O grupo interinstitucional NEVE (NÚCLEO DE ESTUDOS VIKINGS E ESCANDINAVOS, criado em 2010) tem como principal objetivo o estudo e a divulgação da História e cultura da Escandinávia Medieval, em especial da Era Viking, por meio de reuniões, organização de eventos, publicações e divulgações em periódicos e internet. Parceiro internacional do Museet Ribes Vikinger (Dianamarca), Lofotr Viking Museum (Noruega), The Northern Women’s Art Collaborative (Universidade de Brown, EUA), Reception Research Group (Universidad de Alcalá) e no Brasil, da ABREM (Associação Brasileira de Estudos Medievais) e PPGCR-UFPB. Registrado no DGP-CNPQ. Contato: neveufpb@yahoo.com.br

sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Os vikings estão de volta à televisão! Nova série dramática

 Os vikings estão de volta à ficção televisiva - desta vez em uma série dramática e investigativa que transcorre na Dinamarca contemporânea! Texto de Johnni Langer.

Informações e dados da postagem: TV 2, Dinamarca.

Etimologia e significado do termo Danefæ: Nordjyske Museer.

Sobre a Arqueologia no cinema: HALL, Mark. Romancing the Stones: Archaeology in Popular Cinema. European Journal of Archaeology Vol. 7(2), pp. 159–176.






quarta-feira, 11 de setembro de 2024

O NEVE em teses da Islândia e EUA

Você sabe o que a antiga Astronomia viking tem em comum com o 'viquinguismo' do século 19? Descubra isso na nova postagem do NEVE.



















segunda-feira, 9 de setembro de 2024

NEVE é citado em livro publicado na Inglaterra



Nova citação internacional do NEVE: o livro "Forgotten Vikings", do historiador britânico Alex Harvey, citou o artigo 'The origins of the imaginary Viking', de Johnni Langer. O novo livro de Harvey é uma obra de divulgação sobre aspectos pouco conhecidos da história nórdica, antes e depois da Era Viking tradicional. Forgotten Vikings: New Approaches to the Viking Age. Stroud: Amberley Publishing, 2024. O livro esta sendo vendido na Amazon e Amberley. O artigo 'The origins of the imaginary Viking' está disponível online no Academia do NEVE.



sábado, 7 de setembro de 2024

A alma danesa: uma análise do filme 'O bastardo'



Johnni Langer (UFPB/NEVE)

O filme 'O bastardo' ('Bastarden', 2023) chega às telas de cinema do Brasil, uma co-produção entre Dinamarca, Alemanha e Suécia, dirigida por Nikolaj Arcel. A produção foi baseada no romance 'Kaptajnen og Ann Barbara' (O capitão e Ann Barbara), de Ida Jessen. A narrativa trata do empreendimento do capitão Ludvig Kahlen em tentar cultivar e colonizar uma enorme região árida no centro da península da Jutlândia (composta basicamente de urzal), durante o século XVIII. Apesar da falta de apoio da realeza, das condições climáticas adversas e do enfrentamento de um inimigo, um aristocrata vizinho (Frederik De Schinkel), o capitão empenha-se em sua jornada até o fim. O diretor Nikolaj Arcel já havia dirigido outro excelente drama histórico sobre a Dinamarca setecentista (O amante da rainha, 2012, disponível no Prime), também com o ator Mads Mikkelsen. No novo filme, Mads interpreta o protagonista: o capitão Kahlen.

 


De maneira geral, todos os personagens são bem desenvolvidos, crescendo em dramaticidade e interpretação com o desenrolar da trama, mas evidentemente a atuação de Mads é soberba – só para citar algumas cenas (entre várias): ele, deitado, fica aguardando o crescimento de uma planta cultivada na região do urzal, angustiado e resoluto. Ou então, quando se despede da pequena cigana, que é levada para um orfanato da ilha da Fiônia: olhar frio, sem lágrimas, mas desmoronando por dentro. Sem delongas: ele é um dos melhores atores da atualidade. Agora é torcer para o filme ganhar a estatueta de melhor filme estrangeiro no Oscar, pois merece.



Um pouco de História: tanto o capitão Ludvig Kahlen quanto o aristocrata Frederik De Schinkel foram personagens históricos, mas a falta de maiores informações sobre os acontecimentos criam um pano de fundo ideal para o romance de Ida Jenssen e especialmente o filme Bastarden, de refletirem sobre vários temas importantes na atualidade, como racismo, classismo, violência sexual e exploração do trabalho. Vários críticos dinamarqueses interpretaram o urzal da Jutlândia, retratado nesta produção, como uma grande metáfora do insólito a ser conquistado pelos desbravadores, do mesmo modo que o Velho Oeste norte-americano. A paisagem e a natureza selvagem transformando a natureza humana (no caso especialmente do capitão Kahlen, claro). E também a retomada do velho tema do pequeno proprietário lutando contra as mazelas dos latifundiários (ou pequenos fazendeiros contra os grandes criadores de gado, no caso dos westerns). Mads já havia encarnado um personagem semelhante na produção francesa ‘Justiça e honra’ (‘Michael Kohlhaas’, França, 2013).

Mapa da Dinamarca (extraído de Odin: uma história arqueológica da Dinamarca viking, Editora Vozes, 2024, p. 18). A península da Jutlândia (Jylland) foi povoada durante a Idade do Ferro pelos Jutos e Cimbros, sendo dominada pelos daneses após o século III d.C., estes últimos originários das ilhas da Fiônia e Zelândia. Na Antiguidade o nome Jutlândia provinha dos Jutos, mas outra denominação, Península Címbria, veio dos Cimbros. Atualmente a capital, Copenhague, situa-se na ilha da Zelândia (Sjælland), próxima da Escânia, o sul da Suécia.


De um ponto de vista histórico existem diversos outros pontos que podem ser mencionados brevemente. A Jutlândia sempre foi conhecida nas fontes medievais por ser uma região árida. Adão de Bremen dizia no século XII que a maior parte da Jutlândia era uma terra horrível e desabitada, estéril e improdutiva. Durante a Era Viking, a maior parte da ocupação desta região foi constituída de empórios litorâneos, como Ribe, Aarhus, Hedeby e Viborg. Esta tendência de se ocupar somente o litoral jutlandês se estendeu por todo o Medievo e grande parte da Modernidade. Foi somente após a Segunda Guerra do Eslésvico (1864), que o centro da Jutlândia foi colonizado sistematicamente, graças às melhorias do solo e técnicas de reflorestamento do engenheiro Enrico Mylius Dalgas. Neste sentido, a pioneira jornada de Ludvig Kahlen é importante de ser recuperada. Outra questão é a grande conexão da Jutlândia com a Alemanha, da qual faz fronteira: desde o serviço de mercenário nas tropas alemãs (do qual Kahlen foi capitão), até a vinda de colonos deste país, para auxiliar Kahlen. Mas esta relação de interdependência cultural e social dano-teutônica é frágil –basta lembrar que o personagem de Mads no filme 'O amante da rainha’ é o alemão Johann Friedrich Struensee, um personagem histórico com suas reviravoltas políticas (não vou contar mais para não dar spoiler...) ou então as duas guerras do Eslésvico, do qual já analisei no artigo “1864: a guerra que nunca acabou”.

Fiskerfamilier, som venter deres mænds hjemskomst ved et frembrydende uvejr. Fra Jyllands vestkyst (Famílias de pescadores que aguardam a volta dos seus homens quando surge uma tempestade. Na costa oeste da Jutlândia), de Carl Bloch, óleo sobre tela, 1858, Coleção Hirschsprung, Copenhague. A pintura retrata a força e a impetuosidade da natureza, selvagem e inconstante, do qual o homem é um mero coadjuvante - ele é frágil perante as forças marinhas. Detalhe importante é o cão prostrado sobre uma rocha em meios às águas - o velho símbolo da fidelidade, agora numa situação de angústia. Outro detalhe importante é a criança ao centro da pintura - um símbolo das gerações futuras, do futuro da própria Dinamarca, um elemento típico dos pintores românticos dinamarqueses, como Johan Ludwig Lund, mas perceba-se que aqui o local escolhido como "alma da Nação" é a Jutlândia!


Outro ponto histórico e social é como a Jutlândia foi percebida historicamente pelos próprios dinamarqueses. Apesar dela ter sido o palco da primeira monarquia unificada e centralizadora em Jelling (na Era Viking), a península nunca foi dominada totalmente pela monarquia e aristocracia, que logo passaram a centralizar a política do reino na ilha da Zelândia (Sjælland, onde se situa a atual capital, Copenhague), ainda no século XI. Livre dos reis, a península se tornou um local dominado por grandes latifundiários. No século XIX ela se transformou no foco de um revigoramento da cooperação agrícola e pecuarista e os jutlandeses passaram a valorizar muito a sua paisagem natural e o seu vasto litoral de praias. Ao contrário dos suecos e noruegueses, os dinamarqueses residentes na ilha da Zelândia tradicionalmente não valorizam as regiões interioranas, preferindo levar um estilo de vida urbano e fechados em sua metrópole. Os escritores do Oitocentos, como Hans Christian Andersen, romantizaram a região da Jutlândia como exótica, mas que fazia parte da "dinamarquesidade", uma idealização, claro - a maioria dos leitores de Andersen quase nunca visitava ou tinha visto muito pouco o interior da Jutlândia.

A Jutland Sheperd on the Moors (Um pastor da Jutlândia no urzal), de Frederik Vermehren, óleo em tela, 1855. Acervo do Museu Nacional de Arte da Dinamarca, Copenhague. A pintura destaca a afinidade e a harmonia da natureza com o homem. Vermehren aqui encarnou toda a ideologia dos artistas oitocentistas de Copenhague em tornar a região da Jutlândia uma espécie de "paraíso interiorano da Dinamarca", uma paisagem idílica e onde a natureza tinha ainda todo o seu esplendor original. Um local soberbo, mas que deveria ser apenas glorificado e no máximo visitado de forma turística, nunca sendo um local ideal para morar e viver.


No século XX, a península foi associada pelos artistas de Copenhague como um local tradicionalista, de hábito conservadores e até mesmo "atrasados" ou de "fala caipira". A famosa escritora Karen Blixen, conhecida pela suas críticas pesadas com relação aos hábitos e costumes dinamarqueses do interior, literalmente escancarou de forma muito sofisticada os habitantes da Jutlândia em seu romance Babettes Gæstebud (A festa de Babette, 1958) que foi filmada de forma esplendorosa em 1987. Os camponeses da Jutlândia aqui se tornam religiosos radicais que abandonam o gosto pela vida cotidiana e cujos limitados hábitos alimentares são contrastados pela cozinha sofisticada da França.

Mas escritoras mais recentes, como Dorthe Nors e Stine Pilgaard, estão tentando recuperar a tradição de considerar a Jutlândia como ponto central de suas produções literárias, mas já num sentido de reavaliar os valores, ideologias e comportamentos tanto dos jutlandeses quanto dos moradores de Copenhague e as diferenças de vida entre ambos (e especialmente, o choque cultural entre estes dois contextos). 

Esse confronto entre a alma dinamarquesa (a Jutlândia) ser basicamente rural, provinciana e tradicional - contraposta à metrópole de Copenhague, sustentável e globalista, está sendo posto a prova nos últimos embates sobre biodiversidade e industrialismo no país. Nas palavras do escritor Michael Booth, a Jutlândia é uma região de cerveja ruim, de terrenos pedregosos e áridos, de muito vento - mas que ainda continua a definir e contradizer a Dinamarca contemporânea: "estamos felizes por ela estar lá, mas felizes por não vivermos lá". Neste sentido, o filme O bastardo é um produto direto deste embate dinamarquês entre o "selvagem" e o "civilizado", que se iniciou aos poucos no Medievo, mas plenamente no Oitocentos. A arte refletindo as contradições sociais de um país, do seu presente e do seu passado.

Agradecimentos: Agradeço a Sandro Teixeira Moita e a Leandro Vilar Oliveira pelo envio de bibliografia. A Luciana de Campos pela revisão e comentários ao presente texto.


Referências bibliográficas:


BOOTH, Michael. In search of Denmarks soul. Engelsberg Ideas, 8 de julho de 2024. 

JENSEN, Bo Green. Bastarden: En mesterlig western fra Danmarkshistorien. POV International, 2023.

LANGER, Johnni. Odin: uma história arqueológica da Dinamarca viking. Petrópolis: Editora Vozes, 2024 (no prelo).

LAURING, Palle. A history of Denmark. Copenhagen: Høst & Søn, 2015.

MAPES, Terri. What and Where Is Jutland? Tripsavvy, 2019.

THOMAS, Alastair H. Historical Dictionary of Denmark. London: Rowman & Littlefield, 2016.


quarta-feira, 4 de setembro de 2024

Nova citação internacional do NEVE

 Nova citação internacional do NEVE: o artigo 'O Conto de Völsi" de Johnni Langer foi citado no livro 'The Paganesque and The Tale of Vǫlsi' (página 147) de Merrill Kaplan. O livro será publicado em outubro de 2024 pela Boydell and Brewer e é um estudo detalhado sobre a narrativa islandesa 'Völsa þáttr', datada do século XV e integrante do manuscrito 'Flateyjarbók'.

Merril Kaplan é professora da Universidade de Ohio, especializada em literatura nórdica medieval e recepção literária de temas nórdicos.

O artigo 'O Conto de Völsi' foi publicado na Revista Relegens Thréskeia em 2013 e pode ser acessado pelo link.






segunda-feira, 2 de setembro de 2024

A "comida de fome" dos vikings: novo estudo arqueológico sobre alimentação na Escandinávia antiga

O que os nórdicos da Era Viking comiam em períodos de grande escassez? Uma nova pesquisa arqueológica acaba "de sair do forno" e nos ajuda a compreender melhor estes períodos obscuros da História escandinava. Texto de Johnni Langer com revisão e consultoria de Luciana de Campos.








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