domingo, 13 de outubro de 2019

Minicurso: Xamanismo sámi e Finlândia mítica, VII CEVE




Minicurso: Xamanismo sámi e Finlândia mítica, VII Colóquio de Estudos Vikings e Escandinavos, UFPB, Centro de Educação, 5 a 8 de novembro. Inscrições gratuitas para ouvintes até o dia 4 de novembro exclusivamente pelo site (não serão realizadas inscrições no local).
Ministrantes: Victor Hugo Sampaio (Doutorando em Ciências das Religiões pela UFPB) e Marcos Saulo de Assis Nóbrega (Mestrando em História pela UFCG).
Descrição do curso: As relações mantidas entre os escandinavos e os povos deles vizinhos têm sido investigadas com cada vez mais afinco, principalmente no que diz respeito a possíveis intercâmbios e circulações de elementos mítico-religiosos. Inúmeros aspectos análogos e convergentes são detectados nos sistemas religiosos e nas narrativas mitológicas desses diferentes habitantes do norte Europeu. Em meio a esse cenário, as interações dos escandinavos com seus vizinhos fino-úgricos, tais como os sámi e os finlandeses, têm se mostrado um elemento chave que necessita ser analisado para que se compreenda a ampla circ ulação de certos mitos e características comuns às religiões pré-cristãs desses povos, apesar de suas diferenças étnicas. Este minicurso propõe uma introdução às ricas manifestações mágicas e xamânicas presentes nas religiões sámi e finlandesa pré-cristãs, que, conforme sabemos, influenciaram marcadamente os escandinavos desde antes da Era Viking. O conteúdo, em conformidade com teorias e conceitos da História, da Folclorística e das Ciências das Religiões, será dividido em três módulos no decorrer de três dias, totalizando seis horas de minicurso. No primeiro módulo realizaremos uma síntese da história da Finlândia, oferecendo um panorama histórico mais completo e revisado da história finesa. Apresentaremos o histórico finês pré-cristão, a partir das migrações vindas dos Urais e do norte escandinavo que formaram o caráter étnico, linguístico e xâmanico da Finlândia e do Báltico, o processo de formação simbólica e de culto de seres que foram representados no épico Kalevala e sua recepção pelo Báltico. Em seguida, a partir das considerações de Peter Burke acerca do conceito de Cultura Popular, contextualizaremos a chegada do século XVI e sua influência sobre as bases da memória ou cultura popular, esta que começa extinguir-se, principalmente aquela oral, campesina e rústica, que formou por vários séculos a mentalidade de grupo sociais, mas agora encontrava limites a sua manutenção por meio dessa memória popular. Literatas e etnógrafos em suas pesquisas conseguiram recuperar um pouco daquela memória popular que era engolida pela modernidade, pois da mesma forma que a chegada da modernidade trouxe limites à cultura popular, a mesma propiciou um movimento cultural de redescoberta da prática popular, sendo a própria Kalevala um dos resultados desse movimento. Faremos também o debate na interface da história, literatura e nacionalismo e suas ressonâncias culturais. No segundo módulo, pretendemos fazer uma avaliação historiográfica sobre as “visões do Norte” e seus habitantes – fínicos e sámi – para relacioná-las aos processos de disciplinamento ocorridos na Suécia-Finlândia ao longo dos séculos XVII e XVIII, principalmente o assalto mental e material às culturas locais. Assim, o módulo será dividido em três eixos: Visões do Norte e seus habitantes: uma análise historiográfica; a Cruz vai ao subártico: missionação e julgamentos de bruxaria na Suécia-Finlândia; e o xamanismo sámi nas fontes suecas: a materialização de um encontro cultural. No último módulo, apresentaremos uma breve comparação das representações de magia e xamanismo nos materiais de que dispomos sobre as mitologias e religiões sámi e finlandesa pré-cristãs. Para isso, introduziremos as principais fontes primárias para estudo da magia entre esses povos, caracterizando-as, contextualizando-as e expondo suas problemáticas. Em seguida, apontaremos para os sentidos e construções que a ideia de xamanismo (ou de xamã) carrega em cada uma dessas obras, averiguando se os seus traços, descrições, propriedades e símbolos dialogam com o resto do corpus mítico/folclórico de sua respectiva tradição; por fim, colocaremos os dados apresentados numa perspectiva comparativa, buscando divergências e convergências entre o xamanismo sámi e o xamanismo finlandês, discutindo se é possível caracterizá-los dentro de um modelo fino-úgrico de xamanismo, ou se constituem, de fato, práticas xamânicas das quais devemos nos aproximar como sendo experiências peculiares e únicas a cada povo.
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