Uma das primeiras reconstituições da denominada "bússola solar" foi realizada em nosso país. Fabricado pela Mästermyr Marcenaria (RJ), especializada em reconstituir objetos de madeira da Era Viking, o objeto foi doado à Vila Viking Brasil (SP), onde se encontra atualmente, utilizada para atividades internas.
O objeto foi reconstituído baseando-se em várias fotografias e modelos disponíveis na internet, todos tendo como base principal o famoso disco de Uunartoq, descoberto na Groelândia em 1948 pelo arqueólogo Christen Vebæk e atualmente exposto em exibição no Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague. O disco de Uunartoq foi datado como sendo do ano mil d.C., coincidindo com a época das principais navegações durante a Era Viking. A partir dele, iniciaram-se várias pesquisas indicando a principal forma de orientação náutica durante o dia. Posteriormente, outros objetos de várias áreas nórdicas foram encontrados, confirmando o uso das sombras solares para orientação e determinação da latitude e também a posição do Sol (as pedras solares) (Langer, 2018, p. 118-119).
Os modelos reconstituídos do disco de geralmente conservam os 32 entalhes laterais da borda, utilizados como graus no objeto original. A Mästermyr Marcenaria optou por não gravar as curvas equinociais e solsticiais constante dos discos das reproduções disponíveis na internet, pelo fato das latitudes das regiões islandesa-groenlandesa (hemisfério Norte) não coincidirem com as existentes no Brasil (hemisfério Sul), marcando assim a orientação Norte de modo errado, caso fosse utilizada na prática. O modelo do disco reproduzido para a Vila Viking Brasil utiliza um tonel de madeira e água, com uma operacionalidade diferente dos modelos com suporte para uma mão.
Essa versão foi baseada em algumas pesquisas que tem como modelo o Solskuggerfjol (prancha da sombra solar), utilizado nas ilhas Feroé entre os séculos XVII e XVIII (Los Ríos, 2017, p. 260). O seu uso era diferente da versão manual: ao meio dia, os marinheiros verificavam a posição da sombra do gnômon central e conseguiam determinar se estavam ao norte ou ao sul de uma latitude em especial.
A reconstituições de bússolas solares tem um enorme valor didático na atualidade, demonstrando o alto nível de conhecimento astronômico e de navegação que os nórdicos da Era Viking alcançaram mas, que ao mesmo tempo, transformaram esse conhecimento em uma tecnologia simples e extremamente eficaz em seu uso cotidiano.
Bibliografia:
LANGER, Johnni. Bússola solar. In: Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2018, pp. 118-212.
PETTERSEN, Franck. The Viking Sun Compass. Planetarian, Vol. 22, #1, March 1993.
THIRSLUND, Soren. Viking navigation. Roskilde: The Viking Ship Museum, 2007.
Vídeos (demonstrações práticas do uso das bússolas solares da Era Viking):
COMMENT S'ORIENTAIENT LES VIKINGS EN MER, 2021.