Conferência:
“Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras”: conflitos sociais, simbolismo animal e as reconstruções da narrativa primordial sobre a unidade cristã (950-1125).
Com Prof. Dr. Leandro Duarte Rust (Universidade Federal de Mato Grosso).
V CEVE/II CPM/IJSR, 3 a 6 de outubro de 2017
Resumo: Aristocratas condenados a carregar fétidas carcaças de cães perante audiências régias; grupos de citadinos abastados descritos como matilhas ensandecidas; bispos cujas críticas eram encaradas como mordidas caninas que dilaceravam as entranhas da autoridade universal... A documentação que compõe a história da res publica governada pelos imperadores otônidas e sálios – notadamente aquela há muito classificada como “crônicas” - está impregnada de alusões a animais. Apesar da notoriedade dos imaginários como objeto de estudos, tais referências costumam receber uma atenção tacanha, marginal, como se não passassem de meros floreios retóricos ou analogias irrelevantes para uma investigação séria. Nesta conferência, gostaríamos de sugerir uma abordagem distinta: a de que o simbolismo animal não apenas expressa, mas condiciona, decisivamente, as percepções acerca da unidade cristã. Não se trata de meros adornos narrativos ou hipérboles descritivas. A força simbólica de tais imagens mentais era uma engrenagem fundamental ao incessante movimento de disputa e reconstrução das legitimidades cristãs, lançando, com isso, uma luz histórica privilegiada sobre o curso de certos conflitos coletivos. O simbolismo animal colocava em jogo uma narrativa primordial sobre a unidade e a exclusão social no âmago da hegemonia imperial entre os séculos X e XII. Eis a hipótese que defenderemos com base na análise documental e no diálogo com certas reflexões teóricas de Ronald Grigor Suny e Margaret Somers.
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