quarta-feira, 29 de março de 2023

A Edda é um livro sagrado?

 Texto escrito por Johnni Langer (NEVE/RECEPTION)






domingo, 26 de março de 2023

Dinamarca produz série sobre Odin

 


Johnni Langer
NEVE/RECEPTION

O canal público de televisão da Dinamarca, DR, acaba de lançar no mês de março de 2023 uma nova série documental: Gåden om Odin (O mistério de Odin).

A produção é apresentada pela historiadora Cecilie Nielsen, que anteriormente esteve à frente de outra produção da mesma emissora, a respeito dos antigos reis da Dinamarca pré-cristã. A série possui seis capítulos de meia hora cada um, podendo ser acessada completamente neste site: Gåden om Odin. A série se concentra essencialmente em análise da cultura material e arqueológica relacionada ao deus, entrevistando diversos pesquisadores ao longo da série. A narradora visita dezenas de arquivos, museus e sítios arqueológicos. A série tem uma grande produção e uma música incidental extremamente envolvente, além de apresentar em diversos momentos, animações especialmente produzidas para cada capítulo.


A historiadora Cecilie Nielsen, apresentadora da série


O deus Odin é uma das deidades mais importantes da Escandinávia antiga e ele vem sendo foco de muitas investigações arqueológicas e históricas, bem como é o centro de algumas das descobertas mais importantes envolvendo as crenças pré-cristãs, a exemplo do recente encontro da inscrição rúnica mais antiga com o seu nome (para detalhes, clique aqui).

A seguir, fornecemos uma resenha crítica de todos os episódios da série O enigma de Odin, na qual procuramos sintetizar os principais resultados desta investigação sem precedentes.


1. Manden på stenen (O homem na pedra)

O capítulo inicial da série se concentra em um dos maiores monumentos da história da Dinamarca - a pedra de jelling II (DR 42), o grande marco comemorativo da cristianização da região, realizada pelo rei Haraldo Dente Azul. Mas a principal linha de problematização conduzida pela apresentadora Cecilie Nielsen é: a face C do dito monumento seria apenas uma representação de Cristo? Ou essa imagem poderia nos dizer algo a mais, envolvendo o passado pré-cristão?

Pedra rúnica de Jelling II (DR 42), face C com a figura do Cristo crucificado. Cópia colorizada do Palácio de Frederiksborg, Dinamarca, fotografia de Johnni Langer, 2018.

A primeira entrevistada é a célebre arqueóloga Else Roesdahl, atualmente com 81 anos, analisando a cena e a ornamentação da figura de Cristo, seguida de outra arqueóloga, Lotte Hedeager (com 75 anos), que também realiza alguns comentários sobre esta iconografia - a figura tem os braços abertos e remete à outras imagens religiosas do ocidente cristão, mas sempre pelo seu conteúdo temático. Mas após esta breve introdução à importância histórica do monumento, Cecilie investiga a questão estética (a forma): o Cristo retratado possui o mesmo tipo de face encontrado na arte pré-cristã da Dinamarca, sempre relacionada ao deus Odin: um velho barbado, com barba proeminente com ponta triangular, dois olhos arregalados (e em alguns casos, somente um olho). Um ponto não discutido pela série, com relação à pedra de Jelling, é a presença de triquetras, símbolos pré-cristãos associados com Odin, que passam também a ser interpretados como signos da trindade. Em nosso recente livro, tratamos desta questão (As religiões Nórdicas da Era Viking).

Cena do Havámál, Odin e as runas, primeiro episódio da série O enigma de Odin.

O primeiro momento emocionante da série é quando Cecilie se dirige para a ilha de Fiónia, onde em uma escavação no sítio de Ladby, a arqueóloga Ane Nyborg apresenta uma de suas descobertas mais recentes - um pequeno pingente com um rosto barbado ao lado de dois cavalos, interpretado como uma representação de Odin e datado da Era Viking. A sua face é objetivamente semelhante ao rosto encontrado em outros pingentes (mas ao lado de pássaros) e sítios, como da área dano-britânica - mas em especial, com o mesmo rosto da pedra de Jelling II.

Após uma abordagem de campo, Cecilie conversa com diversos especialistas (como Lars Holten, Simon Nygaard, Adam Bak, Kasper Hendersen, etc) a respeito dos variados aspectos de Odin na mitologia: como mago, pai dos deuses, criador, forjador, guerreiro, rei, trapaceiro, etc. 

Mas para ter uma visão mais completa e atual do Odin "literário", Cecilie vai até a Islândia, visitar os documentos manuscritos do Instituto Arnamagnæan e em especial, conversar com uma das maiores especialistas do mundo neste campo - a dinamarquesa Annette Lassen (que já proferiu uma conferência sobre este tema no CEVE: clique aqui) e chegar a outro ponto problemático: Odin é uma figura extremamente complexa e que sofreu diversas filtragens nas fontes literárias. Odin em muitos momentos teria sido adaptado pelo olhar cristão para atender aos propósitos civilizatórios e missionários. Assim, esta deidade foi em diversos momentos associada com a figura de Cristo.

Cena de Odin transformando-se no Cristo da pedra de Jelling


Saindo da Islândia, Cecilie apresenta para a câmera o seu passaporte dinamarquês, que possui timbrada a figura do Cristo de Jelling II - volta-se, desta forma, à problemática inicial do capítulo: nela, a figura central do cristianismo teria sido moldada pela antiga representação do deus Odin na arte nórdica pré-cristã. Um hibridismo cultural e visual. O capítulo desfecha com uma animação, onde o deus Odin, entrelaçado por galhos retorcidos da árvore Yggdrasill, se transforma no Cristo de Jelling. Nos próximos capítulos, a investigação vai retroceder ainda mais no tempo. 

2. Haralds guder (Os deuses de Harald)

Uma das grandes questões envolvendo o governo de Haroldo Dente Azul foi a de supostamente ter cristianizado toda a Dinamarca. Mas isso teria sido uma realidade concreta nesta época? Cecilie se dirige ao museu arqueológico de Fyrkat, na Jutlândia, examinando os restos mortais de guerreiros e pessoas comuns que viveram na fortaleza de Fyrkat, erguida durante o governo de Haroldo. E uma das mais espetaculares descobertas é a de um sepultamento de uma volva - uma profetisa/feiticeira da antiga religião - atestada pelos indícios de um bastão e um pingente em forma de trono. Assim, o cristianismo não teria sido uma realidade concreta para a maioria das pessoas de sua época e região.

Cena da volva de Fyrkat.


No museu de Brede, Cecilie examina outros vestígios encontrados da feiticeira de Fyrkat, apresentados pelo arqueólogo Peter Pentz, como uma pequena caixa originária da ilha da Gotlândia (Suécia), que continha originalmente chumbo branco, um corante medicinal, também usado como veneno. A existência deste tipo de praticante de magia em uma fortaleza de Haroldo, prova a existência de cultos odínicos ainda após a cristianização oficial da região.

Logo em seguida, Cecilie se dirige para a seção de Arqueologia da Universidade de Copenhague, onde é recebida pela arqueóloga Marie Jørkov, que vai comentar e mostrar os vestígios uma descoberta inusitada, depositada na reserva técnica da instituição. Na maior das fortalezas danesas da Era Viking (o epicentro do sistema de fortificações de Haroldo), Trelleborg, na Jutlândia, foram encontrados os vestígios de quatro crianças, sacrificadas em um pequeno poço da fortificação (entre 980 a 981 d.C.), no qual Cecilie examina um dos esqueletos preservados, aberto sobre uma mesa por Marie Jørkov. Cecilie ainda conecta o fato das crianças terem sido sacrificadas em um poço, com a narrativa de Odin sacrificando um olho no poço de Mimir e neste caso, mais uma evidência de culto pré-cristão ainda sobrevivendo após a cristianização. 

Cena do sacrifício de Trelleborg


Logo em seguida, Cecilie se dirige ao maravilhoso edifício da Biblioteca Real da Dinamarca, em Copenhague, para com a ajuda da historiadora Mia Münster-Swendsen examinar um dos manuscritos medievais mais célebres com a citação de sacrifícios para Odin: Gesta Hammaburgensis, de Adão de Bremen (versão C1, de 1230 d.C.). O documento alude à questão de que de nove em nove anos várias criaturas e humanos eram sacrificados para o referido deus, em uma árvore situada em Uppsala, Suécia.

Mas o momento mais emocionante de todo o episódio foi a visita de Cecilie a um dos mais preciosos conjuntos iconográficos de toda a Era Viking: os vestígios da tapeçaria de Oseberg, em Oslo. Trata-se aqui especificamente da cena de sacrifício de pessoas em uma árvore, confirmando o relato de Adão de Bremen e outras fontes. A tapeçaria foi encontrada junto a vários outros objetos em um sepultamento de embarcação, datados do século IX d.C. Neste momento, Cecilie examina os vestígios (e com restituição por computação gráfica aos espectadores) com auxílio da arqueóloga Mariane Vedeler. Em nenhum momento foi filmado ou comentado sobre a suástica tecida sobre a base da árvore dos sacrificados - um dos símbolos mais importantes relacionados ao deus Odin, juntamente com o valknut - evidentemente, por questões de associação contemporânea deste símbolo com os supremacistas e neonazistas vigentes na Escandinávia atual. O que em termos acadêmicos não deixa de ser lamentável. Mas em nosso recente livro As religiões nórdicas da Era Viking, examinamos em detalhes essa associação, no capítulo oito (Os símbolos).


3. Hjelmens magt (O poder do elmo)

O capítulo três aprofunda a questão dos cultos e rituais para o deus Odin. No museu de Roskilde (Zelândia, Dinamarca), Cecilie visita os vestígios de corpos humanos do século IX d.C., descobertos na região de Gerdrup, norte de Roskilde. Segundo comentários do arqueólogo Ole Kastholm, o sepultamento continha os restos de uma homem e uma mulher: a última estava portando uma lança, enquanto o jovem era filho dela, segundo análises de DNA. 

Cena do sacrifício de Gerdrup

Atualmente os pesquisadores não percebem mais esse objeto marcial (a lança) como algo ligado diretamente ao cotidiano da mulher, mas pode ter sido inserido após a sua morte, denotando o seu alto prestígio social e evidentemente, algum tipo de relação com o culto ao deus caolho (uma profetisa? Uma sacerdotisa?). Outro detalhe que confirmaria essa ideia é que sobre o corpo da mulher, foram depositados três enormes blocos de pedra - como todo escandinavista sabe, três é um número sagrado relacionado ao deus dos corvos.



Cena de fragmento da tapeçaria de Oseberg - onde estão representados um homem portando chifres e dois dardos cruzados (uma dramatização do deus Odin?), um guerreiro portando uma pele de urso (um berserkr?), e diversas mulheres armadas (dramatizações de valquírias?).


Cecilie volta à tapeçaria de Oseberg, em Oslo, mas desta vez com outra cena - a que especialmente representa uma possível dramatização do deus Odin - uma figura masculina portando chifres e dois dardos cruzados, uma referência visual amplamente difundida em pingentes e placas de elmos da Era Viking. Para Simon Nygaard (historiador da Universidade de Aarhus, um dos entrevistados com mais frequência em toda a série) não resta a menor dúvida: trata-se de um representação do deus caolho, sendo os chifres um simbolismo direto de sua associação aos dois corvos, Hugin e  Munin. Mas Søren Sindbæk pede prudência: pode ser simplesmente um homem fantasiado na tapeçaria, dramatizando ou participando de um ritual para esta deidade. Mas em todo caso, para qualquer que seja a interpretação possível, remete diretamente ao deus dos enforcados.

Voltando para a Dinamarca, na cidade de Brede, Cecilie investiga o vestígio de uma pequena placa metálica para ser utilizada inserida na lateral de elmos, com o motivo de um chifrudo com dardos. A peça é apresentada e analisada pelo arqueólogo Peter Pentz, que conecta a figuração com os rituais de guerra da aristocracia, desde o período germânico das migrações. Seguindo esta interpretação, Cecilie segue para a região de Valsgärde, Suécia, investigar os mais famosos elmos da Escandinávia pré-cristã, mas que são anteriores à Era Viking, datados do Período Vendel. Por ali, ela observa extasiada o impressionante elmo, interpretado pela hoje famosa arqueóloga Charlotte Hedenstierna-Jonson (devido à uma nova análise de tumba feminina de Birka) - especialmente seus motivos serpentiformes e a sua ligação com a aristocracia guerreira. Não podemos deixar de mencionar a nítida emoção de Cecilie quando visita alguns dos montículos funerários de Valsgärde, destacando a sua importância e imponência frente à paisagem. História é Ciência, disso ninguém dúvida (a não ser alguns incautos), mas também é emoção e paixão!

Saindo dos montículos, em seu carro, Cecilie faz uma ligação telefônica para o pesquisador Paul Mortimer, para que este comente um pouco sobre o seu famoso estudo que publicou com Neil Price - analisando a relação do deus Odin com o elmo de Sutton Hoo. Juntos, os dois seguem para examinar uma réplica deste elmo anglo-saxão no grande salão reconstituído de Lejre, Zelândia (que Paul trouxe da Inglaterra). O elmo forneceria uma personificação alegórica do deus Odin para o seu portador, sendo um objeto fundamental para os simbolismos de poder militar e religioso do líder guerreiro. O desfecho deste episódio apresenta Paul Mortimer colocando equipamentos e indumentárias completas para reconstituir o líder aristocrático dos anglo-saxões, seguidor do deus caolho. Mas é no início do quarto capítulo que tanto Cecilie quanto Simon Nygaard observam, extasiados, Paul caracterizado historicamente como o líder saxônico, em meio à pouca iluminação do salão.

4. Den romerske gud (O deus romano)

Cecilie dirige-se ao museu de Lejre, para conversar com a arqueóloga Julie Nielsen a respeito de uma das maiores descobertas arqueológicas relacionadas à deidade caolha: o famoso pingente encontrado nesta região, apresentando o mesmo sentado em um trono, lado a lado com dois corvos e dois lobos. Para além de sua representação icônica como modelo político e da realeza local, Nielsen também apresenta outro objeto pertencente ao museu: um fragmento da órbita de um elmo, destacando a circularidade e o simbolismo do olho para a divindade (e o portador do objeto). O simbolismo do olho forneceria assim, tanto uma identificação com o principal deus da elite, quanto um sinal de objetivo poder político e social - símbolo de guerra, de autoridade e de controle de uma região.

Odin de Lejre: imagem pequena, abaixo à esquerda: foto da peça original; imagem grande: reconstituição do Museu Lejre. Todas as fotografias são de Johnni Langer, 2018.



Seguindo na busca por vestígios do culto de Odin na Dinamarca antiga, Cecilie se dirige ao sítio de Stavsager Høj, próximo a Ribe, na Jutlândia. Neste local, ela é recebida pelo arqueólogo Lars Grundvad, que explica que o local foi um importante santuário dedicado ao deus dos corvos - construído entre os séculos 150 a 450 d.C., abrigando dezenas de túmulos e principalmente, uma edificação fechada que continha em sua entrada uma disposição de 50 lanças cravadas no solo, o que atestaria uma função de templo ao local. Os túmulos continham vestígios de pérolas, anéis de ouro e taças de vidro originadas do Mar Negro. Lars também compara o local com outra referência dos antigos germanos: o culto à deusa Nerthus, citada por Tácito em sua famosa obra Germânia (De origine et situ Germanorum), do século I d.C. Aqui surge outra problemática de investigação por parte de Cecilie: porque o deus Odin (Wotan nos tempos antigos) surgiu? Existiam outros deuses antes dele? Para responder a esta questão, ela viaja para Roma.

Duas cenas de festividades rituais que eram celebradas em torno da edificação cúltica (templo) de Stavsager Høj: alto - fogueiras; imagem de baixo - desfile de carroça com alimentos e flores.


Visitando a Biblioteca Nacional de Roma, Cecilie vislumbra uma das cópias manuscritas do livro de Tácito, o Codex Aesinas, que recebe comentários do historiador Mads Lindholmer, destacando as características de Wotan-Odin que teriam sido reinterpretadas pelo referencial romano como Mercúrio.


Cena caracterizando Odin como Mercúrio, dentro da interpretatio romana.



5. Krigeren fra Øst (O guerreiro do Oriente)

Voltando para a Dinamarca, Cecilie investiga as origens das bracteatas germânicas - espécie de medalhões com figurações humanas, símbolos geométricos e runas - que foram influenciadas pela cultura romana. No Museu Nacional da Dinamarca, ela investiga uma das maiores coleções do mundo neste tipo de artefato. E o tema recebe comentários da arqueóloga Lotte Hedeager - a imagem de cavaleiros guerreiros que foram representadas nas bracteatas teriam sido influenciados pelo contato cultural dos germanos com os romanos e os hunos, sendo a figura de Wotan um produto de hibridização com o Átila histórico, idealizado culturalmente pelos germanos. 

Cena em que Odin aparece hibridizado com a figura histórica de Átila, o huno


Lotte adverte que Átila não criou a figura do deus, mas ajudou esta a obter certas configurações com o tempo - como a associação com cavalos e animais, ausentes da arte germânica mais antiga; e também o xamanismo, típico de populações asiáticas e circumpolares. A própria origem asiática na visão evemerista de autores medievais como Snorri Sturluson, apontaria para estas antigas conexões. Neste momento, para aprofundar as interpretações asiáticas de Odin, Cecilie volta novamente para a Islândia, onde Annete Lassen aponta textualmente uma das citações asiáticas em um dos manuscritos preservados da Edda em Prosa.

6. Ragnarok 

No último episódio da série, Cecilie investiga um dos eventos mais violentos da história nórdica: a catástrofe climática provocada por erupções vulcânicas no século V d.C., originando caos e desaparecimento de povoações em toda a Escandinávia - que talvez tenham criado o núcleo central do mito do Ragnarok.

Por análises de padrões de lascas de carvalhos dinamarquesas, a bióloga Claudia Baittinger concluiu que após o século VI d.C. houve uma diminuição do padrão de luz solar, possivelmente causado por intensa atividade vulcânica (com verões extremamente fracos - o que para a Escandinávia seria catastrófico!). Para ilustrar melhor a série, Cecilie acompanha uma equipe em visita a um vulcão ativo na Islândia - possivelmente o local originador da grande catástrofe no início da Alta Idade Média.

Cena de Odin e o lobo Fenrir no Ragnarok



Em outra cena novamente em Reykjavík, Annette Lassen faz uma leitura de trecho em islandês antigo sobre o Ragnarok de um manuscrito, onde aparece o ponto central desta mitologia: o Fimbulvinter - o longo inverno que antecederia o caos supremo. A alta quantidade de enxofre e detritos que teriam sido expelidas pelas erupções vulcânicas do século VI d.C. e acumulado na atmosfera, impediram a penetração da luz solar, causando frio anormal, perdas de colheita, fome generalizada e abandono de povoações. É o momento em que a Ciência se encontra com o Mito.

Neste momento de crise, antigos cultos solares (que predominavam desde a Idade do Bronze) são abandonados e a Escandinávia passa por um novo incremento ao culto dos deuses germânicos, dos quais os ritos odínicos prevalecem entre as aristocracias guerreiras. Cecilia confirma este posicionamento, visitando a cidade de Vindelev (Museu Vejle), que possui um grande acervo de diversos artefatos de ouro e bracteatas com simbolismos odínicos, demonstrando a grande ideologia político-social que esta deidade adquiriu após o século V na área dinamarquesa. Muitos destes artefatos foram encontrados amassados e enterrados propositalmente, talvez com a intenção de aplacar a grande crise em que o mundo transcorria naqueles tempos. A figura de Odin, que já existia muito tempo antes do Fimbulvinter, agora ganha novos contornos e se adapta com a configuração do Ragnarok. 

Como complemento para esta questão, Cecilie encontra-se com a equipe de pesquisadores Lisbeth Imer e Krister Vasshus e examinam a agora célebre bracteata encontrada na Dinamarca que contém a mais antiga referência ao deus caolho: "Este é o homem de Wodanaz (Odin)". Mas apesar da filmagem ampliada do objeto destacar em vários momentos a suástica desta bracteata, ela não foi comentada. Mais uma vez, divulgamos o nosso recente livro para detalhamento analítico da relação entre o deus e o seu principal símbolo religioso (no capítulo oito, os símbolos): As Religiões Nórdicas da Era Viking.

A série desfecha retornando para a pedra de Jelling, onde tudo teve início com o simbolismo ornamental do deus dos corvos transfigurado em Cristo: "o início da Dinamarca com Odin apoiando", nas palavras finais de Cecilie Nielsen.

A série apresenta uma das visões acadêmicas mais atualizadas sobre o deus Odin, tanto em conjunto quanto em perspectivas individualizadas, enfatizando uma análise diacrônica e pela perspectiva arqueológica. A produção é impecável e altamente envolvente. Talvez um dos únicos pontos negativos que podemos apontar é a ausência total na série de um dos maiores pesquisadores da temática, o historiador Jens Peter Schjødt, professor emérito da Universidade de Aarhus. O NEVE produziu uma entrevista com este importante pesquisador na estreia do periódico acadêmico Scandia Journal of Medieval Norse Studies, em 2018.


Vídeo sobre o culto a Odin na Era Viking (em português) produzido pelo NEVE:

quinta-feira, 23 de março de 2023

domingo, 12 de março de 2023

Lançamento: As Religiões Nórdicas da Era Viking, Editora Vozes



O novo livro de Johnni Langer: As Religiões Nórdicas da Era Viking está sendo vendido pela Livraria Vozes, Livraria Cultura, Livraria da Vila, Travessa e com  desconto promocional na AmazonLivraria Loyola.
Trata-se de um manual com 344 páginas, sistematizando o tema das crenças pré-cristãs na região escandinava. Texto de apresentação (orelha) do professor Álvaro Bragança Júnior (UFRJ). Neste livro, o leitor vai encontrar os principais mitos, rituais, formas de culto, símbolos, templos, runas, e ressignificações artísticas da mitologia e religião pré-cristã. a obra conta com diversas ilustrações, mapa, tabelas e infográficos. 

A seguir, fornecemos os textos de capa e o sumário completo do livro:





Sumário:











sexta-feira, 10 de março de 2023

Grupo Digital de Estudos Vikings



O grupo tem como finalidade realizar reuniões virtuais sobre a Escandinávia da Era Viking, públicas e gratuitas. As reuniões serão uma vez a cada mês, sempre aos sábados de manhã e tem como público-alvo graduandos em HistóriaO grupo também está aberto para graduandos de outras áreas, graduados e professores interessados em realizar Mestrado em História. Para o ano de 2023 as metas serão discussões envolvendo fontes primárias e metodologias de pesquisa. O foco principal do grupo é fornecer bases estruturais para a elaboração de TCCs e projetos para mestrado, envolvendo temas em Escandinavística Medieval. 

O grupo conta com o apoio do NEVE (Núcleo de Estudos Vikings e Escandinavos) e o Programa de Pós Graduação em História da UFRN

Informações e inscrições: neveufpb@yahoo.com.br 

As reuniões serão pelo Google Meet. O link será enviado por grupo do WhatsApp e e-mail aos inscritos. As datas da reunião mensal serão definidas e enviadas ao grupo.


Cronograma para o ano de 2023: As representações dos Vikings nas fontes primárias


Abril

Vikings: conceito, História e historiografia

LANGER, Johnni. Viking. In: LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2018, pp. 706-718.


Maio

Os vikings nas fontes estrangeiras 

ADBERT, Paschase. As atividades dos vikings no Vale do Sena, durante os anos de 856 a 862. In: D`HAENENS, Albert. As invasões normandas: uma catástrofe? São Paulo: Perspectiva, 1997, pp. 89-90.

Crônica anglo-saxônica traduzida ao inglês moderno: The Project Gutenberg, 1996. 

ALBUQUERQUE, Isabela. Por um estudo das identidades na Inglaterra anglo-escandinava à luz dos charters e da Crônica Anglo-Saxônica. Temas Medievales 28(1), 2020. 


Junho

Vikings na Gesta Danorum, de Saxo Gramaticus, séc. XII-XIII.

ZANIRATO, Andreli. Saxo Grammaticus e a Gesta Danorum. In: Religião e magia na Gesta danorum de Saxo Grammaticus, séculos XII e XIII. Dissertação de mestrado em História, UFRGS, 2019, pp. 22-27. 

MUCENIECKS, André. Saxo Gramaticus e a Gesta Danorum. In: Virtude e conselho na pena de Saxo Grammaticus (XII-XIII). Dissertação de mestrado em História, UFPR, 2008, pp. 46-56.

Tradução da Gesta Danorum ao espanhol: Historia Danesa, edição de Santiago Lluch. Madrid: Miraguano, 2013.


Julho

Vikins nas sagas islandesas.

LANGER, Johnni. História e sociedade nas sagas islandesas. Aletheia 1, 2019, sempaginação.

OLIVEIRA, André de. As sagas islandesas. In: Imaginário e identidade na conversão da Islândia. Dissertação de Mestrado em História pela UFMA, 2014. pp. 22-36.

Sagas islandesas traduzidas ao espanhol: Academia.Edu, 2016.


Agosto

Vikings ns Eddas

SAMPAIO, Victor Hugo. A Edda em Prosa/A Edda Poética. In. Diferentes sons do trovão: uma perspectiva comparativa entre os deuses Thor, Ukko e Horagalles. Dissertação de Mestrado em Ciências das Religiões pela UFPB, 2019. pp. 64-66; 88-89.

BOULHOSA, Patricia. Breves observações sobre a Edda em Prosa. Brathair 4, 2004. 

As duas Eddas foram traduzidas ao espanhol: Edda Mayor e Edda Menor, ambas por Luis Lerate. Madrid: Alianza Editorial, várias edições e dtas.


Setembro

Vikings no romantismo oitocentista

 A invenção literária do nórdico: Vikingen (O Viking), de Erik Gustaf Geijer (1811). Scandia: Journal of Medieval Norse Studies n. 3, 2020, pp. 709-738 


Outubro

Análise histórico-literária de fontes escandinavas

CARDOSO, Ciro Flamarion. O conto islandês de Helgi Thorison (século XIV), In: Narrativa, Sentido, História. Campinas: Editora Papirus, 1997, p. 67-83.


Novembro

Recepção de temas nórdicos

ROSS, Margareth Clunies. Reception studies. Handbook of Pre-Modern Nordic Memory Studies, 2019.

LANGER, Johnni. Quando o Mito foi História: os usos da Mitologia Nórdica no livro ´História Ilustrada da Dinamarca para o povo´. Revista Fênix, 2022.


Dezembro

Arqueologia e História na Escandinávia da Era Viking

FUNARI, Pedro et al. Introduction: Archaeology in History. Naya vol. 2.

MYHRE, Bjorn. The beginning of the Viking Age–some current archaeological problems. Journal of Maritime Archaeology volume 14, pages43–80 (2019).

LANGER, Johnni. Introdução à Arqueologia da Era Viking. Curso em quatro módulos, canal do NEVE, 2022.


Bibliografia básica de suporte:

LANGER, Johnni (Org.). Dicionário de História e Cultura da Era Viking. São Paulo: Hedra, 2018.

LANGER, Johnni. As religiões nórdicas da Era Viking. Petrópolis: Vozes, 2023.


PRICE, Neil. Vikings: a história definitiva dos povos do norte. São Paulo: Crítica, 2021.


Artigos instrumentais e guias da internet:


Como escolher um tema e fonte em pesquisa escandinavística


Pós em História com temática nórdica


Vídeos da internet:






sexta-feira, 3 de março de 2023

Live sobre Mitologia Nórdica no dia 8 de março

 No dia 8 de março de 2023, quarta feira, às 20 horas, vai ocorrer uma live sobre Mitologia Nórdica, contando com a participação do professor Johnni Langer (NEVE). O vídeo ficará disponível no Yotube após a live: