Banquete no Valhala, Carl Emil Doepler, 1905
Os alimentos são uma das mais
importantes fontes para o estudo de uma sociedade no passado, extremamente
relacionados a diversos aspectos cotidianos e materiais, econômicos, políticos
e culturais. Recentemente, os estudos nórdicos vem incorporando análises no
sentido de verificar como os alimentos se relacionam com a esfera do sagrado e
da religiosidade e em, especial, com os mitos na área nórdica durante o
medievo. No Brasil, a pioneira no estudo da alimentação e da gastroarqueologia
nórdica é a pesquisadora Luciana de Campos, que foi convidada a escrever vários
verbetes sobre o tema no Dicionário de Mitologia Nórdica, que apresentamos a
seguir alguns trechos.
"O consumo de carne de caprinos pelo deus Thor está relatado na Edda Menor de Snorri Stúrluson.
Nessa passagem é relatada a visita do deus que está acompanhado por Loki a casa
de um camponês: ali ao cair da noite Thor mata os dois bodes que puxam a sua
carroça, retira toda a carne e deixa os ossos limpos, mas os cobre com suas peles.
Enquanto cozinha a carne, ordena para que ninguém mexa nos ossos e que estes
sejam bem vigiados."
Excerto do verbete MITOS ALIMENTARES NÓRDICOS, escrito por Luciana de
Campos, p. 313-317.
"Apesar dos excessos e da alcoolização extrema ser a conclusão
obrigatória destes banquetes, existia uma ritualização na forma de beber (drykkja)
e de como beber. Geralmente se bebia por rodadas (sveitardrykkja),
devendo cada um passar o corno ou taça para seu vizinho (situação obrigatória
para os guerreiros)."
Excerto do verbete BANQUETES RITUAIS DA ERA VIKING , escrito por Luciana de Campos, p. 57-59.
"O vinho era considerado a única bebida que Odin consumia (Grimnismál 19) e o hidromel era
associado a festas no mundo dos deuses (o banquete de Égir, Lokasenna 1-65; a cuba mágica
dos einherjar, Gylfaginning 38) e também a poesia e ao próprio Odin (Skáldskaparmál 1)."
Excerto do verbete BEBIDAS SAGRADAS NÓRDICAS, escrito por Luciana de Campos, p. 63-64.
"A maioria das ervas possuía um duplo uso: medicinal e culinário,
pois sua utilização como tempero era apreciada por conferir um melhor aos
alimentos e também eram utilizados como conservantes dos alimentos. O uso
medicinal das ervas da culinária pode ser comprovado tanto pela cultura
material e também pela literatura."
Excerto do verbete PLANTAS MÁGICAS, escrito por Luciana de Campos, p. 373-377.
"Bebida mitológica conhecida como skáldskapar mjaðar (hidromel poético) ou Suttungmjaðar (hidromel de
Suttung), pela qual todos aqueles que a bebem tornam-se capazes de recitar
poesia e resolver questões gnômicas ou intelectuais. A bebida é considerada uma
metáfora para a inspiração poética e é associada com Odin. Como outras
preciosidades, o hidromel poético foi confeccionado pelos anões e obtido pelos
ases através dos gigantes."
Excerto do verbete HIDROMEL DA POESIA, p. 247-250.