Leandro Vilar de Oliveira (NEVE)
Doutor em ciências das Religiões pela UFPB
Victor Hugo Sampaio (NEVE)
Doutorando em Ciências das Religiões pela UFPB
Introdução: A
imagem recentemente divulgada da aparência de Thor no mais novo jogo da
franquia God of War (Ragnarok) foi responsável por criar uma polêmica que se
estendeu para além do cenário gamer. Inúmeras discussões e debates calorosos
surgiram por conta da escolha de representar o deus com uma barriga um tanto
quanto protuberante, o que, claro, o distanciava do Thor dos cinemas
interpretado por Chris Hemsworth e seu porte atlético e também do imaginário
popular que se tem a respeito do deus. Inspirados por essa polêmica, decidimos
escrever esse ensaio fazendo um apanhado das diferentes formas como Thor foi
retratado na cultura pop ao longo dos séculos XX e XXI. Antes disso, convém
dizermos algumas poucas palavras a respeito de Thor, seus poderes e aparência
conforme constam na mitologia escandinava.
Thor nos mitos: Thor (Þórr em nórdico antigo) foi uma das mais
importantes e presentes divindades na mitologia e religião pré-cristã dos
escandinavos. O deus continua desfrutando de inegável popularidade entre nós, ainda
nos dias de hoje, em parte devido ao seu papel de super-herói nos mais recentes
filmes da franquia Marvel e, além disso, também por conta do crescente
interesse pela mitologia e religião dos escandinavos, os “vikings”.
Engana-se
quem pensa ser fácil oferecer uma descrição sucinta a respeito de Thor e seus
poderes divinos conforme as fontes que sobreviveram e chegaram até nós (poemas
éddicos, Edda em Prosa, sagas, poesia
escáldica, etc.). Ao que tudo indica, o “deus dos trovões” da mitologia
escandinava era, na verdade, muito mais conhecido por sua força descomunal e
sobre-humana do que pelo controle de manifestações climáticas como raios e
trovões; de alguma forma, basicamente todas as narrativas mitológicas que
envolvem Thor acabam girando em torno dessa sua característica (Taggart, 2015,
2017; Alves, 2019a, 2019b).
Um
dos principais papéis de Thor era o de protetor dos seres humanos e dos demais
deuses, atuando como uma espécie de vigia e mantenedor da ordem cósmica. É por
isso que grande parte dos seus mitos descrevem suas batalhas contra inúmeros
seres da raça dos gigantes, os principais inimigos dos deuses e ameaçadores
desse equilíbrio (um levantamento de nomes de gigantes que foram mortos por
Thor foi feito por Lindow, 1988). Sua inimiga ferrenha é a Serpente do Mundo (Jǫrmungandr ou Miðgarðsormr), que, apesar de
ser morta por Thor no momento do Ragnarök, terminará envenando-o e fazendo com
que o deus também morra.
Ao
contrário de deuses como Odin, que pareciam estar mais conectados a questões
aristocráticas e de realeza, Thor era visto como um deus mais próximo e
acessível aos humanos, sobretudo dos camponeses. Se somarmos isso ao que foi
dito no parágrafo anterior, entendemos um dos títulos para se referir ao deus: alda bergr, “protetor dos homens”
(Davidson, 1990, p. 91). Para que se tenha uma noção dos principais atributos e
características do deus e os mitos mais fundamentais a seu respeito, remetemos
o leitor, aos seguintes materiais: Davidson, 1990, Simek, 2007, Langer, 2015;
Lindow, 2019. Também já foram feitas análises sobre o deus Thor nas HQ’s (Oliveira,
2014) e no primeiro filme da Marvel, comparando-o às fontes da mitologia
escandinava (Alves, 2021).
Infelizmente,
as fontes da Era Viking e do período medieval não nos revelam muitas
informações a respeito da aparência e dos traços físicos de Thor. As menções
que chegaram até nós são escassas e pontuais. No Flateyjarbók I, 248 é afirmado que o deus é capaz de criar e
direcionar os ventos ao soprar sua barba (a ligação entre Thor e os ventos é
explorada minuciosamente por Perkins, 2001); ou seja, sabemos que o deus tinha
barba. Na Flóamanna saga 21, Thor
aparece no sonho de um cristão para ameaçá-lo, “grande e da barba vermelha”. A Eiríks saga rauða (Saga de Eric, o
Vermelho) confirma esse fato,
utilizando o epíteto “Barba Vermelha” para designar Thor. Se assumirmos a hipótese de que o deus tinha a
barba ruiva, então de fato é muito mais provável que seu cabelo também fosse
ruivo ou avermelhado, e não loiro. O prólogo da Edda em Prosa, contudo, nos levanta certa dúvida: Snorri descreve
Thor como sendo belo (característica que costuma ser marcante no deus Baldr) e
tendo cabelos “mais belos que o ouro”. Embora essa menção ao ouro não
signifique necessariamente que haja uma alusão à cor dourada dos cabelos de
Thor, e que o ouro possa ter sido empregado apenas como critério comparativo e
ilustrativo de beleza reluzente, ainda assim devemos levantar alguma suspeita.
Retomemos
a passagem da Flóamanna saga 21 que
descreve o deus como sendo “grande”. Quando a comparamos com o que sabemos a
respeito de Thor nos mitos escandinavos, ela parece coerente e sem grandes
problemas. Sua força sobre-humana era o que o tornava tão distinto e o
destacava em meio ao restante do panteão divino; era justamente graças à sua
força descomunal que Thor atuava como o campeão e defensor dos deuses homens,
especializando-se em eliminar os seres da raça dos gigantes, que eram
extremamente poderosos (para uma análise completa das demonstrações de força do
deus e a defesa de que era esse seu traço principal e mais estável, ver Taggart,
2015). Faria sentido, então, que Thor fosse visto como um ser grande: o poema
escáldico Haustlöng descreve o
impacto do deslocamento e movimentação de Thor no ambiente como causando
terremotos, deslizamentos de terra e até erupções vulcânicas.
Contudo,
o fato de que Thor era extremamente forte e descrito como sendo “grande”
dificilmente implicaria em uma imagem do deus à lá Thor dos filmes da Marvel.
Primeiramente porque não existem indícios de que esse fosse o padrão estético
de beleza entre os escandinavos. Em segundo lugar, havia uma ligação intrínseca
entre Thor e uma ideia de vigor ilustrado por meio de um apetite voraz, quase
tão infindável quanto sua força. No poema éddico Þrymskviða (Canto de Thrym), uma famosa cena de banquete, afirma
que Thor teria comido, sozinho, um boi inteiro e oito salmões (as implicações
sociais e simbólicas desse evento foram estudadas por Campos, 2017).
Enfim,
conforme se percebe, as breves descrições que a mitologia escandinava oferece a
respeito da aparência de Thor, não esclarecem nossas dúvidas, mas apenas nos
oferecem algumas linhas gerais de entendimento. Ao que parece, os escandinavos
não estavam preocupados em descrever a aparência do deus de maneira minuciosa,
até mesmo porque a visualização de sua forma provavelmente variava entre as
diferentes regiões e períodos históricos e também, nesse caso, de individuo para
indivíduo. Nesse momento, partiremos para o objetivo central de nosso ensaio,
que é o de apresentar as variações na aparência de Thor em diferentes materiais
contemporâneos.
Thor da Top-Notch Comics (1939)
Lançada pela MLJ Comics, a
revista Top-Notch Comics foi
publicada entre 1938 e 1942, apresentando histórias de mistério, fantasia,
aventura, sobrenatural, em diferentes lugares e épocas. A revista funcionava
como uma antologia reunindo narrativas de diferentes autores e temas, e no caso
da Top-Notch Comics # 2 de novembro
de 1939, escrita por Otto Binder e desenhada por Jack Binder, temos a presença
do deus Thor, um homem viajante do tempo, que de forma inusitada surge no
presente, aliando-se a civis e heróis, para enfrentar diferentes ameaças.
Na típica trama de ficção
científica fantástica da época, em que se reunia personagens bem inusitados,
Thor foi retratado como um guerreiro viking, ruivo e barbudo, usando elmo com
chifres (resquício do famoso estereótipo), usando um peitoral dourado e saia
verde. O martelo na ocasião é referido como um machado de dois lados. Nota-se
também que ele apresenta braços musculosos como forma de reforçar a ideia de
ser um deus associado a força.
Figura 1: Thor aparece vestido como um
viking estereotipado na revista Top-Notch Comics # 2 (1939). Fonte: http://undercoverarchie.blogspot.com/2015/08/.
Thor
da Weird Comics (1940)
Na chamada Era de Ouro dos
Quadrinhos nos Estados Unidos, teve-se a publicação breve e pouco conhecida
sobre as aventuras do deus Thor no mundo contemporâneo. O personagem foi
concebido pelo artista Pierce George Rice (1916-2003) para a revista Weird Comics # 1, em 1940. A trama
serviu de inspiração para a versão da Marvel Comics desenvolvida duas décadas
depois, condição essa que o Thor da Weird não era o deus do trovão em si, mas
seus poderes transmitidos para um jovem chamado Grant Farrel, que passou a usar
o martelo Mjölnir, além de poder voar, ter superforça e atirar raios com as
mãos.
No quesito do visual do Thor de
Grant Farrel, ele era apresentado com um físico atlético comum para os padrões
de 1940, havendo pouco destaque para sua musculatura. Além disso, o personagem
usava um elmo liso, capa azul claro, cueca e botas no estilo do Superman e
Batman. O restante do corpo estada descoberto para evidenciar seu porte
atlético, que para os padrões atuais não seria bem aceito, como veremos adiante
ao longo do texto. Sublinha-se que esse Thor já era retratado como sendo louro
e não tendo barba, apresentando uma aparência bem jovial, pois seu alterego era
um homem em torno dos 20 anos de idade.
Figura 2: O Thor da Weird Comics,
desenhado por Pierce George Rice, na década de 1940. Fonte: http://www.guiadosquadrinhos.com/personagem/thor-(grant-farrel)/5363.
As aventuras de Thor nos Estados
Unidos da primeira metade do século XX, não foram tão populares, condição essa
que a Weird Comics publicou apenas sete histórias com o personagem, incluindo a
condição de que nas últimas duas narrativas ele trocou de visual e identidade.
Grant Farrel foi trocado por Peter Thor, o novo escolhido do deus do trovão
para herdar seus poderes. A mudança foi feita por Wright Lincoln, o qual lhe
concedeu um novo visual: cabelos louros curtos, rosto imberbe e um traje
vermelho e azul, com um sol estampado no peito. A questão é que o novo visual
foi inspirado em Flash Gordon, herói popular na época.
Figura 3: Dynamite Thor em cena da Weird
Comics # 6, 1940. Fonte: https://pdsh.fandom.com/wiki/Dynamite_Thor.
O novo visual do Thor da Weird
durou pouco também, condição que a revista cancelou suas histórias após dois
números. Mas além da mudança de visual, o novo Thor também mudou drasticamente
em relação ao anterior: ele deixou de usar o martelo, perdeu seus poderes de
raios e seu vínculo com a mitologia nórdica, condição essa que o Dynamite Thor
era vendido como um herói possuindo “poderes explosivos”.
Thor
da Adventure Comics (1942)
A revista Adventure Comics (1935-1983) pertence a DC Comics, foi publicada ao
longo de décadas, tendo mais de 500 volumes, inclusive foi em suas páginas que
super-heróis icônicos como Superman e Batman apareceram. As edições publicavam
histórias diversas, passando pela aventura, ação, fantasia, suspense etc. Em
1942, Jack Kirby e Joe Simon, os quais tinham trabalhado na criação do Capitão
América (1940), foram contratados pela DC para assumir histórias na Adventure Comics, uma delas foi sobre o
Thor.
Na edição 75, publicada em 1942,
escrita por Simon e desenhada por Kirby, temos o embate dos heróis Sandman e Sandy
contra Thor, cuja trama foi chamada de Villain
from Valhalla. Tal narrativa possui dois aspectos interessantes: o primeiro
é que Thor aparece como vilão, mas também consistiu na primeira vez que Kirby
desenhou o personagem. Em sua carreira ele criaria outras duas versões do
personagem, como será visto adiante.
Na trama, um navio viking
liderado por Thor aparece nos EUA, e começa a cometer crimes, Sandman e Sandy
passam a enfrentar aqueles piratas do passado. Nessa primeira versão desenhada
por Kirby, Thor é retratado de forma estereotipada, representando um viking
pirata brutamontes, musculoso, usando elmo com chifres, braceletes de metal,
sandálias de couro, saiote de pelos e uma espada. Nessa versão Thor é retratado
como ruivo, tendo cabelos e barba grandes.
Figura 4: Capa da Adventure Comics # 75
(1942). http://davescomicheroes.blogspot.com/2017/11/thor-versus-sandman-by-jack-kirby.html
Essa versão do Thor retornaria
novamente como vilão na All-Star Squadron
# 18 (1983), como homenagem a Kirby. No entanto, é interessante salientar que a
DC Comics possui várias versões deus Thor, aparecendo em diferentes séries da
editora.
Thor
da Timely Comics (1951)
Após o contexto da Segunda
Guerra Mundial (1938-1945), a esfera das hqs americanas mudou bastante, heróis
surgidos por conta do contexto da guerra ou perderam importância, tendo suas
revistas canceladas, ou tiveram que ganhar novos propósitos, como o Capitão
América (surgido em 1941). Por outro lado, as décadas de 1940 e 1950 ainda
testemunharam o interesse por narrativas espaciais, de aventura, de mistério e
de terror. Por conta disso, a editora Timely Comics (que viria a se tornar a
Marvel Comics), lançou em 1948 a revista Venus,
uma antologia de terror, aventura e ficção científica, publicada até 1952,
possuindo 19 volumes.
A revista era vendida como uma
coletânea de histórias estranhas e do sobrenatural, tendo contato com trabalhos
do próprio Stan Lee. Na edição 11 intitulada The End of the World!, Thor aparece brevemente como um figurante,
já na edição 12 com o título Trapped in
the Land of the Terror, Thor surge ao lado de Loki, ambos incumbidos por Júpiter
de ir resgatar a deusa Vênus, que foi sequestrada por um tirano que morava no
planeta Cassarobia.
O Thor que aparece brevemente
nessas narrativas da Revista Venus
era retratado como sendo ruivo, possuindo cabelos curtos e barba curta. Ele
usava apenas saia e botas, ambos na cor azul claro. Era retratado já tendo um
porte mais musculoso e um pequeno martelo. Por sua vez, Loki usava roupas na
cor azul, preta e uma capa vermelha, inspirada no estereótipo do Diabo.
Figura 5: Thor e Loki na revista Venus
vol. 12, 1951. Fonte: https://comicvine.gamespot.com/thor/4005-2268/forums/thors-1st-appearance-580442/.
Nessa versão da Timely Comics o
Thor voltou a ser barbudo e ruivo como nas versões de 1939 e 1942. Embora que o
visual dele como louro e sem barba foi mais predominante nas décadas seguintes.
Thor de The Brave and the Bold (1955)
Nessa série da DC Comics,
publicada continuamente entre 1955 e 1983, depois retomada nos anos 1990 e
2000, contém a segunda presença do Thor da DC. Nessa época os quadrinhos do Príncipe Viking (1955) estavam em alta
nos Estados Unidos, assim a DC viu oportunidade de explorar a temática. O
próprio personagem, criado por Robert Kanigher e Joe Kubert, surgiu nas páginas
da The Brave and the Bold,
tornando-se regular em algumas narrativas.
Dessa forma, a primeira referência
a Thor, ocorreu na revista The Brave and
the Bold # 3 (1955), uma revista conhecida por antologias de histórias de
fantasia e aventura. Nessa edição tivemos a história The Hammer of Thor, protagonizada pelo herói Príncipe Viking (uma
versão loura do Conan, o Bárbaro e menos violenta). Nessa narrativa, o príncipe
encontrou o martelo Mjölnir e ganhou temporariamente os poderes de Thor.
Figura 6: O Príncipe Viking obtendo os
poderes de Thor, na revista The Brave and the Bold # 3 (1955). Fonte: https://www.pinterest.de/pin/624944885778435593/.
Pelo
visual nessa versão, observa-se algumas semelhanças com o Thor da revista Venus, em que ambos os casos, eles têm cabelos curtos e usam apenas uma saia
e sapatos como vestes. Embora o Príncipe Viking não seja o Thor propriamente
falando, mas ele ganhou os poderes do deus do trovão, como ocorrido com os Thor
da Weird
Comics. Além disso, nota-se nessa
versão novamente a adoção do visual louro e imberbe. Porém, o porte físico
dessa versão já realça mais a musculatura do personagem, sobretudo do tórax e
dos braços.
Thor de Tales of the Unexpected (1957)
Outra aparição do deus dos raios
e trovões ocorreu na revista Tales of the
Unexpected (1956-1968), também serializada pela DC Comics, contando com
várias histórias fantásticas, incluindo elementos mitológicos. No volume 16,
intitulado The Magic Hammer, tivemos
a presença de Thor. Na época a revista era desenhada por Jack Kirby, o qual
desenhou sua segunda versão do personagem mitológico.
Nesse conto bem-humorado, Thor durante
um banquete em Valhala, teve seu martelo roubado por Loki, mas durante a
perseguição ao mesmo, Loki foi capturado, mas perdeu o martelo, o qual caiu nos
Estados Unidos durante o Velho Oeste, então uma série de pessoas comuns começaram
a encontrar a arma e se depararem com seus poderes mágicos, e até mesmo
usando-os para diferentes intenções, boas e ruins. Thor tomando conhecimento
disso, viajou até os EUA para reaver o Mjölnir.
Figura 7: Thor desenhado por Jack Kirby
na revista Tales of the Unexpected # 16 (1957). Fonte: http://draczz.blogspot.com/2019/01/magic-hammer-tales-of-unexpected-16.html.
Nessa versão Thor é representado
como um viking estereotipado, usando elmo com chifres e uma saia feita de peles
de animais, visual baseado na versão anterior de Kirby, lançada em 1942. Ele
também utiliza um cinturão, braceletes, botas e capa. O personagem tem uma
longa barba e bigodes, embora não se saiba se seria ruivo, pois ele sempre
aparece todo iluminado. Seu porte físico é de um homem musculoso.
Thor
e Batman (1959)
A quarta versão da DC Comics
sobre o Thor, foi o resultado de um crossover inusitado. Na revista Batman #
127 (1959), com roteiro de Bill Finger e desenhos de Dick Sprang e outros
artistas, tivemos a narrativa intitulada The
Hammer of Thor, em que um curador do museu de Gotham City ativa os poderes
de Thor após erguer seu martelo, levando Batman e Robin a combate-lo, antes que
destruísse a cidade. Nessa narrativa o personagem surge novamente como vilão.
Figura 8: Capa da revista Batman # 127
(1959). Fonte: https://br.ign.com/quadrinhos/67790/news/o-dia-em-que-o-batman-e-o-thor-se-enfrentaram-nos-quadrinhos.
Pela imagem da capa nota-se o
visual do Thor ainda estereotipado, sendo baseado nas duas versões de Jack
Kirby. Embora que o elmo com chifres foi trocado por um elmo com asas. Além
disso, o Thor apresenta barba mais curta, mas sendo ruiva.
Thor
da Charlton (1959)
A editora Charlton publicava uma
série de quadrinhos intitulada Out of
this World (1956-1959), a qual consistia numa antologia de histórias sobre
aventura, fantasia, mistérios e ficção científica. Na edição 11 tivemos um
conto curto intitulado The Hammer of Thor,
escrito por Joe Gill e desenhado por Steve Dikto (que ganharia fama na Marvel),
em que a trama ocorre na Era Viking, e um homem encontra o martelo de Thor em
momento oportuno quando sua vila estava para ser invadida por invasores
orientais que lembram Hunos ou Mongóis. Com o poder do martelo o herói por
ocasião, os venceu.
Figura 9: Cena da manifestação de Thor na
Out of this World # 11 (1959). https://atocom.blogspot.com/2013/11/reading-room-out-of-this-world-hammer.html
Observa-se na imagem acima, que
o guerreiro viking que consegue os poderes de Thor, é visualmente similar ao Príncipe
Viking da DC Comics. Os cabelos louros curtos, o rosto imberbe, a saia e o
corpo atlético.
Thor
da Marvel Comics (1962)
É a versão em histórias e
quadrinhos mais famosa do personagem. Concebido por Stan Lee, Jack Kirby e
Larry Lieber, para a revista Journey into
the Mystery # 83 (1962), periódico voltado para tramas de fantasia,
aventura e ficção científica, condição essa que o Thor uniu o fantástico com a
ficção científica, sendo retratado como um extraterrestre com superpoderes.
O Thor da Marvel Comics
conservava elementos em comum com várias ideias que já circulavam no meio
quadrinistico estadunidense: uso de elmo e capa, o Thor não era ele mesmo, mas
alguém que ganhava os poderes do deus ao erguer seu martelo. Fato esse que a
versão da Marvel apresenta elementos da Weird Comics e da versão do Kirby de
1955.
Porém, Lee e Kirby ajudaram a
criar um universo mais denso e expansivo para o personagem, pois se nas outras
editoras Thor era um personagem que aparecia pontualmente, na Marvel ele ganhou
suas próprias revistas, foi a porta de entrada para a introdução da mitologia
nórdica de forma massiva na Marvel, e até para a mitologia grega, pois Hércules
surgiu inicialmente como rival do Thor. O personagem também se tornou um dos
Vingadores e passou a aparecer nas revistas de outros personagens da editora.
Nessa versão da Marvel, o
personagem teve seu visual alterado ao longo das décadas, havendo versões dele
adolescente, idoso, usando armaduras e trajes diferentes. Essencialmente ele é
ainda retratado usando seu traje clássico, azul ou preto; elmo com asas, capa
vermelha, cabelos louros na altura dos ombros e rosto sem barba. A partir da
década de 1990 alguns ilustradores passaram a retratá-lo com barba, tornando
isso mais frequente a depender do artista. Sublinha-se que essa é a primeira
versão regular do personagem a usar calças, pois as versões anteriores usavam
saias.
Figura 10: O visual clássico do Thor,
concebido por Jack Kirby em 1962. Fonte: https://www.previewsworld.com/Catalog/AUG199021
Quanto ao seu porte físico,
dependendo do artista, o personagem aparece mais magro ou mais forte, tendo
seus músculos mais destacados. Além disso, algumas versões do herói o retratam
mais alto e largo, indicando que se trata de um homem de grande porte físico,
algo bastante retratado nessa versão, em que Thor é considerado um dos
personagens fisicamente mais poderosos do Universo Marvel.
Thordis
da Marvel (1978)
No final da década de 1970, a
Marvel lançou uma série intitulada What
If? cujas narrativas eram contos que apresentavam variações de personagens
e narrativas da editora, inserindo eles em outros contextos alternativos. A
edição What If #10, trazia a história
intitulada What If Jane Foster Had Found
the Hammer of Thor, em cuja narrativa a enfermeira Jane Foster obtinha os
poderes do deus do trovão e tornava-se Thordis, a primeira versão feminina do
personagem na Marvel.
A revista trazia uma ironia a
primeira aventura de Thor, lançada em 1962, fato esse que Thordis usa o mesmo
traje, a capa é similar e outros elementos na narrativa também fazem referência
aquela revista, a diferença é que Jane Foster se revela digna de ter os poderes
do deus e os usa para salvar Donald Blake o disfarce usado por Thor naquela
época. Essa ideia de mulheres usando os poderes de Thor foi utilizada em outras
narrativas do What If? e outras
séries, havendo outras mulheres que conseguiram erguer o Mjölnir, algumas se
transformam em Thor e outras usaram apenas os poderes do martelo.
Figura
11: Cena da hq What If? #10 mostrando Jane Foster como Thordis. Fonte: https://gobacktothepast.com/retro-review-what-if-10/
A ideia de apresentar uma versão
feminina do Thor foi baseada na própria mitologia nórdica, tendo como
referência o poema Thrymskvida (O Canto de Thrym), narrativa presente na Edda
Poética, a qual aborda o roubo do martelo Mjölnir realizado pelo gigante Thrym.
Para devolver a arma do deus do trovão, o gigante exigiu que o sol, a lua lhe
fossem dados como presente e a deusa Freyja fosse enviada como sua noiva. No
entanto, os deuses recusaram isso, e Thor foi sugerido por Loki a ir disfarçado
de noiva para reaver o Mjölnir.
Thor
de Valhalla Comics (1979)
Escrita e desenhada por Peter
Madsen, a série Valhalla consiste em histórias em quadrinhos voltadas para o
público infantil, por conta disso, seu visual é mais cartunesco e cômico. No
caso, Thor aparece no volume 1 e em vários volumes seguintes. Ele é retratado
como sendo ruivo, barbudo, forte, usando geralmente uma túnica verde com um cinturão
ou calças marrons. Seu martelo é pequeno, descrição que se aproxima dos mitos.
Figura 12: Thor nos quadrinhos de
Valhalla, criado por Peter Madsen. Fonte: https://www.pinterest.se/pin/381117187210421699/
Thor
e Hulk (1988)
O encontro entre os dois
colossos de força já havia ocorrido algumas vezes nos quadrinhos, no entanto, a
Marvel decidiu levar isso para o cinema, no filme A Volta do Incrível Hulk (1988). Nessa produção de baixo orçamento,
mas baseada na popular série sobre o Hulk, temos a presença do Thor, mas
visualmente bem diferente do que se via nas hqs e desenhos da época.
No filme o personagem foi
interpretado por Eric Allan Kramer, o qual possuía um porte físico atlético na
época e era quase da mesma altura do ator Lou Ferrigno, que interpretava o
Hulk. Todavia, sua vestimenta ficou bem estranha. O personagem usava um elmo de
metal genérico, não tendo as asinhas habituais vistas nos quadrinhos, vestia
uma couraça metálica com ombreira felpudas, usava calças marrom e botas. Esse
visual diferente foi usado apenas nesse filme, já que no retorno do personagem
aos cinemas a partir de 2011, seu visual é mais baseado nos quadrinhos.
Figura 13: Hulk e Thor em cena do filme A Volta
do Incrível Hulk (1988). Fonte: https://ovicio.com.br/as-alteracoes-visuais-de-thor-ao-longo-dos-anos/.
Thor
de Sandman (1990)
A série de quadrinhos intitulada
Sandman (1988-1996), que originou
séries paralelas, foi criada por Neil Gaiman e traz elementos mitológicos e
folclóricos. Na edição 3, intitulada Season
of Mists, que perfaz os capítulos 21 ao 28, temos a introdução dos deuses
nórdicos, o que incluiu o próprio Thor, que foi retratado como um brutamontes
gigante, com músculos deformados. Ele também é ruivo, usando um colete marrom,
cueca ou calças marrons.
Thor é retratado como sendo
impulsivo, rude, pouco esperto, que gosta de comer e beber, características
presentes nos mitos. O martelo Mjölnir é representado de forma bem pequena,
contrastando com o tamanho do deus. Tal fator se deve de uma escolha proposital
para satirizar o personagem, aproveitando que na mitologia o martelo é descrito
como tendo um cabo curto.
Figura 14: Aparição de Thor, Odin e Loki
em Sandman # 24 (1990). Fonte: https://thenightling.tumblr.com/post/166415884198/odin-thor-and-loki-as-depicted-in-sandman
Thor
de Mike Deodato Jr (1995-1996)
Durante os anos 1990, o
quadrinista brasileiro Mike Deodato Jr trabalhou na DC e na Marvel, desenhando
vários heróis e personagens, o que incluiu o Thor. Deodato ficou à frente das
ilustrações da revista Thor # 491-502
(1995-1996), trazendo um novo visual ao asgardiano e um estilo mais frenético e
impactante.
Embora outros desenhistas tenham
dado suas contribuições ao visual criado por Kirby, destacamos o de Deodato Jr
por ter apresentado uma versão bem diferente das outras publicadas pela Marvel.
O Thor de Deodato é bastante musculoso, imberbe, possui longos cabelos louros,
utiliza trajes diferentes do habitual, aparecendo ora com capa ou sem ela, ora
usando um uniforme azul escuro, com a barriga de fora e grandes ombreiras; ele
também aparece sem camisa, destacando sua musculatura trabalhada. O icônico
elmo que acompanha o personagem, praticamente sumiu nas histórias ilustradas
pelo autor. Além disso, sua versão apresenta um Thor mais briguento e bruto.
Figura 15: Detalhe do Thor de Mike Deodato
Jr na capa da revista Thor # 502 (1996).
Fonte: https://ovicio.com.br/as-alteracoes-visuais-de-thor-ao-longo-dos-anos/.
Thor de Age of Mythology (2002)
Produzido pela Microsoft Studios,
com base na franquia de sucesso Age of
Empires, nessa nova versão, temos elementos da mitologia grega, nórdica e
egípcia presentes na trama desse jogo de estratégia em tempo real. Embora que a
maioria dos deuses não apareceram na narrativa, apenas sendo citados ou
mostrados em imagens. No caso de Thor ele é retratado como ruivo, possuindo
longa barba, usando o estereotipado elmo com asas (Odin e Loki usam elmos com
chifres), e vestindo uma veste feita de peles de animais, concedendo um visual
rústico e bárbaro.
Young
Thor (2010)
Nesse jogo produzido pela Frima
Studios e distribuído pela Sony para o PSP e PS3, temos Thor numa versão
infantil que obtém o Mjölnir e parte para salvar o mundo. O jogo é uma produção
voltada para o público infantil, algo visto em seu designer. No caso do jovem
Thor, ele é representado como sendo ruivo, tendo olhos verdes e usando camisa
verde e calças marrons. Tal padrão lembra bastante o visto nos quadrinhos de Valhalla. Embora que exista uma armadura
conseguida depois, que é baseada no Thor da Marvel.
Figura 17: Capa do jogo Young Thor (2010)
para PSP. Fonte: https://tecnoblog.net/meiobit/408153/quem-e-jane-foster-a-thor-do-universo-marvel/.
Thor: Legend of Magical Hammer (2011)
Nessa animação infantil de
origem islandesa, produzida pelos estúdios CAOZ, Ulysses e Magma Films, temos
uma narrativa livremente inspirada na mitologia nórdica. O filme também recebeu
o título de Legends of Valhalla: Thor, em alguns países.
Na trama Thor é um jovem rapaz
ruivo que não sabe que é um deus, mas a situação muda quando sua vila é atacada
pelos gigantes, levando Odin e a mãe de Thor a contarem ao rapaz sua verdadeira
identidade. O jovem Thor então obtém o martelo (que no filme é um objeto
falante) e com ele manifesta os poderes do deus do trovão para combater os
gigantes.
Embora seja retratado como ruivo
e sem barba, tendo uma aparência jovial, o Thor desse filme é um homem magro,
carismático, engraçado e um herói atrapalhado. No entanto, um aspecto que chama
atenção é o fato de a roupa do personagem lembra bastante esteticamente a do
Thor dos quadrinhos Valhalla.
Figura 18: Thor num cartaz promocional do
filme Legends of Valhalla: Thor (2011). Fonte: https://www.imdb.com/title/tt1241721/?ref_=tt_mv_close
Thor
de Smite (2012)
Smite é um popular jogo MOBA (multiplayer
online battle arena) inspirado em diferentes mitologias do mundo. Em 2012
deuses nórdicos como Thor foram lançados para o jogo. No caso, o personagem é
representado como sendo ruivo, tendo cabelos longos e usando barba. Ele é
musculoso, bruto e bravo. Apesar que no jogo hajam visuais retratando Thor como
louro e moreno, sem barba, usando elmos com asas e chifres, e até um visual
mostrando ele trajado de noiva, uma referência direta ao mito narrado no poema
Thyrsmkvida.
Figura 19: Visual de Thor no jogo SMITE
(2012). Fonte: https://www.smitegame.com/gods/thor.
Thor
Viúva Negra (2014)
Novamente na série What If? a qual nos apresentou em 1978 a
primeira versão feminina do deus do trovão da editora Marvel Comics, tivemos
uma nova mulher ganhando os poderes de Thor. Salienta-se que não foi a primeira
vez que isso ocorreu depois de Jane Foster. Outras mulheres também se
transformaram em Thor ou dispuseram de seus poderes momentaneamente. Todavia,
optamos em citar alguns casos mais específicos.
Na revista What If? Age of Ultron #3, lançada em abril de 2014, em meio a uma
drástica batalha entre os Vingadores e Ultron, os heróis vão sendo derrotados
uma a um, o que inclui Thor, no entanto, no clímax do confronto, Natasha
Romanoff (Viúva-Negra) consegue erguer o Mjölnir e momentaneamente
transforma-se em Thor.
Embora Romanff não tenha sido a
primeira mulher a fazer isso, sua versão do personagem recebeu destaque aqui
por dois motivos principais: a primeira diz respeito a ela ser ruiva, uma
característica que alude a aparência do personagem nos mitos, até porque outras
mulheres que ganharam os poderes de Thor ou eram louras ou morenas, não havendo
necessariamente a alteração na cor dos cabelos; o segundo motivo que destacamos
refere-se a sua aparência que foi bem sensualizada.
Figura 20: A Viúva Negra transformada em
Thor. Fonte: https://www.denofgeek.com/movies/thor-love-and-thunder-women-jane-foster-hammer/.
Nessa versão feminina, Thor
apresenta um traje inspirado na armadura das valquírias da ópera wagneriana,
visual inclusive adotado pelas Valquírias da Marvel; a Natasha também usa um
elmo com asas e capa vermelha. Seu traje e complementado com ombreiras,
braçadeiras e botas e cano longo. O visual sensual deixa destacado as pernas e
o busto da personagem. Sublinhamos que outras mulheres que assumiram os poderes
de Thor, não necessariamente aparecem de forma sensual.
Thor
a deusa do trovão (2014)
Na revista Thor vol. 4 # 2, publicada em novembro de 2014, na história intitulada
The Goddess of Thunder, a enfermeira
Jane Foster, antigo par romântico do Thor da Marvel, obteve a honra de empunhar
o Mjölnir e com isso ganhou os poderes de Thor. A ideia não foi nova, pois em
1978 numa história alternativa, Foster havia ganho esses poderes, a diferença é
que a nova versão passou a ser canônica na série do Thor, enquanto as outras
versões femininas são apenas temporárias ou não-canônicas.
Nessa nova versão de Jane Foster
como Thor, visualmente a personagem apresenta cabelos louro, usa uma couraça
metálica, um elmo com máscara, ocultando sua identidade. O elmo manteve as
icônicas asas. Ela também usa capa vermelha, calças, saia e sapatos. Comparada
a Thor Viúva Negra, sua aparência é menos sensual.
No entanto, destaca-se que a
personagem não é retratada fisicamente como bastante musculosa (nem na versão
de 1978 ela tinha porte assim, ou em outras versões femininas), algo visto com
a personagem da Mulher-Hulk, a qual possui um corpo com musculatura bem
delineada e porte grande.
Figura 21: A nova versão de Jane Foster
como Thor. Fonte: https://tecnoblog.net/meiobit/408153/quem-e-jane-foster-a-thor-do-universo-marvel/
A nova versão de Jane Foster
como a deusa do trovão conserva o nome de Thor e não Thordis. Além disso, ela
aparece em outras narrativas. Sublinha-se no caso que o deus Thor nessa série é
retratado como sendo um homem musculoso, barbado, inicialmente tendo cabeço
longo e depois cabelos curtos. Ele também aparece em vários momentos sem
camisa, usando capa, calças e botas. Além de ter ganhado um braço mecânico
Thor
da Guerra (2017)
Trata-se de uma rara versão do
deus Thor da Marvel Comics, o qual é retratado como sendo ruivo. Apresentado na
revista Mighty Thor vol. 3 # 20
(2017), o guerreiro Volstagg, um dos grandes amigos e aliados de Thor, na época
ele era senador do Congresso dos Mundos, e estava em viagem a Nidavellir (a
terra dos anões) para cuidar do resgate de elfos luminosos refugiados, porém,
num atentado promovido pelos gigantes de fogo, crianças élficas foram mortas e
Volstagg foi o único sobrevivente, em remorso por ter deixado aqueles inocentes
morrerem, ele sentiu um misterioso chamado e viajou à Asgard onde encontrou um
Mjölnir de uma realidade paralela e assim ganhou os poderes do deus do trovão,
tornando-se o Thor da Guerra.
Pela condição de Volstagg ser um
homem ruivo, grande e gordo, ele conservou alguns desses aspectos ao se
transformar em Thor: ele manteve-se sua elevada estatura com mais de dois
metros de altura, deixou de ser gordo para ficar musculoso, manteve os cabelos
e a barba ruivos. Além disso, seu traje é escuro, ele possui uma soqueira com
espinhos e seu elmo apresenta designer similar ao da Thor de Janes Foster.
Salienta-se também que o Mjölnir que ele usa, possui uma forma diferente.
O Thor da Guerra aparece em
poucas narrativas, sendo lembrado como uma versão mais bruta e violenta do deus
do trovão publicado pela Marvel. De fato, Volstagg quando se transforma nessa
versão violenta do personagem, ele torna-se furioso e sanguinário, condição essa
que Thor e outros personagens passam a trata-lo como uma ameaça.
Figura 22: Volstagg transformado em Thor
da Guerra. Fonte: https://marvel.fandom.com/wiki/Volstagg_(Earth-616).
Thor de Record of Ragnarok (2017)
Intitulado originalmente Shūmatsu no Warukyūre (“A Valquíria do
Fim”), o mangá de Shinya Umemura e Takumi Fukui ganhou o título no Ocidente de Record of Ragnarok, uma alusão a
condição que na trama tem-se um torneio de luta chamado Ragnarok, em que os
deuses e os humanos lutam entre si. No caso dos humanos eles lutam para evitar
o apocalipse. Logo nos primeiros capítulos, o primeiro campeão dos deuses a
travar confronto é Thor.
O personagem é retratado como
sendo ruivo, tendo longos cabelos, típico do estilo de mangá. Ele também é alto
e possui um corpo bastante musculoso e definido de forma exagerada, embora que
a estética desse mangá traga um visual bastante exagerado e até bizarro para
alguns personagens. Mas além dessa característica da musculatura acentuada,
essa versão do Thor é imberbe, veste uma túnica branca e possui um martelo
gigante, que é maior do que ele mesmo. Quanto a sua personalidade, ele é descrito
como um guerreiro nato e matador de gigantes. O personagem ganhou maior
destaque recentemente com o anime Record
of Ragnarok (2021).
Figura 23: Thor do
mangá Record of Ragnarok. Fonte:
https://record-of-ragnarok.fandom.com/wiki/Thor?file=Thor.png
Thor
de American Gods (2019)
O livro American Gods (Deuses Americanos) foi publicado originalmente em
2001, escrito por Neil Gaiman, autor da franquia Sandman. Nesse livro, Gaiman aborda novamente a temática dos
deuses, trazendo-os para os Estados Unidos do começo do século XXI, em que os
novos deuses confrontam os velhos deuses numa guerra que dura séculos. No livro
o personagem do Thor é apenas citado, não recebendo destaque, entretanto para a
série American Gods (2017-2021),
durante a segunda temporada, o personagem ganhou um episódio dedicado a ele,
intitulado Donar the Great, em que o
deus do trovão foi interpretado por Derek Theler, com seus quase dois metros de
altura.
No seriado, Thor como outros dos
velhos deuses, tiveram que arranjar emprego e formas de sobreviver ao mundo
contemporâneo, com isso, Thor tornou-se ator de teatro e musicais. Fato esse
que ele aparece trajado de forma estereotipada, usando uma armadura grega
dourada. Além disso ele é ruivo, possuindo longos cabelos e barba. O martelo é
retratado de forma grande e possuindo uma grande argola na ponta do cabo.
Figura 24: Cena do episódio 6 da segunda
temporada de American Gods (2019). Ao centro, Theler caracterizado como Thor
para a peça da qual o personagem participa. Fonte: https://deliriumnerd.com/2019/04/22/american-gods-02x06-donar-o-grande/
Thor
de Valhalla (2019)
O filme Valhalla é uma adaptação dos quadrinhos Valhalla de Peter Madsen, embora a produção cinematográfica traga
um tom e visual mais adulto e ligeiramente sombrio. A trama do filme adapta os
primeiros volumes das histórias em quadrinhos, trazendo uma releitura do mito
em que Thor e Loki viajam até Utgard e são desafiados pelo gigante Utgard-Loki.
Nesse filme, Thor que é interpretado por Roland Møller, traz um personagem mais velho,
apresentando fios grisalhos na barba e no cabelo. No caso, esse Thor não é
ruivo propriamente, além de possuir cabelos curtos e uma barba curta. Ele
também não é musculoso e se veste de forma diferente da vista nos quadrinhos,
trocando a camisa verde por traje de tons escuros. Além disso, no filme devido
a sua produção voltada ao público adulto, Thor não é engraçado, mas sério e
sisudo.
Figura 25: O ator Roland Møller
caracterizado como Thor no filme Valhalla (2019). Fonte: https://entreterse.com.br/ficha-tecnica-valhalla-a-lenda-de-thor-2019-76223/
Thor
em Assassin’s Creed: Valhalla (2020)
A popular franquia Assassin’s
Creed criada pela Ubisoft, é conhecida por apresentar jogos baseados em
acontecimentos históricos, e desde 2015, vem abordando temas mitológicos.
Começando pelo Egito, passando pela Grécia, e no jogo mais recente adentrando a
Era Viking e sua mitologia.
No jogo, há vários elementos
mitológicos, incluindo Asgard, Valhala e a presença de alguns deuses nórdicos
como Odin, Thor, Tyr e Freyja. No caso de Thor, o deus do trovão auxilia o
jogador em algumas missões de combate aos gigantes de gelo, além de ser
possível também obter a armadura dele e o martelo Mjölnir.
Visualmente Thor não é tão alto
e grande como em outras versões, sendo um pouco mais alto do que os outros
personagens masculinos do jogo. Ele é ruivo, possuindo longos cabelos e barba.
Veste-se com roupas de tons escuros que emula trajes da Era Viking. Seu martelo
é grande. O personagem é retratado como impaciente, valente e ávido por
batalhas.
Figura 26: Cena do jogo Assassin’s Creed:
Valhalla (2020), mostrando Thor. Fonte: https://www.techtimes.com/articles/256844/20210209/assassins-creed-valhalla-sale-discount-bonus-ubisoft.htm.
Thor
e Mulher-Maravilha (2021)
O Thor da DC Comics fez
participações especiais em diferentes histórias da editora, enfrentando
diferentes personagens, no entanto, em sua participação mais recente, o deus do
trovão voltou a confrontar a Mulher-Maravilha. Na revista Wonder Woman # 770, Diana em incursão à Asgard, depara-se com um
Thor hostil, o qual usa um traje de super-herói com direito a elmo com chifres
estilizados, capa e um raio no peito.
Na revista Wonder Woman # 771, a protagonista desperta em Asgard e é avisada
que as Valquírias tinham sumido e o Ragnarök estava se aproximando, com isso,
Diana decide indagar a Thor por qual motivo ele não estava agindo contra
aquilo?
Todavia, Thor é retratado nessa
trama como arrogante, apático, que prefere ficar comendo e bebendo. Ele também
é um bravo guerreiro e chega a ser boçal. Visualmente ele segue o padrão
estabelecido por Kirby ainda na década de 1940, sendo retratado como um
brutamontes ruivo, grande e musculoso.
Figura 27: Cena da revista Wonder Woman #
771, mostrando Thor conversando com a Mulher-Maravilha. Fonte: https://observatoriodocinema.uol.com.br/quadrinhos/2021/04/dc-tem-seu-proprio-thor-ele-e-um-babaca.
Thor de God of War: Ragnarok (2021)
Embora o jogo será lançado
apenas em 2022, todavia, nas artes conceituais divulgadas juntas ao primeiro
trailer, foi revelado o visual do deus Thor. Anteriormente o personagem havia
aparecido brevemente em God of War
(2018), usando traje no estilo do Thor de Assassin’s
Creed: Valhalla, e estando com a cabeça coberta com um capuz.
Entretanto, na arte conceitual
divulgada, observa-se mais características não apresentadas no jogo anterior.
No caso, nota-se que Thor tem cabelos e barba ruivos, usa um traje fictício
baseado na estética do jogo, possui tatuagens azuis no peito, seu martelo é
grande, porém, o que chama atenção é o fato de ele possuir uma barriga
protuberante, o que levou a vários comentários de que ele seria um personagem
gordo e não musculoso como deveria ser.
Condição essa que a produção do
jogo teve que emitir nota justificando a aparência do personagem menos
musculoso, mas nem por isso significaria que ele deixasse de ser forte. No
caso, o senso comum costuma associar músculos definidos como sinônimo de força
bruta, mas a realidade não é assim. Esteticamente o corpo de um fisiculturista
é visualmente mais chamativo, mas não necessariamente significa que seja um
físico de força bruta, fato esse que os atletas de halterofilismo e de
competições de força, possuem abdomens e costas largas, pois isso é reflexo de
seu treinamento para erguer muito peso, algo defendido pela produção do jogo.
Figura 28: Arte conceitual de Thor no jogo
God of War: Ragnarok. Fonte: https://jovemnerd.com.br/nerdbunker/novas-imagens-de-god-of-war-ragnarok-destacam-visual-de-thor-tyr-e-mais-personagens/
Considerações
finais
Nessa seleção feita com 28
imagens representando o deus Thor, na cultura pop dos séculos XX e XXI, podemos
tirar algumas observações bastante interessantes. A começar pela condição de
que entre as décadas de 1940 e 1960, tramas envolvendo homens comuns ou
guerreiros que obtinham os poderes de Thor ao ter contanto com o martelo, foram
algo bem comum, sendo repetidas várias vezes e até mesmo copiadas. Nesse caso,
a ideia era que Thor seria uma divindade que se manifestava através de avatares,
os quais obtinham seus poderes ao usarem o Mjölnir.
A primeira versão identificada
do Thor em hqs, o retratava como ruivo e sendo um viajante do tempo por acaso,
e estando no presente passou a agir como herói naquela situação. Todavia, o
personagem usava armadura dourada, elmo com chifres e saia. Tal vestuário foi
recorrente até o final da década de 1950. Sendo que a partir dos anos 1960 com
a popularização do Thor da Marvel, o personagem passou a usar calças
regularmente e um uniforme no estilo de super-heróis americanos.
Destacamos também a condição de
que Jack Kirby foi o responsável por criar visualmente o Thor da DC Comics,
surgido em 1942, sendo retratado como um viking pirata e brutamontes, sendo ele
ruivo. Já a versão da Marvel foi retratada como loura e imberbe, e tendo um
traje de super-herói. Ambos padrões ainda hoje são adotados pelos artistas que
desenham os personagens nas duas editoras.
Um dado interessante a ser
mencionado é que a partir da década de 1980, as representações do deus Thor
passaram a retratá-lo normalmente como ruivo, seguindo a descrição contida na
mitologia nórdica. Apesar que a versão da Marvel ainda seja representada como
loura, algo visto nos quadrinhos, filmes, jogos e desenhos.
A ideia de que Thor sempre foi
um personagem representado como sendo grande, robusto e musculoso, não
necessariamente foi algo regular. Dependendo do artista, vimos nos casos
citados anteriormente, diferentes formas de representar o deus do trovão, em
que ele aparecia magro ou com um corpo atlético sem musculatura delineada.
Apesar que nas últimas décadas o personagem vem sendo retratado de forma
musculosa em diferentes mídias, exceto quando são produções infantis ou
caricatas. A predominância por um Thor mais musculoso e grande, está ligado a
estética atual de corpos torneados devido as academias, crossfit, artes
marciais, torneios de força, fisiculturismo, estilo fitness. Tendências que
cresceram nos últimos trinta anos.
O uso de armaduras pelo Thor foi
algo visto entre as décadas de 1930 e 1950 em algumas histórias, apesar que o
próprio Thor da Marvel em algumas narrativas utilize armadura também. Porém, em
produções de outros artistas, encontra-se o personagem usando outros tipos de
vestes, o que inclui a condição do personagem ser associado desde a década de
1990 com a cor verde, marrom e preto, sendo que anteriormente ele era associado
com as cores azul e amarelo.
Sublinha-se também que alguns
filmes e jogos mais recentes, procuram retratar Thor usando o que poderiam ter
sido trajes nórdicos da Era Viking (sécs. VIII-XI), numa tentativa de aproximar
o visual do personagem ao contexto da época em que ele foi adorado pelas
populações nórdicas na Idade Média.
No caso das versões femininas do
personagem, as mais conhecidas foram desenvolvidas nas histórias da Marvel, havendo
distintas mulheres que ganharam os poderes de Thor, embora Jane Foster tenha se
tornado o exemplo mais conhecido, possuindo uma versão de 1978 baseada no
visual clássico do personagem, e a versão surgida em 2014 a qual tornou-se
canônica. Também destacamos a Thor Viúva Negra, por ser ruiva e conceder uma
sensualidade ao personagem.
Salientamos também que o deus do
trovão dependendo da versão, ele aparece como herói ou vilão, como um guerreiro
honrado ou impulsivo; ele também pode surgir como sendo arrogante, teimoso,
apático, agressivo, rude. Características vistas nos mitos e adaptadas para
diferentes tramas.
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