Imagem 1: Pôster promocional de Vikings Valhalla (2022).
Os reis e rainhas em
Vikings Valhalla (2022)
Leandro Vilar Oliveira (NEVE)
Doutor em Ciências das Religiões pela UFPB
vilarleandro@hotmail.com
A continuação da série Vikings (2013-2020) criada e escrita por
Michael Hirst, produzida pelo History Channel e a Netflix, estreou em fevereiro
de 2022, saltando mais de cem anos de história do período da Era Viking (séc.
VIII-XI), indo para conflitos ocorridos nas primeiras décadas do século XI. A
nova série foi criada por Jeb Stuart, produtor, roteirista e diretor de filmes
de ação, sem experiência em produções históricas como no caso de Michael Hirst.
Apesar disso, Hirst e a Netflix investiram na ideia de Stuart em dar
continuação a franquia Vikings.
O presente ensaio apresenta aspectos
centrais do enredo da primeira temporada, tendo como foco comentar como Jeb
Stuart reimaginou acontecimentos históricos envolvendo o trono inglês e
norueguês, mesclando ficção e história.
Introdução
A nova série volta a ter como
foco a guerra envolvendo a disputa da Inglaterra, algo abordado nas temporadas
4 e 5 de Vikings. Dessa vez, a trama
se passa mais de um século no futuro. O novo enredo se inicia com o Massacre do
Dia de São Brice, em que o rei Etereldo II ordenou a matança de nórdicos e
anglo-daneses na Inglaterra.
Em seguida o primeiro episódio
corta para apresentar a jornada de vingança dos irmãos Leif Ericson e Freydis
Ericdotter, os quais com alguns amigos groenlandeses seguem à Noruega, atrás do
homem que estuprou Freydis. Ao chegarem em Kattegat, cidade fictícia criada na
série anterior, os groenlandeses se deparam com os preparativos de guerra, em
que o rei Canuto da Dinamarca reunia seus jarlar e tropas para ir invadir a Inglaterra,
em busca de vingar a morte dos que foram assassinados no massacre.
Neste ponto da trama, Leif para
proteger a irmã, aceita o convite de Haroldo Sigurdson em seguir para a guerra.
Com isso, a primeira temporada com seus 8 episódios se divide em três núcleos:
a guerra em Londres, a jornada de Freydis a Uppsala e Kattegat. Tais núcleos se
interagem várias vezes e os protagonistas transladam entre eles.
No núcleo da guerra em Londres se
destacam Leif Ericson, Haroldo Sigurdson, Olavo Haraldson, o rei Canuto, o rei
Etereldo II, o príncipe Edmundo, o earl Godwin e a rainha Emma. Recebendo o
acréscimo do rei Sueno Barba Bifurcada e da rainha Egilva de Northampton. Já os
jarlar que aparecem no núcleo da guerra e de Kattegat, são fictícios. Sendo
assim, o ensaio procurou centrar-se nas figuras da nobreza, deixando de lado
Leif e Freydis.
Massacre do Dia de São Brice (1002)
O acontecimento trágico que marca
o início de Vikings Valhalla e serve
de pretexto para que Canuto reúna vários aliados para ir invadir a Inglaterra
atrás de vingança, realmente ocorreu, mas com algumas diferenças em relação a
série. Antes disso é preciso explicar alguns termos que aparecem no seriado.
São Brice (c. 370-444) foi um
bispo de Tours (na França), tendo governado aquela diocese por longos anos,
além de ter incentivado a conversão dos francos, como feito por seu antecessor
São Martinho de Tours (316-397). No século VI ele foi canonizado, e sua
veneração espalhou-se pela França e depois Inglaterra. São Brice é o padroeiro
dos juízes, seu dia litúrgico é 13 de novembro. (THE BOOKS OF SAINTS, 2011).
Todavia, por qual motivo o
massacre ocorreu? No seriado é dito que o rei Etereldo II (c. 968-1016)
indignado pelos ataques dos dinamarqueses, ordenou que todos os dinamarqueses
do Danelaw fossem assassinados, incluindo mulheres e crianças. Na ocasião, o
príncipe Haroldo Sigurdson que aparece no seriado, foi um dos sobreviventes. E
ele relatou a Canuto a respeito da tragédia ocorrida.
O massacre realmente existiu,
tendo ocorrido em 13 de novembro de 1002, embora não se saiba se ele durou
apenas aquele dia, ou ocorreram perseguições nos dias seguintes. Além disso,
não se sabe quantas pessoas foram assassinadas na ocasião. O acontecimento é
citado na Anglo-Saxon Chronicle,
importante coletânea de anais históricos. No entanto, o motivo do massacre ser
ordenado realmente teve a ver com a revolta de Etereldo II, mas ao invés de se
referir aos ataques dos dinamarqueses, sua revolta teria sido contra os
noruegueses, os quais entre 997 e 1001 realizaram expedições vikings à
Inglaterra, suspendendo-as após cobrança do danegeld
(taxa danesa), um tributo de extorsão cobrado pelos nórdicos há várias
décadas (FERNANDES, 2018; OLIVEIRA, 2018a).
E em retaliação, o rei decidiu se vingar, mandando matar os escandinavos
que viviam em seu reino.
Mas e quanto ao Danelaw citado
por Etereldo II e Canuto, na série, que lugar era esse? A série não explica
isso, mas o termo Danelaw, Danelag, Daneleigh, foi usado no século XII para se
referir aos domínios conquistados pelos nórdicos no século IX, após a invasão
do Grande Exército Pagão (866-878). Neste caso, o Danelaw compreendeu quase
metade do território inglês da época: no Norte, na antiga Nortúmbria formou-se
o Reino de Jorvik, o mais próspero e com sede em Jorvik (atual York), uma
próspera cidade mercante; ao centro surgiram os Cinco Burgos, territórios
compartilhados por jarlar (senhores), e no Sul tivemos o Reino de Gutrum. (OLIVEIRA,
2018b).
O Danelaw originou-se das
campanhas de conquista da invasão dano-norueguesa, algo mostrado na série Vikings, através da vingança dos filhos
de Ragnar Lothbrok, durante as temporadas 4 e 5. Esse acontecimento também é
melhor abordado na série The Last Kingdom
(2015-2022), que apresenta maior atenção ao período de formação do Danelaw.
Na história, Gutrum, o Velho e outros chefes, negociaram com o rei Alfredo, o
Grande (849-899), termos de paz, em que se comprometiam em não invadir o reino
de Wessex, em troca de Alfredo reconhecer o direito de posse aos territórios conquistados.
Dessa forma surgiu o Danelaw que perdurou por mais de um século. (OLIVEIRA,
2018b).
Imagem 2: Mapa do
Danelaw após 866.
Quando o Massacre do Dia de São
Brice ocorreu em 1002, o Danelaw não existia mais como território, todas
aquelas terras voltaram a pertencer ao reino inglês, no entanto, muitos
escandinavos e seus descendentes viviam naquele território, afinal, foram mais
de cem anos de ocupação. Fato esse que no seriado Etereldo II (Bosco Hogan) diz
que embora os dinamarqueses fossem cristãos e vivessem a bastante tempo na
Inglaterra, eles não eram ingleses, por isso, não seria problema mandar
eliminá-los, pois para o monarca no seriado, eles eram estrangeiros, invasores.
Olavo Haraldson e Haroldo Sigurdson
Esses são outros dois meios-irmãos
que possuem destaque na trama da série. Eles são parecidos no quesito de serem
ambiciosos e buscarem glória, embora que Olavo (Jóhannes Haukur Jóhannesson)
seja retratado na série como sendo mais ardiloso e desleal, enquanto que
Haroldo (Leo Suter) apresenta mais lealdade com os planos de Canuto, além de
mostrar preocupação com os outros e não apenas consigo e o poder.
Ambos os irmãos são retratados
como cristãos, sendo que Haroldo apresenta-se mais tolerante, enquanto Olavo
disfarça sua intolerância e rigidez. Na série chega a ser dito que Olavo
empreendeu perseguições a grupos de pagãos e ele até mesmo tentou barganhar com
Canuto, a conversão de seu exército. Na História, Olavo devido a sua devoção e
determinação em cristianizar o seu país, foi tornado santo no século XII, como
São Olavo da Noruega.
Imagem 3: O autor
Jóhannes Haukur Jóhannesson como jarl Olav e uma gravura do rei Olavo II da
Noruega.
Entretanto, o ponto mais
divergente entre ficção e história diz respeito a Olavo ainda não ser rei da
Noruega. A série começa com ele sendo chamado de jarl Olavo, o qual inclusive
ambiciona o governo norueguês, porém, em momento algum a narrativa informa quem
de fato mandava na Noruega. O que fica subentendido é que Canuto era quem
governava aquele país. Porém, isso também não é explicado de forma
satisfatória, pois o personagem fictício de jarl Kåre (Asbjørn Krogh Nissen),
um cristão fanático, comete massacres pela Noruega e até na Suécia, mas não
sofre retaliação ou punição de nenhum governante daqueles reinos.
Mas, historicamente Olavo e
Haroldo realmente foram meios-irmãos, sendo filhos de Åsta Gudbrandsdatter (c.
975 – c. 1020). Ela casou-se com o jarl Haroldo da Grenlândia, que governava
Vestfold na Noruega. Em 995, da união do casal, nasceu Olavo (995-1030). Porém, naquele mesmo ano Haroldo foi
assassinado numa armadilha. Viúva, Åsta voltou para a casa da família na Suécia,
e posteriormente foi prometida a Sigurd, o Semeador, jarl de Ringerike, na
Noruega. O casal teve cinco filhos, sobrevivendo as mulheres e tendo morrido os
meninos. O quinto filho foi Haroldo (c. 1015-1066), que se tornou seu herdeiro.
Os dois irmãos se tornaram reis da Noruega em períodos bem distantes, pois
Olavo II governou entre 1015 e 1028, já Haroldo III reinou de 1046 a 1066. (HOLMAN,
2003).
A história do reinado de Olavo II
da Noruega pode ser lida na Olafr
Haraldson saga, já o reinado de Haroldo III da Noruega é narrado na Haralds saga Sigurdarsonar. Ambas as
narrativas se encontram reunidas na coletânea de sagas de reis intitulada Heimskgringla, a qual aborda o reinado
de vários monarcas noruegueses desde a lendária Dinastia dos Ynglingos até o
rei Magno V, falecido em 1184. Não há tradução para o português dessas sagas,
podendo serem lidas em inglês. Além disso o teor das sagas não é totalmente
preciso.
Na série, os dois irmãos se
desentendem por conta das suas escolhas em como apoiar a invasão da Inglaterra,
todavia, historicamente isso nunca aconteceu. Olavo esteve preocupado em
assegurar o trono norueguês, por sua vez, Haroldo conviveu poucos anos com o
irmão mais velho. Haroldo somente se interessou pela Inglaterra trinta anos
depois, quando como rei, decidiu empreender suas próprias campanhas de
conquista na década de 1060, destacando-se a Batalha de Stamford Bridge (1066).
(HOLMAN, 2003). Tal batalha serviu de inspiração para batalha da ponte de
Londres retratada na série. Além disso, Jeb Stuart se valeu dessa condição para
colocar Haroldo participando do ataque à Londres, mesmo que tenha significado
alterar a periodicidade da participação dele, inserindo-o em outra época e
contexto.
Imagem 4: O ator Leo Suter como Haraldo Sigurdson e uma pintura pré-rafaelita de Haroldo Hardrada (séc. XIX).
Além disso, na primeira
temporada, é revelado que Olavo desobedece uma ordem de Canuto, ao decidir
tomar para si o trono norueguês. Na História, ambos os monarcas não foram
aliados como é retratado na série, mas eles foram inimigos. Quem governou a
Noruega entre 1000 e 1014 foi Sueno Barba Bifurcada, o pai de Canuto. Mas com a
morte dele, Olavo conseguiu ser proclamado rei da Noruega, após se livrar dos
jarlar submissos a Sueno (HOWARD, 2003). Essa parte da história é apresentada
de forma diferente na série, em que Olavo reúne vários jarlar para tomar
Kattegat e assim poder se proclamar rei da Noruega.
É possível que na segunda temporada
vejamos os conflitos entre Olavo e Sueno pelo controle da Noruega, em que
efetivamente Olavo possa virar rei. Quanto ao futuro de Haroldo, esse na
história exilou-se na Rússia de Kiev e no Império Bizantino por quase vinte
anos, agindo como mercenário e capitão na Guarda Varega, a qual servia o
imperador bizantino (HOLMAN, 2003). Diante disso, talvez seja possível que isso
possa também ser retratado na série, lembrando que em Vikings, Ivar, o Sem-Ossos exilou-se na corte de Kiev do príncipe
Oleg de Kiev. No entanto, o tempo de exílio de Haroldo, caso aconteça, seria
diminuído drasticamente para efeitos de roteiro.
A conquista da Inglaterra por Sueno e Canuto (1014-1016)
A série Vikings Valhalla alterou a ordem de tais acontecimentos e aglutinou
o tempo. No seriado é mostrado que um ano após o Massacre do Dia de São Brice,
Canuto tinha reunido um exército e decidiu atacar Londres para matar o rei
Etereldo II, que faleceu de velhice naquele período. Porém, na História isso
demorou vários anos para ocorrer. O massacre aconteceu no ano de 1002, mas
Etereldo II somente faleceu em 1016, e devido ao seu fracasso em combater o
exército de Sueno, ele foi chamado de Etereldo, o Despreparado. (FERNANDES,
2018). Observa-se que Jeb Stuart condensou um período de 14 anos.
Não obstante, na série, o rei
Canuto (Bradley Freegard) é retratado como um homem maduro, ambicioso, calculista
e influente. Ele já era rei da Dinamarca e Noruega, além disso, ele é bastante
sério e observador, sabendo ser benevolente com os aliados e severo com os
inimigos. Por outro lado, seu principal opositor no lado inglês é o jovem
príncipe Edmundo (Louis Davison), representado como imaturo, imprudente,
inseguro, manipulado pela opinião de sua madrasta a rainha Emma (Laura Berlin)
e o conselheiro Godwin (David Oakes). Nota-se aqui um artifício de enredo, em
colocar um monarca experiente contra um monarca imaturo. Neste sentido, o
roteiro conseguiu desenvolver bem essa oposição e conflito.
Imagem 5: O ator Bradley
Freegard como Canuto, e uma gravura medieval do rei Canuto, o Grande.
A respeito da rainha Emma da
Inglaterra, interpretada pela atriz alemã Laura Berlin, a personagem é
apresentada como uma governante forte, que de início tenta proteger Londres e o
reino, aconselhando o enteado imaturo. Mas após a conquista dos dinamarqueses,
Emma não tarda em se aliar a Canuto. Ela é também apresentada envolvida com a
política, participando de intrigas da corte. Algo que inclusive ameaçava sua
vida e de seus três filhos. Historicamente isso realmente aconteceu, Emma tanto
foi leal a Etereldo, quanto a Canuto. Além disso, em determinado momento da
série, ela diz que era descendente de Rollo da Normandia (860-932), personagem
importante na série Vikings. Por conta disso, tinha vínculo com os nórdicos. De
fato, Emma foi uma das várias netas de Rollo. (BOLTON, 2017).
Imagem 6: A atriz
Laura Berlin com a rainha Emma, e uma imagem medieval da rainha Emma e seus
filhos.
Enquanto na série temos Canuto
indo buscar vingança pelo massacre, na História, quem fez isso foi seu pai
Sueno Barba Bifurcada (c. 965-1014), o qual passou vários anos enviando tropas
à Inglaterra para enfraquecer as forças de Etereldo II, sendo que as a
campanhas se intensificaram entre 1009 e 1012, contando com a própria presença
do monarca na Inglaterra, acompanhado de seu jovem filho Canuto Sveinson (c.
995-1035), (HOWARD, 2003). Canuto era um adolescente na
época, diferente do homem de quarenta anos que temos no seriado.
A campanha do ano de 1012 foi tão
impactante que Etereldo II temendo ser assassinado, fugiu com sua família e
alguns membros da corte, indo para a Normandia, terra natal de sua segunda
esposa, a rainha Emma da Normandia (980-1052). Na série essa fuga não acontece,
pois, o monarca já idoso e doente, opta em permanecer em Londres para defender
sua capital. Entretanto, com a fuga de Etereldo II em 1013, naquele mesmo ano,
Sueno foi coroado rei dos ingleses ao ser reconhecido por alguns earls (lordes).
No entanto, Sueno faleceu em 1014 por causas indeterminadas (suspeita-se de
possível assassinato), e com isso Etereldo II retornou com sua família para a
Inglaterra reassumindo o trono. (HOWARD, 2003).
Nos dois anos seguintes a morte
de Sueno Barba Bifurcada, o jovem Canuto reuniu forças e forjou alianças para
conquistar o trono inglês. Na série isso foi totalmente alterado, mostrando a
conquista de Londres como tendo sido a única iniciativa bélica de Canuto para
tomar o controle do trono inglês. Mas na História, com a morte de Etereldo II,
seu filho Edmundo II, Braço de Ferro (990-1016), o sucedeu, tendo combatido as
forças dinamarquesas por alguns meses até ser derrotado pelo exército de Canuto
e depois morreu de causas desconhecidas. Os filhos do jovem rei de 26 anos,
foram enviados por Canuto para o exílio. (BOLTON, 2017). Na série Edmundo é retratado
como não sendo casado e nem tendo filhos.
Imagem 7: O ator
Louis Davison como príncipe Edmundo, e uma imagem medieval do rei Edmundo II.
Com a morte de Etereldo II e
Edmundo II, Canuto negociou com os earls ser coroado rei da Inglaterra. Canuto
com essa conquista, deu início ao Império do Mar do Norte (1016-1035), que
compreendeu seus domínios na Inglaterra e Dinamarca, posteriormente
acrescentando a Noruega e partes da Suécia. No seriado, esse império já está
mais avançado do que foi na realidade. Além disso, para legitimar sua ascensão
ao trono, Canuto também se casou com a rainha Emma, algo retratado na série.
Enquanto que na História o jovem
Canuto conseguiu firmar sua autoridade através do casamento, presentes e
ameaças, não tendo muitos problemas de início, no seriado a subida ao trono
inglês é mais turbulenta, envolvendo intrigas políticas, traições por parte dos
aliados de Canuto, a chegada inusitada de Sueno (Søren Pilmark) para ser
regente do filho, que voltou a Dinamarca, e a presença da rainha Elgiva no
complô de corte contra o marido.
Neste ponto, a trama da série
alterou a condição de que Canuto somente foi coroado rei da Inglaterra dois
anos depois da morte de seu pai, mas no seriado isso ocorre com ele ainda
estando vivo. Porém, a maior mudança se encontra na personagem de Elgiva
(Pollyana McIntosh) a qual foi reformulada para a trama da série. No caso, a
personagem foi inspirada na rainha Elgiva de Northampton (c. 970-1044), a qual
foi a primeira esposa do rei Canuto, tendo se casado com ele por volta de 1018,
embora eles já vivessem juntos anteriormente. (BOLTON, 2017).
Na série, Elgiva ao saber do
adultério do marido, dar atenção ao plano de Olavo Haraldson de conquistar a
Noruega, assim, a rainha oferece ajuda a Olavo, enquanto parte à Inglaterra
para tomar controle do reino, apresentando-se como regente do marido, dando
início a uma intriga política. Historicamente Elgiva realmente pleiteou o trono
inglês, mas não para si, mas para seus filhos Haroldo Knutson (?-1040) e Sueno
Knutson (c. 1016-1035) (BOLTON, 2017).
Porém, esse interesse na política
somente ocorreu após a morte de Canuto em 1035. No seriado, os príncipes
Haroldo e Sueno aparecem brevemente e até são usados por Elgiva para barganhar
com o seu sogro. Observa-se que o autor Jeb Stuart antecipou alguns acontecimentos
históricos, além de alterá-los também, pois os príncipes somente passaram a
serem alvo de intrigas políticas, muitos anos depois da morte do avô. Além
disso, no seriado, eles aparecem mais velhos do que eram naquele período.
Um último ponto a ser comentado
sobre esse processo da subida ao trono de Canuto da Dinamarca, diz respeito aos
personagens Eadric Strona (Gavin Drea) e Godwin (David Oakes). Historicamente
ambos existiram, sendo que Eadric Strona (?-1017) realmente foi earl da Mércia
como mostrado no seriado, e foi assassinado a mando de Canuto, por se opor a
ele. Quanto a Godwin (1001-1053), ele foi um importante e influente earl de
Wessex e Kent, tendo sido um fiel servo durante o reinado de Canuto e de seus
sucessores. (BOLTON, 2017). Na série isso é mostrado como Godwin busca ganhar a
confiança do rei dinamarquês, mas também se destaca a condição de que o
personagem é ardiloso, realizando vários acordos e falsas traições na corte inglesa,
jogando de vários lados para poder manter sua posição de conselheiro e ganhar
autoridade.
A história das guerras de Sueno e
Canuto contra Etereldo e Edmundo podem ser conferidas em alguns manuscritos
medievais como a Anglo-Saxon Chronicle
(XII) de autoria desconhecida, a Historia
Anglonum (XII) de Henry de Huntingdon, o Gesta Hammaburguensis Ecclesiae Pontificum (XII) de Adão de Bremen. Nenhuma das obras tem tradução para o
português, mas podem ser lidas em inglês.
Fonte das imagens dos personagens:
Vikings: Valhalla Cast & Real
Life Character Guide. Disponível em: https://screenrant.com/vikings-valhalla-show-cast-real-life-character-guide/.
Fonte impressa
Anglo-Saxon Chronicle. Translation by Rev. James Ingran. London:
Everyman Press, 1912.
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BOLTON, Timothy. Cnut the Great. New Haven/London: Yale
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FERNANDES, José Lucas Cordeiro.
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HOLMAN, Katherine. Historical Dictionary of the Vikings.
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