ele é gigantesco e selvagem, tendo um aspecto rochoso, parecido com o do filme anterior.

Askeladden - I Dovregubbens hall” conta a história de Espen Ash Lad, filho de um pobre agricultor, que embarca em uma missão perigosa com seus irmãos para salvar a princesa de um vilão conhecido como o Rei da Montanha (o troll). O objetivo é ganhar uma recompensa e salvar a fazenda da sua família da ruína. O filme apresenta a família original apresentada nos contos, com os dois irmãos de Askeladden e a casa de madeira no campo. Porém, no filme, a princesa não foi sequestrada, mas ela fugiu de casa para não casar e também para não ser entregue ao rei da montanha. O filme apresenta uma estética e uma inspiração artística muito aproximada e inspirada nos ilustradores do século XIX, principalmente Kittelsen. O troll do filme, a paisagem, as aparências dos personagens e a arquitetura foram inspiradas na obra dele. Fica perceptível que os produtores do filme objetivaram um resgate do material folclórico e nacionalista do século XIX, através da nova linguagem digital e dos efeitos especiais cinematográficos. (GOMES, 2021, p. 192).


 Figura 20: Detalhe do cartaz do filme O Rei da Montanha (2017).

O cinema norueguês nos últimos vinte anos vem se notabilizando em produções diversas, sejam filmes e séries de aventura, fantasia, policial, suspense, drama, terror, romance, comédia etc. Por conta disso, temos somente desses país quatro filmes sobre trolls. Dois deles foram apresentados anteriormente, cada um seguindo estilo diferente: o primeiro ambientado nos tempos atuais, mostrando trolls monstruosos numa produção ligeiramente sombria; o segundo tratando-se de um filme de fantasia medieval. Todavia, os demais filmes que foram abordados, seguiram a estética de O Caçador de Troll (2010).

Influenciado pela estética e algumas ideias do filme de 2010, o filme Troll da Montanha (2022), lançado exclusivamente na Netflix, apresenta um troll gigantesco que até então estava hibernando, mas ao ser despertado inicia uma onda de destruição em busca de vingança. Na trama do filme os trolls eram tratados apenas como lendas, monstros do folclore e dos contos de fadas, porém, algumas pessoas acreditavam que fossem criaturas reais como o Professor Tidemann e sua filha Nora. Condição essa que ela se torna consultora na operação de combater o Troll chamado de Rei da Montanha, o qual está assolando a cidade de Oslo.

Assim, Nora explica que os trolls são personificações da natureza, por conta disso, possuírem uma pele rochosa e com vegetação crescendo nela. Não obstante, eles se tornam pedra ao serem afetados diretamente pela luz solar, podendo até mesmo se queimar com ela. Ademais, os trolls odeiam o cristianismo, pois os cristãos medievais os caçaram, por conta disso, eles não suportam o barulho dos sinos das igrejas, o que os deixa enfurecidos.

Neste filme o troll é uma criatura monstruosa, mas com traços humanoides. Ele possui pele rochosa, cauda, cabelos e barba, os quais são verdes por serem feitos de vegetação. O troll é uma criatura terrível e não fala, apenas urra e rosna. Embora tais características já tenham sido apresentadas no filme O Caçador de Trolls (2010), a principal novidade em Troll da Montanha (2022) é a influência de filmes recentes de monstros gigantes como a franquia Godzilla. (CASELLI, 2022).

 Condição essa que no filme o troll é gigantesco, possuindo mais de 50 metros de altura e destrói parte da cidade de Oslo. E essa influência de filmes de monstros gigantes é mais perceptível em Troll da Montanha 2 (2025), em que dois troll gigantes lutam entre si. O próprio cartaz do filme é uma referência aos recentes filmes de Godzilla vs King Kong.

Figura 21: Comparação dos cartazes dos filmes Troll da Montanha 2 (2025) e de Gozilla vs Kong (2021).

Já em Troll da Montanha 2 (2025) mais algumas condições sobre o passado dos trolls noruegueses são apresentadas. A trama narra que na época do rei Olavo II (995-1030), que mais tarde se tornou Santo Olavo, ele iniciou uma caça aos trolls no país, levando-os quase à beira da extinção. Por conta disso, os trolls passaram a odiar o Cristianismo. Dessa forma, o segundo filme aprofunda um pouco mais essa percepção dos trolls na Idade Média, tidos como criaturas monstruosas e perigosas.

Conclusões

Nessa breve análise sobre filmes apresentando trolls, indo da década de 1960 até 2025, percebe-se como os trolls foram adaptados de diferentes formas, havendo o uso de várias ideias contidas nas lendas e nos contos folclóricos. Assim, temos trolls pequenos que são confundidos com goblins, duendes e gnomos, por sua vez, vimos trolls gigantes, alguns do tamanho de uma árvore pequena, outros mais altos do que alguns prédios. Encontramos também trolls ardilosos, que sabem usar magia, outros são bastante bobos, com pouco nível de intelectualidade, sendo mais selvagens e nem falam.

Também temos trolls retratados de diferentes formas, desde os mais horrendos, alguns com chifres, cascos e duas ou três cabeças, passando por trolls com uma fisionomia humanoide ou realmente humana. Além das versões de trolls fofinhos e coloridos, baseada nas bonecas trolls. Essa tendência de trolls pequenos, bobos e as vezes fofos, se propagou bastante nos filmes animados dirigidos ao público infantil, algo visto em produções dos anos 1960 até recentemente.  A qual revela que nas produções infantis, os trolls normalmente não são vilões ou ameaças, e isso quando ocorre, os trolls malvados são mais feios. Além disso, nesses filmes, as tramas ocorrem em mundos fantásticos, exceto o filme O duende no parque (1994), no qual se passa em parte em Nova York.

Por sua vez, trolls em filmes de terror e fantasia entre os anos de 1985 e 1990, eram representados como criaturas grotescas, pequenas, traiçoeiras e cruéis. Seja o troll ladrão de almas no filme Olhos de Gato (1985), passando por Torok e seu anel mágico e plano vingativo em Troll 1 (1986), a invasão os trolls (goblins) em Troll 2 (1990) e o traiçoeiro Thorn no filme Em busca da espada poderosa (1990). Nesses quatro filmes os trolls são vilanescos e representados de forma horrenda, enfatizando a característica malvada que eles possuem no folclore.

Não obstante, os trolls gigantes apareceram inicialmente em obras de fantasia, sendo adaptações de importantes livros como O Hobbit, O Senhor dos Anéis e Harry Potter e a Pedra Filosofal, além da adaptação de contos do Askelalden. Porém, temos produções de trolls gigantes ambientadas na Noruega do século XXI, algo visto em três filmes, dois mais recentes, os quais exploram a atual fase do cinema norueguês.

“O historiador Tommy Gustafsson (2015, p. 06-14), em sua pesquisa sobre filmes nórdicos, elucida que os cineastas dos países escandinavos costumam fazer suas produções com temas culturais e sociais das suas próprias localidades, a exemplo dos filmes de terror sobre o inverno sueco ou das séries adolescentes norueguesas que abordam o cotidiano dos imigrantes de diversas nacionalidades. Ele também aponta para o fato de que a Noruega produz muito conteúdo audiovisual com temática adolescente voltada ao romance, ao suspense e às aventuras devido à tradição folclórica de contações de histórias sobre jovens aventureiros como Askeladden. O autor também comenta que, na década de 1980, a Escandinávia produziu muitos filmes com temática política por causa dos grandes financiamentos dos governos e ao surgimento de vários partidos políticos em disputa. Sendo assim, os filmes com temática de fantasia e folclore tiveram maior produtividade a partir da década de 1990”. (GOMES, 2021, p. 187-188).

Salienta-se que alguns filmes foram importantes para lançar padrões estéticos de como retratar os trolls, como o caso do filme Troll: o mundo do espanto (1986) que influenciou duas produções do ano de 1990, o filme Valhalla (1968) que influenciou O duende no parque (1994). O O Caçador de Trolls (2010) que influenciou a ideia de trolls gigantes, algo visto em O Rei da Montanha (2017) e mais recentemente na franquia Troll da Montanha (2022) e Troll da Montanha 2 (2025), embora ambas as produções também foram influenciadas pelos filmes de Godzilla e King Kong, como demonstrado.

Por fim, nota-se que os trolls bons e mais humanos ou menos grotescos, tendem a aparecer em filmes infantis. Já nos live-actions, eles continuam sendo monstruosos e selvagens, e mais recentemente ganharam grandes proporções, tornando-se uma ameaça nacional, já que conseguem agora destruir cidades.

 

Referências

CASELLI, Andrea. Um grande TROLL e um feliz natal para todos. 2022. Disponível em: https://neve2012.blogspot.com/2022/12/um-grande-troll-e-um-feliz-natal-para.html.

COLLIS, Clark. The 'Troll' trilogy: Is this really the 'Best Worst' movie franchise of all time? 2010. Disponível em: https://ew.com/article/2010/05/08/troll-2-best-worst-movie/.

DALY, Kathleen N. Norse Mythology A to Z. 3. ed. New York: Publishing Chelsea, 2009.

ECO, Umberto. História da Feiura. Rio de Janeiro: Record, 2007.

GOMES, Andrea Caselli. Religião e folclore na obra de Asbjørnsen e Moe e a sua recepção Artística. 217f. Tese (Doutorado em Ciências das Religiões), Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões, João Pessoa, 2021.

JAKOBSSON, Ármann. History of the Trolls? Bárðar saga as an historical narrative. Saga-Book, v. 25, 1998, p. 53–71.

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LARRINGTON, Carolyne. The Norse Myths: A guide to the gods and heroes. London: Thames & Hudson, 2017.

LINDOW, John. Trolls: an unnatural history. London: Reaktion Books, 2015.

MARTÍN ALEGRE, Sara (ed.). Gender in 21st century animated children’s cinema. Barcelona: Bellaterra, 2021.

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