Um recente artigo da jornalista Kalpana Sunder, traduzido pela BBC Brasil, resgata a história da suástica: Suástica: como símbolo religioso se tornou emblema do nazismo. A matéria é bem escrita e apresenta uma boa síntese dos significados culturais do dito símbolo. Mas também apresenta alguns pequenos problemas:
1. Não existem evidências objetivas de que a
suástica seja o símbolo do martelo do deus Thor na Escandinávia antiga.
Possivelmente ela foi um elemento apotropaico na cultura material móvel, bem
como conectada a outros elementos da ideologia da aristocracia-guerreira - e
neste caso, muito mais relacionada a Odin.
2. Faltou uma perspectiva mais diacrônica e
sistemática na história do símbolo, talvez pela ausência de bibliografias. Até
o início do nazismo no século XX, podemos pontuar no Ocidente a história da suástica
em três vertentes bem definidas - o seu uso como objeto apotropaico no
cotidiano material (de vasos cerâmicos na antiguidade até chaveiros da Coca
Cola); como símbolo religioso (e especialmente na arquitetura e em contextos
fúnebres) nas três grandes religiões monoteístas (Judaismo, Cristianismo e
Islamismo); como elemento de identidade em ideologias políticas e raciais
(especialmente na denominada "raça ariana") desde os anos 1860. Este
último elemento, fundamental para se entender a recepção da suástica na
Alemanha, está ausente do artigo da BBC. Para quem se interessar mais por essa
visão histórica do símbolo, ver no canal da historiadora Juliana Cavalcanti o
vídeo com a minha participação - "Propaganda n@zist@ e usos do passado:cristianismo e politeísmo".
Sobre a suástica na Escandinávia antiga: LANGER,
Johnni. Suásticas, ritos e espacialidades. RBHR 15(44), 2022.
Sobre as origens da suástica na Alemanha
oitocentista: MEES, Bernard. The Science of the Swastika. Central European
University Press, 2008.
Fotografia da capa: portal de entrada da cervejaria
Carlsberg, Copenhague, com um dos elefantes da entrada ostentando suástica,
esculpido originalmente em 1901.