Malleable Manuscripts
- structural alteration of artefacts in Arnamagnæan collection,
palestra
proferida por Beeke Stegmann em 22 de novembro de 2018 na sala 101 da Faculdade
de Direito (Lögberg) da Universidade da Islândia.
Pablo Gomes de Miranda
Doutorando em Ciências das Religiões pela UFPB
Membro do NEVE
pgdemiranda@gmail.com
Esteve na última quinta-feira na
Faculdade de Direito, a dra. Beeke Stegmann apresentando parte da sua pesquisa
de pós-doutoramento pelo instituto Arnamagnæan, situado em Copenhagen,
Dinamarca. A palestra proferida pela dra. Stegmann faz parte de uma série de
conferências empreendidas pelo Centro de Estudos Medievais da Universidade da
Islândia, também responsável pelas pós-graduações nessa área de trabalho.
Adicionalmente, a sua fala marcou o fim das atividades do semestre do Centro de
Estudos Medievais da já referida universidade.
O
foco da dra. Stegmann foi demonstrar os processos a dinâmica da conservação,
reorganização e apresentação dos manuscritos do instituto de onde provém a sua
pesquisa em andamento, incluindo os primeiros esforços do próprio Árni
Magnússon, famoso colecionador islandês de manuscritos medievais que viveu
entre 1663 e 1730 e de quem onde ambos os institutos na Islândia e na Dinamarca
receberam o nome.
Os
primeiros questionamentos expostos foram direcionados a necessidade de
identificar e classificar os manuscritos do instituto e que tais materiais
passaram por um tratamento sistêmico focado na facilitação do trabalho
acadêmico com interesse primário no conteúdo textual, e ao longo de sua
exposição foi ficando claro como tais processos seguiram um interesse ideológico
muito claro por parte de Árni Magnússon que processou os documentos segundo o
seu entendimento do que seriam idealmente, por exemplo, as Sagas Islandesas.
Tal processo demonstra, em muito, as diferenças em nossas atitudes modernas
sobre o livro, e a de Árni Magnússon que entendia o livro como obra aberta e
estava disposto a realizar tais reorganizações.
O
desafio proposto em sua palestra da análise dos manuscritos não se limitou
apenas a explanação das unidades codicológicas exemplificadas, mas contemplou
também as mudanças na classificação final dos manuscritos após o fim de seu
processamento (desse modo o manuscrito AMS AM 242, datado por volta de 1700) se
tornou o AMS AM 51 4to. Além disso foram apontadas as mudanças estruturais na
unidades codicológicas, feitas por Árni Magnússon para que as Sagas Islandesas
tomassem o corpo desejado. Questionando a maneira em como os pesquisadores
saberiam o que foi editado pelo colecionador islandês, dra. Stegmann demonstrou
que, ao utilizar um scanner multiespectral (Videometer Lab 2 e Canonical
Discriminant Analysis), é possível observar as várias mudanças feitas com a
mesma tinta saída da pena, provavelmente de Árni Magnússon.
Entre
os vários exemplos dados em sua palestra, a dra. Beeke Stegmann utilizou o Hauksbók para demonstrar que pelo menos
quatro mudanças substanciais foram feitas em seu corpo: até 1660 ele estava no
seu estado como deve ter sido encontrado por Árni Magnússon, entre 1670 e 1680
foram adicionadas novas seções, supostamente com “partes perdidas” encontradas
em outros manuscritos, em 1707 passou por uma nova reorganização, até que em
1730 passou por desmembramentos para uma posterior reorganização.
Em
conclusão, a palestra da dra. Stegmann foi particularmente informativa não
apenas pelas demonstrações técnicas a qual uma pesquisa em torno da codicologia
medieval e moderna deve estar alinhada, mas também sobre as atitudes da própria
cultura escrita que o antiquariato desenvolveu na absorção e reorganização,
vertendo ao Latim, dos muitos documentos aos quais temos acesso hoje, sejamos
pesquisadores ou leitores.