quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Nove mundos da Mitologia Escandinava (verbete do DMN)

 
 
Em diversas fontes dos mitos nórdicos, menciona-se a existência de nove mundos (Níu heimar) na cosmografia após a morte de Ymir: Vafþrúðnimál 43, Völuspá 2, Gylfaginning 34, mas não se detalha exatamente quais seriam estes mundos. Alguns especialistas percebem isso como uma deficiência nas fontes e de que não existiria uma concepção definida ou clara sobre a constituição cosmográfica; outros, no entanto, acreditam que os nove mundos eram bem definidos.
Para Enrique Bernárdez, a referência ao número nove deve ser entendida em sentido simbólico e não necessariamente matemático: a importância sacra e poética do número nove suplantou a lista real dos mundos, que deveria ter sido originalmente sete (como pensa também Hilda Davidson).
O poema éddico Alvíssmál 20 enumera como o vento era conhecido nas diferentes famílias de seres, do qual podemos aferir seis mundos: homens, deuses, vanes, gigantes, elfos, mortos. Assim, os seis mundos que a maioria dos especialistas concorda que fazia parte da cosmovisão pagã são: Midgard, Asgard, Vanaheim, Jotunheim/Utgard, Álfheim, Hel. A lista é completada pelo mundo dos anões Nídavellir (ou Svártalfaheimr), a terra primordial do gelo (Niflheim) e a terra do fogo (Muspelheim). Para Hilda Davidson, entraria também na lista o Valhalla. E ainda, autores como Brian Branston que dividem o mundo dos elfos em escuros e claros, mas eliminam Niflheim da lista.
As representações visuais dos nove mundos tiveram início somente durante o século XIX. Em 1847, o artista dinamarquês Oluf Olufsen Bagge, na pintura Yggdrasill, integrante do livro Northern Antiquites, reproduziu sua interpretação dobre a cosmografia nórdica. Como a ilustração em cores não possui legendas ou denominações é difícil saber quantos mundos o autor quis elencar, mas alguns são óbvios: a terra resplandescente ao alto, certamente é Asgard, enquanto Midgard fica ao centro e o submundo de Hel mais abaixo, nas raízes de Yggdrasill. Em 1886, outra imagem foi criada por Friedrich Wilhelm Heine (Die eiche Yggdrasill), mas como na obra de Bagge, não possui qualquer alusão direta aos mundos, centrando-se na representação do bestiário cósmico: os animais situados no topo da árvore, a grande serpente do mundo rodeando o mundo central, e abaixo de tudo, a serpente Nidhog entrelaçada às raízes de Yggdrasill.
Durante o século XX surgem as mais variadas tentativas de criar uma imagem coerente dos nove mundos, nem sempre com bons resultados. A maioria é anônima e se encontra reproduzida em livros, revistas, quadrinhos e internet, sendo que quase todas são devedoras do referencial criado por Bagge e Heine: o cosmos é dividido em três planos, todos tendo como base a árvore Yggdrasill; Asgard ocupa o topo, acompanhada de perto por Vanaheim e Alfaheim; mais abaixo, no centro de tudo, localiza-se Midgard e em seu entorno, Jotunheim; a divisão do submundo é muito mais confusa, em várias ilustrações reproduzindo Hel junto a Niflheim e próximo a estes, Svartálfaheimr e Nidavellir; em muitas imagens, o mundo de Muspelheim é incluído no submundo.
Johnni Langer
Ver também: Álfheim; Asgard; Cosmogonia nórdica; Cosmologia nórdica; Hel; Jötunheim; Midgard; Muspell; Niflheim e Niflhel; Vanaheim.
Referências Bibliográficas:
BERNÁRDEZ, Enrique. La geografia mitológica. Los mitos germánicos. Madrid: Alianza, 2010, p. 281-288.
BRANSTON, Brian. Los nueve mundos. Mitología germánica ilustrada. Barcelona: Vergara, 1960, pp. 181-183.
 
 VERBETE DO DICONÁRIO DE MITOLOGIA NÓRDICA. SÃO PAULO: HEDRA, 2015, P. 343-344.
 
http://www.livrariacultura.com.br/p/dicionario-de-mitologia-nordica-42865031